96 espetáculos. E em “espetáculos” estão incluídas óperas e dança. Ou seja, "não é só teatro”, vai dizer o ranzinza. É, não é.
Nos últimos anos, estive com medo das listas, coisa que brincava de fazer desde a adolescência. Provavelmente temor de registrar opiniões, vivendo com uma sensibilidade exageradamente fragmentada e subjetividade cada vez mais mutante. Mas a simbologia que dá graça à coisa é essa: registrar (e depois mudar de ideia). E ninguém vai lembrar de nada mesmo – porque sequer vai ler.
O que não me cessa de surpreender, em 2012, é a constatação, nos palcos paulistanos, da hegemonia carioca. O Rio de Janeiro, aquele que se associa às comédias comerciais e ao teatro sem alma, aquele onde estariam os “famosos” e não os “artistas”, foi aquele que nos mandou a maior parte do que de mais consistente esteve em cartaz. O Rio de Janeiro humilhou o teatro paulista (falando, assim, de uma forma levianamente generalizada).
(Até Felipe Hirsch, um curitibano que virou paulista, estreou sua nova peça – com atores que são ‘jóias da coroa’ do teatro de São Paulo – no Rio, o que inevitavelmente faz de “O Livro de Itens do Paciente Estevão”, uma importação carioca.)
“R&J de Shakespeare”, “Palácio do Fim”, “O Filho Eterno”, “À Primeira Vista”, “Breu”, “O Bom Canário”, “Julia”, “Maria do Caritó”, "Adeus À Carne", "Estamira". Peças cariocas.
“Isso Te Interessa?”, “Sua Incelença, Ricardo III”, “Eclipse”, “Prazer”. Peças do Paraná, Rio Grande do Norte e Minas Gerais.
Mas isso é só uma constatação, mais a título de curiosidade. Sem bairrismos.
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Quatro eventos extraordinários aconteceram (e salve o Prêmio Bravo! e o APCA e até os votantes do Guia da Folha, no exato dia de hoje, que souberam ver a luz) em 2012: “Peep Classic Ésquilo”, “Bom Retiro 958 Metros”, “Ficção” (com suas seis peças que são e não são uma só) e “Isso Te Interessa?”.
Em magnitude, qualidade, resultado (artístico), satisfação, importância, inteligência, comunicação e ousadia, foi isso.
O que não significa que, entre tudo o mais, não tenha havido aquele monte de coisa que enche de prazer e júbilo a alma de um espectador. Constatação na qual é importante fazer constar que o signatário não assistiu a tudo o que houve – como, por exemplo, a maioria das peças que o Prêmio Shell, aquele, indicou no 2º semestre do ano.
(Algumas peças importantes não vistas: “Acordes”, “Adeus À Carne”, “Aqui”, “Barafonda”, “Boca de Ouro”, “A Construção”, “Estamira”, “No Coração do Mundo”, “Outros Tempos”, “Recusa”, “Terra de Santo” e por aí vai...)
A que se segue, portanto, é uma lista restrita, pessoal, idiossincrática, contraditória e, por que não, leviana.
DIREÇÃO
Antonio Araújo por “Bom Retiro 958 Metros”
Christiane Jatahy, por “Julia”
Eric Lenate, por “Um Verão Familiar”
Gabriel Villela por “Sua Incelença, Ricardo III”
João Fonseca por “R&J de Shakespeare”
Leonardo Moreira, por “Ficção”
Márcio Abreu por “Isso Te Interessa?”
Roberto Alvim por “Peep Classic Ésquilo”
DRAMATURGIA
“Aberdeen – um Certo Kurt Cobain”, de Sergio Roveri
“O Bom Canário”, de Zacharias Helm
“Breu”, de Pedro Brício
“Ficção”, de Leonardo Moreira e Cia Hiato
“Isso Te Interessa?”, de Noelle Renaude
“Maria do Caritó”, de Newton Moreno
“Peep Classic Ésquilo”, adaptado por Roberto Alvim
“Prazer”, da Cia Luna Lunera
ATUAÇÃO
Angela Winkler em “Lulu”
Berliner Ensemble em “Ópera de Três Vinténs”
Charles Fricks em “O Filho Eterno”
Cia Brasileira de Teatro em “Isso Te Interessa?”
Cia Clowns de Shakespeare em “Sua Incelença, Ricardo III”
Cia Hiato em “Ficção”
Daniel Infantini em “The Pillowman – O Homem Travesseiro”Danilo Grangheia em “O Livro de Itens do Paciente Estevão”
Denise Fraga em “Chorinho”
Drica Moraes em “A Primeira Vista”
Ed Moraes em “Um Verão Familiar”
Georgette Fadel em “O Livro de Itens do Paciente Estevão”
Kelzy Ecard em “Breu”
Lavínia Pannunzio em “Um Verão Familiar”
Roberto Audio em “Bom Retiro 958 Metros”
Tiago Abravanel em “Tim Maia, Vale Tudo – o Musical”
Vera Holtz em “Palácio do Fim”
OUTROS DESTAQUES
A encenação de “Lulu”, com direção de Bob Wilson e canções de Lou Reed.
A encenação da ópera “Macbeth”, de Verdi, com direção de Bob Wilson.
A encenação da ópera “Orfeu e Eurídice”, de Gluck, no terreno de obras da Praça das Artes, com cenografia de André Cortez e direção de Antonio Araújo.
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Aurora dos Campos, Maria Silvia Siqueira Campos e Miwa Yanagizawa pelo cenário de “Breu”.
Equipe de direção de arte de “Sua Incelença, Ricardo III”.
Fernando Marés pela cenografia de “Isso Te Interessa?”.
Guilherme Bonfanti, pela iluminação de “Bom Retiro 958 Metros”.
Marcos Daud e Ron Daniels pela tradução e adaptação do texto de “Hamlet”.
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A inauguração, programação e trabalho continuado de repertório do Teatro do Núcleo Experimental.
A programação do festival bienal Mirada, em Santos.
MELHORES ESPETÁCULOS
(em ordem alfabética)
Bom Retiro 958 Metros
Ficção
Isso Te Interessa?
Julia
A Primeira Vista
Sua Incelença, Ricardo III
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