21.2.08

20 de fevereiro





a maia e eu saímos pelo terceiro dia para um lanche, no início da noite. porque eu e a maia somos amigos, de forma rapidamente progressiva. ela me mostrou um lugar que eu não conhecia, mas no qual ela era muito conhecida. caiu uma chuva forte. nós bebemos cerveja e contamos nossas vidas passadas. eu falei de adolescência e desajuste. ela falou de planos sobre uma superfície.

a maia sabia do eclipse. e a mariana tem uma varanda grande, além de a gente amá-la. mas tinha chovido e onde estava o céu para o eclipse?

a gente comprou vinho para ver o eclipse e a mariana comprou a comida mais seca do mundo. a sala da casa dela é imensa e tem um gato com nome revolucionário. os astrônomos são foda! - as coisas acontecem exatamente na hora anunciada. o céu abriu enquanto a lua foi fechando.

há poesia em uma lata vazia de coca-cola e há algumas sincronicidades nas quais simplesmente não se pode acreditar. como assim Guillemots de um dia para o outro? mesa na varanda, mesa mais perto do céu. lua que ia fechando, taças grandes para vinhos tintos.

all of you e fred astaire fazendo cyd charisse dançar sem nem perceber, dobrando-a em música. chico buarque que nos une e nos transpassa e nos dá sentido, sempre. Pois eu sonhei contigo e caí da cama, ai, amor, não briga, ai, não me castiga, ai, diz que me ama, e eu não sonho mais.

tira as mãos de mim e põe as mãos em mim.

a lua fechava e ficava vermelha, em vez de escura. e a gente dava risada e chorava um pouco. dava risada e pensava se as linhas são retas, se os sentimentos perduram. falava de casamento(s) e completudes e faltas e dezenas de interditos. falava ou só pensava, porque a lua ia ficando vermelha.

00:01 é o primeiro minuto do dia que é e seria e estava sendo depois de hoje, que era o dia depois de ontem. e no qual havia um eclipse lunar total. o jornal era claro: uma condição tão favorável quanto esta para observar um eclipse lunar total não ocorrerá no Brasil até 2015. O próximo eclipse lunar total será em 21 de dezembro de 2010. O último havia ocorrido em 28 de agosto de 2007.

pouco tempo desde o último, tanto tempo até o próximo. 00:01 e esses astrônomos são foda! a lua estava inteirinha coberta e vermelha e depois alaranjada. ainda tinha vinho e ainda tinha muito assunto. porque o assunto tende a não acabar nunca, se pensar bem.

a lua fixou o eclipse e a gente queria uma foto. bateria fraca, dizia. você vai me odiar pra sempre por isso? não, amanhã tem centenas de fotos na internet. e a gente rindo alto e sofrendo baixinho. brincando de esconde-esconde no apartamento grande de luzes apagadas.

beatles. with a little help from my friends. me empresta seus ouvidos e eu te canto uma canção e eu vou tentar não cantar fora do tom.

Amelie Poulain é brega. eu adoro o brega. e quantas outras três pessoas realmente tiraram a noite para ver o eclipse, nessa cidade? da varanda, a cidade não tem fim, mas tem construções interessantes. a vila madalena é uma serra. eu quando leio sobre o tamanho das coisas no universo me deprimo na hora. quem não?

você não tem um binóculo? você acha que na minha casa tem tudo rafael? e um telescópio, talvez? velas na lareira, a lua que já começa a clarear de novo. muitas velas na lareira. dança do ventre e pandeiro. maia e mariana sabem tocar pandeiro. quantas pessoas se encontram, assim, sabendo tocar pandeiro? caleidoscópio, microfone. because the night belongs to lovers.

jogo da verdade que é só de mentira, melhor fechar a porta porque os vizinhos, como se sabe, reclamam do tocador de ipods.

dreams. uau! caio no sofá sem reação, mas a mariana insiste que a dolores canta essa música para ela. meus 11 anos, walkman, nem entendendo direito a letra. eu e maia já conversamos sobre adolescência e inadequação, mais cedo. my dreams, it's never quite as it seems, never quite as it seems. amores expressos, um mês para tê-la de volta, abacaxis enlatados com prazos de validade, chaves para abrir portas invisíveis, um amor mais que discreto, um apartamento que chora, duas califórnias, você quer uma passagem para onde? dreams em versão japonesa.

i know i've felt like this before, but now i'm feeling it even more, because it came from you.

tá tarde. a lua eclipsada volta ao normal. um filme pra montar, amanhã cedo. vamos, maia?



*



conheceram-se à noite, na efusividade intensa e fugidia que momentos etílicos proporcionam. um sempre tinha que acordar cedo. o outro dormia mesmo era tarde. eu sou o sol/ ela é a lua/ quando eu chego em casa/ ela já foi pra rua, foi a primeira canção que ele mandou. outras vieram depois, junto com outras coisas, quase sempre à noite. a lua que enchia e esvaziava, aparecia e escondia-se. que ficava brilhante ou alaranjada, alta e baixa, que trocava sempre de lugar. você consegue ver a lua aí de onde você está? você é bonito o bastante e bom o bastante, i wanna hold your hand. havia problemas, impedimentos e interditos. mas alguma outra coisa havia também. guarde segredo que te quero e conte só os seus pra mim.

no dia em que acharam por bem conversar - sóbrios - fizeram-no por duas horas e meia e sabiam que seria o início do fim. ou pelo menos uma suspensão.

na noite seguinte, sem aviso prévio, a lua passava por um eclipse total.

2 comentários:

Unknown disse...

Rafael, vc me mata com estes posts. Qualquer pessoa que esteja um pouco mais vulnerável e incompleta deve sentir-se como eu, com um nó na garganta.

belribeiro disse...

concordo com a thereza!!