7.11.07

diário da Mostra - dia 12

30/10 – terça-feira
(cotações de * a * * * * *)



Antes Que Eu Esqueça, de Jacques Nolot
FRANÇA
* * * *
Um ao mesmo tempo dilacerante e comovente retrato do homossexualismo na terceira idade, ou, se preferir, da solidão e seus percalços. Diálogos longos e sem enfeites, demorados planos de ação, que vão construindo e fazendo sentir a atmosfera e a vida do protagonista em todo seu abismo. Triste, é uma narrativa que não força o “dramático”, deixando-o aparecer no melhor estilo “as coisas como elas são” – ou podem ser. Um filme perturbador e verdadeiro, difícil em sua matéria humana e em sua construção sem adornos.



El Orfanato, de Juan Antonio Bayona
ESPANHA
* * * *
Que não haja engano: é uma obra nos moldes “comerciais”, que usa todas os truques e convenções narrativas do cinema como o conhecemos. Mas como os usa bem! Com inteligência dramatúrgica e estética, especialmente na opção em não ceder a um final explicativo e “científico”, assumindo-se como a fábula gótica que é (acredite, é uma releitura sombria de uma clássica história juvenil, que não convém revelar qual é), o filme arrepia a espinha não uma nem duas vezes, mas a cada 5 minutos. E isso não é uma figura de linguagem. Irmana-se, por exemplo a O Sexto Sentido e, certamente, é o candidato a blockbuster de terror (psicológico) de 2008. Com muita justiça.



En La Ciudad de Sylvia, de José Luis Guerín
* * * ½ (ou * * * *?)
Ver o filme na seqüência de El Orfanato chega a ser irônico. Esse, em contraposição àquele, é um filme de exceção. Não segue qualquer regra ou traço pré-estabelecidos. Estende-se em longos planos e cenas observacionais, seja numa esquina onde transeuntes vem e vão, seja em um ponto de ônibus ou num café ao ar livre. A câmera assume o papel de um flaneur em busca da mulher amada e perdida. E é isso. Não ocorre nada que se possa chamar de “progressão dramática” a partir dessa premissa. O que o olhar do cineasta faz é um poema audiovisual do movimento e do encontro, das dezenas e milhares de pessoas por quem passamos, com quem co-existimos, daquelas que olhamos por 5 minutos com alguma curiosidade, ternura, desprezo, àquelas com quem queremos passar horas, dias, uma vida inteira. A Estrasburgo de Sylvia é uma cidade de fronteira, de confusão geográfica, de muitas nacionalidades – é a cidade do espírito errante no jogo de perder-se de si mesmo e achar-se, constantemente.

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