16.8.09

+ Moscou

muitas vozes têm se levantado acerca de Moscou, entre os críticos de cinema (e mesmo entre o público cinéfilo). mais do que contraditórias, as opiniões contra ou a favor do filme formam um todo necessariamente complementar.

dos textos que passaram por estes olhos, sinto minhas emoções e reflexões corroboradas por Eduardo Valente, em belo texto AQUI, e pelo mestre Inácio Araújo, cujas palavras vão coladas abaixo:


"Moscou" transtorna espaço e tempo

Com “Moscou”, Eduardo Coutinho passou (ou voltou?) à ficção.

Mas não se pode dizer isso com muita certeza porque ele observa essa linha que demarca a ficção do documentário com desenvoltura sempre maior.

De todo modo, em “Moscou” a ficção é inequívoca. Ela vem de Tchecov, de “As Três Irmãs”.

Mas não existe uma adaptação para cinema propriamente. Existe a peça filmada, ou cenas da peça filmadas. Ainda assim, elas formam um todo.

“Moscou” é o registro de uma ficção que se desenvolve em outra parte, no teatro. É o documentário que se dobra sobre a ficção, ao inverso do que acontece nos filmes de Coutinho desde “Cabra Marcado”.

Em seguida, Coutinho introduz um elemento que não contava em seus filmes desde, justamente, “Cabra Marcado”: o tempo.

Não esse tempo, em todo caso. Um tempo que parece feito de hiatos, ou de elipses. Em “Cabra”, os 18 anos (era isso?) entre a filmagem original e o retorno à cidadezinha.

O que é, agora, essa Moscou evocada pelas moças? Um lugar perdido, tão mais maravilhoso porque perdido, inatingível.

Em vários sentidos. Entre a peça e nós passaram por Moscou os czares, os comunistas e, agora, os capitalistas. Moscou é um sonho qualquer, como "Moscou". Das calças jeans, da justiça social, dos passos perdidos, do que se quiser.

E não mais que isso. Porque no meio, me parece, existe ainda o tempo da literatura, do teatro, incidindo sobre o conjunto. Moscou é Godot, de certa maneira. Nossa eterna espera. Nosso absurdo. Uma ficção, em suma.

Uma ficção de que Coutinho busca a parte documental.

Jean-Claude diz (em seu blog também no UOL) que é um impasse, uma espécie de filme em frangalhos.

Não sei. Me parece mais uma busca que segue, ou que recomeça, como um ensaio.

Se "Jogo de Cena" era um ponto de chegada, de acabamento, aqui temos uma nova partida.

Não é um filme fácil. É muito inquieto, no sentido estético e de pesquisa. Coutinho é um cineasta de um rigor impressionante.


Por Inácio Araujo

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