Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
Diretores talentosos existem, diretores extraordinários também, cinema político existe, da mesma forma. E existe, claro, o cinema que podemos chamar de "de diversão".
Bryan Singer é um cineasta talentoso. Provou isso com sua estréia em longas-metragens, Os Suspeitos, e confirmou, entre altos e baixos, com O Aprendiz (Ian McKellen estava lá...)
X-Men e X2, por serem veículos gigantescos da máquina (de fazer dinheiro) hollywoodiana, nem poderiam ser autorais. Mas possuem um tom, uma levada, um ritmo e um ponto de vista que os fazem funcionar muito bem como cinema de entretenimento. Isso é, em grande parte, proeza de Singer.
Ambos os filmes, duas primeiras partes da trilogia agora (supostamente) concluída com X-Men - O Confronto Final, possuíam, lá no seu fundo, um tom moral, que vinha em forma de grito de alerta a favor dos diferentes.
Louvável, sem dúvida, e, mais ainda, essencial para que o filme funcionasse como funcionava, para que tivesse sua integridade.
Apesar de com algo a mais, eram filmes legais. Nunca obras-primas, nunca estudos sobre preconceito e discriminação, nunca obras pretensamente políticas.
Achar que Brett Ratner, diretor dos medíocres Hora do Rush e Dragão Vermelho, entre outros, transforma a terceira instância da saga X-Men em um farto libelo político é pura bobagem de alguns críticos.
Só mesmo com um nivelamento intelectual muito baixo se pode querer achar em X-Men - O Confronto Final um filme que vá muito além da diversão.
Ótima diversão, vale dizer. Com atores no ponto (olha Ian McKellen lá!), direção bastante alinhada com a proposta e um olhar ligeiro sobre as coisas à nossa volta. Mas só isso.
Querer mais é esquecer o que o cinema já fez, em termos de consistência dramática, qualidade artística e importância histórica, em seu diálogo com o mundo.
30.5.06
mais um pouco
Marisa Monte, depois de uma estréia tensa e nervosa, deitou e rolou na noite de domingo, 28/06.
Tiago, Henrique, Drow, Fabiana, Daniel e Marco não me deixam mentir. A cantora estava leve, solta, quente, risonha, dançante, brincalhona.
Fez jogo de cena (tímido), cantou lindamente, contagiou com pouco - olhares, tons, sorrisos.
Verdade que a platéia ajudou, urrando de entusiasmo a cada mínimo gesto vindo do palco.
Mas a energia dessa apresentação fez dissipar qualquer dúvida ou ressalva que se pudesse ter acerca de Universo Particular. (Mentira: as caixas de luz do cenário ainda se mexem demais da conta.)
Marisa Monte é Marisa Monte. Isso é claro e nunca truque. Cabe ao público que aprecia atirar-se sem receios.
Tiago, Henrique, Drow, Fabiana, Daniel e Marco não me deixam mentir. A cantora estava leve, solta, quente, risonha, dançante, brincalhona.
Fez jogo de cena (tímido), cantou lindamente, contagiou com pouco - olhares, tons, sorrisos.
Verdade que a platéia ajudou, urrando de entusiasmo a cada mínimo gesto vindo do palco.
Mas a energia dessa apresentação fez dissipar qualquer dúvida ou ressalva que se pudesse ter acerca de Universo Particular. (Mentira: as caixas de luz do cenário ainda se mexem demais da conta.)
Marisa Monte é Marisa Monte. Isso é claro e nunca truque. Cabe ao público que aprecia atirar-se sem receios.
saudade
O Código Da Vinci dá saudade de Munique.
(E nos faz lembrar o quanto o filme de Spielberg é bom, subestimado e com que habilidade consegue aliar "fatos históricos" à "filme de ação").
(E nos faz lembrar o quanto o filme de Spielberg é bom, subestimado e com que habilidade consegue aliar "fatos históricos" à "filme de ação").
24.5.06
os códigos McKellen
O Código Da Vinci utiliza - mal - rigorosamente todos os códigos de uma certa gramática cinematográfica para filmes de "aventura", conhecida como hollywoodiana.
Porcaria de filme que, olhado a rigor, mesmo que sem muito cuidado, é ruim em todos os sentidos.
A começar pelos flashbacks mais assombrosamente pavorosos do cinema recente.
Os personagens são simplesmente patéticos em suas personalidades e alavancam a trama dizendo alguns dos diálogos mais imbecilmente didáticos a já aparecer em um blockbuster.
O desfile de frases feitas - e mal feitas - fazem as pessoas na tela serem tudo menos pessoas. Suas personalidades inexistem, e, mesmo imersos na superficialidade, não há um só pequeno toque que os faça interessantes.
O tom soa errado, enfim. Num carrossel frenético, onde conspirações seculares ganham a cena, crer piamente no que se está fazendo, levando a coisa toda a sério demais, adotando um ar de gravidade que de tão inócuo e in-crível roça os limites do francamente estúpido, é o grande erro da direção e do elenco.
Tom Hanks, Audrey Tatou, Jean Reno, Alfred Molina e Paul Bettany não dão o mínimo às suas composições, não são em nada aceitáveis. São todos caricatos, planos, bestas, ridículos. Bettany, em especial, ultrapassa o suportável, tentando fazer o público realmente acreditar em seu monge albino, um escravo de Deus.
Pensamos que se o tom geral fosse o de assumir a inverossimilhança, como o faz um Indiana Jones ou um Missão Impossível, por exemplo, tudo poderia ser delicioso. Mas não aqui.
(Sean Connery e Judy Dench, participações estreladas em filmes de ação de outrora, são bons exemplos a se reter como guias).
A exceção, como não podia deixar de ser, é Ian McKellen. Ator enorme, entende o que está fazendo e como deve fazê-lo. Longe de salvar um desastre tão grande como esse, ao menos tem ginga e traquejo. Faz rir, dá medo, envolve. Sua entrada em cena ocorre em um momento chave, e com sua presença cênica hipnótica e sua voz cadenciada em palavras bem ditas (calejada em anos de Shakespeare nos palcos londrinos), dá show à parte. Show que mantém firme até sua última e irresistível linha de diálogo.
MacKellen é experiente nesse tipo de trabalho. Ator de capacidades assombrosas, parece ter resolvido curtir, assumindo papéis importantes em diversos filmes, por assim dizer, artisticamente menores. Começou com X-Men, onde agora chega a seu terceiro episódio, e desempenhou papel fundamental nas três partes de O Senhor dos Anéis.
Sabe há tempos, portanto, o que é ser a reserva de qualidade de um blockbuster. Acima da bobagem generalizada, inverte a história a seu favor, carrega a platéia no bolso, saber divertir-se e divertir com aquilo. Lê a partitura a seu modo e esse acaba sempre sendo o melhor modo. Em O Código Da Vinci, é mais do que nunca evidente seu destaque. É o único ser crível, o único que sobrepõe-se à planitude e dá um pouco de gosto a esse caldo tão anódino.
Sem contar que é capaz de mais emoção com uma pequena inflexão do rosto do que Tom Hanks durante toda a projeção - fala-se, atenção!, desse caso específico, já que não é segredo que Hanks é, quando quer, um grande ator.
(E por que, meu deus, por que aquela sugestão de romance entre Hanks e Audrey Tatou??? É o ridículo atingindo picos...)
O New York Times, em crítica recente, recomenda ao leitor que agradeça ao deus de sua preferência pela presença de Ian McKellen. Recomendação refeita, portanto.
Com tudo isso, O Código Da Vinci é um caso de bom-às-avessas, quase sem querer. Tão ruim, tão formulaico, tão desacertado, que acaba sendo uma grande-bobagem-boa. Como McDonald's, por exemplo. Para quem se entrega e permite afundar na lama, deglutível, sem dúvida. E se você é daqueles que vai descobrir a trama no momento mesmo da projeção, você tem sorte. É capaz, e até provável, que você se envolva.
Mas, daqui a alguns anos, quando a febre e o hype passarem (hype que já virou anti-hype, graças à acolhida feroz que a crítica mundial reservou ao filme), vai sobrar rigorosamente nada.
O Código Da Vinci está fadado a ser, no máximo, um item a mais na filmografia de Ian McKellen.
Porcaria de filme que, olhado a rigor, mesmo que sem muito cuidado, é ruim em todos os sentidos.
A começar pelos flashbacks mais assombrosamente pavorosos do cinema recente.
Os personagens são simplesmente patéticos em suas personalidades e alavancam a trama dizendo alguns dos diálogos mais imbecilmente didáticos a já aparecer em um blockbuster.
O desfile de frases feitas - e mal feitas - fazem as pessoas na tela serem tudo menos pessoas. Suas personalidades inexistem, e, mesmo imersos na superficialidade, não há um só pequeno toque que os faça interessantes.
O tom soa errado, enfim. Num carrossel frenético, onde conspirações seculares ganham a cena, crer piamente no que se está fazendo, levando a coisa toda a sério demais, adotando um ar de gravidade que de tão inócuo e in-crível roça os limites do francamente estúpido, é o grande erro da direção e do elenco.
Tom Hanks, Audrey Tatou, Jean Reno, Alfred Molina e Paul Bettany não dão o mínimo às suas composições, não são em nada aceitáveis. São todos caricatos, planos, bestas, ridículos. Bettany, em especial, ultrapassa o suportável, tentando fazer o público realmente acreditar em seu monge albino, um escravo de Deus.
Pensamos que se o tom geral fosse o de assumir a inverossimilhança, como o faz um Indiana Jones ou um Missão Impossível, por exemplo, tudo poderia ser delicioso. Mas não aqui.
(Sean Connery e Judy Dench, participações estreladas em filmes de ação de outrora, são bons exemplos a se reter como guias).
A exceção, como não podia deixar de ser, é Ian McKellen. Ator enorme, entende o que está fazendo e como deve fazê-lo. Longe de salvar um desastre tão grande como esse, ao menos tem ginga e traquejo. Faz rir, dá medo, envolve. Sua entrada em cena ocorre em um momento chave, e com sua presença cênica hipnótica e sua voz cadenciada em palavras bem ditas (calejada em anos de Shakespeare nos palcos londrinos), dá show à parte. Show que mantém firme até sua última e irresistível linha de diálogo.
MacKellen é experiente nesse tipo de trabalho. Ator de capacidades assombrosas, parece ter resolvido curtir, assumindo papéis importantes em diversos filmes, por assim dizer, artisticamente menores. Começou com X-Men, onde agora chega a seu terceiro episódio, e desempenhou papel fundamental nas três partes de O Senhor dos Anéis.
Sabe há tempos, portanto, o que é ser a reserva de qualidade de um blockbuster. Acima da bobagem generalizada, inverte a história a seu favor, carrega a platéia no bolso, saber divertir-se e divertir com aquilo. Lê a partitura a seu modo e esse acaba sempre sendo o melhor modo. Em O Código Da Vinci, é mais do que nunca evidente seu destaque. É o único ser crível, o único que sobrepõe-se à planitude e dá um pouco de gosto a esse caldo tão anódino.
Sem contar que é capaz de mais emoção com uma pequena inflexão do rosto do que Tom Hanks durante toda a projeção - fala-se, atenção!, desse caso específico, já que não é segredo que Hanks é, quando quer, um grande ator.
(E por que, meu deus, por que aquela sugestão de romance entre Hanks e Audrey Tatou??? É o ridículo atingindo picos...)
O New York Times, em crítica recente, recomenda ao leitor que agradeça ao deus de sua preferência pela presença de Ian McKellen. Recomendação refeita, portanto.
Com tudo isso, O Código Da Vinci é um caso de bom-às-avessas, quase sem querer. Tão ruim, tão formulaico, tão desacertado, que acaba sendo uma grande-bobagem-boa. Como McDonald's, por exemplo. Para quem se entrega e permite afundar na lama, deglutível, sem dúvida. E se você é daqueles que vai descobrir a trama no momento mesmo da projeção, você tem sorte. É capaz, e até provável, que você se envolva.
Mas, daqui a alguns anos, quando a febre e o hype passarem (hype que já virou anti-hype, graças à acolhida feroz que a crítica mundial reservou ao filme), vai sobrar rigorosamente nada.
O Código Da Vinci está fadado a ser, no máximo, um item a mais na filmografia de Ian McKellen.
quem quiser olhar que repare
Irma Vap - O Retorno não é só uma vergonha em seu roteiro, em sua idéia, em sua proposta.
É, especialmente, uma vergonha em sua finalização. Um lixo, pra ser breve.
A Concepção pode ter os altos e baixos que se quiser atribuir (e falaremos deles fortuitamente), mas não se nega, em hipótese alguma, a altíssima qualidade da finalização.
Cada um deles foi finalizado por um dos dois grandes laboratórios brasileiros.
Quem quiser comparar que olhe.
É, especialmente, uma vergonha em sua finalização. Um lixo, pra ser breve.
A Concepção pode ter os altos e baixos que se quiser atribuir (e falaremos deles fortuitamente), mas não se nega, em hipótese alguma, a altíssima qualidade da finalização.
Cada um deles foi finalizado por um dos dois grandes laboratórios brasileiros.
Quem quiser comparar que olhe.
20.5.06
mais!
(Se você não estava ontem na platéia paulistana da estréia da turnê Universo Particular, de Marisa Monte, não continue lendo esse texto, sob o risco de perder algumas boas surpresas. E se você não estava ontem na platéia paulistana da estréia da turnê Universo Particular, de Marisa Monte, fique muito atento para garantir seu ingresso para os shows vindouros.)
Depois de 5 anos fora do palco, não se podia esperar de MM nada menos do que o deslumbre. E a platéia, um verdadeiro quem é quem do meio artístico paulistano, estava frenética.
Marisa Monte canta a primeira canção de seu show no escuro. Trata-se de Infinito Particular, o que por si justifica e potencializa a beleza pela opção do (da falta de) recurso cênico [Que, vale dizer, foi semi-destruída pela ansiedade imbecil de milhões de flashs fotográficos - afinal, minha gente, vocês estão no show para apreciá-lo ou para tirar fotos?]
Um imensa caixa (cinematográfica) de luz desce de encontro à cantora e sua pequena orquestra, composta de 9 integrantes, e inunda o palco, arromba a retina de quem (não) via no desalentador escuro do início.
E daí pra frente, num imenso palco nú, descascado, e com poderosos e belos recursos de iluminação (cinematográfica) sempre com estrutura aparente, Marisa e sua fina trupe espremem-se confortavelmente no coração da cena. Pessoa de carne e osso que é diva quase sem querer (querendo) e que tenta ser pessoa de carne e osso, Marisa passa metade do show sentada, no centro pulsante de sua banda (orquestral). A outra metade, pouco à frente, crooner em um baile de delicadezas.
Permite-se alguns movimentos, notadamente nos deliciosos sambas Satisfeito e Meu Canário. Quebra a quarta parede do palco quando atira balas (doces) à platéia, em uma música inédita em parceria com Dadi e Seu Jorge.
Marisa samba (pouco), fala (pouco), canta lindamente e encanta. Nervosa, foi capaz de errar, nas três repetições, os mesmos dois versos da maravilhosa canção Vai Saber. Mas o público, talvez até ignorante sobre o que estava perdendo, perdoa.
Dona do (pequeno) mundo (particular) de 5 mil pessoas numa casa de show de som ruim - o eco que João Gilberto ouvia ainda está lá, multiplicando Marisas - relaxa aos poucos, comove-se timidamente.
Mãe, rainha, sabe o que dar e como dar a seus súditos. Pratica uma arte bem ensaiada, bem esculpida. Cada movimento, ali, é cuidadosamente calculado.
Até mesmo o fato de Marisa Monte estar fazendo um show com um ritmo, uma atmosfera e uma respiração que não se esperaria propriamente dela, dado seu histórico. Mas que mostra-se perfeitamente em sintonia com um álbum como Universo ao Meu Redor, ou mesmo com a fase que a artista diz estar vivendo.
E que é um show lindo, diga-se.
Tudo é perfeito, pois, em Universo Particular? Não.
Mas há encantos e achados e arrebatadora beleza (ainda que gélida, não é não, Marcus Preto?) nesse universão de troca, de coletivo musical. Dentro de cada pessoa na platéia, muita saudade, saciada em inúmeros cantinhos escondidos em cada linha angular do (não) cenário, em cada respiração da cantora, em gaitas, caixinhas de música, violinos, cavaquinhos, percussões e outros instrumentos mais ou menos inusitados.
E pra morrer de paixão, há Carnalismo, num momento embasbacante, sufocante.
5 anos depois, Marisa Monte é dona do dom, do show, do som.
E nós continuamos estando lá por (para) ela.
PS: De que é difícil perdoar a falta? Três Letrinhas e Pelo Tempo Que Durar.
Depois de 5 anos fora do palco, não se podia esperar de MM nada menos do que o deslumbre. E a platéia, um verdadeiro quem é quem do meio artístico paulistano, estava frenética.
Marisa Monte canta a primeira canção de seu show no escuro. Trata-se de Infinito Particular, o que por si justifica e potencializa a beleza pela opção do (da falta de) recurso cênico [Que, vale dizer, foi semi-destruída pela ansiedade imbecil de milhões de flashs fotográficos - afinal, minha gente, vocês estão no show para apreciá-lo ou para tirar fotos?]
Um imensa caixa (cinematográfica) de luz desce de encontro à cantora e sua pequena orquestra, composta de 9 integrantes, e inunda o palco, arromba a retina de quem (não) via no desalentador escuro do início.
E daí pra frente, num imenso palco nú, descascado, e com poderosos e belos recursos de iluminação (cinematográfica) sempre com estrutura aparente, Marisa e sua fina trupe espremem-se confortavelmente no coração da cena. Pessoa de carne e osso que é diva quase sem querer (querendo) e que tenta ser pessoa de carne e osso, Marisa passa metade do show sentada, no centro pulsante de sua banda (orquestral). A outra metade, pouco à frente, crooner em um baile de delicadezas.
Permite-se alguns movimentos, notadamente nos deliciosos sambas Satisfeito e Meu Canário. Quebra a quarta parede do palco quando atira balas (doces) à platéia, em uma música inédita em parceria com Dadi e Seu Jorge.
Marisa samba (pouco), fala (pouco), canta lindamente e encanta. Nervosa, foi capaz de errar, nas três repetições, os mesmos dois versos da maravilhosa canção Vai Saber. Mas o público, talvez até ignorante sobre o que estava perdendo, perdoa.
Dona do (pequeno) mundo (particular) de 5 mil pessoas numa casa de show de som ruim - o eco que João Gilberto ouvia ainda está lá, multiplicando Marisas - relaxa aos poucos, comove-se timidamente.
Mãe, rainha, sabe o que dar e como dar a seus súditos. Pratica uma arte bem ensaiada, bem esculpida. Cada movimento, ali, é cuidadosamente calculado.
Até mesmo o fato de Marisa Monte estar fazendo um show com um ritmo, uma atmosfera e uma respiração que não se esperaria propriamente dela, dado seu histórico. Mas que mostra-se perfeitamente em sintonia com um álbum como Universo ao Meu Redor, ou mesmo com a fase que a artista diz estar vivendo.
E que é um show lindo, diga-se.
Tudo é perfeito, pois, em Universo Particular? Não.
Mas há encantos e achados e arrebatadora beleza (ainda que gélida, não é não, Marcus Preto?) nesse universão de troca, de coletivo musical. Dentro de cada pessoa na platéia, muita saudade, saciada em inúmeros cantinhos escondidos em cada linha angular do (não) cenário, em cada respiração da cantora, em gaitas, caixinhas de música, violinos, cavaquinhos, percussões e outros instrumentos mais ou menos inusitados.
E pra morrer de paixão, há Carnalismo, num momento embasbacante, sufocante.
5 anos depois, Marisa Monte é dona do dom, do show, do som.
E nós continuamos estando lá por (para) ela.
PS: De que é difícil perdoar a falta? Três Letrinhas e Pelo Tempo Que Durar.
17.5.06
tati
Sim, a segunda-feira em São Paulo tem histeria coletiva, toque de recolher informal, trânsito recorde precedendo ruas absolutamente desertas, silêncio e medo.
Mas a terça-feira tem Meu Tio, em película, projetado no Espaço Unibanco de Cinema.
Acha pouco?
Com Meu Tio, Jacques Tati-ator firmou Monsieur Hulot definitivamente no imaginário dos amantes do cinema e na história da arte cinematográfica. Mais: imprimiu uma figura muda que transpira poesia e singeleza em todos os seus modos e gestos, fazendo um retrato de devastadora beleza da simplicidade.
Jacques Tati, o diretor, realizou uma obra-prima do cinema. Em uma carreira de pouquíssimos filmes - ele levaria nove anos, e toda sua energia física e financeira, para realizar outra imensa obra-mestra, Playtime, de 1967 - Tati foi capaz de muita coisa.
Construiu tramas onde não há propriamente personagens, exceto o que ele próprio interpreta e ao redor do qual tudo gira, mas sim tipos, ou, antes, coletivos. Maiores ou menores, são grupos de pessoas em determinadas situações que regem os acontecimentos. Daí, posturas, gestos, inflexões, (poucas) falas, roupas e hábitos são capazes de definir um caráter. E, logo, tecer ácidos comentários sociais e uma arguta e terna observação humana.
Além: das relações dos seres humanos com os espaços que habitam e com os objetos com que lidam, em sua rotina profissional ou doméstica, Tati extrai mais e mais matéria humana cheia de sensações, sentimentos e significados. E são coisas de importância a princípio tão mínimas que só potencializam a beleza cadenciada do poema audiovisual empreendido.
O que Tati faz, com isso, é uma reinvenção, ou antes uma recolocação do espaço e do tempo cinematográficos. Espaço porque seu olhar sabe captar um todo com a generosidade de quem dá muita atenção a cada parte. Sua colocação da ação e dos atores em cena e a relação destes com o cenário que ocupam, e o subsequente enquadramento de câmera daí advindo, são capazes de imagens que inundam os olhos, alentam a alma e paralisam um sorriso no rosto do espectador.
E tempo porque a primazia da imagem ante o diálogo, dos corpos, dos movimentos físicos e das expressões, faz com que se erga, ali no espaço dos 24 fotogramas por minuto, uma pulsão poética própria, um convite à contemplação - em tudo que ela pode ter de voyeurística - da vida, dos seres, dos lugares. O espírito repousa e respira ditado pela duração precisa das cenas de Jacques Tati.
Isso sem sequer começar a mencionar o quanto as gags visuais são inacreditavelmente engraçadas.
Meu Tio, enfim, como toda obra definitiva, oferece prazeres infindos. Que se renovam e se multiplicam a cada olhada. Aqui, Tati e seu Monsieur Hulot representam o mais encantador dos desajustes. Do personagem anacrônico que não se adapta à tecnologia e à multidisciplinariedade dos "tempos modernos" ao cineasta anacrônico que esculpe uma arte sensível e delicada demais para olhos progressivamente embrutecidos.
De um para o outro, dentro do mesmo gênio, indo, vindo, entrelaçando-se.
Jacques Tati é capaz de nos ensinar o que perdemos em nós mesmos.
Como se vê, São Paulo é, mesmo, cheia de emoções.
Mas a terça-feira tem Meu Tio, em película, projetado no Espaço Unibanco de Cinema.
Acha pouco?
Com Meu Tio, Jacques Tati-ator firmou Monsieur Hulot definitivamente no imaginário dos amantes do cinema e na história da arte cinematográfica. Mais: imprimiu uma figura muda que transpira poesia e singeleza em todos os seus modos e gestos, fazendo um retrato de devastadora beleza da simplicidade.
Jacques Tati, o diretor, realizou uma obra-prima do cinema. Em uma carreira de pouquíssimos filmes - ele levaria nove anos, e toda sua energia física e financeira, para realizar outra imensa obra-mestra, Playtime, de 1967 - Tati foi capaz de muita coisa.
Construiu tramas onde não há propriamente personagens, exceto o que ele próprio interpreta e ao redor do qual tudo gira, mas sim tipos, ou, antes, coletivos. Maiores ou menores, são grupos de pessoas em determinadas situações que regem os acontecimentos. Daí, posturas, gestos, inflexões, (poucas) falas, roupas e hábitos são capazes de definir um caráter. E, logo, tecer ácidos comentários sociais e uma arguta e terna observação humana.
Além: das relações dos seres humanos com os espaços que habitam e com os objetos com que lidam, em sua rotina profissional ou doméstica, Tati extrai mais e mais matéria humana cheia de sensações, sentimentos e significados. E são coisas de importância a princípio tão mínimas que só potencializam a beleza cadenciada do poema audiovisual empreendido.
O que Tati faz, com isso, é uma reinvenção, ou antes uma recolocação do espaço e do tempo cinematográficos. Espaço porque seu olhar sabe captar um todo com a generosidade de quem dá muita atenção a cada parte. Sua colocação da ação e dos atores em cena e a relação destes com o cenário que ocupam, e o subsequente enquadramento de câmera daí advindo, são capazes de imagens que inundam os olhos, alentam a alma e paralisam um sorriso no rosto do espectador.
E tempo porque a primazia da imagem ante o diálogo, dos corpos, dos movimentos físicos e das expressões, faz com que se erga, ali no espaço dos 24 fotogramas por minuto, uma pulsão poética própria, um convite à contemplação - em tudo que ela pode ter de voyeurística - da vida, dos seres, dos lugares. O espírito repousa e respira ditado pela duração precisa das cenas de Jacques Tati.
Isso sem sequer começar a mencionar o quanto as gags visuais são inacreditavelmente engraçadas.
Meu Tio, enfim, como toda obra definitiva, oferece prazeres infindos. Que se renovam e se multiplicam a cada olhada. Aqui, Tati e seu Monsieur Hulot representam o mais encantador dos desajustes. Do personagem anacrônico que não se adapta à tecnologia e à multidisciplinariedade dos "tempos modernos" ao cineasta anacrônico que esculpe uma arte sensível e delicada demais para olhos progressivamente embrutecidos.
De um para o outro, dentro do mesmo gênio, indo, vindo, entrelaçando-se.
Jacques Tati é capaz de nos ensinar o que perdemos em nós mesmos.
Como se vê, São Paulo é, mesmo, cheia de emoções.
15.5.06
terço
Nos primeiros 4 meses de 2006, ou seja, no primeiro terço do ano, estrearam na cidade de São Paulo 114 filmes. Sim, 114! Se contarmos que em 4 meses há, em media, 120 dias, é quase um filme por dia.
Você vai ao cinema todo dia? Nem eu.
Desses, 18 filmes eram brasileiros. Se o ritmo for mantido, teremos, findo o ano, 54 filmes nacionais lançados. Parece expressivo, até mesmo impressionante. Mas quais eram esses filmes? Que tipo de repercussão causaram? Quem os viu? Quem? Quem?
O mês de janeiro viu chegar às telas Didi, O Caçador de Tesouros, Se Eu Fosse Você, Soy Cuba – O Mamute Siberiano e Crime Delicado.
Se Eu Fosse Você foi um sucesso arrasador – mais de 3 milhões de espectadores. É um filme popular e populista surpreendentemente divertido, ancorado em sensacionais momentos cômicos dos protagonistas Glória Pires e Tony Ramos. Previa-se o sucesso. E ele é plenamente compreensível - justo, até.
Aposto que você estava entre essas 3 milhões de pessoas, não?
Soy Cuba, documentário, teve, como é regra para filmes do gênero, lançamento pequeno e discreto, mas recebeu acolhida generosa da critica e causou artigos em cadernos culturais.
Mas você viu? Nem eu.
Crime Delicado dividiu espectadores, angariou amantes deslumbrados e inimigos ardentes na mesma proporção e intensidade. É um filme admirável, corajoso, rigorosíssimo, cheio de recompensas para quem permite-se olhar além e atravessá-lo com as intenções afinadas às suas propostas. Mas “aconteceu”, para o público em geral, de forma bem menor do que O Invasor, filme anterior de Beto Brant. Pelo teor da obra em questão, nem poderia ter sido diferente.
Você, viu?
Fevereiro foi mês tomado pelos filmes “oscarizáveis”. Nada de nacional, portanto.
Março trouxe Mulheres do Brasil, Gatão de Meia Idade, O Veneno da Madrugada, Depois Daquele Baile e A Máquina.
Os dois primeiros eram claras tentativas de sucesso popular, contando com lançamentos catapultados por planos de mídia fortes. Ambos venderam-se como “palatáveis” e “acessíveis”, filmes para se ver no sábado à noite, em suma, e antes da pizza.
Bombardeados, aparentemente com razão, pela critica, e mostrando-se, afinal, de fraco apelo junto ao “consumidor”, sumiram das salas muito antes do que, penso, era esperado por seus distribuidores. Mesmo quem voluntariou-se a conferir a suposta “bomba” não teve muito tempo para tal. O mercado, de uma forma ou de outra, é seletivo, afinal.
Você foi ver? Gostou? Recomendou a alguém?
O Veneno da Madrugada é filme de um ícone do cinema brasileiro, nossa suposta “reserva de qualidade”. No caso, Ruy Guerra. Com lançamento minúsculo, reflexo de um suposto apelo comercial tão pequeno quanto, em uma semana já ocupava somente uma única sala, em horários reduzidos. Na segunda semana, desapareceu. Conclusão, não deixaram que fosse visto.
Eu não consegui ver. E você?
Depois Daquele Baile ocupou, comercialmente, uma faixa intermédiaria entre os dois casos citados acima – foi um lançamento médio. Não durou muito, tampouco, mas resistiu melhor e mais bravamente à enchente de estréias que varreram as salas semana após semana. Imperfeito, mas com charme, sinceridade e muita vontade de acertar, e com um Lima Duarte em plena forma artística, é um filme ao qual fosse dado mais músculos (pela distribuidora) e oportunidades (pelos exibidores, que, sim, fazem-se de bestas e de capitalistas do tipo “o-mercado-determina”, não são nada santos e matam, muitaz vezes, filmes que poderiam ser melhor-sucedidos), teria atingido com pontualidade uma parcela do público.
Chegou a você?
Já A Máquina, embalado pelo poder publicitário da Globo Filmes e pelos nomes e rostos de Mariana Ximenes e Paulo Autran, chegou soltando fogos de artifício, mas a fumaça dissipou-se muito, mas muito antes do que se previra. Lançado para ser um sucesso popular e fazer, digamos, pelo menos um milhão de espectadores, foi exterminado pelos exibidores apos um parco resultado de 50 mil pagantes em sua primeira semana.
No jogo expectativa/resultado, talvez o maior fracasso do nosso cinema nesses meses aqui analisados. Será que o público de fato reagiu mal aos problemas alarmantes e imperdoáveis do filme? Ou não teve tempo, nem “timing” de descobrir algumas encantadoras e consistentes qualidades também presentes? O “julgamento do mercado”, enfim, foi impiedoso.
Você sentiu vontade de ver A Máquina? Foi?
Abril foi quase uma avalanche. Parece que passada a “onda Oscar”, que domina os 3 primeiros meses do ano nas salas de exibição, grande parte das distribuidoras resolveram desovar filmes brasileiros que estavam amargando a fila de espera. O resultado dessa overdose é, na maior parte dos casos, fatal. Às vezes por falta de espaço, às vezes por desleixo de quem lança, às vezes porque os filmes não são tão bons assim – terceiro fator que, em termos, vem explicar os dois primeiros.
Boleiros 2 – Vencedores e Vencidos, Irma Vap – O Retorno, Árido Movie, Tapete Vermelho, Brasília 18%, Ginga, Achados e Perdidos, Dia de Festa e Vinho de Rosas foram os títulos que nos chegaram nesse mês cheio.
Linguagem engessada, decupagem pobre, pouco criativa e, o que é pior, nem mesmo eficiente em termos narrativos, e diálogos e atuações tropeçando e tropeçando no artificialismo são alguns dos problemas comuns a essas produções.
Boleiros 2 não parece, em tom ou trama, tão sincero, gentil e cativante quanto o primeiro. Em ano de Copa, no entanto, poderia ter encontrado seu público, mas não foi o que aconteceu.
Você tinha visto o primeiro? Interessou-se em repetir a dose?
Lançado para ser um sucesso arrebatador, Irma Vap é uma vergonha. O impulso é deixar a ética de lado e lançar todos os impropérios necessários para classificar o filme, em todos os seus aspectos – alguém pode me explicar a podridão daquela finalização? Mas é melhor não, apesar de valer reiterar que Marco Nanini é um semi-gênio.
Mas, conta aí: Irma Vap te pegou?
Árido Movie é um filme caracteristicamente cult, daqueles que já se prevê que tenha seu pequeno círculo de árduos admiradores, bem como detratores. De fato, há bastante para se gostar e para se odiar ali.
Você?
Tapete Vermelho talvez seja uma das maiores vítimas do inchaço de lançamentos desse 2006. Longe de ser um filme excelente, possui sua integridade, sua proposta, sua visão. É capaz de divertir sem qualquer dano, sem perda de tempo. E o que é mais surpreendente, possui, no reduzidíssimo circuito em que ainda se mantém em exibição, um público lotando as salas. Fosse melhor lançado e tivesse recebido mais atenção das salas de exibição, especialmente aquelas em pontos e shopping considerados “populares”, poderia, acredite, ser um sucesso de bilheteria. E não haveria qualquer absurdo nisso.
Você sabia que Tapete Vermelho poderia te entreter? Procurou descobrir?
Brasília 18% foi saudado como um retrato dos mortos-vivos da política. Cabe estender o pensamento à questão do quanto não é um retrato (triste) dos mortos-vivos do cinema, vários deles.
Você viu? Gostou?
Ginga, documentário sobre futebol patrocinado pela Nike e produzido pela O2-de-Cidade-de-Deus em ano de Copa, ou seja, filme com grife para aspirar a ser blockbuster, assustadoramente foi lançado em apenas uma pequena sala de cinema na cidade de São Paulo. Uma semana depois, aparecia em um único horário, logo após o almoço. Na semana seguinte, sumira. Seja como for, ou por que for, não se deixou ser visto.
Você conseguiu ver?
Achados e Perdidos e Dia de Festa tiveram, da mesma forma, lançamentos tímidos, que ainda não possibilitaram que o autor das linhas os visse.
Você já foi?
E Vinho de Rosas, filme com trailer estapafúrdio e, segundo ecoam os comentários, qualidades quase ausentes, foi o mais sensacional exemplo até aqui. Seu “lançamento” se deu em uma pequena sala do circuito exibidor paulistano, em uma (!!) sessão, às 14h.
Você aí, acredite se quiser.
E, assim, passaram os 4 primeiros meses do ano para os filmes brasileiros.
Você vai ao cinema todo dia? Nem eu.
Desses, 18 filmes eram brasileiros. Se o ritmo for mantido, teremos, findo o ano, 54 filmes nacionais lançados. Parece expressivo, até mesmo impressionante. Mas quais eram esses filmes? Que tipo de repercussão causaram? Quem os viu? Quem? Quem?
O mês de janeiro viu chegar às telas Didi, O Caçador de Tesouros, Se Eu Fosse Você, Soy Cuba – O Mamute Siberiano e Crime Delicado.
Se Eu Fosse Você foi um sucesso arrasador – mais de 3 milhões de espectadores. É um filme popular e populista surpreendentemente divertido, ancorado em sensacionais momentos cômicos dos protagonistas Glória Pires e Tony Ramos. Previa-se o sucesso. E ele é plenamente compreensível - justo, até.
Aposto que você estava entre essas 3 milhões de pessoas, não?
Soy Cuba, documentário, teve, como é regra para filmes do gênero, lançamento pequeno e discreto, mas recebeu acolhida generosa da critica e causou artigos em cadernos culturais.
Mas você viu? Nem eu.
Crime Delicado dividiu espectadores, angariou amantes deslumbrados e inimigos ardentes na mesma proporção e intensidade. É um filme admirável, corajoso, rigorosíssimo, cheio de recompensas para quem permite-se olhar além e atravessá-lo com as intenções afinadas às suas propostas. Mas “aconteceu”, para o público em geral, de forma bem menor do que O Invasor, filme anterior de Beto Brant. Pelo teor da obra em questão, nem poderia ter sido diferente.
Você, viu?
Fevereiro foi mês tomado pelos filmes “oscarizáveis”. Nada de nacional, portanto.
Março trouxe Mulheres do Brasil, Gatão de Meia Idade, O Veneno da Madrugada, Depois Daquele Baile e A Máquina.
Os dois primeiros eram claras tentativas de sucesso popular, contando com lançamentos catapultados por planos de mídia fortes. Ambos venderam-se como “palatáveis” e “acessíveis”, filmes para se ver no sábado à noite, em suma, e antes da pizza.
Bombardeados, aparentemente com razão, pela critica, e mostrando-se, afinal, de fraco apelo junto ao “consumidor”, sumiram das salas muito antes do que, penso, era esperado por seus distribuidores. Mesmo quem voluntariou-se a conferir a suposta “bomba” não teve muito tempo para tal. O mercado, de uma forma ou de outra, é seletivo, afinal.
Você foi ver? Gostou? Recomendou a alguém?
O Veneno da Madrugada é filme de um ícone do cinema brasileiro, nossa suposta “reserva de qualidade”. No caso, Ruy Guerra. Com lançamento minúsculo, reflexo de um suposto apelo comercial tão pequeno quanto, em uma semana já ocupava somente uma única sala, em horários reduzidos. Na segunda semana, desapareceu. Conclusão, não deixaram que fosse visto.
Eu não consegui ver. E você?
Depois Daquele Baile ocupou, comercialmente, uma faixa intermédiaria entre os dois casos citados acima – foi um lançamento médio. Não durou muito, tampouco, mas resistiu melhor e mais bravamente à enchente de estréias que varreram as salas semana após semana. Imperfeito, mas com charme, sinceridade e muita vontade de acertar, e com um Lima Duarte em plena forma artística, é um filme ao qual fosse dado mais músculos (pela distribuidora) e oportunidades (pelos exibidores, que, sim, fazem-se de bestas e de capitalistas do tipo “o-mercado-determina”, não são nada santos e matam, muitaz vezes, filmes que poderiam ser melhor-sucedidos), teria atingido com pontualidade uma parcela do público.
Chegou a você?
Já A Máquina, embalado pelo poder publicitário da Globo Filmes e pelos nomes e rostos de Mariana Ximenes e Paulo Autran, chegou soltando fogos de artifício, mas a fumaça dissipou-se muito, mas muito antes do que se previra. Lançado para ser um sucesso popular e fazer, digamos, pelo menos um milhão de espectadores, foi exterminado pelos exibidores apos um parco resultado de 50 mil pagantes em sua primeira semana.
No jogo expectativa/resultado, talvez o maior fracasso do nosso cinema nesses meses aqui analisados. Será que o público de fato reagiu mal aos problemas alarmantes e imperdoáveis do filme? Ou não teve tempo, nem “timing” de descobrir algumas encantadoras e consistentes qualidades também presentes? O “julgamento do mercado”, enfim, foi impiedoso.
Você sentiu vontade de ver A Máquina? Foi?
Abril foi quase uma avalanche. Parece que passada a “onda Oscar”, que domina os 3 primeiros meses do ano nas salas de exibição, grande parte das distribuidoras resolveram desovar filmes brasileiros que estavam amargando a fila de espera. O resultado dessa overdose é, na maior parte dos casos, fatal. Às vezes por falta de espaço, às vezes por desleixo de quem lança, às vezes porque os filmes não são tão bons assim – terceiro fator que, em termos, vem explicar os dois primeiros.
Boleiros 2 – Vencedores e Vencidos, Irma Vap – O Retorno, Árido Movie, Tapete Vermelho, Brasília 18%, Ginga, Achados e Perdidos, Dia de Festa e Vinho de Rosas foram os títulos que nos chegaram nesse mês cheio.
Linguagem engessada, decupagem pobre, pouco criativa e, o que é pior, nem mesmo eficiente em termos narrativos, e diálogos e atuações tropeçando e tropeçando no artificialismo são alguns dos problemas comuns a essas produções.
Boleiros 2 não parece, em tom ou trama, tão sincero, gentil e cativante quanto o primeiro. Em ano de Copa, no entanto, poderia ter encontrado seu público, mas não foi o que aconteceu.
Você tinha visto o primeiro? Interessou-se em repetir a dose?
Lançado para ser um sucesso arrebatador, Irma Vap é uma vergonha. O impulso é deixar a ética de lado e lançar todos os impropérios necessários para classificar o filme, em todos os seus aspectos – alguém pode me explicar a podridão daquela finalização? Mas é melhor não, apesar de valer reiterar que Marco Nanini é um semi-gênio.
Mas, conta aí: Irma Vap te pegou?
Árido Movie é um filme caracteristicamente cult, daqueles que já se prevê que tenha seu pequeno círculo de árduos admiradores, bem como detratores. De fato, há bastante para se gostar e para se odiar ali.
Você?
Tapete Vermelho talvez seja uma das maiores vítimas do inchaço de lançamentos desse 2006. Longe de ser um filme excelente, possui sua integridade, sua proposta, sua visão. É capaz de divertir sem qualquer dano, sem perda de tempo. E o que é mais surpreendente, possui, no reduzidíssimo circuito em que ainda se mantém em exibição, um público lotando as salas. Fosse melhor lançado e tivesse recebido mais atenção das salas de exibição, especialmente aquelas em pontos e shopping considerados “populares”, poderia, acredite, ser um sucesso de bilheteria. E não haveria qualquer absurdo nisso.
Você sabia que Tapete Vermelho poderia te entreter? Procurou descobrir?
Brasília 18% foi saudado como um retrato dos mortos-vivos da política. Cabe estender o pensamento à questão do quanto não é um retrato (triste) dos mortos-vivos do cinema, vários deles.
Você viu? Gostou?
Ginga, documentário sobre futebol patrocinado pela Nike e produzido pela O2-de-Cidade-de-Deus em ano de Copa, ou seja, filme com grife para aspirar a ser blockbuster, assustadoramente foi lançado em apenas uma pequena sala de cinema na cidade de São Paulo. Uma semana depois, aparecia em um único horário, logo após o almoço. Na semana seguinte, sumira. Seja como for, ou por que for, não se deixou ser visto.
Você conseguiu ver?
Achados e Perdidos e Dia de Festa tiveram, da mesma forma, lançamentos tímidos, que ainda não possibilitaram que o autor das linhas os visse.
Você já foi?
E Vinho de Rosas, filme com trailer estapafúrdio e, segundo ecoam os comentários, qualidades quase ausentes, foi o mais sensacional exemplo até aqui. Seu “lançamento” se deu em uma pequena sala do circuito exibidor paulistano, em uma (!!) sessão, às 14h.
Você aí, acredite se quiser.
E, assim, passaram os 4 primeiros meses do ano para os filmes brasileiros.
o invasor
Em 2002, O Invasor, excelente filme de Beto Brant, vaticinava de forma sufocante a iminente invasão do centro pela periferia.
Ou se caminhava em direção à integração ou à guerra.
Você mora no estado de São Paulo em maio de 2006?
Então você sabe o quanto a vida imita a arte, que imita a vida...
Você aí também tem a sensação de que a sua casa e a sua vida só não foi invadida porque os outros ainda não quiseram?
Devemos considerar PCC no governo?! Organizados e com embasbacante habilidade para orquestrar movimentação de massas eles são.
Ou se caminhava em direção à integração ou à guerra.
Você mora no estado de São Paulo em maio de 2006?
Então você sabe o quanto a vida imita a arte, que imita a vida...
Você aí também tem a sensação de que a sua casa e a sua vida só não foi invadida porque os outros ainda não quiseram?
Devemos considerar PCC no governo?! Organizados e com embasbacante habilidade para orquestrar movimentação de massas eles são.
8.5.06
as atrizes
Com tantos filmes
Na minha mente
É natural que toda atriz
Presentemente represente
Muito pra mim
É Buarque, aquele gênio. Mas poderia ter vindo daqui.
Na minha mente
É natural que toda atriz
Presentemente represente
Muito pra mim
É Buarque, aquele gênio. Mas poderia ter vindo daqui.
2.5.06
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