Saba, curta-metragem de Gregorio Graziosi e Thereza Menezes, vaporiza o real em esplendor fotográfico, desautoriza a objetividade e utiliza o mais pessoal dos olhares para traçar um retrato de verdade absoluta.
E de beleza sufocante.
Acompanhando um dia na vida de um casal de idosos, o que o par de diretores faz é inventar uma realidade cinematográfica a serviço de registros verdadeiros. A câmera, aqui, perscruta sempre pelo lado menos óbvio. Mostra escondendo. Deixa entrever e subentender em detalhes, em angulações, em vieses.
Utiliza de forma precisa um tempo - narrativo - de contemplação para chegar a uma verdade - construída - sobre o Tempo - o de letra maiúscula. Faz-se mais e mais sincero na medida em que assume mais e mais o seu filtro – filtro visual e sonoro que reside num olhar apurado, numa sensibilidade comovente e num senso estético acima de qualquer suspeita.
(Sim, porque, se ainda não deu para entender, Saba é um documentário. E dos mais íntegros.)
Que seu final chegue quase como um anti-clímax não diz necessariamente nada de bom ou de ruim para e sobre o filme. E se como desfecho ele tampouco se realiza plenamente, a culpa não é, de forma alguma, da escolha ali empreendida.
Na busca por um responsável, fique com a explosiva singeleza, causadora de doses redentoras de encantamento, que move o curta-metragem.
Ela nos faz querer mais do mesmo.
25.7.06
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