3.3.08

Calabar.



Ontem foi a última apresentação de Calabar, peça que um crítico muito respeitado de um jornal muito respeitado classificou como "péssima” (aquele “péssimo” da bolinha preta!) na semana passada. (Tá bom, meu filho, muito obrigado. Agora vai brincar.)

Eu lembro do dia em que Heron me telefonou, em meados de junho, perguntado como estava minha agenda para o segundo semestre, porque ele queria que eu trabalhasse com ele na montagem de Calabar.

O quê? Calabar? Calabar? do Chico e do Ruy?

Exatamente essa.

Todos ali pela paixão, pela vontade de fazer “um texto brasileiro”, pela beleza devastadora daquelas músicas, pelo desafio de encenar aquela dramaturgia longa e difícil. E pela energia um do outro, que sempre foi contagiante, numa dinâmica que, pobre do crítico que não entendeu, é coletiva PARA CARALHO.

Porque existe uma energia que leva os homens a sonhar e a contagiar outros homens e a seguir em frente. Mesmo que tudo isso seja muito anos 70.

Porque acreditávamos e acreditamos na idéia (que é cobra de vidro), na cena, no teatro.

De onde eu vim, a natureza não tem necessidade alguma da arte. Se deixar, o teatro morre. Mas tantas e tantas pessoas não querem deixar.

Nos corpos, mãos, braços, vozes daquelas 13 pessoas no fogo da arena, toda uma verdade que vive, que pulsa, que faz um sentido tremendo.

O público gosta mais, gosta menos, ri, sai, dorme. Mas a gente se desafia e se expõe e ergue pouquinho mais de duas horas de peça ali no 10º andar de um prédio na avenida paulista - sem vergonha de errar, com cara de pau, numa imperfeição que está sempre no jogo, querendo ou não.

Porque por trás de um homem de visão, há sempre uma batelada de generais, banqueiros, burocratas, programadores culturais, críticos de ocasião...

A terra pulsa e blasfema, as paixões movem e destroem corpos. E num arado incessante, a gente vai girando a roda da vida. Porque a gente acredita.

Não acredita?

E nós queremos a atenção que se dá aos charlatães, aos bobos de rua, aos picaretas.

Os encontros que nascem da alegria são sempre os mais frutíferos. Wal, Carlinhos, Andréia, Eduardo, Clayton, Lu, Ivan, Jeanne, Tucci, Dri, Raphael, Junior, Alexandre, Paula, João e Heron. Brindemos o elogio à traição!

Porque a gente não quer calar a boca, Bárbara ou não.

E Calabar, Calabar, Calabar, porque Calabar é o nome da peça.

Tira as mãos de mim.

Põe as mãos em mim.



PS:
Estar no teatro hoje é culpa do Heron. Mas é algo que não teria acontecido se não fosse pela inspiração infinda de Maria Alice Vergueiro e Luciano Chirolli, musos da vida inteira.


Um comentário:

j disse...
Este comentário foi removido pelo autor.