Algumas notas esparsas, a constar:
- Danny Boyle afunda 127 Hours na exata mesma lama onde os críticos (não americanos, em sua maioria) acusavam-no de emporcalhar Quem Quer Ser Um Milionário. A diferença é que este último aceitava o emporcalhamento e refestelava-se nele (ou era capaz de conduzir o público a assim o fazer, de toda forma), enquanto o primeiro só exaspera-se para sair do atoleiro. James Franco faz o que pode (seu convite de apresentador do Oscar, dizem, terá dupla serventia) e há, por parte do roteiro e da direção, de fato uma força em segurar um filme inteiro sobre (ou sob) uma situação dramática literalmente muito restrita. Mas quando vai-se desenhando a perspectiva da pieguice destrambelhada e da diluição das boas ideias, o erro já se apresenta sem volta. (As críticas, aqui, são majoritariamente festivas, não obstante.
- Soa como um provincianismo deslumbrado achar que a grama da metrópole do vizinho é mais verde, suculenta, esperta e cosmopolita do que a sua própria, mas se já é cantiga velha dizer que passou da hora de São Paulo ter sua Time Out, que dizer então do New York Times e sua edição de fim de semana?! Bem, ela é, assim... ela é o jornal que qualquer culturete (deslumbrado?) merece. Em Arts & Leisure, a reportagem sobre o 'novo' disco de Michael Jackson, uma análise acerca do fracasso das peças de cunho histórico da temporada de outono, o novo dos irmãos Coen, uma revisão da carreira de Bernardo Bertolucci, um perfil de Sofia Coppola, uma entrevista com James L Brooks e outra com a dupla John Cameron Mitchell/ Nicole Kidman. Isso tudo num mesmo caderno de cultura. E não é só uma questão de 'as celebridades deles brilham mais do que as nossas' e sim uma questão de o que se pode fazer/ como abordar essas celebridades. Porque não se trata de textos rápidos e 'releasísticos', mas conteúdos substanciais produzidos a partir dos eventos/ personagens/ tópicos da semana. Para coroar, a The New York Times Magazine traz as fotos e o 'making of' de 14 Actors Acting, mais irmãos Coen, uma investigação sobre as estrelas mirins (a propósito de Elle Fanning), 'o que o filme sobre o Facebook falhou em capturar sobre a era digital', e matéria sobre a noção de realidade fílmica entre documentários verdadeiros e falsos e ficções inspiradas na realidade. This is it.
- La Bohème em montagem do Metropolitan encenada por Franco Zeffirelli é a opulência que se pode esperar, com cenários de grandioso e meticuloso realismo (praça em Paris com centenas de figurantes, neve artificial etc). Joseph Calleja e Fabio Capitanucci destacando-se sobre as colegas Krassimira Stoyanova e Ellie Dehn, competentes porém sem brilho. Mas a efervescência emocional de uma Bohème bem conduzida (em termos musicais e cênicos) é sempre irresistível.
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