28.7.09

mais correspondência

From: Rafael Gomes
Date: 28 de julho de 2009 17h19min49s GMT-03:00
To: Fernando Meirelles
Subject: as riquezas do som e da fúria

Caro Fernando,


Acredito que você não me conheça senão de rápidos e fortuitas passagens pelos corredores da O2, onde fui assistente da Biz e do Toniko em 2003 e 2004. (...)

Imagino que os elogios para Som & Fúria devam estar vindo às centenas, mas eu não pude me furtar a vir fazer os meus, tamanho o entusiasmo, empolgação e ansiedade com que acompanhei todos os 12 episódios. Vindo também de uma experiência (ainda que muito mais modesta) em televisão, na qual havia a tentativa de incutir a curiosidade pela literatura nos adolescentes - inclusive a série como um todo foi baseada em um curta metragem na qual o tema central era justamente "Hamlet" -, é com felicidade suprema que assisto a algo tão legitimamente inteligente e acessível quanto o trabalho que vocês fizeram.

Penso que existe um equilíbrio delicado nos programas que a tv aberta geralmente leva ao ar: ou eles ultrapassam em maior ou menor grau o ponto depois do qual podem ser considerados "herméticos" por parte do público (vide "A Pedra do Reino" ou mesmo "Capitu") ou eles situam-se em uma zona de conforto na qual é preciso concessões para que se goste deles, num raciocínio do "é bom apesar de...".

Pois "Som & Fúria" admiravel e invejavelmente não traz "apesares". São roteiros afiadíssimos, que logram brilhantemente em moldar seus personagens através da incessante ação centrada no coletivo, tocados por uma direção que demonstra conhecer precisamente o material com o qual está lidando e que, portanto, aplica com exatidão suas habilidades em manejá-lo. E essa equação, embora possa parecer a premissa básica de dirigir qualquer obra audiovisual, nós sabemos, nem sempre é equalizada da forma como deveria ser.

Isso para nem começar a falar dos acertos múltilplos da escalação e da direção do elenco: da "reinvenção" de Felipe Camargo, um Dante-Hamlet de assustadora sanidade, ao prazer que é ver Cecilia num lugar que sua capacidade naturalista e seu tempo de texto já guardavam para ela há muito tempo, passando pelas verdades assombrosas de Andréia Beltrão e as delícias cômicas de Pedro Paulo, Dan e Regina Casé, entre todos os outros.

Enfim, eu poderia discorrer por linhas e horas sobre todos os porquês da série ser um acerto de tal magnitude. Mas acho que você (e toda a enorme equipe envolvida) sabem da pequena jóia que engendraram.


Do fã e colega, aqui, portanto, os maiores e mais sinceros parabéns.


um abraço,


Rafael Gomes

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bom ler um texto com esse português formal.