21.6.05

fim de semana

PREFÁCIO

Antes mesmo do fim de semana chegar, “O Guia do Mochileiro das Galáxias”. Humor que varia do nonsense ao ácido, o filme é uma surpresa a cada curva de sua viagem alucinante. Há gorduras aqui e ali e pequenas derrapagens de roteiro, mas nada que anule a extrema diversão e a reconstrução visual de um universo ficcional delirante e delicioso. Para se ver com um baldão de pipoca (como eu, de fato, fiz) e surpreender-se em descobrir que esse não é só um entretenimento ligeiro. Vá de olhos, ouvidos e senso de humor abertos.


CAPÍTULO 1

O cinismo de Sergio Bianchi faz com que enxerguem nele um delegado das mazelas nacionais na mesma medida em que se vê um hipócrita francamente apelativo e raivoso. Não vou ficar de nenhum dos lados. “Quanto Vale ou É Por Quilo?” caminha bem, até. Tem bons atores e algumas linhas de trama bem encenadas, como possui diálogos e situações quase risíveis. Surpreende, às vezes, entedia, noutras. É bom que exista, é bom que se veja, porque é filme que desperta o pensamento e o senso crítico, nem que seja na anti-tese – ou, especialmente nela, tanto ética quanto esteticamente.

Não se pode acreditar cegamente no que Sergio Bianchi grita. Mas é sempre interessante rebater as bolas que ele levanta. Leve a percepção com você e vá pronto pra briga.


CAPÍTULO 2

“Contracorrente” não é o bom filme que parte da crítica quer fazer crer. Sua estética exibicionista não justifica-se sob nenhum ponto de vista e sua veia dramática, supostamente contundente, titubeia demais. A narrativa esvazia-se em seqüências intermináveis e tolas de um jogo de gato e rato, esquecendo-se de dar corpo e substância ao por momentos envolvente drama trágico de dois jovens meninos. É o cinema independente americano querendo ser forte, mas falhando na tentativa.

Para falar a verdade, não precisa ir ver.


CAPÍTULO 3

Denise Stoklos é uma artista. Desenvolveu uma persona, estabeleceu uma linguagem, aperfeiçoou uma técnica. Cria expectativas sempre, e sempre as mesmas expectativas. E isso não é ruim, nunca. Vai-se assistir aos espetáculos de Denise Stoklos querendo ver exatamente Denise Stoklos e aquilo de que sabemos muito bem que ela é capaz muito bem. A curiosidade é sempre saber o que Stoklos fez com determinados temas, como ela colocou sua sensacional arte de atriz-performer-comediante-pensadora a serviço de determinado assunto, ou determinado universo pessoal.

Ou, no caso, como Denise Stoklos encontrou Louise Bougeois – ou o que saiu desse encontro.

Muito. “Louise Bourgeois – Faço, Desfaço, Refaço” é um vulcânico e delicado olhar de uma mulher sobre outra, ambas artistas plenas de suas artes. Ao dar corpo, forma e voz às inquietações existenciais, às lembranças infantis e maltratadas de Louise, bem como aos seus anseios estéticos e a alguns breves momentos de sua vida, Denise Stoklos faz, desfaz e refaz tudo ao mesmo tempo agora. Há desespero e poesia e desalento e dor e comédia e lucidez e loucura e arte. Inclusive materialmente falando, em três belíssimas esculturas-instalações de Borgeois que ocupam o palco.

Como um instrumentista hábil em seu violão, por exemplo, e capaz de tirar dele todos os sons possíveis sem que aquilo jamais deixe de ser um violão, a artista Denise Stoklos reinventa-se e alterna-se sendo sempre a mesma, a espetacular mesma. Aqui, mas uma vez, ela não deixa pedra sobre pedra.

Vá vê-la com todos os canais da percepção sintonizados na generosidade da fruição.


CAPÍTULO 4

“Clean” valeria uma visita simplesmente pelo seu jogo de câmera mesmerizante. Mas, por sorte, há muito mais. Há Maggie Cheung, despindo-se da beleza intocável com que (com razão) os cineastas orientais recentemente a retrataram e colocando a cara a tapa em uma personagem maltratada. Maggie interioriza-se em sua resignação e em sua luta paciente pela reconstrução da vida. Seus momentos sublimes estão nos pequenos olhares, nas respirações.

E o filme conta de forma pra lá de competente uma bela e singela história, que tem prazer em desenvolver-se sem pressa e sem arroubos. É admirável como o diretor Olivier Assayas estrutura essa trama de quedas livres e re-erguimentos sem histeria, sem queda livre. Há muito equilíbrio estético e narrativo emoldurando lutas quietas e ferrenhas, convulsão interna e perspicácia. “Clean” é um filme sobre o aspirador que silenciosamente e persistentemente vem recolher os escombros da avalanche da vida.

Veja com atenção.


FIM DO FIM DE SEMANA.

Um comentário:

paula manzo disse...

vou ver o MOMIX.

massa,hã?