16.4.06

um filme fantástico e uma propaganda enganosa

O Novo Mundo é um filme imperfeito e magnífico – e o melhor é saber que, nele, uma característica depende diretamente da outra.

Terrence Malick é um esteta. Mas com grau de encantamento no olhar tão grande que talvez o faça o único, ou o mais evidente, do cinema atual.

Há a natureza, reinando em cada plano, em cada subtexto, em cada curva da história (Como já havia nos três excelente filmes anteriores do cineasta, Terra de Ninguém, Cinzas do Paraíso e Além da Linha Vermelha.)

Há uma fotografia tão deslumbrante que deveria fazer corar de vergonha os que deram o Oscar a todo aquele insuportável belo-MacDonald’s de Memórias de Uma Gueixa.

Há a montagem, estabelecendo elipses narrativas assombrosas em beleza e eficácia e compondo um fluxo dramático inebriante, surpreendente e desafiador.

Há vozes em off, usadas como monólogos interiores com a mesma liberdade, precisão, o mesmo apuro estético e o mesmo acerto, embora em registro e tons distintos, de um Wong Kar Wai.

Há a trama, uma arrebatadora história de amor que se faz viva por sugestões, por delicadezas, por símbolos, por abismos emocionais que se abrem e fecham em um encontro de mãos, em um olhar perdido, em água e terra.

Há ética, a força moral da história, o nascimento dos Estados Unidos da América por seu ângulo mais desastroso, servindo de pano de fundo e metáfora para uma alma, tomada por descobertas e paixões e marcada pela destruição e pela reconstrução - ou vice versa.

Há uma estrutura narrativa que jamais cede ao óbvio, que desafia o olhar, que explode os sentidos de satisfação, que deixa hábeis espaços em branco, que incita a mente e o coração.

Há Wagner, na abertura dá ópera O Ouro do Reno, e Mozart, no Concerto Para Piano nº 23, catalisando maravilhas, ajudando a compor uma sinfonia de êxtase.

(E há uma paixão pessoal por esse filme e por esse cineasta que confunde a análise e, quem sabe, deixa o texto meio oco.)

Descontínuo como esse apanhado de linhas, O Novo Mundo é um verdadeiro poema audiovisual. A quantos temos o prazer de assistir nos tempos que correm?


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E, como não podia deixar de ser em se tratando da máquina de fazer dinheiro hollywoodiana, o filme é vendido de forma esdruxulamente incoerente com sua verdadeira essência. Olhe o cartaz, olhe o trailer: tudo indica um movimentado filme de aventuras, com um galã, Colin Farrell, a frente, e bastante adrenalina em seu interior.

Não é à toa que adolescentes barulhentos e muitos outros desavisados de plantão saem resmungando no meio da sessão. Quem veio atrás do vazio dificilmente se contenta com tanta substância.

3 comentários:

Anônimo disse...

Não te vi online por tempo suficiente pra dizer que eu estava com tanta, mas com taaaaaanta inveja de você!!
Finalmente, nesse feriado, pude sanar um pouquinho: assisti O Novo Mundo =] e entro aqui e ainda vejo traduzido em linhas tudo que a gente sente quando vê um filme desses.
Agora falta conhecer Paris e correr pelo Louvre, porque levar um filme para um festival na França é só com você.

paula manzo disse...

voltei

Anônimo disse...

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