26.11.08
sobre ser coadjuvante em um filme de Woody Allen
Penélope Cruz é uma mulher de sorte. Não só porque ela provavelmente ganhará o Oscar (ou no mínimo será uma forte candidata) por sua participação em Vicky Cristina Barcelona. Mas porque ela agora faz parte de uma categoria muito específica de atores: ela foi coadjuvante em um filme de Woody Allen.
o que por si não quer dizer muita coisa – ou não quereria, a princípio. mas uma espécie de mágica emana daí.
não foram poucas às vezes em que Woody Allen afirmou com todas as letras que sua técnica de direção de atores é interferir o mínimo possível no trabalho deles. disso talvez provenha uma liberdade criativa que bons atores não têm ou não tiveram em outras oportunidades.
resumindo, poderíamos crer – ou concluir – que trabalhando com Woody Allen os atores permitem-se e são permitidos a alçar vôo?
pergunta para a qual não vamos ignorar, naturalmente, a escrita quase sempre impecável de Allen, que cria bons personagens e dá chaves para que esses atores façam o que fazem.
que o diga Dianne Wiest, uma inesquecível coadjuvante em A Rosa Púrpura do Cairo e duplamente vencedora do Oscar (de atriz coadjuvante, é claro, e sob a chancela do diretor): por sua personagem problemática e apaixonante em Hannah e Suas Irmãs e a tempestuosa e reluzente Helen Sinclair, de Tiros na Broadway – personagem-atriz que é reencarnação enviesada da Norma Desmond de Gloria Swanson, Crepúsculo dos Deuses.
mas se ainda resta alguma dúvida, é só conversar com Mira Sorvino, Oscar de atriz coadjuvante por Poderosa Afrodite.
e se a gente nem acredita muito no Oscar, esqueçamos dele, então, e lembremos de Martin Landau em Crimes e Pecados. ou de Michael Caine, mais uma vez em Hannah e Suas Irmãs. Samantha Morton em Poucas E Boas. a inesquecível Elaine May em Os Trapaceiros. Stockard Channing em Igual a Tudo na Vida. ou até mesmo Leonardo Dicaprio ou Bebe Neuwirth em Celebridades.
ou o elenco inteiro coadjuvando-se uns aos outros em Todos Dizem Eu Te Amo. ou Desconstruindo Harry.
ou gente como Diane Keaton ou Judy Davis ou até Mia Farrow (que variaram entre protagonistas e coadjuvantes), sempre presentes.
agora responda: alguma vez Jennifer Tilly fez algo remotamente tão relevante quanto a carreirista burra e estridente de Tiros na Broadway? e a Mariel Hemingway de Manhattan, então? o que se tornou?
*
Vicky Cristina Barcelona é um filme que todo mundo gosta porque ele diz e mostra aquilo que todo mundo quer ver. as idéias de liberdade amorosa e os questionamentos sentimentais são compartilháveis por toda a platéia, em maior ou menor grau. mais do que isso, são aspiracionais. e todos nós queríamos estar no verão de Barcelona, ponto.
é um filme extremamente bem urdido em suas idas e vindas e também, e principalmente, na maneira como deixa seus personagens serem quem são. é um filme vivo cuja vida emana das pessoas – elas parecem ser os juízes de suas ações e destinos. é como se Allen existisse em função de ligar a câmera para seus personagens, apesar de, ironica e contraditoriamente, passarmos a trama inteira guiados por um legítimo narrador. não obstante, esse sentimento de livre-fluir que nos chega nutre a experiência cinematográfica de forma bastante substancial.
não, eu pessoalmente não sou completamente enlouquecido pelo filme nem acho que ele seja um dos melhores da carreira do diretor (já que a palavra de ordem é dizê-lo “o melhor dos tempos recentes”, “o melhor dos últimos 10 anos” etc etc). sem dúvida trata-se de seu melhor filme europeu, junto a Match Point, mas sem a pretensão que pode ser incômoda nesse último (onde Allen justamente brinca de deus e as coisas soam muito mais cinematográficas do que humanas).
mas nem sequer é o melhor filme “do ano”. é um filme muito bom. mas que tem lá suas repetições e convencionalidades – que, vale repetir, ficam escondidas em meio à tanta... quentura.
(isso para nem dizer que quando Penélope entra em cena e pede uma vodka, somos dela para sempre. e o filme já ganhou o jogo.)
Assinar:
Postar comentários (Atom)
4 comentários:
coadjuvante? para mim o filme começa quando penélope entra em cena e se encerra quando ela sai. javier barden no papel do homem ideal alter ego de allen não convence. e esse diz e mostra o que todo mundo quer ver beira novela das 8 na globo.
so sorry, mas tantos outros allen´s são muito melhores.
De fato, quem não era apaixonado pela Penélope ou ficou, ou precisa rever alguns conceitos...
Quanto aos outros, a Scarlett me convence sem nem tentar, Rebecca Hall, admito que não conhecia seu trabalho, mas ahco que foi muito bem sim! Javier, sem fazer comparações, eu poderia repetir que não convence e que beira novela das oito, no íntimo, pode ser, mas me deixou em dúvida... Quem sabe, talvez, tenha me convencido.
você já sabe oq acho da Penélope Cruz... Gênia em Volver e mais gênia ainda em Vicky Cristina Barcelona!!!!
eu quero um filme só de maria elena. e o resto, é resto.!
Postar um comentário