25.1.05

CINEMATOGRÁFICAS 1

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A única coisa que há de memorável – e admirável - em “Alexandre”, de Oliver Stone, é o advento de um casal romântico homossexual ocupar o centro da cena mainstream. É a primeira vez, na era da cultura de massa, que Hollywood, com toda sua força e sua invencível máquina de propaganda, dá ao mundo, em proporções épicas, um filme que coloca dois homens como par romântico central de uma superprodução. OK, na há beijo nem sexo, mas os diálogos, a sedução, os olhares e as juras de amor eterno seguem à risca a cartilha do grande amor cinematográfico. E, mais notável, o filme não se incomoda nem um pouco com o fato – não é filme de gênero, não é filme de gueto, nem de circuito de arte. É grande, volumoso e barulhento, louvando com naturalidade o amor – independente de quem o sente.

No alvorecer do segundo mandato George Bush, em que o tsunami neoconservador afia as garras e a estupidez gigantesca dos americanos médios não os deixa ver que é no mínimo uma contradição lutar pela “liberdade” no Iraque e no Afeganistão e, ao mesmo tempo, tolher sumariamente todas as liberdades mais básicas dos indivíduos, como as sexuais, por exemplo, Oliver Stone não deixa de fazer de “Alexandre” o seu quinhão de provocação certeira.

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“Perto Demais”, de Mike Nichols, é interessante e eficiente cinema maduro para adultos. Patrick Marber adapta com competência sua própria peça, “Closer”, em um roteiro que avança fluidamente, recheado de aspereza, e com uma ou duas grandes cenas. Julia Roberts nunca esteve tão bem dirigida, mas, de fato, Clive Owen comanda o show. O talento para uma mise-èn-scene que se equilibra entre o teatro e o cinema já era latente em Mike Nichols desde “Quem Tem Medo de Virginia Woolf?” e reabilitou-se por inteiro desde que ele deu a Emma Thompson o papel de sua carreira, no imperdível e lancinante “Uma Lição de Vida” (lançado diretamente em DVD no Brasil). Desde então, Nichols decidiu só acertar. “Closer” vem suceder “Angels In America” na renovada carreira deste senhor britânico.

A idéia que perpassa o novo filme, em diversos aspectos, é a cruel noção de que todos somos e sempre seremos estranhos uns aos outros, e que isso coloca as relações amorosas no volúvel patamar das ilusões. Nada de novo, mas produto bem reciclado e em bela embalagem.

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