Existe o inexcedível e o quase inexpressivo em Misterman, que Enda Walsh escreveu e dirige no St. Ann's Warehouse.
No primeiro grupo, está este espaço, um enorme armazém no Brooklyn, quase à beira do rio, que recebe recheadas temporadas de música (Lou Reed, Marianne Faithful etc) e de teatro de vanguarda (o termo é auto-proclamado, porque esse blog mesmo o acha meio... velho?). E que, dadas as suas características e o aparato técnico que parece conter dentro de sua aparência de falsa precariedade, pode abrigar, ou gerar, um universo inteiro.
E, nele, Cillian Murphy, este ator que já mostrara tantos recursos no cinema (de vilão de Batman a travesti em Café da Manhã Em Plutão) mas que, presencialmente, como todos os grandes, parece ainda mais múltiplo.
Como pedaço de escrita dramática, digamos que o texto de Walsh não reluz. Ou, antes, talvez sirva sob medida à sua direção expansiva, que faz Murphy preencher (ou vandalizar) cada pedaço do gigantesco espaço cênico. Para não ser injusto, existe uma construção dramatúrgica cuidadosa, que, apoiando-se sobremaneira em uma revelação final, acaba reverberando uma vez concluída.
Mas é no tour de force de Murphy, em um personagem retraído e atormentado, que por sua vez personifica outros tantos 'tipos' de seu cotidiano de pequena cidade, que Misterman vive e potencializa-se.
(E, sendo o mundo do teatro como é, já podemos esperar pelo Hamlet que ele em breve terá que fazer.)
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