28.9.05

alaíde

O 3º Curta Santos me homenageia, por ser “local”, com exibição "fora de concurso", em sessão conjunta, de meus 3 curtas, "Ato II Cena 5", "Tudo o que é sólido pode derreter" e "Alice".

Em casa, muitos comparecimentos queridos e especiais. Alguns, no entanto, um pouquinho mais do que outros.

Alaíde, empregada doméstica, há 18 anos trabalhando em casa de minha avó:

- Ai, meu fio, eu nunca fui ao cinema, então eu vou a primeira vez pra ver você, né mesmo?

Sentada na platéia lotada por 300 pessoas, Alaíde, me disseram, achou que me veria na tela – mal-entendido logo desfeito.

Alaíde, seguramente com mais de 60 anos, analfabeta, foi, ontem, pela primeira vez a uma sala de exibição. Para assistir aos meus curtas-metragens.

É por isso que a gente faz cinema.

23.9.05

chegadas

"abre essa janela
primavera quer entrar..."

A primavera chega com Los Hermanos.

Literalmente.

22.9.05

quinta-feira

Fui ao show do Moby.

Mas o texto mais bacana, mais pessoal, mais enviesado e mais musical (embora não pareça) escrito sobre isso está AQUI.

Sem açúcar e com afeto, Pedro Alexandre Sanches está terrível!! Não perca.

Mas mãos no mouse, porque PAS escreve bastante e, embora recente, o post "Why Does My Soul...?" já está alguns muitos cliques pra baixo.

/

E amanhã e sábado tem finalzinho de "Decálogo" no Cinesesc.

Você conhece as insubstituíveis e sensacionais vantagens de morar em SP?

Então conheça-as. Elas estão logo ali, no Cinesesc, amanhã e sábado.

(E ao "Decálogo" certamente voltaremos mais tarde)

20.9.05

Moby (para dar uma pausa no cinema - ou falar dele falando de outras coisas)

Hoje eu vou ao show do Moby.

Até ano passado, conhecia o nome: “Moby”. Achava simpatico. Sabia que ele existia. Sabia que ele tinha feito lá um disco, chamado “Play” (que é um ótimo nome, porque múltiplo), que tinha vendido um montão ao redor do mundo.

Ok, ok. Mas era Moby lá, eu aqui.

Mas Moby entrou de verdade na minha vida por causa de “Os Sete Afluentes do Rio Ota”, espetáculo teatral que é deleite estético e logo se tornou uma paixão.

Mas “Os Sete Afluentes do Rio Ota” só existiram do jeito que existiram porque um dia houve “The Far Side of The Moon”, apresentada por Robert LePage ele mesmo, aqui em SP, no Carlton Arts (quando marcas de cigarro ainda podiam patrocinar eventos culturais).

E ambos vieram pelas mãos brasileiras de Monique Gardemberg, que um dia foi amiga de infância do meu pai, não tem idéia de quem eu seja, e que depois fez um filme que eu gosto bastante até mesmo em seus defeitos, que se chama “Benjamin”. (Ah, e ela sempre foi uma das cabeças do Free Jazz/ Tim Festival – alguém aí disse Belle & Sebastian, Libertines, Macy Gray, Pet Shop Boys???)

Que é adaptação de uma obra de Chico Buarque, meu verdadeiro pai.

Mas quando Maria Luisa Mendonça, um assombro, jogou cinzas no Rio Ota ao som de “Why Does My Heart Feel So Bad”, eu já estava tomado. Ganho. Vencido.

E vi “Rio Ota” ainda outras duas vezes, por causa de Simone Spoladore, por causa de “Alice”, por causa do teatro, por causa dos atores. (Atores? Mas desde quando eu comecei a amar atores? Desde Maria Alice Vergueiro?)

E daí comprei “Play”, porque queria ouvir e ouvir unicamente aquela música, e lembrar de Maria Luisa e do teatro e do cinema e da emoção e da música e das artes e lembrar porque mesmo era bom estar vivo no exato momento em que se está vivo.

(Será que Monique Gardemberg sabe de tanta participação dela em minha vida?)

Naturalmente, gostei de outras músicas de “Play”, mas Moby, o artista, pra mim ainda não dizia muita coisa.

Daí ele vinha pro Brasil. E daí, claro, tem hype. Mas quem liga pro hype??

Eu, às vezes. Nesse caso, fui tomado. Ganho. Vencido. Pelo hype.

E pelo amigo que me mostrou as músicas bonitas de “Hotel” e “18”. E pelo gosto crescente devotado ao careca “moderno” que fazia músicas computadorizadas mas tão bonitas e bacanas e contagiantes.

Hoje vou ao show do Moby. Por causa de quem mesmo?

De Monique Gardemberg, Robert LePage, Maria Luisa Mendonça, Chico Buarque, Simone Spoladore, Maria Alice Vergueiro, Lorenzo Giunta, Tatiana Fujimori, Daniel Ribeiro, tantas outras pessoas e até um pouquinho por causa do Moby também.

Sabe por quê? Porque a gente ama quando tudo se mistura (né, Pedro Alexandre?).

E porque o mundo dá voltas mesmo. Várias.

14.9.05

atualizaçoes

Os dois ou três leitores habituais (alô, alô, Bia!!) reclamam, sempre com razão, da falta de atualização.

Logo, vamos a elas.

:

O cinema sempre teve vocação para diversão de massa, assim como sempre teve vocação para arte. Melhor que ele se equilibre entre esses dois pólos, ainda que esse “equilíbrio” não seja lá dos mais equilibrados.

“Dois Filhos de Francisco” é um filme que mimetiza formas e fórmulas da grande tradição do cinema narrativo – para as massas. Dizem alguns que, fosse um filme americano, seria execrado pela nossa “crítica”, assim como o são os filmes estrangeiros mais, digamos, feitos dentro de determinados moldes.

Não, “Dois Filhos” não tem mesmo inovações, nem vôos “artísticos”, nem se incomoda em ser grande deleite estético, intelectual ou moral.

Mas, sabe do que mais? O filme é um grande deleite estético, intelectual e moral justamente por não querer ser nada disso. Ou talvez, por querer, mas pelo caminho mais óbvio e mais esquecido - o da objetividade narrativa simples.

A tacada mestra de Breno Silveira é a história que ele se dispõe a contar. E ele coloca tudo a serviço dela. Sua direção é irrepreensível por ser invisível. Não é necessário lembrar ao espectador que ele está diante de uma encenação – o fato de tudo acontecer e fluir com tanta naturalidade já é a demonstração concreta e suficiente de que a mise-en-scene está corretíssima.

E se o filme tem clichês, já que eles são quase indispensáveis em um “cinema padrão” como esse, grandes atores muito bem dirigidos driblam-nos com habilidade.

Ângelo Antônio nasceu para interpretar Seu Francisco.

E tem música (sertaneja, evidentemente) e tem choro e tudo o mais a que se tem direito. E sabe o que mais tem? Um olhar terno e “desenbarreirado” para um Brasil profundo, imenso, interior.

“Dois Filhos de Francisco” existe para quebrar preconceitos em amplas esferas.

Você tem prestado atenção em seu país (ainda que pela ótica “embelezada” do cinema”)? Então preste.

Você tem prestado atenção no outro, nos outros, em todos os outros? Você já parou pra prestar atenção em Zezé di Camargo e Luciano? Então pare. E preste.

Destrua pré-conceitos (que são invariavelmente estúpidos), reveja pós-conceitos e quebre barreiras. Saia cantando “É o amor”.

Vá ver “Dois Filhos de Francisco”. Antes que eu te leve.

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“Amor em Jogo” são os irmãos Farrelly extravasando de vez o lado romântico que sempre existiu oculto sob a simples palhaçada e a escatologia. E é uma delícia.

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É fácil ver em “Água Negra” o que é atraente, ou, antes, o que pode ter levado Walter Salles a querer filmar o roteiro. Mas é condescendência demais chamá-lo de bom.

Não há alma. (E essa é uma afirmação tão subjetiva quanto pode ser).

(Mas, talvez, a “Água Negra” voltemos mais tarde).

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Há Rohmers entrando em cartaz.

E eles sempre valem a pena.