Não se entende muito bem por que a versão paulista de Cabaret simplesmente abate do roteiro os números So What e It Couldn't Please Me More, tão vitais para aterrar uma parte importante da trama. As versões das canções (assim como as de todos os musicais encenados no Brasil) deveriam ser feitas pelas pessoas que fazem (ou faziam) as versões dos musicais animados da Disney. Ademais, esse Cabaret tem suas qualidades no exato nível de exigência do público que garante "101% de ocupação" ao Teatro Procópio Ferreira - e o que mais um entretenimento pode querer, não é mesmo?
A Bela e a Fera e Alladin, em revisão, seguem sendo bons pra cacete.
Os Altruístas tem o MC que Cabaret não tem: Kiko Mascarenhas. Que explode em histrionismo mas o calca em dores tenebrosas, num controle impressionante de registro e sentimento. Merece indicações a prêmios e troféus.
Um Coração Fraco e como Dostoiévski sabe mesmo das coisas...
Tratando de Fazer Uma Obra Que Mude o Mundo (O Delírio Final dos Últimos Românticos) é quase tão boa quanto seu título, tropeçando de leve numa certa redundância de efeito, em seu último terço. Mas comprova um interessante fenômeno do teatro chileno em praticar dramaturgias de impactante 'realismo fantástico', por assim dizer, olhando para os aspectos políticos da vida (e abra-se o leque de compreensão desse termo, 'político'). Que já estava tão presente em Diciembre, do Teatro En El Blanco, e em Villa + Discurso, da Cia Playa. Faz pensar que, aqui, quem produz algo que se assemelhe é Grace Passô, à frente do Grupo Espanca!.
Querido Gus, tenho que te dizer: Inquietos não me pegou. Será que sou eu?
(mas posso elaborar esse pensamento mais tarde...)
28.11.11
22.11.11
5.11.11
corra, é novembro!
E nossa equipe de articulistas-ninja preparou a lista do que você ainda pode fazer antes de se preocupar com as compras de Natal.
- 05 de NOVEMBRO
Se você também já viu os Strokes em 2005, no saudoso Tim Festival, e também vendeu seu ingresso para o Festival Planeta Terra, só há uma coisa a fazer: conhecer o teatro do Sesc Bom Retiro com a peça Credores, em curtíssima temporada. Se a animação for grande, na sequência pesque Fausto, na repescagem da Mostra. No Cinesesc.
- 06 de NOVEMBRO
John Malkovich está na cidade. É dia de prestigiá-lo na salutar mistura de concerto e teatro que promete ser The Infernal Comedy. No Theatro Municipal.
- 07 de NOVEMBRO
A estreia de A Pele Que Habito foi adiada, mas agora o novo filme de Almodovar está em cartaz. Não é possível esperar mais um só dia para vê-lo.
- 08 de NOVEMBRO
Leve seus ouvidos para passear e tire a tarde para ouvir o novo disco de Marisa Monte, O Que Você Quer Saber de Verdade. Delicie-se especialmente com o esmero e a beleza pop-romântico-dramática de Depois, Amar Alguém, Aquela Velha Canção e Era Óbvio.
- 09 de NOVEMBRO
- 10 de NOVEMBRO
- 11 de NOVEMBRO
- 12 de NOVEMBRO
No mesmo ano em que pudemos ver a montagem de Daniel Veronese, Espia a Una Mujer Que Se Mata, aproveite para perceber quantas faces há numa obra prima da dramaturgia. Vá ao Sesc Vila Mariana para hipnotizar-se com a iluminação onírica de Pedro Pederneiras, com o cenário belo e engenhosíssimo de Márcio Medina e para ver, afinal, de que forma a encenação estetizante e de grande requinte plástico de Yara de Novaes encampa os atores do tradicional Grupo Galpão, no clássico russo Tio Vânia (aos que vierem depois de nós).
- 13 de NOVEMBRO
- 14 de NOVEMBRO
- 15 de NOVEMBRO
- 16 de NOVEMBRO
Misturar é preciso: então reveja Tio Vânia registrado no já clássico filme de Louis Malle, Tio Vânia Em Nova Yorque (Vanya On 42nd Street, no original, porque é mais provável que só se encontre pra download), e também Moscou, em que Eduardo Coutinho documenta o Grupo Galpão ensaiando As Três Irmãs, do mesmo Anton Tcheckhov.
- 17 de NOVEMBRO
- 18 de NOVEMBRO
BRITNEY. SPEARS. EM. SÃO. PAULO.
- 19 de NOVEMBRO
- 20 de NOVEMBRO
- 21 de NOVEMBRO
Depois de gravar CD e DVD ao vivo em três apresentações esgotadas no Auditório Ibirapuera, em junho, o coletivo 5 A Seco faz um show de pré-lançamento no monumental Teatro Bradesco. E se você não os conhece, esperamos sinceramente que você já esteja com seu ingresso em mãos.
- 22 de NOVEMBRO
- 23 de NOVEMBRO
- 24 de NOVEMBRO
- 25 de NOVEMBRO
- 26 de NOVEMBRO
Trata-se do último final de semana (e talvez a última chance em sua vida de espectador) de ver Fernanda Montenegro no palco. O texto de Viver Sem Tempos Mortos é muito bom, mas é capaz que você nem preste atenção nele, tamanho o poder encantatório da simples e estrondosa presença da atriz em cena.
- 27 de NOVEMBRO
- 28 de NOVEMBRO
- 29 de NOVEMBRO
Você ainda tem energia? Inquietos, de Gus Van Sant, e Isto Não É Um Filme, de Jafar Panahi, se cumprirem o calendário previsto, serão as estreias cinematográficas da semana. Vá a ambos.
- 30 de NOVEMBRO
(Agora, já pode ir lá tirar o nome do amigo secreto.)
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4.11.11
diários da Mostra, dia final: enough is enough
diários da Mostra, dia 11: espetáculos assombrosos
HISTÓRIAS DA INSÔNIA
Ou, um filme ótimo para dormir.
TUDO PELO PODER
* * * *
Um filme de Clint Eastwood dirigido por George Clooney. Ou, como não amar George Clooney, olhando para a moral e pensando a política (não só a das urnas, mas a dos indivíduos), exercendo pleno domínio narrativo na construção de um thriller psicológico eletrizante, escalando um elenco de coadjuvantes brilhantes (incluindo a si mesmo), filmando belos planos, mantendo sua tradição de estupendas cenas finais e, para completar, dando licença para outro ator brilhar no protagonismo?
CAVERNA DOS SONHOS ESQUECIDOS
* * * * 1/2
Um mergulho profundo - e de ressonâncias insondáveis - de Werner Herzog para dentro da História e da ancestralidade de nós mesmos. Um convite a um hipnótico estado de contemplação da condição humana, disfarçado de passeio frugal de parque de diversões. Ou, em palavras de Cássio Starling Carlos (mais uma vez): "Face à evaporação da distância entre o arcaico e o futurista, emerge a questão essencial: o que deixamos de ser e o que ainda somos? Dentro da 'Caverna dos Sonhos Esquecidos' o diretor volta as origens de seu cinema e da humanidade com um espetáculo assombroso."
diários da Mostra, dia 10: a comédia romântica do ano e o cinema francês, de novo
SUBMARINO
* * * 1/2
Inglês, indie, esperto, jovem (seja lá o que isso significa), confortável e transitório, com o ritmo preciso e a melancolia saborosa de uma balada de Alex Turner - cujas composições temperam a trilha sonora e estabelecem (e sintetizam) as dores e delícias desse pequeno filme.
AS NEVES DO KILIMANJARO
* * * *
É preciso estar com o coração aberto, não há dúvida. Os cínicos invariavelmente se irritarão com
personagens tão benevolentes, lúcidos, humanistas - iluministas, quase, para ficar num ponto de chegada de uma tradição da civilização francesa tão latente no filme. Socialistas de espírito, pessoas capazes de contrariar impulsos primários de vingança e egoísmo para olhar para o bem comum, para construir uma sociedade igualitária e justa. Pode-se acusar Robert Guédiguian de duas ou três inserções canhestras de trilha sonora, mas nunca de não dar a personagens tão arriscados uma verossimilhanca tão plena. Por um lado, através de um roteiro bem urdido, que justifica seus desdobramentos ao mesmo tempo que os questiona, trazendo a lógica iluminista da reflexão racional para dentro de sua própria engrenagem. E por outro, ou principalmente, pelo nível do irretocável elenco, Ariane Ascaride e Jean-Pierre Darroussin à frente, arquitetando um casal protagonista de redentora honestidade emocional.
(Ou, em exatas palavras do crítico Cássio Starling Carlos, na Ilustrada:
"Em seu compromisso de construir ficções de assumido conteúdo moral, Guédiguian não recusa o prazer narrativo (...) e consegue ser pedagógico sem perturbar a fluência dos pequenos dramas. 'As Neves do Kilimanjaro' impõe-se por como faz vibrar um material banal e, assim, mantém viva a tradição realista que fertiliza o cinema francês.")
SHOCKING BLUE
*
Não deu para chegar ao fim. Era desencontrado e tolo demais para ser verdade.
LAS ACACIAS
* * *
Fenômeno argentino, arrebatando prêmios, elogios e louros por onde passa, impressiona, é certo, por sua extrema contenção (ou seria economia? ou concisão?). Trabalha-se com o mínimo: dois atores, um caminhão, um bebê (e que importância tem esse bebê!) e pouco mais. É curioso observar que assim como Ano Bissexto, vencedor do prêmio Caméra D'Or em Cannes em 2010, tal qual Las Acacias foi esse ano, temos um número rarefeito de personagens habitando um espaço de extrema constrição. E de suas solidões individuais, espremidas em locações tão restritas, um mínimo de ação dramática transborda significados e faz surgir, quase sem que se perceba, um filme - somos levados por quase nada e só ao olhar pra trás percebemos a real extensão percorrida. Está é sem dúvida uma obra de esmerada engenharia, dificílima de alcançar com tal eficiência. Mas convenhamos que nem por isso é um feito inédito ou especialmente potente. As plateias cult, no entanto, que gostam de se sentir cultivadas e gostam de saber que aderiram (ou seria "entenderam"?) adequadamente à proposta e experienciaram 80 minutos de caudalosa humanidade (como uma catarata que emanasse de um copo de plástico), adoram. Como vaticinou a amiga Tatiana Fujimori ao final da sessão, com uma ironia tão fina quanto precisa, é a comédia romântica do ano!
SE NÃO NÓS, QUEM?
*
As vinhetas documentais, que o diretor Andres Veiel traz de suas passagens pelo gênero (como o excelente Viciados Em Atuar), é o melhor que se consegue. Porque o resto é chato, chato, chato. (E só piora sob a perspectiva de que, com o mesmo enfoque de acompanhar vidas transformadas por acontecimentos políticos históricos, ou inteiramente movidas na direção de combatê-los ou fazê-los acontecer, há um ano houve Carlos, aquela obra prima.)
* * * 1/2
Inglês, indie, esperto, jovem (seja lá o que isso significa), confortável e transitório, com o ritmo preciso e a melancolia saborosa de uma balada de Alex Turner - cujas composições temperam a trilha sonora e estabelecem (e sintetizam) as dores e delícias desse pequeno filme.
AS NEVES DO KILIMANJARO
* * * *
É preciso estar com o coração aberto, não há dúvida. Os cínicos invariavelmente se irritarão com
personagens tão benevolentes, lúcidos, humanistas - iluministas, quase, para ficar num ponto de chegada de uma tradição da civilização francesa tão latente no filme. Socialistas de espírito, pessoas capazes de contrariar impulsos primários de vingança e egoísmo para olhar para o bem comum, para construir uma sociedade igualitária e justa. Pode-se acusar Robert Guédiguian de duas ou três inserções canhestras de trilha sonora, mas nunca de não dar a personagens tão arriscados uma verossimilhanca tão plena. Por um lado, através de um roteiro bem urdido, que justifica seus desdobramentos ao mesmo tempo que os questiona, trazendo a lógica iluminista da reflexão racional para dentro de sua própria engrenagem. E por outro, ou principalmente, pelo nível do irretocável elenco, Ariane Ascaride e Jean-Pierre Darroussin à frente, arquitetando um casal protagonista de redentora honestidade emocional.
(Ou, em exatas palavras do crítico Cássio Starling Carlos, na Ilustrada:
"Em seu compromisso de construir ficções de assumido conteúdo moral, Guédiguian não recusa o prazer narrativo (...) e consegue ser pedagógico sem perturbar a fluência dos pequenos dramas. 'As Neves do Kilimanjaro' impõe-se por como faz vibrar um material banal e, assim, mantém viva a tradição realista que fertiliza o cinema francês.")
SHOCKING BLUE
*
Não deu para chegar ao fim. Era desencontrado e tolo demais para ser verdade.
LAS ACACIAS
* * *
Fenômeno argentino, arrebatando prêmios, elogios e louros por onde passa, impressiona, é certo, por sua extrema contenção (ou seria economia? ou concisão?). Trabalha-se com o mínimo: dois atores, um caminhão, um bebê (e que importância tem esse bebê!) e pouco mais. É curioso observar que assim como Ano Bissexto, vencedor do prêmio Caméra D'Or em Cannes em 2010, tal qual Las Acacias foi esse ano, temos um número rarefeito de personagens habitando um espaço de extrema constrição. E de suas solidões individuais, espremidas em locações tão restritas, um mínimo de ação dramática transborda significados e faz surgir, quase sem que se perceba, um filme - somos levados por quase nada e só ao olhar pra trás percebemos a real extensão percorrida. Está é sem dúvida uma obra de esmerada engenharia, dificílima de alcançar com tal eficiência. Mas convenhamos que nem por isso é um feito inédito ou especialmente potente. As plateias cult, no entanto, que gostam de se sentir cultivadas e gostam de saber que aderiram (ou seria "entenderam"?) adequadamente à proposta e experienciaram 80 minutos de caudalosa humanidade (como uma catarata que emanasse de um copo de plástico), adoram. Como vaticinou a amiga Tatiana Fujimori ao final da sessão, com uma ironia tão fina quanto precisa, é a comédia romântica do ano!
SE NÃO NÓS, QUEM?
*
As vinhetas documentais, que o diretor Andres Veiel traz de suas passagens pelo gênero (como o excelente Viciados Em Atuar), é o melhor que se consegue. Porque o resto é chato, chato, chato. (E só piora sob a perspectiva de que, com o mesmo enfoque de acompanhar vidas transformadas por acontecimentos políticos históricos, ou inteiramente movidas na direção de combatê-los ou fazê-los acontecer, há um ano houve Carlos, aquela obra prima.)
diários da Mostra, dia 9: Kazan, Kazan (ou A Vingança de Joshua Marston)
THE FORGIVENESS OF BLOOD
* * * *
Joshua Marston não entregava totalmente, mas prometia bastante em Maria Cheia de Graça, seu longa de estreia. De lá para cá, ele não se rendeu ao cinema comercial americano e, melhor, adensou sua investigação humanitária e marginal (no sentido de olhar para os que estão à margem). The Forgiveness of Blood é um filme muito simples: direto, aristotélico, com construção exemplar sobre conflitos e pontos de virada. Personagens fortes e vividos com impressionante garra e intensidade por atores adolescentes albaneses não profissionais, segundo consta, debatem-se contra forças que estão ancestralmente plantadas em sua trajetória. Numa luta física de sangue que amplifica ambiguidades e descaminhos internos, perdão, fuga e lealdade liquidificam-se nas contradições do estar no mundo (ou, antes, na Albânia, em um estado de excessão que desnorteia fronteiras entre excessão e regra). E o pensamento cinematográfico de Marston, por onde e para onde olha, aquilo que põe em quadro e de que maneira desenvolve cenas, é surpreendente e alentador. Na poeira da maratona da Mostra, é obra que tenderia a não bater com tanta força, mas é preciso reconhecer (e as sensações ecoantes nos dias seguintes a ela reafirmam) que se trata de um filmaço - já que, afinal, muitas vezes o mais difícil é mesmo só contar uma história.
SAUNA ON MOON
* *
Em toda Mostra existe uma cota de "filme turístico", aquele que não se entende muito bem, ou com o qual não se estabelece real envolvimento, mas que dá conta de uma realidade outra, distante, atípica aos padrões nossos. E ao qual, portanto, se assiste sem prejuízo. E do qual, muito provavelmente, um dia, em Mostras futuras, uma cena ou um momento virá à mente de forma vívida - talvez até envolto em aura solar, como uma memória afetuosa.
TERRA DE UM SONHO DISTANTE
* * * * 1/2
Não vamos mentir: o filme é longo e não deu para não tirar um cochilo. Mas o que se dá a ver é realmente monumental, e não só em metragem. Em uma jornada de herói exasperante e bem recheada como um bom melodrama sem ser um melodrama, Kazan sintetiza o 'sonho Americano' (em sua forma literal de imigração, mas também de um certo ideal de prosperidade e de triunfo-vencendo-as-intempéries tão típicos à ética social dos Estados Unidos). A trama percorre extensas e complexas paisagens humanas e o senso narrativo da direção cinematográfica, em todos os âmbitos, é pleno e vigoroso. Há cenas de longos e magistrais diálogos, que resumem com precisão a condição social da vida de um homem hoje tanto quanto deveriam fazer em 1963, seu ano de estreia. No calor daquele momento de então, as palavras da crítica do New York Times dão uma ideia do feito desse enorme filme: "uma pequena odisséia que carrega as conotações de um rico poema épico-lírico".
* * * *
Joshua Marston não entregava totalmente, mas prometia bastante em Maria Cheia de Graça, seu longa de estreia. De lá para cá, ele não se rendeu ao cinema comercial americano e, melhor, adensou sua investigação humanitária e marginal (no sentido de olhar para os que estão à margem). The Forgiveness of Blood é um filme muito simples: direto, aristotélico, com construção exemplar sobre conflitos e pontos de virada. Personagens fortes e vividos com impressionante garra e intensidade por atores adolescentes albaneses não profissionais, segundo consta, debatem-se contra forças que estão ancestralmente plantadas em sua trajetória. Numa luta física de sangue que amplifica ambiguidades e descaminhos internos, perdão, fuga e lealdade liquidificam-se nas contradições do estar no mundo (ou, antes, na Albânia, em um estado de excessão que desnorteia fronteiras entre excessão e regra). E o pensamento cinematográfico de Marston, por onde e para onde olha, aquilo que põe em quadro e de que maneira desenvolve cenas, é surpreendente e alentador. Na poeira da maratona da Mostra, é obra que tenderia a não bater com tanta força, mas é preciso reconhecer (e as sensações ecoantes nos dias seguintes a ela reafirmam) que se trata de um filmaço - já que, afinal, muitas vezes o mais difícil é mesmo só contar uma história.
SAUNA ON MOON
* *
Em toda Mostra existe uma cota de "filme turístico", aquele que não se entende muito bem, ou com o qual não se estabelece real envolvimento, mas que dá conta de uma realidade outra, distante, atípica aos padrões nossos. E ao qual, portanto, se assiste sem prejuízo. E do qual, muito provavelmente, um dia, em Mostras futuras, uma cena ou um momento virá à mente de forma vívida - talvez até envolto em aura solar, como uma memória afetuosa.
TERRA DE UM SONHO DISTANTE
* * * * 1/2
Não vamos mentir: o filme é longo e não deu para não tirar um cochilo. Mas o que se dá a ver é realmente monumental, e não só em metragem. Em uma jornada de herói exasperante e bem recheada como um bom melodrama sem ser um melodrama, Kazan sintetiza o 'sonho Americano' (em sua forma literal de imigração, mas também de um certo ideal de prosperidade e de triunfo-vencendo-as-intempéries tão típicos à ética social dos Estados Unidos). A trama percorre extensas e complexas paisagens humanas e o senso narrativo da direção cinematográfica, em todos os âmbitos, é pleno e vigoroso. Há cenas de longos e magistrais diálogos, que resumem com precisão a condição social da vida de um homem hoje tanto quanto deveriam fazer em 1963, seu ano de estreia. No calor daquele momento de então, as palavras da crítica do New York Times dão uma ideia do feito desse enorme filme: "uma pequena odisséia que carrega as conotações de um rico poema épico-lírico".
3.11.11
diários da Mostra, dia 8: o cinema alemão
PARADA EM PLENO CURSO
* * 1/2
Asséptico, gelado, clínico. Eis um filme que só mesmo os alemães poderiam dar ao mundo. É a ilustração detalhada de um relatório médico de um paciente terminal. Cada angústia, dor e suplício é mostrado. Acompanha-se um definhamento progressivo. Existe, sem dúvida, uma respeitável competência em se fazer um filme com tamanha crueza, assim como há um ator protagonista morrendo admiravelmente. Mas não há subjetividade - por que eu quero que esse personagem não morra? (Não sei, não quero, não tem.) Tudo é na base do retrato objetivo. E o drama que emana daí, que não é pequeno, sustenta-se somente nessa verossimilhança processual absoluta, nesse naturalismo de hospital. (O que pensam e sentem esses seres humanos?) De verdade, esse blog já não busca (e não se move com) esse tipo de relação com os filmes que vê.
* * 1/2
Asséptico, gelado, clínico. Eis um filme que só mesmo os alemães poderiam dar ao mundo. É a ilustração detalhada de um relatório médico de um paciente terminal. Cada angústia, dor e suplício é mostrado. Acompanha-se um definhamento progressivo. Existe, sem dúvida, uma respeitável competência em se fazer um filme com tamanha crueza, assim como há um ator protagonista morrendo admiravelmente. Mas não há subjetividade - por que eu quero que esse personagem não morra? (Não sei, não quero, não tem.) Tudo é na base do retrato objetivo. E o drama que emana daí, que não é pequeno, sustenta-se somente nessa verossimilhança processual absoluta, nesse naturalismo de hospital. (O que pensam e sentem esses seres humanos?) De verdade, esse blog já não busca (e não se move com) esse tipo de relação com os filmes que vê.
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