THE FORGIVENESS OF BLOOD
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Joshua Marston não entregava totalmente, mas prometia bastante em Maria Cheia de Graça, seu longa de estreia. De lá para cá, ele não se rendeu ao cinema comercial americano e, melhor, adensou sua investigação humanitária e marginal (no sentido de olhar para os que estão à margem). The Forgiveness of Blood é um filme muito simples: direto, aristotélico, com construção exemplar sobre conflitos e pontos de virada. Personagens fortes e vividos com impressionante garra e intensidade por atores adolescentes albaneses não profissionais, segundo consta, debatem-se contra forças que estão ancestralmente plantadas em sua trajetória. Numa luta física de sangue que amplifica ambiguidades e descaminhos internos, perdão, fuga e lealdade liquidificam-se nas contradições do estar no mundo (ou, antes, na Albânia, em um estado de excessão que desnorteia fronteiras entre excessão e regra). E o pensamento cinematográfico de Marston, por onde e para onde olha, aquilo que põe em quadro e de que maneira desenvolve cenas, é surpreendente e alentador. Na poeira da maratona da Mostra, é obra que tenderia a não bater com tanta força, mas é preciso reconhecer (e as sensações ecoantes nos dias seguintes a ela reafirmam) que se trata de um filmaço - já que, afinal, muitas vezes o mais difícil é mesmo só contar uma história.
SAUNA ON MOON
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Em toda Mostra existe uma cota de "filme turístico", aquele que não se entende muito bem, ou com o qual não se estabelece real envolvimento, mas que dá conta de uma realidade outra, distante, atípica aos padrões nossos. E ao qual, portanto, se assiste sem prejuízo. E do qual, muito provavelmente, um dia, em Mostras futuras, uma cena ou um momento virá à mente de forma vívida - talvez até envolto em aura solar, como uma memória afetuosa.
TERRA DE UM SONHO DISTANTE
* * * * 1/2
Não vamos mentir: o filme é longo e não deu para não tirar um cochilo. Mas o que se dá a ver é realmente monumental, e não só em metragem. Em uma jornada de herói exasperante e bem recheada como um bom melodrama sem ser um melodrama, Kazan sintetiza o 'sonho Americano' (em sua forma literal de imigração, mas também de um certo ideal de prosperidade e de triunfo-vencendo-as-intempéries tão típicos à ética social dos Estados Unidos). A trama percorre extensas e complexas paisagens humanas e o senso narrativo da direção cinematográfica, em todos os âmbitos, é pleno e vigoroso. Há cenas de longos e magistrais diálogos, que resumem com precisão a condição social da vida de um homem hoje tanto quanto deveriam fazer em 1963, seu ano de estreia. No calor daquele momento de então, as palavras da crítica do New York Times dão uma ideia do feito desse enorme filme: "uma pequena odisséia que carrega as conotações de um rico poema épico-lírico".
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