24.3.08

parênteses (a vocês dois que eu não conheço)

em comentários, Hanny pergunta:

Posso passar por aqui de vez em qd ou é um diário aberto só para amigos conhecidos?

Curiosidade, sobre constantes, vc vê Lost?



claro que pode. esse diário já quis ser mais sério um dia e ultimamente está desavergonhadamente sentimental (né, não, Arrigo?) - o que pode torná-lo menos (ou mais?) interessante. mas é aberto, afinal.

e Lost, sim. amo odiar aquela patetada toda que mais ou menos me fez refém. e a brincadeira das constantes é toda de lá mesmo.




já thiago briga comigo por ter sido ignorado. mas, ó, deixa eu explicar:

eu não costumo responder comentários na própria janela dos comentários, muito por falta de hábito (e de comentários). mas eu cliquei lá no seu nome-link e ele me levou para um "perfil não disponível".

aí, cara pálida, comunicar-me como hei eu de?

de qualquer maneira, a ajuda que eu posso te dar não foge ao óbvio, que é te encaminhar pra .

será que ajuda?

20.3.08

a lua cheia sempre volta ou as minhas constantes (todos nós queríamos ser Frank Sinatra)

Hoje, dia 20/03, é lua cheia.

*

No início de 2005, Marco Dutra fez uma música para mim. Para Alice. Caetano Gotardo escreveu a letra intuitiva mais linda do mundo. E Mariana Aydar cantou.

Em maio de 2005, os três foram ao estúdio da MCR gravar Alice, dizer que rio que perde o chão é catarata (numa citação tão clara e tão obscura a Wong Kar Wai e seu Felizes Juntos), encher de beleza os sons e os filmes.

*

Quando, em Relicário, Rodrigo, o protagonista, encontra só um amigo antes de morrer, ele encontra o Marco. Tocando piano.

Se Rodrigo é tão outro mas sou tão eu feito ficção, se tantos amigos há, por que eu encontraria somente o Marco?

Não sei.

Porque eu o amo. Porque ele me ensina coisas sobre a vida e sobre o cinema. Ou talvez porque ele fez uma música para mim. Duas, na verdade.

Agora há pouco, eu e Marco estávamos no estúdio da MCR e ele estava tocando no piano que Tom Jobim tocava, o mesmo piano ao qual ele já se afeiçoara em 2005.

Caetano apareceu para dar boas energias ao momento e estavam os dois ali, enfim, de novo, 3 anos depois.

Marco compôs uma linda peça para piano para um roteiro meu chamado Ismália que não foi feito e provavelmente nunca será. Mas que tranformou-se na música desse filme de agora, numa musica que é réquiem e é tão cheia de sentimento e vida.

Porque quando eu olhei para o Marco lá no fundo do estúdio, com fones de ouvido, sentado àquele piano tão grande e opressor, eu percebi a história acontecendo. A história pequena, a nossa, a de cineastas que fazem música para amigos que são outros cineastas e de outros cineastas que fazem letras ou às vezes não as fazem mas simplesmente estão presentes.

E eu amei ainda mais aquela música, talvez até mais esse novo filme, certamente mais aquelas pessoas. E a Sonatina, que um dia foi chamada de Rejeitada, está no centro da cena.

E ao Caetano, eu pude mostrar que, agora, as cataratas de Wong estão no filme em imagem. Talvez ninguém veja ou entenda. Mas eu sei que ele vai.

Porque Felizes Juntos é minha constante.

O cinema e a música são (nossas) minhas constantes.

Marco Dutra é minha constante.


*

Hoje, dia 20/03, é aniversário da Diana. Antes de antes de ontem, foi o do Marco. E é lua cheia (porque, mesmo com eclipse, as luas cheias sempre voltam. entendeu?).

Para o Marco e para a Diana, que são duas das minhas pessoas preferidas, uma noite de lua cheia esplendorosa.

E uma música.

Porque Frank Sinatra definitivamente é minha constante (porque todos nós queríamos ser Frank Sinatra).

E que ele nos leve voando para a lua (cheia), preferencialmente de tapete voador. (em outras palavras, segure a minha mão...)






PS:


Cena prosaica em estúdio – pianista e observador.

19.3.08

música para cortar os pulsos do dia - a lâmina

ok, ok, dá mais vontade de pular do que propriamente cortar os pulsos.

mas, veja bem, o nome da música é Razorblade...



sweetheart, os seus sentimentos são mais importantes, é claro.


18.3.08

a tristeza ainda seria a tristeza...

... o azul ainda seria o azul, mas as coisas seriam simplesmente mais fáceis com você.



Música para cortar os pulsos
de hoje

Blue Would Still Be Blue - The Guillemots

(numa gravação arrepiante de tão crua)







PS
Para enquanto o disco novo, Red, ainda não vem...
(oficialmente, o que acontecerá na segunda-feira, 24/03, porque extra-oficialmente este blog já ouviu inteirinho).

17.3.08

vejamos, então:

a revista Veja SP publica:

AZARAÇÃO PARA TODAS AS IDADES
Vinte endereços onde é possível se dar bem


e categoriza a coisa assim:

ATÉ 25 ANOS
- BAILE DA BANDA GLÓRIA, GENI, IDCH, MYNT e PACHA

nunca estive em nenhum deles.

DE 26 A 35 ANOS
- ASIA 70, BOTECO SÃO BENTO, GAFIEIRA SÃO PAULO, MORI SUSHI e MUSEUM

Mori, sim.

DE 36 A 45 ANOS
- BALCÃO, ESPÍRITO SANTO, JACARÉ GRILL, SALVE JORGE e SPOT.

eu e muitos amigos já foram (fomos) ou frequentam quase todos esses lugares. Balcão e Spot, então...



e era mais ou menos isso. agora, sabe o que é legal, legal mesmo?

é saber que daqui a 9 meses, você subitamente muda de categoria. será que isso é que é ficar mais velho?



PS
Em contraste, o balconista do bar BH, um bem aqui embaixo da janela do meu quarto, no sábado, foi direto: "pois não, jovem?". ufa!

15.3.08




você sabe que eu sempre quis que você fosse pianista, né? eu queria ver você tocando num concerto...





foto por Paula Manzo

14.3.08

duas ou três coisas de um fim de semana

Jogos do Poder é Mike Nichols, aquele diretor inconstante, brincando de artimanhas políticas.

Não há como se enganar: tudo fica bem diluído em entretenimento. Mas, ao mesmo tempo, a semente está ali, para incomodar a quem queira.

Julia Roberts, retornando de longa ausência das telas, é perversa, sagaz e fulgurante. Sobre Tom Hanks e Philip Seymour Hoffman a gente já sabe tudo o que tem que saber.

*

Alguém aí falou em diluição?

XXY, de Lucia Puenzo, é uma diluição só. A idéia de passar 5 minutos com qualquer um daqueles personagens chatíssimos já seria uma tortura psicológica das mais insuportáveis, que dirá acompanhá-los por mais de hora e meia. Não há nada em que se ater, nenhum fio de comunicação emocional atraente consegue ser esticado em direção à platéia. As cenas são curtas e pontuais, quase didáticas. Numa atmosfera de pretensa "estranheza", de um certo distanciamento calculado, tudo acaba ficando mesmo é superficioso.

Mas a questão é que é chato mesmo. Muito chato.


*



Fernanda Takai cantando o repertório de Nara Leão, no show do álbum Onde Brilhem Os Olhos Seus, por sua vez, é uma pequena maravilha.

Usar a palavra "delicadeza" para classificar Takai já virou quase um pleonasmo. A coisa é ver mesmo onde ela vai bem além disso. Existe beleza visual, um tratamento de luz e cenário precisos. Os arranjos inventivos e surpreendentes do cd são executados ao vivo por uma ótima "banda", que tem John Ulhôa e Lulu Camargo, comparsas de Pato Fu, entre seus coadjuvantes. E as músicas que vêm de bônus, entre Duran Duran e Michael Jackson, são quase uma transgressão das mais polidas e pertinentes.

Se você ainda não ouviu esse disco, ouça. O show volta em breve.




PS
E se você quiser um pouco mais de Takai, tem AQUI e AQUI, lá naquele projeto sensacional chamado Música de Bolso.

12.3.08







foto por Paula Manzo

11.3.08

how does it feel?

quarta-feira, 05/03


sozinho na cidade, fui ao cinema. estava em falta com Sean Penn e seu Na Natureza Selvagem, que recebeu pouca chance dos exibidores e já estava em salas pequenas e poucos horários em sua segunda semana de exibição.

o prazer de sair andando para o cinema exatos 10 minutos antes da sessão, gozando uma proximidade geográfica tão rara em São Paulo, foi logo estragado pela placa que era clara: "Na Natureza Selvagem - 20 minutos de atraso". Ok, ainda bem que a Livraria Cultura é ali do lado.

foram 20 minutos lendo um guia turístico do Japão. sim, um guia turístico do Japão, porque eu ainda quero, muito, conhecer o Oriente.

o Cine Bombril 2 tinha suas poucas poltronas bastante ocupadas e Sean Penn é um diretor que é ator. e isso pauta e define os caminhos de seu filme.

existe nele uma liberdade de organização dos códigos que é bastante saudável. soa como um filme feito com o coração e aí reside sua capacidade de ser arejado e "quente", mas também suas escorregadas em algumas situações que extravasam a pieguice ou não vão além da superficialidade.

mas é um tempo que passa bem e que, clichê que seja, deixa o espectador lá pensando sobre sua vida.

*

volto para casa e, propositalmente sem computador, dedico-me a atividades mais edificantes, como a leitura.

Música Para Quando as Luzes Se Apagam, de Ismael Caneppele, é um breve romance que está no meu criado mudo há tempos, mas que encontrou seu lugar nessa noite. às 2h, começo a lê-lo para só parar no fim, às 3h30.

escrevendo como um rapaz de 14 anos em seu blog, Ismael me faz tremer de aflição ao ver a mim mesmo escrevendo aos 14 anos em um caderno de capa azul. a mesma pontuação, o mesmo vocabulário, o mesmo deslumbramento ingênuo, a mesma prepotência bonita perante os mistérios da vida. alguns dos mesmos questionamentos e dúvidas.

o livro ergue um túnel temporal que nos (me) desembaça a visão de nossa (minha) adolescência, que ecoa todas as coisas que passaram e todas as que continuam iguaizinhas. porque assim como algumas músicas só apertam o peito e dão vontade de chorar, instantaneamente, Música Para Quando as Luzes Se Apagam causa o mesmo efeito. e não há necessariamente tristeza envolvida nisso.

e em algum lugar da cidade, Bob Dylan fazia um show.




quinta-feira, 06/03



acordo ainda pensando no livro.

à noite, Bob Dylan.

como que a gente escreve sobre a experiência de assistir a um show de Bob Dylan? não escreve, acho. porque é informação demais e história demais existindo ali na nossa frente. existindo. ali. na nossa frente.

o som estava bom (alo, alo, Via Funchal, viu como é possível?), a banda espetacular. as músicas estendiam-se e construiam-se e cresciam e tomavam corpo e alma e terminavam explosivas. houve clássicos, houve belíssimas composições do cd mais recente. um show em nada incendiário, mas de enorme potência.

clichê que seja (ah, porque quem resiste a um clichê?!), quando Like a Rolling Stone tornou-se identificável, o menino de 17 anos que era eu, em algum lugar nesse corpo onde ele um dia já coube, arrepiou-se inteiro e pensou nele e na Gabriela numa sala lotada do 3º colegial, em Santos, e nos planos de fugir para a Tailândia.

porque devia mesmo ser bom pra caramba evadir e sentir-se por si só, sem caminho de volta pra casa, como um completo desconhecido.

e o menino de 25 anos que agora eu sou ficou feliz. e entendeu uma coisa ou outra sobre a música e como ela preenche a vida.



5.3.08

emparedamento





o boneco João, sem saída.

madrugada, uma pequena ficção

hoje, eu queria ter medo do seu lado, já que é pra ter medo de qualquer maneira. andar pela cidade, de noite, num dia de semana, porque ela fica cheia de vazios e é muito mais legal. hoje eu queria ter um tapete voador (mentira, isso eu quero sempre!), para mandar ele te pegar na sua casa. hoje eu queria te telefonar e conversar a conversa mais besta do mundo, só para o tempo passar com alguma graça. e te escrever cartas de amor ridículas e líricas só para ficar relendo e achar que eu sei escrever coisas ridículas e líricas. hoje eu queria ouvir músicas que você gostasse e eu também, músicas para cortar os pulsos. hoje talvez eu esteja perdido sem pai nem mãe bem na porta da sua casa.

hoje eu queria que você desencavasse minha felicidade bem no meio da minha tristeza para só tratar de desimportâncias. ouvir suas histórias e dar risada e tomar sorvete e quem sabe fazer pipoca. e te achar inteligente e achar que você me acha também.

hoje eu queria pegar a saída 60B para a sua casa e fazer todas as outras brincadeiras que a gente aprendeu ou ainda vai aprender em filmes ruins. eu queria ser uma caixa de sapato all star azul, porque estranho seria se eu não me apaixonasse por você. ou uma lata de coca-cola vazia.

hoje eu queria ser perfume de música que é perfume. e ser notas extensas, um violoncelo da Jacqueline Dupré, ou somente um piano. hoje eu queria ser Roberto Carlos e achar que está tudo certo como dois e dois são cinco. exatamente assim.

hoje eu queria que minha taxa de açúcar no sangue subisse, comendo brigadeiros na chuva. mas hoje fez muito sol e meus olhos lacrimejaram o dia inteiro, porque talvez eu esteja fotofóbico.

hoje eu já vou dormir tarde demais, talvez escutando London, London, só para ficar andando em círculos sem saber para onde ir. cheio de dor silenciosa e felicidade.





trilha sonora

Green Grass, Cibelle

don't say goodbye to me, describe the sky to me...

1:46

Na produtora até essa hora, faço a playlist música para cortar os pulsos.

a saber, por hoje:


God Only Knows - Beach Boys

Where Is My Love
- Cat Power

Green Grass - Cibelle

Elephant
- Damien Rice





PS:

E agradeço à Tati por Beirut.

uma coisa rápida

Polaróides Urbanas faz lembrar do gênio cômico de Marília Pêra.

E é de se perguntar por que ela não faz filmes bons.

4.3.08

hoje, acho que acordei com fotofobia...

3.3.08

Calabar.



Ontem foi a última apresentação de Calabar, peça que um crítico muito respeitado de um jornal muito respeitado classificou como "péssima” (aquele “péssimo” da bolinha preta!) na semana passada. (Tá bom, meu filho, muito obrigado. Agora vai brincar.)

Eu lembro do dia em que Heron me telefonou, em meados de junho, perguntado como estava minha agenda para o segundo semestre, porque ele queria que eu trabalhasse com ele na montagem de Calabar.

O quê? Calabar? Calabar? do Chico e do Ruy?

Exatamente essa.

Todos ali pela paixão, pela vontade de fazer “um texto brasileiro”, pela beleza devastadora daquelas músicas, pelo desafio de encenar aquela dramaturgia longa e difícil. E pela energia um do outro, que sempre foi contagiante, numa dinâmica que, pobre do crítico que não entendeu, é coletiva PARA CARALHO.

Porque existe uma energia que leva os homens a sonhar e a contagiar outros homens e a seguir em frente. Mesmo que tudo isso seja muito anos 70.

Porque acreditávamos e acreditamos na idéia (que é cobra de vidro), na cena, no teatro.

De onde eu vim, a natureza não tem necessidade alguma da arte. Se deixar, o teatro morre. Mas tantas e tantas pessoas não querem deixar.

Nos corpos, mãos, braços, vozes daquelas 13 pessoas no fogo da arena, toda uma verdade que vive, que pulsa, que faz um sentido tremendo.

O público gosta mais, gosta menos, ri, sai, dorme. Mas a gente se desafia e se expõe e ergue pouquinho mais de duas horas de peça ali no 10º andar de um prédio na avenida paulista - sem vergonha de errar, com cara de pau, numa imperfeição que está sempre no jogo, querendo ou não.

Porque por trás de um homem de visão, há sempre uma batelada de generais, banqueiros, burocratas, programadores culturais, críticos de ocasião...

A terra pulsa e blasfema, as paixões movem e destroem corpos. E num arado incessante, a gente vai girando a roda da vida. Porque a gente acredita.

Não acredita?

E nós queremos a atenção que se dá aos charlatães, aos bobos de rua, aos picaretas.

Os encontros que nascem da alegria são sempre os mais frutíferos. Wal, Carlinhos, Andréia, Eduardo, Clayton, Lu, Ivan, Jeanne, Tucci, Dri, Raphael, Junior, Alexandre, Paula, João e Heron. Brindemos o elogio à traição!

Porque a gente não quer calar a boca, Bárbara ou não.

E Calabar, Calabar, Calabar, porque Calabar é o nome da peça.

Tira as mãos de mim.

Põe as mãos em mim.



PS:
Estar no teatro hoje é culpa do Heron. Mas é algo que não teria acontecido se não fosse pela inspiração infinda de Maria Alice Vergueiro e Luciano Chirolli, musos da vida inteira.


1.3.08

minha vida inteira

em 30 segundos, ela é capaz de saber tudo.

tudo.


(sexta-feira, 29 de fevereiro, às 20:15h)





e eu a amo muito.