18.4.05

DE VOLTA AO SAMBA (teatral) - pensou que eu não vinha mais, pensou?

De volta ao teatro, duas vezes por semana, como deve ser (regularidade que, espero, possa perdurar).

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“Coda” é uma proposta e uma experiência. É daqueles convites para se liquidificar todas as expectativas e pré-conceitos sobre uma determinada forma de arte, porque já se sabe (ou se deveria saber) que não vai sobrar quase nada do convencional. Experiências como essas, “vanguardistas” (essa palavra ainda existe, meu deus?!) fazem, necessariamente, um dos seguintes efeitos: ou bem descortinam toda uma nova perspectiva de percepção, revelando possibilidades antes pouco percebidas, ou colocam em questão os limites dos veículos artísticos, despertando o faro para a linha separatista de dicotomias como a genialidade e o blefe, a inovação e o vazio.

Simplificando, não é susto nem descabimento alguém sair de “Coda” achando tudo chatíssimo e sem propósito. Tampouco é surpreendente ou inexplicável que o espectador tenha, de fato, algumas de suas sensibilidades renovadas. Porque esse é daqueles espetáculos que são mesmo um chacoalho – colocam conceitos e convenções na mira, saraivando-os até.

Se eu gostei?

Ainda não decidi.

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Não é de hoje que a poeta Elisa Lucinda ocupa lugar de apreço em minhas preferências. No entanto, com “Parem de Falar Mal da Rotina”, imperdível espetáculo até dia 01 de maio em cartaz, a atriz/comunicadora/mulher/poeta Elisa Lucinda alargou seu espaço dentro das cavidades nem sempre tateáveis da minha sensibilidade.

Porque conhecer Elisa (somente) através de seus textos é deliciar-se com um tino aguçado para o ritmo, a melodia, o sabor das palavras. É compartilhar de visões simples – e nunca simplificadas - e muito bem expressas acerca do cotidiano, do amor, do mundo, dos seres. Ler a obra de Elisa Lucinda é a partir do mínimo chegar ao todo e, dessa forma, de volta ao essencial.

Mas vê-la no palco é bem outra história. Porque ela conduz esse “one-womam-show” com um molejo, uma simpatia, um talento para a palavra e uma facilidade para o humor que só tornam ainda mais contagiantes a sua intensa alegria de viver, de escrever, de estar em cena e de compartilhar.

Porque nada substitui a união dos corpos.

Elisa Lucinda possui, hoje, atualmente, ontem, no palco do Teatro Augusta, uma espontaneidade e uma energia impressionantes. Entre ela e a platéia faísca. E é dessa troca tão sincera e direta que o teatro é feito, que a arte é feita.

Você não conhece Elisa Lucinda?

Corra.

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“Reencarnação” é um filme maior que si.

Porque Jonathan Glazer propõe uma premissa absolutamente fascinante e leva-a a cabo com impressionante capacidade de construção de climas, com pesados e ricos silêncios, com atores competentíssimos.

Nicole Kidman, por exemplo, ganhou de presente uma personagem que é tão complexa, mas tão complexa, que é acerto máximo da direção rondá-la cuidadosamente, sem tentativas rasas de “aprofundamento”. É vital que seu mistério, sua dúvida, seus pensamentos largamente questionáveis fiquem na grandeza do não-dito. Extravasamento em lágrimas e gritaria seriam sua ruína total.

Mas “Reencarnação”, com tanta pegada em seus 2 primeiros terços, não sabe concluir sua trama com a mesma maestria com que a propõe. E dizer que a culpa é dos realizadores talvez não seja o caso. Porque fosse qual fosse a conclusão desta bela história, ela dificilmente deixaria de soar inverossímil ou simplesmente boba.

Nesse sentido, a parte final do filme ser “ruim” é quase uma inverdade. Porque “boa”, de fato, ela não é. Mas seria “ruim” por que exatamente? Porque traz para a objetividade “explicativa” e comezinha uma trama que, sem tirar os pés do chão, habitava de forma inebriante o metafísico? Porque soluciona o insolucionável?

Mas fica, como boa lembrança, o oceano de conflito interior que é a Anna de Nicole Kidman. Sem que tenhamos que ter seus atos explicados, como os de seu co-protagonista mirim, entendemos tudo. Ou, antes, compartilhamos plenamente de sua não-compreensão, de seu estupefato e da violenta maré de sentimentos tumultuosos que nela residem.

2 comentários:

paula manzo disse...

quase cheguei a pensar. no mais, ir ao teatro MAIS QUE 2 vezes na semana, acredite, já foi possível na minha vida, agora, não sei pq veia ando mais nas telas da cidade. um engano, claro, já que a energia que pulsa no teatro não se encontra em lugar algum.

Anônimo disse...

coda: não gostei, mas dá pra se tirar coisinhas bacanas, né, sei-lá-de-repente...
reecarnação (birth, na verdade, né?! sei.): não gostei... credo! credo!