27.7.05

nove canções e um aforismo

Filme visto há tempo é "9 Canções". Mas só agora uma amiga me ajuda a saber o que penso.

Há idéias atraentes. E propostas também.

Mas, quer saber? Falta emoção.

É ou não é?

/
/
/

Da série "filosofias de fim de noite":

Dentro de todo peito blasé bate um coração inseguro.

19.7.05

bobagens, epifanias e tragédias gregas

De mais um fim de semana, o saldo:

:


“Madagascar” tem poucas boas piadas. Passa incólume, como passava “O Espanta Tubarões”. A Dreamworks, ao que parece, quando não faz “Shrek” acerta pouco.

/

“Amores Expressos”, filme visto com atraso de anos (que parece ainda maior considerando-se o signatário um fã irremediável), roça o sublime. É construção audiovisual acachapante, que nem uma cópia de projeção ruim pôde destruir.

Wong Kar-Wai, anos antes do ápice estonteante de “Felizes Juntos” e “Amor à Flor da Pele”, conta histórias de amores fugazes, fugidios, profundos, desencontrados, ilusórios, sólidos. Ou, antes, desmembra o amor em algumas de suas muitas facetas, por várias pessoas – mas sempre falando do mesmo sentimento. Poderia ser um único amor, em várias fases.

Fato é que a capacidade de Kar-Wai para transformar imagens em sensações puras – e profundas – é admirável. Suas cenas explodem os sentidos, sem deixar de calar fundo no intelecto, no coração e na alma.

Sabe-se pouco sobre os personagens de “Amores Expressos”. Descobrimo-los em pequenos atos, em pensamentos breves. Mas os compreendemos, nos maravilhamos aos poucos com as imagens e as metáforas sentimentais que eles evocam.

Nos filmes de Wong Kar-Wai, as cores, os enquadramentos, a montagem, a música, o corpo dos atores, os diálogos, enfim, o corpóreo e o abstrato da e na imagem unem-se em um todo indesmembrável. E que não se cansa de ser fascinante.

/

“A Vida Secreta dos Dentistas” é o cinema independente americano indo, desvindo, não-indo e acabando em lugar nenhum. Ameaça-se tomar alguns caminhos interessantes, mas parte-se para outros, e outros e depois outros. E não é de se dizer que a mistura funcione por si. Acaba quase tudo no “quase”.

/

“Dança Lenta no Local do Crime” é mau teatro.

O texto é in-analisável, já que sofre golpes sucessivos até chegar ao público. Primeiro, sofre com uma má tradução. Depois, com atores fracos. A encenação é anódina.

Apesar disso, suspeita-se que o texto não é mesmo dos melhores. É um esquema batido de “encontro-de-estranhos-com-segredos-a-revelar-e-que-acabam-sendo-revelados-na-energia-e-nas-forças-do-encontro-com-os-estranhos-já-citados”. E sem um bom texto pode-se até fazer boa pirotecnia – o que, diga-se, nem é o caso. Mas quase nunca bom teatro.

/

“Antígona”, em montagem de Antunes Filho, é teatro esplendoroso.

Antes de uma conclusão do quanto a encenação pode ser chamada de “boa” ou “ruim”, há muito a observar.

Antunes lapidou com seu grupo de atores toda uma prosódia específica, uma fala-canto, ou um canto-fala, uma melodia especial que ele considerou adequada para a encenação de tragédias gregas na atualidade.

Antunes montou, antes desse, outros dois textos trágicos, em três peças: “Fragmentos Troianos” e duas versões de “Medéia”. A busca por um método de encenação, portanto, igualmente é um trabalho de pesquisa e aperfeiçoamento de anos.

Montar uma tragédia grega, em si, é um empreendimento, um desafio arriscadíssimo. A chance de ser simplesmente patético e banal é gigantesca. Qual é, então, esse caminho das pedras? Como conjugar tantos e tão grandes elementos?

Há um texto clássico. Uma métrica nesse texto. Há a métrica, ou o canto, da fala, que deve acompanhar esses versos. Há o ator em si, sua existência em cena. Há a contracenação. Há um coro. O que, meu deus, fazer com o coro? Há a trama, a história em si a ser narrada. E o trágico, o sentido do trágico, tão magnânimo e secular. Como encher de verdade uma tragédia sem que ela perca seu sentido irrevogável de simulacro, que a torna uma “tragédia”? Como equacionar essa balança? E por que, afinal, montar uma tragédia grega nos dias de hoje? Como resgatá-la, re-inventá-la ou, simplesmente, ser essencialmente fiel a ela?

Antunes Filho não está brincando em seu projeto. Pode-se gostar mais ou menos das opções, considerar mais ou menos válidos alguns preceitos. Mas se há, no espectador, algum gosto pela dramaturgia e pela encenação dramática – em seu sentido mais e mais amplo, que compreende do trabalho do ator aos elementos do cenário, embutida aí, naturalmente, a mise-èn–scéne em si – há de se prestar atenção no que está sendo feito.

Indiferente se a olhos leigos ou estudiosos, é difícil resumir “Antígona” em adjetivos simples ou opiniões cheias de “achismos”. O espetáculo hora apresentado é um irrecusável convite ao pensamento e ao olhar atento.

Na trama, pela força do que é dito e mostrado, o texto em si, em uma dilacerante contraposição entre Estado e indivíduo, política e família, leis e sentimentos. O ser que sente e enfrenta um sistema de soberania. O amor em tempos de guerra.

Na montagem, por uma cenografia que traz idéias realmente surpreendentes, por elementos que se complementam, por uma força de corporificação de conceitos, preceitos, abstrações e deuses em estatura física de atores muitíssimo bem ensaiados e cientes de seus papéis. E por Juliana Galdino, sempre um assombro, e Arieta Correa, um novo choque de vida.

Mas, uma vez mais, “Antígona”, texto, significados, importância e essa montagem em si, não cabem em qualquer pequeno texto. É todo um oceano mesmerizante no qual mergulhar.

15.7.05

atores.

Christopher Nolan não é um mal diretor. Fez “Amnésia”, filme que confundia com bastante poeira nos olhos, sem deixar muito pra quando ela baixasse, e depois fez “Insônia”, filme com mais e melhores elementos psicológicos do que se percebeu de modo geral.

Mas quem esperava que “Batman Begins” fosse ser evolução na carreira de Nolan, acaba de ganhar um picolé de chuchu por ingenuidade.

Explicando bastante em sua metade inicial e desenvolvendo um conflito bastante desinteressante e confuso no tempo que sobra, este quinto filme da série Batman poderia ser uma bela e sombria alegoria sobre o medo, o crime e o castigo.

Mas quem acha que é, favor levantar a mão e entrar já na fila para o seu picolé...

No meio de toda aquela barulheira hollywoodiana-blockbuster-férias-de-verão-filme-para-macho-adolescente, no entanto, há um ou dois pontos de deleite.

5, para ser exato.

Numa cine-série pela qual já passaram gente(s) como Michael Keaton, Jack Nicholson, Kim Basinger, Danny De Vito, Michelle Pfeiffer, Val Kilmer, Cris O´Donell, Jim Carrey, Tommy Lee Jones, Nicole Kidman, George Clooney, Arnold Schwarzenegger, Alicia Silverstone e Uma Thurman, entre outros (sem qualquer juízo de valor na e pela participação de cada um deles), eis que “Batman Begins” reúne 5 dos melhores atores trabalhando atualmente no cinema mainstream americano – e até no nem tão mainstream assim.

Michael Caine, Morgan Freeman, Gary Oldman, Tom Wilkinson e Liam Neeson são grandes atores. E grandes atores sempre são capazes de um pouquinho de felicidade.

Melhor assim. “Batman Begins” é dispensável. Mas se por acaso ele passar diante de seus olhos, preste atenção nesses 5. Eles é que são os super-heróis.

14.7.05

do encontro - ou a pessoa é para o que nasce.

Poucas coisas são mais louváveis do que a arte do encontro. O encontro alarga a experiência, quebra barreiras, constrói pontes.

Imagine, então, o quão sensacional pode ser compartilhar, com terceiros, um encontro. Transmitir a outrém toda energia, toda a descoberta, todos os pensamentos e sensações que a reunião de corpos e almas pode causar.

O cinema é uma ferramenta capaz disso.

E Roberto Berliner é um homem de espírito amplo e generoso. E um cineasta dos mais capazes. Em seu “A Pessoa É Para O Que Nasce” ele constrói um nunca menos do que fascinante documentário em que registra seu encontro com três irmãs cegas de Campina Grande, PB.

Um documentário não SOBRE um objeto, seja ele uma pessoa ou um lugar, mas COM. Berliner não estuda nem perscruta. Ele nem mesmo simplesmente observa. Ele agrega. Agrega aos canais sensórios, emotivos e intelectuais da platéia a experiência de vida de três seres humanos especiais e iluminados.

E o faz com uma capacidade impressionante de regência dos meios cinematográficos à sua disposição. Berliner usa a música, a fotografia e a montagem de forma habilíssima, construindo uma peça documental explosivamente verdadeira e sincera, exatamente por não se engessar na “objetividade”.

“A Pessoa É Para O Que Nasce”, além de um retrato, é uma belíssima fábula sobre destino e sobre as fronteiras da visão e da vida. Para quem vê como as ceguinhas de Campina Grande, enxergar chega quase a ser apenas um detalhe.

8.7.05

curto e grosso

a quem interessar possa:

Del Rey é DU CARALHO.