(NOTA: vale lembrar, antes de qualquer coisa, que "oficialmente" o diário aberto de r transferiu-se para o Jornal do Brasil, AQUI. Leia postagem abaixo para maiores explicações.)
De Paulo Mendes da Rocha, hoje, na Ilustrada:
(negritos meus)
CIDADE "A idéia de cidade é amenizar a aflição. Eu saio do trabalho, encontro um amigo e posso tomar uma cerveja num bar."
LIBERDADE "Temos que ser livres de fato. E sentar na rua. Já amanheci deitado com um amigo na sarjeta na praça da República e não aconteceu nada. Em qualquer desses bairros privados, teríamos sido metralhados. Em certos bairros, se eu for pra lá, já vão me perguntar o que eu estou fazendo. Se disser que não sei, que fui passear, vou em cana. Isso é um absurdo. A cidade é democrática. A cidade é livre. O que acontece com essa classe temerosa que se autoalimenta do pavor? Dizem: "Não há segurança". Como pode haver segurança para quem tem filhos? Como? Botar um guizo em cada filho? É impossível. É uma idéia tola, a da segurança, e um instrumento da exclusão."
BURGUESIA "Quando o coro canta na escadaria do teatro Municipal, toda aquela área fica em silêncio. A cidade que a burguesia despreza é muito mais educada do que ela imagina. (...) A parte mais educada da população habita todo dia a cidade. Senão 10 milhões de pessoas não conseguiriam todos os dias fazer o que fazem. Vêm, com dificuldade, voltam, consomem e alimentam o mercado. E dão lucro para os que desprezam a cidade."
SHOPPING CENTER "O problema do shopping center não é do arquiteto que o fez e sim a idéia de confinamento que destrói a cidade. Uma cidade não pode ser feita de quimeras. Ela é feita de botequim, de padaria. Poucas vezes eu entro em um shopping porque me sinto mal. E o que acho pior é a praça de alimentação. Eu já trabalhei no sertão e vi como se dá alimento para os animais. Praça de alimentação parece um lugar para distribuir ração."
E AÍ, DÁ PRA DISCORDAR?
QUEM ACHA QUE SIM, LEVANTE A MÃO.
23.6.06
20.6.06
MUDANÇA
A partir de hoje, 20/06/2006, a vigília cultural d' o diário aberto de r ganha casa nova.
Fomos cooptados pelo Jornal do Brasil e uma coluna, com atualizações obrigatoriamente mais constantes do que as encontradas até então aqui, pousará agora por lá.
Na edição online do Jornal, na sessão de blogueiros, você pode me encontrar AQUI.
Este espaço não morre, mas torna-se mais pessoal, por assim dizer.
Para saber o que eu sigo pensando sobre cinema, teatro, música e muitos afins, vá LÁ.
Para trocas e assuntos mais subjetivos, continue dando um pulinho aqui, vez ou outra.
E, de qualquer forma, muito obrigado, mesmo, pela audiência.
Fomos cooptados pelo Jornal do Brasil e uma coluna, com atualizações obrigatoriamente mais constantes do que as encontradas até então aqui, pousará agora por lá.
Na edição online do Jornal, na sessão de blogueiros, você pode me encontrar AQUI.
Este espaço não morre, mas torna-se mais pessoal, por assim dizer.
Para saber o que eu sigo pensando sobre cinema, teatro, música e muitos afins, vá LÁ.
Para trocas e assuntos mais subjetivos, continue dando um pulinho aqui, vez ou outra.
E, de qualquer forma, muito obrigado, mesmo, pela audiência.
15.6.06
o desejo e o acaso
Há pessoas que venderiam a mae por isso.
E eu, que nao planejei, nao vim pra isso, nem ao menos sei se queria, vou ao Sónar. Em Barcelona.
E estou achando ÓTIMO!
E eu, que nao planejei, nao vim pra isso, nem ao menos sei se queria, vou ao Sónar. Em Barcelona.
E estou achando ÓTIMO!
13.6.06
5.6.06
muitas outras coisas
Alguma Coisa Assim, curta-metragem de Esmir Filho recém premiado no Festival de Cannes, com lançamento nacional amanhã, na fatídica data de 06/06/06, é um filme muito bonito.
Porque a princípio as coisas parecem ser de um jeito, quando na verdade são de outro. E mesmo quando se tornam diferentes, não são só aquilo que parecem ser. São muitas outras.
Numa "noite de aventuras", uma garota e um rapaz de 17 anos saem para se divertir. Acabam por descobrir ou revelar mais do que isso, para si mesmos e para o outro. E revelam à platéia sentimentos e sensações que circundam no máximo incoscientemente suas esferas diegéticas de ação e pensamento.
Essa, talvez, seja a grande qualidade do filme, ao redor da qual orbitam as outras. Caio e Mari são personagens muito bem desenhados em sua origem e muito bem conduzidos por dois competentes intérpretes. De tal forma que a trama não possui um conflito ou um desenvolvimento narrativo tradicional. Não existe um "ponto de virada" ou necessariamente um obstáculo a se transpor, em termos do que se vê habitualmente como ação dramática.
Os acontecimentos sucedem-se, em sutil cadeia de causa e efeito, da forma mais natural possível, deixando para o interior dos personagens os tumultos. Que não são obrigatoriamente debatidos ou explicitados. Numa carpintaria dramática cuidadosa, dá-se à dupla na tela uma existência cinematográfica íntegra e consistente a ponto de não precisar haver dramas.
Os diálogos que testemunhamos, da mesma forma, roçam o ponto nevrálgico e desviam-se dele cuidadosamente. Envolvemo-nos exatamente por aquilo que não sabemos e que queremos descobrir.
E descobrimos muitas outras coisas, enfim. Se o conflito dos protagonistas fica longe de ser solucionado, o que o diretor Esmir Filho nos oferece é uma agitada e acolhedora cantiga de ninar, cheia de esperança, frustração, ilusão e dor.
Que todo rito de passagem é doloroso já se sabe. Mas a sensação de leveza e felicidade plena em resguardar-se dessa dor num supermercado, em uma madrugada urbana, deixando as responsabilidades (de crescer, de reconhecer-se, de assumir-se) para amanhã, atingindo um momento de suspensão em que a alma quer somente ser livre e não arder, não se tem a toda hora.
E nem em qualquer filme.
Em que pese todo o envolvimento afetivo do autor das linhas com o curta em questão e com os responsáveis mais diretos por sua realização, sobressai o espírito crítico puro e simples, em busca da lucidez.
Com a consciência de que algo de valor faz-se notar acima das subjetividades, vale dizer que Alguma Coisa Assim é uma pequena jóia.
Na qual, em um trabalho conjunto dos mais afinados, não se pode deixar de destacar o olhar sensível e terno do realizador acerca dos seres humanos, suas gramáticas sentimentais e conflitos internos, e o brilho da atriz Caroline Abras como um talento a se observar.
Entre tantas outras coisas, vale a pena descobrir essa daqui.
Porque a princípio as coisas parecem ser de um jeito, quando na verdade são de outro. E mesmo quando se tornam diferentes, não são só aquilo que parecem ser. São muitas outras.
Numa "noite de aventuras", uma garota e um rapaz de 17 anos saem para se divertir. Acabam por descobrir ou revelar mais do que isso, para si mesmos e para o outro. E revelam à platéia sentimentos e sensações que circundam no máximo incoscientemente suas esferas diegéticas de ação e pensamento.
Essa, talvez, seja a grande qualidade do filme, ao redor da qual orbitam as outras. Caio e Mari são personagens muito bem desenhados em sua origem e muito bem conduzidos por dois competentes intérpretes. De tal forma que a trama não possui um conflito ou um desenvolvimento narrativo tradicional. Não existe um "ponto de virada" ou necessariamente um obstáculo a se transpor, em termos do que se vê habitualmente como ação dramática.
Os acontecimentos sucedem-se, em sutil cadeia de causa e efeito, da forma mais natural possível, deixando para o interior dos personagens os tumultos. Que não são obrigatoriamente debatidos ou explicitados. Numa carpintaria dramática cuidadosa, dá-se à dupla na tela uma existência cinematográfica íntegra e consistente a ponto de não precisar haver dramas.
Os diálogos que testemunhamos, da mesma forma, roçam o ponto nevrálgico e desviam-se dele cuidadosamente. Envolvemo-nos exatamente por aquilo que não sabemos e que queremos descobrir.
E descobrimos muitas outras coisas, enfim. Se o conflito dos protagonistas fica longe de ser solucionado, o que o diretor Esmir Filho nos oferece é uma agitada e acolhedora cantiga de ninar, cheia de esperança, frustração, ilusão e dor.
Que todo rito de passagem é doloroso já se sabe. Mas a sensação de leveza e felicidade plena em resguardar-se dessa dor num supermercado, em uma madrugada urbana, deixando as responsabilidades (de crescer, de reconhecer-se, de assumir-se) para amanhã, atingindo um momento de suspensão em que a alma quer somente ser livre e não arder, não se tem a toda hora.
E nem em qualquer filme.
Em que pese todo o envolvimento afetivo do autor das linhas com o curta em questão e com os responsáveis mais diretos por sua realização, sobressai o espírito crítico puro e simples, em busca da lucidez.
Com a consciência de que algo de valor faz-se notar acima das subjetividades, vale dizer que Alguma Coisa Assim é uma pequena jóia.
Na qual, em um trabalho conjunto dos mais afinados, não se pode deixar de destacar o olhar sensível e terno do realizador acerca dos seres humanos, suas gramáticas sentimentais e conflitos internos, e o brilho da atriz Caroline Abras como um talento a se observar.
Entre tantas outras coisas, vale a pena descobrir essa daqui.
a Mostra, as estréias
Três ótimos filmes atualmente em cartaz foram vistos durante a Mostra Internacional de Cinema de 2005. E talvez por isso "o diário aberto" não dedique a eles comentários frescos, colhidos no calor da estréia.
Sobre Caché já deu conta o post imediatamente anterior.
Estrela Solitária e A Criança, aparecem em comentários transpirando de imediatez, nos arquivos deste blog.
Assim chamada volta-à-forma de Wim Wenders, Estrela é um filme bastante consistente. Não possui o equilíbrio narrativo-emocional de Paris, Texas, como querem crer alguns, mas oferece muitos prazeres. Numa trama que anda cambaleando em linha reta (e isso não é juízo de valor), o filme circunda e atinge inquietações em amplas e estreitas esferas. Há cinema, há família, há identidade e ego. E há bastante o que se gostar - suficiente para que o filme merece uma re-visita.
A Criança quase oprime com seu naturalismo atordoante. É a técnica e o idioleto cinematográfico dos irmãos Dardenne atingindo um pico de qualidade. Seco e brilhante, é casamento perfeito entre ética e estética. E um trabalho artístico dos mais admiráveis.
Se você liga para cinema, não perca de jeito nenhum.
Sobre Caché já deu conta o post imediatamente anterior.
Estrela Solitária e A Criança, aparecem em comentários transpirando de imediatez, nos arquivos deste blog.
Assim chamada volta-à-forma de Wim Wenders, Estrela é um filme bastante consistente. Não possui o equilíbrio narrativo-emocional de Paris, Texas, como querem crer alguns, mas oferece muitos prazeres. Numa trama que anda cambaleando em linha reta (e isso não é juízo de valor), o filme circunda e atinge inquietações em amplas e estreitas esferas. Há cinema, há família, há identidade e ego. E há bastante o que se gostar - suficiente para que o filme merece uma re-visita.
A Criança quase oprime com seu naturalismo atordoante. É a técnica e o idioleto cinematográfico dos irmãos Dardenne atingindo um pico de qualidade. Seco e brilhante, é casamento perfeito entre ética e estética. E um trabalho artístico dos mais admiráveis.
Se você liga para cinema, não perca de jeito nenhum.
1.6.06
sobre conversas cinematográficas
Filmes conversam.
Caché, atualmente em cartaz em São Paulo, bate-papo diretamente com o bastante recente Marcas da Violência, atualmente disponível em DVD.
Ambos versam sobre a inexorabilidade de passados maculados. Homens atormentados por personalidades e acontecimentos de outrora, aos quais preferem sobrepor-se, os quais gostariam de sublimar, esconder.
Em linhas gerais, ambas as produções possuem a mesma história, o mesmo ponto de conflito. E como são dois portentosos filmes, vale a pena descobrir com cuidado os distintos olhares cinematográficos lançados sobre o tema por dois diferentes realizadores.
Michael Haneke já oferecera um magnífico filme fragmentado em torno de uma contundente idéia em Código Desconhecido. Agora oferece mais um excelente estudo sobre chagas sociais refletidas na vida pessoal e vice-versa. Aqui, o indivídio é agente e produto de seu meio. É resultado de tensões externas que o governam mas também responsável pela manutenção dessas tensões.
Como em um bumerangue psicológico, colonização, subjugamento e crimes voltam, vem, voltam. Pousam em cantos obscuros do passado, explodem à superfície em algo tão banal como uma imagem que não mostra nada. Ou que mostra exatamente tudo?
Com a figura impassível de um assombroso Daniel Auteil, protagonista, Haneke monta um jogo meta-cinematográfico, que mistura peças acerca da linguagem narrativa, da superexposição em uma era supervisual e das camadas (visuais) sombrias enjauladas na mente de um homem.
Demiurgo que se coloca em cena, brilhantemente disfarçado, provocando a platéia sobre si mesmo e sobre o papel dela mesma como voyeur de uma vida encenada, o cineasta (e)leva Caché a um nível intelectual dos mais instigantes.
Sem em nenhum momento deixar de fazê-lo evoluir narrativamente, em uma diegese que transita num suspense finamente construído.
Para o que, vale dizer, colabora o indefectível vigor artístico de Juliette Binoche.
Não deixe de observar a conversa entre Caché e Marcas da Violência. E converse com ambos os filmes você mesmo.
**************************
A Concepção pode ser imperfeito, irritante até, para alguns, mas aí reside seu vigor e seu papel na atual cinematografia brasileira. Filme irregular em ritmo e disperso em algumas (boas) idéias - o que não necessariamente é algo ruim - traça um caminho de ousadia que chacoalha a banalidade e a simples inabilidade narrativa que vem assolando algumas produções recentes - o que necessariamente já o torna digno de nota.
A idéia de indivíduos rebelados contra leis sociais, isolando-se em uma comunidade onde façam as coisas a seu próprio modo, uma espécie de paraíso pessoal, é antiga.
Bem-Vindos, A Praia e Os Sonhadores são alguns dos filmes recentes que lidam com esse tema. Neles, grupos maiores ou menores de pessoas buscam um idílio íntimo através do isolamento, da quebra de regras ou da simples construção de novas, supostamente mais adaptadas a seus próprios anseios.
Em todas as histórias, no entanto, a sociedade alternativa rui, abalada por uma brutal invasão do mundo real em suas esferas - invasão essa que aparece em diferentes formas e situações.
Em A Concepção não é diferente. A felicidade coletiva que não encontra barreiras moralistas e castradoras no real, dada sua existência isolada, acaba também implodida.
Fica, portanto, a sensação nostálgica de um paraíso perdido, de um sonho vivido pela metade. E essa idéia, da impossibilidade de lograr um estilo de vida que fuja das normas reinantes, pois acaba ele também sendo subjugado por elas, é consistente. Faz pensar.
E A Concepção transmite com bastante eficiência essa e outras sensações. E abana a poeira em seu formato narrativo, misturando linguagens, técnicas, pontos de vista.
Há, sim, fragilidades, dependendo do que se olhe e por qual perspectiva. Mas há interesse, aqui. Detratores podem estar certos, defensores também. Mas com tantos (aclamados) filmes que têm rigorosamente nada, esse aqui tem alguma coisa.
E conversa, ele também. Converse. Venha bater esse papo.
PS: Se a brincadeira é fazer relações, ouça e perceba o quanto a canção "Além do Horizonte" (Roberto e Erasmo) conversa com as realidades alternativas descritas nos filmes citados acima. E perceba o quanto a jovem "Vilarejo" (Monte/Baby/Brown/Antunes) conversa com sua antecessora musical (né, M.P.?) e, por consequência, também com os filmes.
Caché, atualmente em cartaz em São Paulo, bate-papo diretamente com o bastante recente Marcas da Violência, atualmente disponível em DVD.
Ambos versam sobre a inexorabilidade de passados maculados. Homens atormentados por personalidades e acontecimentos de outrora, aos quais preferem sobrepor-se, os quais gostariam de sublimar, esconder.
Em linhas gerais, ambas as produções possuem a mesma história, o mesmo ponto de conflito. E como são dois portentosos filmes, vale a pena descobrir com cuidado os distintos olhares cinematográficos lançados sobre o tema por dois diferentes realizadores.
Michael Haneke já oferecera um magnífico filme fragmentado em torno de uma contundente idéia em Código Desconhecido. Agora oferece mais um excelente estudo sobre chagas sociais refletidas na vida pessoal e vice-versa. Aqui, o indivídio é agente e produto de seu meio. É resultado de tensões externas que o governam mas também responsável pela manutenção dessas tensões.
Como em um bumerangue psicológico, colonização, subjugamento e crimes voltam, vem, voltam. Pousam em cantos obscuros do passado, explodem à superfície em algo tão banal como uma imagem que não mostra nada. Ou que mostra exatamente tudo?
Com a figura impassível de um assombroso Daniel Auteil, protagonista, Haneke monta um jogo meta-cinematográfico, que mistura peças acerca da linguagem narrativa, da superexposição em uma era supervisual e das camadas (visuais) sombrias enjauladas na mente de um homem.
Demiurgo que se coloca em cena, brilhantemente disfarçado, provocando a platéia sobre si mesmo e sobre o papel dela mesma como voyeur de uma vida encenada, o cineasta (e)leva Caché a um nível intelectual dos mais instigantes.
Sem em nenhum momento deixar de fazê-lo evoluir narrativamente, em uma diegese que transita num suspense finamente construído.
Para o que, vale dizer, colabora o indefectível vigor artístico de Juliette Binoche.
Não deixe de observar a conversa entre Caché e Marcas da Violência. E converse com ambos os filmes você mesmo.
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A Concepção pode ser imperfeito, irritante até, para alguns, mas aí reside seu vigor e seu papel na atual cinematografia brasileira. Filme irregular em ritmo e disperso em algumas (boas) idéias - o que não necessariamente é algo ruim - traça um caminho de ousadia que chacoalha a banalidade e a simples inabilidade narrativa que vem assolando algumas produções recentes - o que necessariamente já o torna digno de nota.
A idéia de indivíduos rebelados contra leis sociais, isolando-se em uma comunidade onde façam as coisas a seu próprio modo, uma espécie de paraíso pessoal, é antiga.
Bem-Vindos, A Praia e Os Sonhadores são alguns dos filmes recentes que lidam com esse tema. Neles, grupos maiores ou menores de pessoas buscam um idílio íntimo através do isolamento, da quebra de regras ou da simples construção de novas, supostamente mais adaptadas a seus próprios anseios.
Em todas as histórias, no entanto, a sociedade alternativa rui, abalada por uma brutal invasão do mundo real em suas esferas - invasão essa que aparece em diferentes formas e situações.
Em A Concepção não é diferente. A felicidade coletiva que não encontra barreiras moralistas e castradoras no real, dada sua existência isolada, acaba também implodida.
Fica, portanto, a sensação nostálgica de um paraíso perdido, de um sonho vivido pela metade. E essa idéia, da impossibilidade de lograr um estilo de vida que fuja das normas reinantes, pois acaba ele também sendo subjugado por elas, é consistente. Faz pensar.
E A Concepção transmite com bastante eficiência essa e outras sensações. E abana a poeira em seu formato narrativo, misturando linguagens, técnicas, pontos de vista.
Há, sim, fragilidades, dependendo do que se olhe e por qual perspectiva. Mas há interesse, aqui. Detratores podem estar certos, defensores também. Mas com tantos (aclamados) filmes que têm rigorosamente nada, esse aqui tem alguma coisa.
E conversa, ele também. Converse. Venha bater esse papo.
PS: Se a brincadeira é fazer relações, ouça e perceba o quanto a canção "Além do Horizonte" (Roberto e Erasmo) conversa com as realidades alternativas descritas nos filmes citados acima. E perceba o quanto a jovem "Vilarejo" (Monte/Baby/Brown/Antunes) conversa com sua antecessora musical (né, M.P.?) e, por consequência, também com os filmes.
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