SONIA
... Amo-o há seis anos, amo-o mais que à minha própria mãe; ouço sua voz a todo instante, sinto a pressão de sua mão; tenho o olhar preso na porta, à sua espera, e me parece que ele vai entrar no instante seguinte. E, está vendo, a cada minuto corro até você para falar dele. Agora ele vem aqui todos os dias, mas nem me nota, nem me vê... Que sofrimento! (...)
IELENA
(...) Não é difícil saber se ele ama você ou não. Não se envergonhe, meu anjo, e não tenha medo: vou interrogá-lo com tanto cuidado que ele nem vai perceber. O que temos de averiguar é: sim ou não? Se for não, então que não venha mais aqui. Não é verdade? (Sonia assente com a cabeça.) Seria mais fácil se você não o visse. Vamos interrogá-lo agora mesmo, sem demora. (...)
SONIA
Mas você vai me dizer toda a verdade?
IELENA
Claro que sim. Acho que a verdade, qualquer que seja, é menos terrível que a incerteza...
SONIA
Não, melhor é a incerteza... Assim ao menos sempre resta uma esperança...
IELENA
O que foi que disse?
SONIA
Nada. (sai)
IELENA
Não há nada pior do que a gente vir a saber um segredo alheio e não poder ajudar.
*
IELENA
Trata-se de uma jovem. Vamos falar sem rodeios, como pessoas decentes, como bons amigos. Falamos e depois esquecemos qual foi o assunto da conversa. Está bem?
ASTROV
De acordo.
IELENA
Trata-se de Sonia, minha enteada. Gosta dela?
ASTROV
Sim. Tenho por ela respeito e estima.
IELENA
Mas gosta dela como mulher?
ASTROV
Não.
IELENA
Mais algumas palavras e teminou. Não notou nada?
ASTROV
Não. Nada.
IELENA
Leio em seus olhos que não a ama... Sonia sofre... Compreenda isso e... não venha mais aqui.
ASTROV
Já passei da idade... Além do mais, não me sobra tempo... Quando me sobraria tempo?
IELENA
Ah, que conversa mais desagradável! Estou tremendo como se tivesse acabado de carregar nas costas cem toneladas. Bem, graças a Deus terminamos. Vamos esquecê-lo, é como se nunca tivessemos falado e... vá embora. O senhor é um homem inteligente, vai compreender...
(...)
ASTROV
Perdoe-me; não faça essa cara de surpresa, pois sabe muito bem o que me traz aqui todos os dias... Sabe muito bem por que razão e por quem tenho vindo.
*
ASTROV
Finita la commedia!
(...)
Que estranho!... Nós nos conhecemos e, de repente, por uma razão qualquer... não nos veremos mais. Tudo é assim nesse mundo...
(*) Anton Tchekhov, traduzido por Gabor Aranyi
14.12.08
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