Existe, no teatro, essa mágica elementar que é a presença.
Que é simples como o fenômeno físico e prosaico de haver um ator na sua frente. E ele abrir a boca e falar.
Mas que, em sua magnitude, quase desnecessário dizer, só se realiza raramente.
Daniel Radcliffe em How To Succeed In Business Without Really Trying, na Broadway, era uma robusta presença - a despeito de sua diminuta estatura. Depia-se de Harry Potter e, quem diria, mostrava que nasceu para o teatro musical. Em uma engrenagem azeitada para o entretenimento funcionar com um preciso relógio, era ele o motor que puxava o show. O canto e a dança resplandeciam, funcionais e graciosos, mas era no tempo e num abarcador carisma que o garoto comandava o palco.
Não sozinho, é claro, porque John Larroquette, que lá garantiu seu Tony de ator coadjuvante, era um voraz disparador de 'one-liners'.
Justo dizer, o texto e as canções são daquele tipo que justificam mesmo a existência do teatro musical, naquilo que possui de mais inconsequentemente divertido, catártico e contagiante - talvez até mordaz e esperto.
Sem pudores, um programão.
É também na presença que Stockard Channing reluz, na intrigante, sólida, mas sentimentalmente auto-indulgente Other Desert Cities, uma peça na melhor tradição nova yorquina das 'revelações e conflitos na sala de estar'.
Destaque de um elenco forte e incrivelmente 'colaborativo', na medida em que uma atuação claramente impulsiona os bons momentos das demais, Channing é a pedra preciosa que transforma cada uma de suas intervenções em erupções deliciosas de humor, amargura e inteligência.
Já no Tchekhov que a Classic Stage Company punha de pé em seu diminuto e aconchegante palco, Dianne Wiest e John Turturro, redefiniam, a seu modo, O Jardim das Cerejeiras.
Sem perder o rigor e a nobreza que, sendo parte do que de melhor em teatro já foi escrito, a peça possui, o despojamento da montagem de Andrei Belgrader alcançava a simples e árdua tarefa da absoluta aproximação.
E não se trata só de suprimir pompa, ou tons elevados de teatralidade. Trata-se (tratava-se) de dizer as palavras com a qualidade e a simplicidade que elas tem - e, assim, incitar gigantescos e inesgotáveis significados.
Os atores orquestrados em atuações de um realismo pleno e, diga-se, 'minimalista', existiam com a mesma naturalidade com que provavelmente conversavam no camarim ou sairiam para jantar após a sessão.
E, o mais importante, sem desperdiçar o texto tchekhoviano. Pelo contrário, dando a ele o passo de algo tão essencial quanto trágico - a vida desenrolando-se.
Neste tocante, Dianne Wiest, fazendo sua primeira entrada e última saída, ao enxergar sua velha casa, e John Turturro, dançando movimentos de patética e indisfarçavel felicidade ao arrematar o leilão, são imagens eternas.
Que se não chegam a redefinir por completo as personagens, as inflam com o mais tocante e exasperante sopro de vida. Pela forma como são, mas muito por como estão - por suas assombrosas presenças, enfim.
Sobre isso tudo, um exemplo (e explicação não textual) vertiginoso pode ser visto abaixo, a partir dos 06:36, em Andrea (sempre ela):
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Na Madama Butterfly que Anthony Minghella, pouco antes de morrer, encenou para o Metropolitan Opera, estavam todas as delicadezas perdidas do mundo (e da ópera).
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War Horse, que causa sensação nas plateias, sofre como teatro tanto quanto brilha em 'puppetry'.
É um melodrama bem difícil - e não no bom sentido.
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Cymbeline, elogiadíssima montagem off-Broadway que se hospedava no peculiar Barrow Theater, é bacaninha, enérgica, admirável em dar conta de um texto shakespeariano tido como 'confuso' e quase 'inencenável'.
Mas é também o 'produto de qualidade' sintomático de uma crítica que não parece ver coisas realmente muito inventivas, temporada após temporada.
(Operando em chave bem semelhante, o nosso O Púlcaro Búlgaro, por exemplo, dá um pau.)
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Follies era o triunfo de Jan Maxwell (não à toa ela está, agora, indicada ao Tony) e de um inacreditável elenco de 'senhoras' coadjuvantes.
E do score espantoso de Sondheim.
(E alguém pode dizer a Bernadette Peters que já passa na hora de ela parar de choramingar enquanto fala.)
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Seminar possuía o prazer de ver Alan Rickman e Lily Rabe (eis, de novo, duas respeitáveis presenças) duelando ferozmente - ela que continua sendo uma impressionante encarnação mais jovem de Laura Linney.
Mas nenhum comentário pode ser melhor do que esse, do NY Times, que basicamente resume tudo:
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E assim foi dezembro.
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