20.5.06

mais!

(Se você não estava ontem na platéia paulistana da estréia da turnê Universo Particular, de Marisa Monte, não continue lendo esse texto, sob o risco de perder algumas boas surpresas. E se você não estava ontem na platéia paulistana da estréia da turnê Universo Particular, de Marisa Monte, fique muito atento para garantir seu ingresso para os shows vindouros.)


Depois de 5 anos fora do palco, não se podia esperar de MM nada menos do que o deslumbre. E a platéia, um verdadeiro quem é quem do meio artístico paulistano, estava frenética.

Marisa Monte canta a primeira canção de seu show no escuro. Trata-se de Infinito Particular, o que por si justifica e potencializa a beleza pela opção do (da falta de) recurso cênico [Que, vale dizer, foi semi-destruída pela ansiedade imbecil de milhões de flashs fotográficos - afinal, minha gente, vocês estão no show para apreciá-lo ou para tirar fotos?]

Um imensa caixa (cinematográfica) de luz desce de encontro à cantora e sua pequena orquestra, composta de 9 integrantes, e inunda o palco, arromba a retina de quem (não) via no desalentador escuro do início.

E daí pra frente, num imenso palco nú, descascado, e com poderosos e belos recursos de iluminação (cinematográfica) sempre com estrutura aparente, Marisa e sua fina trupe espremem-se confortavelmente no coração da cena. Pessoa de carne e osso que é diva quase sem querer (querendo) e que tenta ser pessoa de carne e osso, Marisa passa metade do show sentada, no centro pulsante de sua banda (orquestral). A outra metade, pouco à frente, crooner em um baile de delicadezas.

Permite-se alguns movimentos, notadamente nos deliciosos sambas Satisfeito e Meu Canário. Quebra a quarta parede do palco quando atira balas (doces) à platéia, em uma música inédita em parceria com Dadi e Seu Jorge.

Marisa samba (pouco), fala (pouco), canta lindamente e encanta. Nervosa, foi capaz de errar, nas três repetições, os mesmos dois versos da maravilhosa canção Vai Saber. Mas o público, talvez até ignorante sobre o que estava perdendo, perdoa.

Dona do (pequeno) mundo (particular) de 5 mil pessoas numa casa de show de som ruim - o eco que João Gilberto ouvia ainda está lá, multiplicando Marisas - relaxa aos poucos, comove-se timidamente.

Mãe, rainha, sabe o que dar e como dar a seus súditos. Pratica uma arte bem ensaiada, bem esculpida. Cada movimento, ali, é cuidadosamente calculado.

Até mesmo o fato de Marisa Monte estar fazendo um show com um ritmo, uma atmosfera e uma respiração que não se esperaria propriamente dela, dado seu histórico. Mas que mostra-se perfeitamente em sintonia com um álbum como Universo ao Meu Redor, ou mesmo com a fase que a artista diz estar vivendo.

E que é um show lindo, diga-se.


Tudo é perfeito, pois, em Universo Particular? Não.

Mas há encantos e achados e arrebatadora beleza (ainda que gélida, não é não, Marcus Preto?) nesse universão de troca, de coletivo musical. Dentro de cada pessoa na platéia, muita saudade, saciada em inúmeros cantinhos escondidos em cada linha angular do (não) cenário, em cada respiração da cantora, em gaitas, caixinhas de música, violinos, cavaquinhos, percussões e outros instrumentos mais ou menos inusitados.

E pra morrer de paixão, há Carnalismo, num momento embasbacante, sufocante.


5 anos depois, Marisa Monte é dona do dom, do show, do som.

E nós continuamos estando lá por (para) ela.



PS: De que é difícil perdoar a falta? Três Letrinhas e Pelo Tempo Que Durar.

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