7.2.06

mrs. robinson

Nas artes dramáticas, bons personagens são a alma do negócio. Alguns deles saem tão bons que, eventualmente, ganham vida própria, extravasando a peça, filme ou livro que os gerou e materializando-se de forma definitiva no imaginário coletivo do público.

Mrs. Robinson, a mulher que seduz o namorado da filha em "A Primeira Noite de Um Homem", certamente é um deles. E se ela virou uma figura sedutora por excelência, sensual em sua objetividade algo fria, daquelas que não somos capazes de desgrudar os olhos, isso se deve em grande parte à inteligência cênica de Anne Brancroft, sua intérprete no filme de 1967.

Como então, retomar Mrs. Robinson?

Com Shirley MacLaine, ao que tudo indica.

Depois de ter mostrado-se em ótima forma cômica em "Em Seu Lugar", Madame MacLaine, do alto de seus 72 anos, re-encarna Mrs. Robinson cheia de traquejo, com um humor afiadamente corrosivo e, acredite, com muita sensualidade. O filme é "Dizem Por Aí", mas poderia ser "Mrs Robinson Redux".

É ela quem brilha, é ela quem manda - o filme é dela. Que Shirley MacLaine redesenhe, ainda que pos caminhos enviesados, um personagem tão mítico e tão conhecido do público e ainda extraia dele muita graça e vigor é prova incontestável de compreensão do poder sugestivo e afetivo do cinema.

Porque há de se perceber e entender o que está acontecendo para levar a situação adiante. E a noção da vida diegética de um personagem e do quanto ela pode extravasar os limites do drama é algo delicado. MacLaine, com uma composição viva e delirantemente divertida, vem demonstrar que a idade não chega impunemente. Nem a experiência acumula-se à toa.

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