(isso, a gente ainda não escreveu sobre Um Beijo Roubado, que já re-vimos. mas vai ser já, já.)
e eu que pensava que não ia me apaixonar nunca mais na vida hoje caímos por três mulheres.
quem há de ver Encantada (que, sim, é um filme cheio de graça) e não se APAIXONAR por Amy Adams???
porque, sério, como ela faz aquilo? duvido que alguém termine o filme não acreditando que princesas existem, sim.
*
precisa de mais do que ela comprar todos os cachorros quentes da barraquinha em retaliação a um idiota que furou a fila para a gente nunca mais querer parar de ver (e rir com) Tina Fey?
isso aí são os primeiros minutos de 30 Rock, seriado que eu comecei a ver e não pareço conseguir parar.
*
daí você termina a madrugada lembrando que ama Marisa Monte incondicionalmente desde pelo menos 1999 e vendo-a no dvd de Memórias Crônicas e Declarações de Amor cantar "Eu Sei", "Para Ver as Meninas" e "Não Vá Embora".
eu sei. eu sei. eu sei.
30.4.08
25.4.08
vamos fazer esse barco andar
(segura, Berenice, porque o texto é GRAAAAAANDE)
eu comecei a escrever em algum momento perto de fevereiro isso que se segue aí abaixo. era uma mini-retrospectiva do ano cinematográfico de 2007, mas, entende?, parei no meio, deu preguiça, aquela coisa.
e como eu não vou terminar mesmo mas também não quero perder o que estava feito, vai como está - completo até o mês de maio, totalmente incompleto daí em diante.
é porque é assim: o Festival Sesc dos Melhores Filmes me deu a oportunidade de ver duas obras essenciais exibidas ano passado que eu tinha perdido em telas grandes e sabia que não veria em pequenas.
eram Império dos Sonhos, aquele filme pra e de gente que se acha muito inteligente, e Em Busca da Vida, filme de quem é inteligente de verdade.
daí deu vontade de voltar a esse tópico.
então... pode começar?
*
Manhola Dargins, uma dos três críticos de cinema “oficiais” do jornal The New York Times, abriu com o seguinte texto sua lista dos 10 melhores filmes de 2007 (em tradução livre):
A idéia central de uma lista de “10 Melhores”, um amigo recentemente repreendeu-me, é que ela seja numerada (eu estava me negando a fazê-lo). Meu amigo estava errado, mas somente porque listas de 10 Melhores são exercícios artificiais, afirmações do ego crítico, caprichosas e necessariamente imperfeitas. (Eu tenho uma suspeita de que este intocável “10” tem a intenção de sugerir uma acuidade bíblica, como se os críticos fossem meramente depositários terrenos de alguma sabedoria divina.) Mais do que qualquer coisa, elas são um ritual público, o que é sua função mais valiosa. Eu te digo do que eu gosto e você ou concorda com a minha lista (o que nos lisonjeia a ambos) ou a repreende (o que lisonjeia você). É um círculo perfeito.
Em sua maioria, essas listas me dão a chance de lembrar os leitores de bons e ótimos filmes que talvez eles tenham perdido. Elas me permitem revisitar favoritos, peneirar o ano e partilhar alguns pensamentos que eu não publiquei anteriormente, juntamente com fragmentos, digressões e algumas agulhadas. Em certo sentido, a lista em si é o menos importante de tudo, motivo pelo qual eu vou despachá-la agora com pequenas anotações e, exceto pelos dois primeiros títulos, sem números.
Este blog estava demorando para fazer sua lista. Pelo motivo de achar justo assistir a alguns filmes ainda em cartaz antes de fazer um apanhado geral, mas também pela esperança de conseguir ver, em dvd, títulos importantes que não puderam ser vistos na ocasião adequada.
Então decidimos simplesmente fazer uma espécie de retrospectiva mês a mês do ano cinematográfico de 2007 nas salas de cinema paulistanas. A fatídica lista dos 10 (ou quantos eles forem) preferidos, estará lá embaixo, no fim do texto. Mas, como vimos, ela pode ser o menos importante de tudo.
JANEIRO
Pudemos ver Mais Estranho Que a Ficção, de Marc Forster (em geral um mau diretor), filme tolo mas ainda assim interessante, que tinha Emma Thompson.
A exibição de Dias Selvagens, filme de 1991, nos deu a chance de testemunhar em tela grande o nascimento do idioleto de Wong Kar Wai, dos maiores artistas do cinema em atividade.
* Prêmio “deixe-se enganar se quiser por essa porcaria”: Babel, de Alejandro Gonzalez Iñarritu
* Filmes não vistos: Apocalypto, de Mel Gibson
FEVEREIRO
A Conquista da Honra foi um Clint Eastwood menos brilhante, com simplificação psicológica e cinematográfica além de relações causais e esquematismo estrutural por demais explicitados. O discurso algo generalizante teimava em vencer as verdades particulares dos personagens.
Dias de Glória, de Rachid Bouchareb, era um “filme de guerra” incomum, que lançava um instigante ponto de vista sobre a sempre tortuosa relação entre colonizadores e colonizados, à luz de uma batalha. Seu material humano individual sobrepunha-se ao “discurso”.
Pro Dia Nascer Feliz, de João Jardim, foi uma gloriosa surpresa, revelando as contradições aparentemente invencíveis do sistema educacional brasileiro, misturando acidez e emotividade, sob o ponto de vista de “personagens” cativantes que deslevavam, pelas frestas, as dores e delícias de ser adolescente. Abriu o que seria um “ano de ouro” para os documentários nacionais (a ser completado por Santiago e Jogo de Cena)
Antônia, de Tata Amaral, são limites embaralhados entre vida e cinema, um empurrando o outro para cima e para frente. Ambos confusos mas brilhantemente complementares, translúcidos, indissociáveis, como deve (ou deveria) ser. Técnica caoticamente precisa a serviço de uma verdade cinematográfica capaz de epifanias humanas perto das quais um determinado cinema “de artifício” jamais passa perto.
A Rainha, de Stephen Frears, era Helen Mirren e seu coadjuvante Michael Sheen no ápice de seus respectivos realismos psicológicos, em filme de direção austera para um roteiro quase sempre limpo, algo prático até, embora às vezes pobremente reiterativo.
Borat - o segundo melhor repórter do glorioso país Cazaquistão viaja à América, de Larry Charles, foi aquele filme divertido que todo mundo aplaudiu, com algumas honestas doses de razão, mas que todo mundo esqueceu bem rápido.
* Grande descoberta tardia: a teatralidade (na melhor acepção possível do termo) linda, linda, linda de Uma Mulher Sob Influência, que escancara sua construção temporal como drama, esgarçando as durações dos acontecimentos de forma tão real quanto angustiante. Uma decupagem livre e libertária multiplica as potencialidades da apreensão, pousadas sob uma performance inacreditável de Gena Rowlands.
* Prêmio “deixe-se enganar se quiser por essa porcaria”: Pecados Íntimos, de Todd Field (que soava promissor em Entre Quatro Paredes)
* Provável melhor filme visto em condições que não valeram: Cartas de Iwo Jima, de Clint Eastwood
* Filmes “do Oscar” não vistos: À Procura da Felicidade, O Último Rei da Escócia
MARÇO
Mês do arrebatamento absoluto de Maria Antonieta, filme no qual Sofia Coppola faz aquilo que diretores de cinema devem fazer: pensa a História sob a perspectiva de seu próprio tempo, escancara o filtro subjetivo em sua (re)criação audiovisual, organiza elementos técnicos e estéticos em favor de um “projeto”, imprimindo em seu filme as marcas claras de um pensamento cinematográfico. Comete uma encenação praticamente sem falhas e realiza uma obra que é um primor, que enleva a experiência, que possui uma atmosfera de frescor e encantamento, uma respiração desavergonhadamente juvenil - e de júbilo inconteste -, como um delicado e meticulosamente bem cuidado banquete que só serve sobremesas.
Scoop - o Grande Furo soou como uma grande auto-releitura de Woody Allen. Cantando aquele velho adágio de que um filme “menor” de sua autoria vale mais do que quase toda a produção cinematográfica por aí, pode-se desfrutar de algo divertidíssimo, apoiado em gags fortemente físicas do ator/diretor. E que só consegue ser deliciosamente cheio de prazeres como é porque quem o faz é Woody Allen, já que é preciso muito talento e muitos anos de atividade para alcançar a coesão e a leveza de filmes “menores” como esse.
ABRIL
Cartola, de Lírio Ferreira e Hilton Lacerda, tem como mérito sua liberdade formal, sua estrutura de “colagem”. A recriação de uma vida e da obra a ela pertencente, aqui, parece caminhar guiada por um faro mais sensorial do que propriamente intelectual, o que faz ruir tradicionalismos muitas vezes aborrecidos do formato “documental”.
Maria, de Abel Ferrara, requer revisões que este blog não fez. Mas existe uma força de um discurso ferozmente honesto que perpassa as algumas desavenças estéticas que há entre o filme e o signatário.
Ventos da Liberdade, de Ken Loach, é um filme que envolvia na mesma intensidade com que não se fazia reter.
Perdemos O Hospedeiro (e, sim, sabemos que isso é imperdoável).
* Blockbuster que deu preguiça de ver (fato que hoje causa arrependimento): Piratas do Caribe - No Fim do Mundo, de Gore Verbinski.
* Filme “cult” que não deu tempo de ver: Escola do Riso, de Mamoru Hosi
MAIO
Marcas da Vida é a segura estréia na direção da inglesa Andréa Arnold, que conta sua história de forma primordialmente racional. Ou, antes, abre espaço aos poucos para o coração através do cérebro - e não se trata somente de uma contenção de artifícios sensibilizantes, mas de uma atmosfera e uma pulsão francamente cerebrais, com aquilo de bom e de ruim que isso pode ter. Sua aspereza tem algo de belo e sua encenação multi-imagética, com câmeras de vídeo diegeticamente inseridas da ação, adensa e verticaliza seus sentidos.
Lady Vingança, de Chan-wook Park, é uma mistura de Kill Bill com O Fabuloso Destino de Amelie Poulain. E esta definição encerra seus deleites e suas limitações.
* Blockbuster em série que não perde o fôlego nem o encanto: Homem Aranha 3, de Sam Raimi.
JUNHO
Zodíaco, aquele FILMAÇO.
Cão Sem Dono é desnorteante. Porque escancara um naturalismo raro, porque não corta, porque possui uma coerência e uma expansão narrativa certeiras, porque encontra em Júlio Andrade um protagonista a altura de sua simplicidade, porque encena diálogos de uma verdade encantadora e sufocante, porque aponta a capacidade e a disposição do diretor Beto Brant em arriscar-se e abrir-se para uma parceria com Renato Ciasca, porque é uma narrativa capaz de despir-se sem perder o equilíbrio, o senso estético ou a racionalidade, porque descobre em Marcos Contreras e Janaina Kasmer os melhores coadjuvantes e uma das melhores cenas de nosso cinema recente, porque une ética e estética em um projeto afinado, porque acredita em si mesmo até o final. Porque é um belíssimo filme.
* Outros filmes “cults” que não deu tempo de assistir: Fora do Jogo, de Jafar Panahi, e 500 Almas, de Joel Pizzini
JULHO
Paris, Te Amo era meio legal, não era?
Medos Privados em Lugares Públicos.
Saneamento Básico - o Filme. Alguém reparou no quanto, digo o QUANTO Fernanda Torres conseguiu ser ótima sem necessariamente ser de novo Fernanda Torres? E Camila Pitanga, então?!
Em Busca da Vida e aquela relação personagem-espaço que pelamordedeus, além de um último plano dos mais lindos da história (!).
* Acredita que também não deu pra ver Bobby, de Emilio Estevez e Fabricando Tom Zé, de Décio Matos Junior?
AGOSTO
A Comédia do Poder.
As Leis de Família, que a gente acha meio irrepreesível e tem certeza de que quem não gostou não entende nada de cinema nem de sensibilidade.
O Grande Chefe, que a gente não gostou.
Possuídos, que a gente acha ducaralho, entendeu? E que todo mundo percebeu que é uma metáfora do amor, né (ou não é?)
Santiago, que tira a respiração e coloca nossos corações aos pés de João Moreira Salles, mais uma vez.
O Ultimato Bourne, que não nos deixa piscar mas assim nem um segundo. E que é uma espécie de filme bom que só eles sabem fazer. E como sabem.
SETEMBRO
Perdemos Hairspray - Em Busca da Fama.
OUTUBRO
Perdemos Morte no Funeral.
Gostamos, sim, de Tropa de Elite.
Quisemos cortar os pulsos em Y com Piaf - um Hino de Amor e torcemos feito loucos pra Marion ganhar o Oscar.
E não é que simpatizamos sinceramente com O Passado? (mas, olha, se você não leu essa obra-prima de Alan Pauls, o que você ainda está fazendo em frente ao computador?
NOVEMBRO
Achamos uma sacanagem Noel - O Poeta da Vila não ter recebido a atenção que merecia.
Tudo bem a gente não crer que Jogo de Cena é o melhor filme da história do cinema, como querem por aí, mas nunca negamos suas efusivas qualidades.
A Casa de Alice é delicado, sincero, crescente.
Mutum também.
O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford deixa marcas, embora todo mundo saiba que tem pelo menos 1 hora a mais do que o ideal.
Lady Chatterley estabelece bases espaciais e psicológicas, através de cenas simploriamente cotidianas, para depois expor a erupção violenta de uma relação calcada em sentimentos sexuais intensamente primitivos (os amantes não tiram a roupa, não se beijam) e é verdadeiramente admirável. Com um final sensacional, é filme que cresce na cabeça.
Viagem a Darjeeling. Ah, Wes Anderson...
Sou só eu ou A Vida dos Outros é alucinadamente superestimado?
Não vimos O Preço da Coragem, embora acompanhemos atentamente a carreira de Michael Winterbottom.
* Prêmio "obra-prima de pior filme da história do cinema": Mandando Bala
* Prêmio "que saco estrearem tanto filme significativo num mesmo mês": nossas queridas distribuidoras
DEZEMBRO
Novo Mundo é simplesmente um dos melhores filmes desse ano ou dessa década, ou jamais feitos sobre o tema que aborda. Uma maravilha. Existe um apuro estético, capaz de enquadramento e planos irretocáveis, emoldurando uma história contada pelas bordas, com plena iluminação narrativa. Os personagens dão-se a conhecer e encantar aos poucos, conforme pequenos acontecimentos de uma grande jornada tomam a tela sob um olhar histórico de dentro para fora, onde situações corriqueiras e detalhes são o essencial. Com trilha sonora e fotografia exatas, fina dramaturgia e excelentes atores, seu misto de humor terno e de esperança desencantada, conta a imigração por uma ótica nova e arejada, intelectualmente rica e cinematograficamente fascinante. Irmana-se, bem de longe, com o brilhante e homônimo O Novo Mundo, de Terence Mallick, e, em todas as disparidade complementares que apresenta em relação a esse, defende belamente o cinema como grande arte.
Um Amor Jovem foi Ethan Hawke evoluindo como diretor e fazendo um sentimental, belo, divertido e sincero retrato de amores encontrados e perdidos, amadurecimento, vida familiar e aquela adolescência renitente que insiste em perdurar aos 20, aos 30, aos 40 anos. Em tempos onde as liberdades emocionais multiplicam-se, o processo de fazer e desfazer caminhos é o objetivo da jornada em si, mais do que atingir um ponto de chegada ilusório. Essa sensação, somada à bagagem que arrastamos conosco nesse percurso, é a matéria sobre a qual se constrói um filme cheio de frescor, surpreendentemente jovem de espírito (e com participações impagáveis de Sonia Braga – sim, Sonia Braga! – e Laura Linney)
A Culpa É do Fidel nos faz ter certeza que Dakota Fanning abriu uma escola de atuação mirim.
Em Paris soa deliciosamente sem controle e irremediavelmente envolvente.
* Prêmio "gente, olha pra mim porque eu me acho desproporcionalmente genial!": Império dos Sonhos
* Prêmio "melhor pior filme que amamos odiar": Across the Universe
* Prêmio "ok, Seinfeld, mas esperávamos mais de você": Bee Movie - A História de Uma Abelha
* Prêmio "uma atriz coadjuvante a beira de um ataque de nervos" (e isso, não parece, mas é BOM): Conduta de Risco
A Lista? Então A LISTA não é objetiva, e muito mais do que tentar ser "crítica" ela é desavergonhadamente pessoal. Prefere filmes que ficaram na alma e que veríamos repetidas e repetidas vezes com muito prazer a filmes que o intelecto reconhece como "imprescindíveis". Entendeu? Fica assim, então, em ordem alfabética:
Antônia
Cão Sem Dono
Em Busca da Vida
As Leis de Família
Maria Antonieta
Novo Mundo
Possuídos
Santiago
Viagem a Darjeeling
Zodíaco
mas você sabe que pode mudar a qualquer instante.
eu comecei a escrever em algum momento perto de fevereiro isso que se segue aí abaixo. era uma mini-retrospectiva do ano cinematográfico de 2007, mas, entende?, parei no meio, deu preguiça, aquela coisa.
e como eu não vou terminar mesmo mas também não quero perder o que estava feito, vai como está - completo até o mês de maio, totalmente incompleto daí em diante.
é porque é assim: o Festival Sesc dos Melhores Filmes me deu a oportunidade de ver duas obras essenciais exibidas ano passado que eu tinha perdido em telas grandes e sabia que não veria em pequenas.
eram Império dos Sonhos, aquele filme pra e de gente que se acha muito inteligente, e Em Busca da Vida, filme de quem é inteligente de verdade.
daí deu vontade de voltar a esse tópico.
então... pode começar?
*
Manhola Dargins, uma dos três críticos de cinema “oficiais” do jornal The New York Times, abriu com o seguinte texto sua lista dos 10 melhores filmes de 2007 (em tradução livre):
A idéia central de uma lista de “10 Melhores”, um amigo recentemente repreendeu-me, é que ela seja numerada (eu estava me negando a fazê-lo). Meu amigo estava errado, mas somente porque listas de 10 Melhores são exercícios artificiais, afirmações do ego crítico, caprichosas e necessariamente imperfeitas. (Eu tenho uma suspeita de que este intocável “10” tem a intenção de sugerir uma acuidade bíblica, como se os críticos fossem meramente depositários terrenos de alguma sabedoria divina.) Mais do que qualquer coisa, elas são um ritual público, o que é sua função mais valiosa. Eu te digo do que eu gosto e você ou concorda com a minha lista (o que nos lisonjeia a ambos) ou a repreende (o que lisonjeia você). É um círculo perfeito.
Em sua maioria, essas listas me dão a chance de lembrar os leitores de bons e ótimos filmes que talvez eles tenham perdido. Elas me permitem revisitar favoritos, peneirar o ano e partilhar alguns pensamentos que eu não publiquei anteriormente, juntamente com fragmentos, digressões e algumas agulhadas. Em certo sentido, a lista em si é o menos importante de tudo, motivo pelo qual eu vou despachá-la agora com pequenas anotações e, exceto pelos dois primeiros títulos, sem números.
Este blog estava demorando para fazer sua lista. Pelo motivo de achar justo assistir a alguns filmes ainda em cartaz antes de fazer um apanhado geral, mas também pela esperança de conseguir ver, em dvd, títulos importantes que não puderam ser vistos na ocasião adequada.
Então decidimos simplesmente fazer uma espécie de retrospectiva mês a mês do ano cinematográfico de 2007 nas salas de cinema paulistanas. A fatídica lista dos 10 (ou quantos eles forem) preferidos, estará lá embaixo, no fim do texto. Mas, como vimos, ela pode ser o menos importante de tudo.
JANEIRO
Pudemos ver Mais Estranho Que a Ficção, de Marc Forster (em geral um mau diretor), filme tolo mas ainda assim interessante, que tinha Emma Thompson.
A exibição de Dias Selvagens, filme de 1991, nos deu a chance de testemunhar em tela grande o nascimento do idioleto de Wong Kar Wai, dos maiores artistas do cinema em atividade.
* Prêmio “deixe-se enganar se quiser por essa porcaria”: Babel, de Alejandro Gonzalez Iñarritu
* Filmes não vistos: Apocalypto, de Mel Gibson
FEVEREIRO
A Conquista da Honra foi um Clint Eastwood menos brilhante, com simplificação psicológica e cinematográfica além de relações causais e esquematismo estrutural por demais explicitados. O discurso algo generalizante teimava em vencer as verdades particulares dos personagens.
Dias de Glória, de Rachid Bouchareb, era um “filme de guerra” incomum, que lançava um instigante ponto de vista sobre a sempre tortuosa relação entre colonizadores e colonizados, à luz de uma batalha. Seu material humano individual sobrepunha-se ao “discurso”.
Pro Dia Nascer Feliz, de João Jardim, foi uma gloriosa surpresa, revelando as contradições aparentemente invencíveis do sistema educacional brasileiro, misturando acidez e emotividade, sob o ponto de vista de “personagens” cativantes que deslevavam, pelas frestas, as dores e delícias de ser adolescente. Abriu o que seria um “ano de ouro” para os documentários nacionais (a ser completado por Santiago e Jogo de Cena)
Antônia, de Tata Amaral, são limites embaralhados entre vida e cinema, um empurrando o outro para cima e para frente. Ambos confusos mas brilhantemente complementares, translúcidos, indissociáveis, como deve (ou deveria) ser. Técnica caoticamente precisa a serviço de uma verdade cinematográfica capaz de epifanias humanas perto das quais um determinado cinema “de artifício” jamais passa perto.
A Rainha, de Stephen Frears, era Helen Mirren e seu coadjuvante Michael Sheen no ápice de seus respectivos realismos psicológicos, em filme de direção austera para um roteiro quase sempre limpo, algo prático até, embora às vezes pobremente reiterativo.
Borat - o segundo melhor repórter do glorioso país Cazaquistão viaja à América, de Larry Charles, foi aquele filme divertido que todo mundo aplaudiu, com algumas honestas doses de razão, mas que todo mundo esqueceu bem rápido.
* Grande descoberta tardia: a teatralidade (na melhor acepção possível do termo) linda, linda, linda de Uma Mulher Sob Influência, que escancara sua construção temporal como drama, esgarçando as durações dos acontecimentos de forma tão real quanto angustiante. Uma decupagem livre e libertária multiplica as potencialidades da apreensão, pousadas sob uma performance inacreditável de Gena Rowlands.
* Prêmio “deixe-se enganar se quiser por essa porcaria”: Pecados Íntimos, de Todd Field (que soava promissor em Entre Quatro Paredes)
* Provável melhor filme visto em condições que não valeram: Cartas de Iwo Jima, de Clint Eastwood
* Filmes “do Oscar” não vistos: À Procura da Felicidade, O Último Rei da Escócia
MARÇO
Mês do arrebatamento absoluto de Maria Antonieta, filme no qual Sofia Coppola faz aquilo que diretores de cinema devem fazer: pensa a História sob a perspectiva de seu próprio tempo, escancara o filtro subjetivo em sua (re)criação audiovisual, organiza elementos técnicos e estéticos em favor de um “projeto”, imprimindo em seu filme as marcas claras de um pensamento cinematográfico. Comete uma encenação praticamente sem falhas e realiza uma obra que é um primor, que enleva a experiência, que possui uma atmosfera de frescor e encantamento, uma respiração desavergonhadamente juvenil - e de júbilo inconteste -, como um delicado e meticulosamente bem cuidado banquete que só serve sobremesas.
Scoop - o Grande Furo soou como uma grande auto-releitura de Woody Allen. Cantando aquele velho adágio de que um filme “menor” de sua autoria vale mais do que quase toda a produção cinematográfica por aí, pode-se desfrutar de algo divertidíssimo, apoiado em gags fortemente físicas do ator/diretor. E que só consegue ser deliciosamente cheio de prazeres como é porque quem o faz é Woody Allen, já que é preciso muito talento e muitos anos de atividade para alcançar a coesão e a leveza de filmes “menores” como esse.
ABRIL
Cartola, de Lírio Ferreira e Hilton Lacerda, tem como mérito sua liberdade formal, sua estrutura de “colagem”. A recriação de uma vida e da obra a ela pertencente, aqui, parece caminhar guiada por um faro mais sensorial do que propriamente intelectual, o que faz ruir tradicionalismos muitas vezes aborrecidos do formato “documental”.
Maria, de Abel Ferrara, requer revisões que este blog não fez. Mas existe uma força de um discurso ferozmente honesto que perpassa as algumas desavenças estéticas que há entre o filme e o signatário.
Ventos da Liberdade, de Ken Loach, é um filme que envolvia na mesma intensidade com que não se fazia reter.
Perdemos O Hospedeiro (e, sim, sabemos que isso é imperdoável).
* Blockbuster que deu preguiça de ver (fato que hoje causa arrependimento): Piratas do Caribe - No Fim do Mundo, de Gore Verbinski.
* Filme “cult” que não deu tempo de ver: Escola do Riso, de Mamoru Hosi
MAIO
Marcas da Vida é a segura estréia na direção da inglesa Andréa Arnold, que conta sua história de forma primordialmente racional. Ou, antes, abre espaço aos poucos para o coração através do cérebro - e não se trata somente de uma contenção de artifícios sensibilizantes, mas de uma atmosfera e uma pulsão francamente cerebrais, com aquilo de bom e de ruim que isso pode ter. Sua aspereza tem algo de belo e sua encenação multi-imagética, com câmeras de vídeo diegeticamente inseridas da ação, adensa e verticaliza seus sentidos.
Lady Vingança, de Chan-wook Park, é uma mistura de Kill Bill com O Fabuloso Destino de Amelie Poulain. E esta definição encerra seus deleites e suas limitações.
* Blockbuster em série que não perde o fôlego nem o encanto: Homem Aranha 3, de Sam Raimi.
JUNHO
Zodíaco, aquele FILMAÇO.
Cão Sem Dono é desnorteante. Porque escancara um naturalismo raro, porque não corta, porque possui uma coerência e uma expansão narrativa certeiras, porque encontra em Júlio Andrade um protagonista a altura de sua simplicidade, porque encena diálogos de uma verdade encantadora e sufocante, porque aponta a capacidade e a disposição do diretor Beto Brant em arriscar-se e abrir-se para uma parceria com Renato Ciasca, porque é uma narrativa capaz de despir-se sem perder o equilíbrio, o senso estético ou a racionalidade, porque descobre em Marcos Contreras e Janaina Kasmer os melhores coadjuvantes e uma das melhores cenas de nosso cinema recente, porque une ética e estética em um projeto afinado, porque acredita em si mesmo até o final. Porque é um belíssimo filme.
* Outros filmes “cults” que não deu tempo de assistir: Fora do Jogo, de Jafar Panahi, e 500 Almas, de Joel Pizzini
JULHO
Paris, Te Amo era meio legal, não era?
Medos Privados em Lugares Públicos.
Saneamento Básico - o Filme. Alguém reparou no quanto, digo o QUANTO Fernanda Torres conseguiu ser ótima sem necessariamente ser de novo Fernanda Torres? E Camila Pitanga, então?!
Em Busca da Vida e aquela relação personagem-espaço que pelamordedeus, além de um último plano dos mais lindos da história (!).
* Acredita que também não deu pra ver Bobby, de Emilio Estevez e Fabricando Tom Zé, de Décio Matos Junior?
AGOSTO
A Comédia do Poder.
As Leis de Família, que a gente acha meio irrepreesível e tem certeza de que quem não gostou não entende nada de cinema nem de sensibilidade.
O Grande Chefe, que a gente não gostou.
Possuídos, que a gente acha ducaralho, entendeu? E que todo mundo percebeu que é uma metáfora do amor, né (ou não é?)
Santiago, que tira a respiração e coloca nossos corações aos pés de João Moreira Salles, mais uma vez.
O Ultimato Bourne, que não nos deixa piscar mas assim nem um segundo. E que é uma espécie de filme bom que só eles sabem fazer. E como sabem.
SETEMBRO
Perdemos Hairspray - Em Busca da Fama.
OUTUBRO
Perdemos Morte no Funeral.
Gostamos, sim, de Tropa de Elite.
Quisemos cortar os pulsos em Y com Piaf - um Hino de Amor e torcemos feito loucos pra Marion ganhar o Oscar.
E não é que simpatizamos sinceramente com O Passado? (mas, olha, se você não leu essa obra-prima de Alan Pauls, o que você ainda está fazendo em frente ao computador?
NOVEMBRO
Achamos uma sacanagem Noel - O Poeta da Vila não ter recebido a atenção que merecia.
Tudo bem a gente não crer que Jogo de Cena é o melhor filme da história do cinema, como querem por aí, mas nunca negamos suas efusivas qualidades.
A Casa de Alice é delicado, sincero, crescente.
Mutum também.
O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford deixa marcas, embora todo mundo saiba que tem pelo menos 1 hora a mais do que o ideal.
Lady Chatterley estabelece bases espaciais e psicológicas, através de cenas simploriamente cotidianas, para depois expor a erupção violenta de uma relação calcada em sentimentos sexuais intensamente primitivos (os amantes não tiram a roupa, não se beijam) e é verdadeiramente admirável. Com um final sensacional, é filme que cresce na cabeça.
Viagem a Darjeeling. Ah, Wes Anderson...
Sou só eu ou A Vida dos Outros é alucinadamente superestimado?
Não vimos O Preço da Coragem, embora acompanhemos atentamente a carreira de Michael Winterbottom.
* Prêmio "obra-prima de pior filme da história do cinema": Mandando Bala
* Prêmio "que saco estrearem tanto filme significativo num mesmo mês": nossas queridas distribuidoras
DEZEMBRO
Novo Mundo é simplesmente um dos melhores filmes desse ano ou dessa década, ou jamais feitos sobre o tema que aborda. Uma maravilha. Existe um apuro estético, capaz de enquadramento e planos irretocáveis, emoldurando uma história contada pelas bordas, com plena iluminação narrativa. Os personagens dão-se a conhecer e encantar aos poucos, conforme pequenos acontecimentos de uma grande jornada tomam a tela sob um olhar histórico de dentro para fora, onde situações corriqueiras e detalhes são o essencial. Com trilha sonora e fotografia exatas, fina dramaturgia e excelentes atores, seu misto de humor terno e de esperança desencantada, conta a imigração por uma ótica nova e arejada, intelectualmente rica e cinematograficamente fascinante. Irmana-se, bem de longe, com o brilhante e homônimo O Novo Mundo, de Terence Mallick, e, em todas as disparidade complementares que apresenta em relação a esse, defende belamente o cinema como grande arte.
Um Amor Jovem foi Ethan Hawke evoluindo como diretor e fazendo um sentimental, belo, divertido e sincero retrato de amores encontrados e perdidos, amadurecimento, vida familiar e aquela adolescência renitente que insiste em perdurar aos 20, aos 30, aos 40 anos. Em tempos onde as liberdades emocionais multiplicam-se, o processo de fazer e desfazer caminhos é o objetivo da jornada em si, mais do que atingir um ponto de chegada ilusório. Essa sensação, somada à bagagem que arrastamos conosco nesse percurso, é a matéria sobre a qual se constrói um filme cheio de frescor, surpreendentemente jovem de espírito (e com participações impagáveis de Sonia Braga – sim, Sonia Braga! – e Laura Linney)
A Culpa É do Fidel nos faz ter certeza que Dakota Fanning abriu uma escola de atuação mirim.
Em Paris soa deliciosamente sem controle e irremediavelmente envolvente.
* Prêmio "gente, olha pra mim porque eu me acho desproporcionalmente genial!": Império dos Sonhos
* Prêmio "melhor pior filme que amamos odiar": Across the Universe
* Prêmio "ok, Seinfeld, mas esperávamos mais de você": Bee Movie - A História de Uma Abelha
* Prêmio "uma atriz coadjuvante a beira de um ataque de nervos" (e isso, não parece, mas é BOM): Conduta de Risco
A Lista? Então A LISTA não é objetiva, e muito mais do que tentar ser "crítica" ela é desavergonhadamente pessoal. Prefere filmes que ficaram na alma e que veríamos repetidas e repetidas vezes com muito prazer a filmes que o intelecto reconhece como "imprescindíveis". Entendeu? Fica assim, então, em ordem alfabética:
Antônia
Cão Sem Dono
Em Busca da Vida
As Leis de Família
Maria Antonieta
Novo Mundo
Possuídos
Santiago
Viagem a Darjeeling
Zodíaco
mas você sabe que pode mudar a qualquer instante.
Just a girl? ou Meet Me in Montauk
- I really should go.
- So go.
- I did. (I thought, maybe you were a nut. But you were exciting.)
- I wish you’d stayed.
- I wish I’d stayed too. Now I wish I’d stayed. I wish I’d done a lot of things. I wish I... I wish I’d stayed. I do.
(...)
- You were scared?
- Yeah... I thought you knew that about me.
(...)
- You said “so go” with such disdain, you know.
- Oh, I’m sorry.
- It’s OK.
(já no carro)
- Who was she?
- She was... hum... just a girl.
- So go.
- I did. (I thought, maybe you were a nut. But you were exciting.)
- I wish you’d stayed.
- I wish I’d stayed too. Now I wish I’d stayed. I wish I’d done a lot of things. I wish I... I wish I’d stayed. I do.
(...)
- You were scared?
- Yeah... I thought you knew that about me.
(...)
- You said “so go” with such disdain, you know.
- Oh, I’m sorry.
- It’s OK.
(já no carro)
- Who was she?
- She was... hum... just a girl.
24.4.08
23.4.08
presidência
daí você tem nada menos que Hou Hsiao-hsien como presidente do júri da Cinéfondation, no Festival de Cannes, e pensa:
felizes destes estudantes de cinema...
e temos também Walter Salles na competição oficial, Matheus Nachtergaele na Um Certo Olhar e outras coisas que ainda virão na Semana da Crítica e na Quinzena dos Realizadores.
e, vem cá?, você já pôs reparo que Salles concorre com os filmes novos de Lucrecia Martel, Pablo Trapero, Clint Eastwood, Jia Zhangke e Wim Wenders (e também Jean Pierre e Luc Dardenne, Atom Egoyan, Philippe Garrel, Charlie Kaufman e Arnauld Desplechin?)??
sério: esse pode ser um festival e tanto.
felizes destes estudantes de cinema...
e temos também Walter Salles na competição oficial, Matheus Nachtergaele na Um Certo Olhar e outras coisas que ainda virão na Semana da Crítica e na Quinzena dos Realizadores.
e, vem cá?, você já pôs reparo que Salles concorre com os filmes novos de Lucrecia Martel, Pablo Trapero, Clint Eastwood, Jia Zhangke e Wim Wenders (e também Jean Pierre e Luc Dardenne, Atom Egoyan, Philippe Garrel, Charlie Kaufman e Arnauld Desplechin?)??
sério: esse pode ser um festival e tanto.
19.4.08
13.4.08
11.4.08
dias de cinema
É coisa das mais curiosas assistir à ficção O Banheiro do Papa, de César Charlone e Enrique Fernandez, seguido do documentário Juízo, de Maria Augusta Ramos.
Porque ambos lançam um olhar sobre seres humanos pouco favorecidos por condições sociais de maneiras que não podiam ser mais díspares e, quem sabe, mais complementares.
Em Banheiro, temos moradores pobres de uma pequena cidade na fronteira entre Brasil e Uruguai projetando uma redentora esperança para a miséria material de suas vidas em uma visita do Papa que, especula-se, trará centenas de milhares de turistas ao lugarejo.
É fácil se relacionar com essa quase compulsão em crer numa espécie de milagre ilusório, um deus ex machina que nos resolverá os problemas (financeiros?) da existência. E existe a competência do casal de protagonistas, como intérpretes.
Mas as relações entre os personagens, suas vidas íntimas e, principalmente, a organização dramática dos conflitos - a maneira mesmo como o roteiro dispõe seus dramas e suas viradas - pesam a mão, soam pouco verdadeiros em sua integridade emocional, dão aquela estranha sensação do de fora pra dentro.
Longe de dizer que essa é a idéia pré-estabelecida e maquiavélica dos realizadores (como parece acontecer no tão famigerado Babel, por exemplo), é fato que a noção de um “determinismo” não escapa. Pós-clímax, quando planos bastante didáticos reiteram o triunfo da desesperança e o fracasso circunstancial dos personagens, dizendo com todas as tintas que é difícil haver saída do lugar onde a vida nos pôs, cenas inteiras, em pensamento retroativo, ecoam ainda mais uma arquitetura narrativa que expõe em demasia seu esqueleto, priorizando efeitos em lugar de debruçar-se sobre sua essência.
São escolhas narrativas feitas - e arriscadas. Para esse blog, expõe-se mirando algo e chegando em outro lugar. Mas é sabido que funcionam, para muita gente.
Por seu lado, na demonstração de uma realidade (ou, lembrando o velho adágio, do quanto pode sobreviver dela defronte de câmeras "documentais”), Juízo consegue ser certeiro com bem pouco.
Entre depoimentos judiciais acerca de roubos, agressões, homicídios e outros atos, basta uma pequena frase aqui e ali para contemplar uma dimensão gigantesca do quão exasperante e desesperançada uma vida (pobre?) pode ser. E, ainda que às vezes estejamos diante da literal reconstrução fictícia do real, com agudeza e verdade de parâmetros imensuráveis.
Quando A Família Savage tem Laura Linney no melhor de sua forma, as escorregadas passam a ser desculpáveis e você pode crer-se diante de um filme bom (aquele bom na média, satisfatório, que tem seus prazeres). A trama desgasta-se quando busca a “redenção do herói”, mas oferece suas doses de sinceridade emocional e algum humor competente pelo caminho.
Irina Palm é filme um bom tanto paradoxal. Porque vale-se de um ponto de partida dos mais inusitados e diferentes para desenvolver um roteiro que faz algumas das escolhas mais óbvias disponíveis – e simplesmente insuportáveis.
Há, novamente, algum humor urdido com competência e Marianne Faithful (desde 2006, a mãe de Maria Antonieta) consegue na apatia de sua personagem o carisma (mais paradoxo?) necessário para tornar-se interessante.
De novo, é filme que se vê sem prejuízos e com seguro envolvimento. Que tem o mérito, conforme bem ressaltou Inácio Araújo, de driblar o sentimentalismo que poderia assolá-lo, caso a direção resolvesse apiedar-se de seus personagens. Mas que nem por isso deixa de dar aos seres humanos na tela um desenrolar de conflitos dos mais batidos e pouco críveis que se poderia esperar.
E como nem só de filme de boa reputação move-se o moinho de um cinéfilo, Awake – A Vida Por Um Fio é ótimo em sua ruindade de doer. Sua maior estultice é estabelecer uma premissa naturalmente instigante, mas que serve de trampolim para a trama e mingua com progressão assustadora, chegando ao final completamente esvaziada, na medida que os acontecimentos passam a depender pouco ou nada dela (né, Daniel?).
Mas Lena Olin está lá, na ativa como você não lembrava que ela podia estar (né, Marco?) e trazendo algum interesse extra pra patacoada toda. É dela a virada inesperadamente interessante e com alguma emoção da história.
PS
Já, já, Wong e seu Beijo Roubado vão ganhar um post só deles.
9.4.08
maré
o crítico Cássio Starling Carlos, na Folha, sobre Maré, Nossa História de Amor:
Com um passado de jornalista e de militância política de esquerda, Lúcia Murat alimenta seu trajeto de cineasta com reflexões importantes sobre a tragédia social brasileira. Em "Maré, Nossa História de Amor", reencena a paixão de Romeu e Julieta sob o cenário de guerra do tráfico numa favela carioca.
A idéia não é original. Mas nem é isso o que invalida o esforço da diretora de adensar com reflexão social uma narrativa de digestão simples.
A experiência muito bem-sucedida de Murat em "Quase Dois Irmãos" de reinterpretar o passado recente do país pelo viés da ficção não repete aqui nem a força simbólica da história, nem a expressividade de sua construção.
A direção até assume riscos, como filmar coreografias e números musicais. Mas o problema maior reside nas transições forçadas do simbolismo para o realismo, nas quais a cineasta é tragada pela necessidade de reiterar lições, de ser pedagógica no sentido burro do termo.
Para quem fez "Quase Dois Irmãos", "Maré" é um infeliz retrocesso.
Avaliação: ruim
discordar, quem há de?
Com um passado de jornalista e de militância política de esquerda, Lúcia Murat alimenta seu trajeto de cineasta com reflexões importantes sobre a tragédia social brasileira. Em "Maré, Nossa História de Amor", reencena a paixão de Romeu e Julieta sob o cenário de guerra do tráfico numa favela carioca.
A idéia não é original. Mas nem é isso o que invalida o esforço da diretora de adensar com reflexão social uma narrativa de digestão simples.
A experiência muito bem-sucedida de Murat em "Quase Dois Irmãos" de reinterpretar o passado recente do país pelo viés da ficção não repete aqui nem a força simbólica da história, nem a expressividade de sua construção.
A direção até assume riscos, como filmar coreografias e números musicais. Mas o problema maior reside nas transições forçadas do simbolismo para o realismo, nas quais a cineasta é tragada pela necessidade de reiterar lições, de ser pedagógica no sentido burro do termo.
Para quem fez "Quase Dois Irmãos", "Maré" é um infeliz retrocesso.
Avaliação: ruim
discordar, quem há de?
sua ilusão de ótica palpável
em homenagem a minha irmã, que descobriu essa canção largada por mim esquecida no itunes do apartamento onde eu um dia morei (mas que é agora e sempre tão atual...)
música para quase cortar os pulsos de hoje, Eu Não Sou Eu (Lucina/Zelia Dunca), por Lucina.
musica de bolso
Eu sou sua miragem
Sombra fresca da sua realidade
Sou sua resposta
Sua ilusão de ótica palpável
Seu improvável
Seu conforto e seu pesadelo
Me diz primeiro
Por que te mostro metade do meu amor inteiro?
Me diz primeiro
Por que não houve um segundo beijo?
E depois um terceiro?
Eu sou seu corpo mais forte
Seu alvo atingido
Sua semente que nasceu
E não consegue
Te dar o fruto doce, já crescido, eu não sou eu
Eu não sou eu
Sou alguém que você imaginou
Uma visão do seu amor
PS
e é já que a gente volta a falar de cinema...
música para quase cortar os pulsos de hoje, Eu Não Sou Eu (Lucina/Zelia Dunca), por Lucina.
musica de bolso
Eu sou sua miragem
Sombra fresca da sua realidade
Sou sua resposta
Sua ilusão de ótica palpável
Seu improvável
Seu conforto e seu pesadelo
Me diz primeiro
Por que te mostro metade do meu amor inteiro?
Me diz primeiro
Por que não houve um segundo beijo?
E depois um terceiro?
Eu sou seu corpo mais forte
Seu alvo atingido
Sua semente que nasceu
E não consegue
Te dar o fruto doce, já crescido, eu não sou eu
Eu não sou eu
Sou alguém que você imaginou
Uma visão do seu amor
PS
e é já que a gente volta a falar de cinema...
7.4.08
no jornal de hoje
Jorge Coli, no Mais!:
Como é possível alguém não se apaixonar por ópera? Esse é um mistério para todos os que descobriram o prazer que ela provoca. A ópera forma um mundo único, feito de formas ao mesmo tempo sutis e veementes, dirigidas às emoções e ao pensamento. Age sobre o ouvinte de maneira avassaladora.
Muita gente, no entanto, se irrita com ópera. As vozes lhes parecem poderosas demais e os sentimentos, excessivos. É que, nesse universo de grandes anseios, as palavras se incham, graças à música, com intensidade emotiva. Embebem-se de expressividade, crescem com a melodia, espalham suas significações pela orquestra. Ressoam para além daquilo que devem dizer, carregam-se de sentidos que, sozinhas, são incapazes de definir ou sequer de sugerir.
As convenções da ópera privilegiam as vozes e ignoram o físico ingrato de certos cantores, obrigados a representar no palco galãs sedutores ou donzelas anêmicas. Esse é um aspecto intolerável para alguns.
Os que a amam sabem que a música transfigura e que o aspecto grotesco de alguns artistas desaparece sob a beleza dos sons.
É verdade que hoje se busca, com freqüência, o "physique du rôle", e as montagens renovaram-se, atraindo novos espectadores e oferecendo outros critérios para o gosto. Este ponto é importante: a ópera é um gênero impuro, que mescla música, teatro, fascínio de cenários e de guarda-roupa suntuoso.
Pétala
Quem se apaixona por ópera tenta sempre o proselitismo. Não se conforma que outros sejam hostis ou indiferentes a essa forma de arte tão poderosa. Busca compartilhar em todas as ocasiões.
Eis, aqui, portanto, o meu proselitismo.
Ária para cortar os pulsos de hoje, Un Di Felice, La Traviata - Verdi.
(Croce e delizia al cor)
(vale de 1'28" a 5'03")
Como é possível alguém não se apaixonar por ópera? Esse é um mistério para todos os que descobriram o prazer que ela provoca. A ópera forma um mundo único, feito de formas ao mesmo tempo sutis e veementes, dirigidas às emoções e ao pensamento. Age sobre o ouvinte de maneira avassaladora.
Muita gente, no entanto, se irrita com ópera. As vozes lhes parecem poderosas demais e os sentimentos, excessivos. É que, nesse universo de grandes anseios, as palavras se incham, graças à música, com intensidade emotiva. Embebem-se de expressividade, crescem com a melodia, espalham suas significações pela orquestra. Ressoam para além daquilo que devem dizer, carregam-se de sentidos que, sozinhas, são incapazes de definir ou sequer de sugerir.
As convenções da ópera privilegiam as vozes e ignoram o físico ingrato de certos cantores, obrigados a representar no palco galãs sedutores ou donzelas anêmicas. Esse é um aspecto intolerável para alguns.
Os que a amam sabem que a música transfigura e que o aspecto grotesco de alguns artistas desaparece sob a beleza dos sons.
É verdade que hoje se busca, com freqüência, o "physique du rôle", e as montagens renovaram-se, atraindo novos espectadores e oferecendo outros critérios para o gosto. Este ponto é importante: a ópera é um gênero impuro, que mescla música, teatro, fascínio de cenários e de guarda-roupa suntuoso.
Pétala
Quem se apaixona por ópera tenta sempre o proselitismo. Não se conforma que outros sejam hostis ou indiferentes a essa forma de arte tão poderosa. Busca compartilhar em todas as ocasiões.
Eis, aqui, portanto, o meu proselitismo.
Ária para cortar os pulsos de hoje, Un Di Felice, La Traviata - Verdi.
(Croce e delizia al cor)
(vale de 1'28" a 5'03")
5.4.08
time is always right (?)
foi difícil gravar com ela, porque eram muitos os afazeres durante uma passagem de som complexa, num auditório grande, sexta-feira à tarde, feriado de Finados, novembro de 2007 em São Paulo.
mas a música "inédita" (já nem tanto agora) com a qual ela nos presenteou é tão, tão bonita...
Cibelle - White Hair
música de bolso
(I wanna have white hair
the kind that shines against the sky
the kind that melts away with the milky moon above the earth)
no myspace dela, a canção aparece em versão ainda mais abarcadora.
mas a música "inédita" (já nem tanto agora) com a qual ela nos presenteou é tão, tão bonita...
Cibelle - White Hair
música de bolso
(I wanna have white hair
the kind that shines against the sky
the kind that melts away with the milky moon above the earth)
no myspace dela, a canção aparece em versão ainda mais abarcadora.
2.4.08
música para...
... assistir.
porque hoje nós compramos ingressos para vê-lo, na primeira fila (né, Ricardo?)! e, dizem, assim, em show solo.
Cigarettes And Chocolate Milk - Rufus Wainwright
i'm just a little bit tower o Pisa, whenever I see you
so please be kind if I'm a mess.
porque hoje nós compramos ingressos para vê-lo, na primeira fila (né, Ricardo?)! e, dizem, assim, em show solo.
Cigarettes And Chocolate Milk - Rufus Wainwright
i'm just a little bit tower o Pisa, whenever I see you
so please be kind if I'm a mess.
1.4.08
corpo de baile
sobre o que não se consegue deixar de gostar (muito) em Chega de Saudade:
a encenação ou, como diriam os franceses, a mise en scène. aquele baile flui de uma maneira cativante e surpreendente. a figuração não chama a atenção para si de maneira ruim (e dizer isso pode parecer óbvio mas isso não pode ser dito da grande maioria dos filmes (brasileiros?) que contam com presença tão maciça de figurantes) e, mais, são o pilar mesmo de sustentação dos atores em cena. as histórias deslizam pelo salão de forma absolutamente fluida e envolvente, assim como os corpos, que com presença física discursiva e magnetizante dão forma e conteúdo à(s) trama(s), além de criar um todo repleto de(s) sentido(s).
a câmera, que enquadra em planos fechados para lá de vivos e corpóreos (como explicar isso? bem, pense no quanto não parece que, se você estender a mão, pode pegar Cássia Kiss, quando ela chora na janela). e, veja, não são aqueles "planos-fechados-Olga", anódinos e bobos, derivados diretos de uma linguagem televisiva pré-formatada, não senhor. a câmera de Walter Carvalho aqui está na mão, está pulsante, enquadra e retém-se, não tem medo de deixar a ação acontecer, de captá-la em sua verdade mais básica (o corpóreo está ficando mais claro?). levante aí a mão quem não gostaria de ter filmado um dos últimos planos do filme, em longa e desfocada e deslumbrante seqüência, quando Cássia Kiss (sou só eu que ando adorando a sra. Kiss?) reconcilia-se com Stepan Nercessian?!
a montagem, cúmplice da câmera, definidora da encenação, que sabe pular de personagem para outro e costurá-los sem furos.
o roteiro e os atores, guerreiros do mesmo lado da batalha e bem combinados em suas estratégias, em busca da honestidade narrativa e da verdade individual de personagens muito bem concebidos.
a direção, evidentemente, que cozinha esse caldeirão e rege com visão de jogo, sabendo muito bem o que está fazendo.
não há nada fora do lugar, portanto? sim, uma coisa ou outra, na visão humilde deste blog. (notadamente a atuação algo careteira de uma celebrada atriz veterana com a qual esse blogueiro implica um pouco e de quem a gente não fala o nome porque não é delicado). mas, de verdade, nada que tire o brilho de um filme quente, humano e vivo.
*
não é mesmo impressionante, como destaca o blog Ilustrada no Pop, que a 9ª musica mais tocada nas rádios de toda a região norte do pais seja Blue Savannah, do Erasure???
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