1.3.05

CINEMATOGRÁFICAS 3

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Pobres daqueles que não sabem gostar de Eric Rohmer. Não porque tornam-se, assim, pessoas piores. Mas apenas porque estão perdendo muito. Muito.

Porque Rohmer é capaz de fazer, com quase nada, filmes absolutamente encantatórios e inteligentes e engraçados e comoventes. Porque ele tem um modo específico de narrar, calcadíssimo no diálogo, mas bem longe do que se poderia tomar por “teatralidade” (Afinal, isso existe? O teatro e o cinema não são irmãos inseparáveis?). Porque ele constrói narrativas de uma leveza inimaginável e que fluem lindamente – desde que, fique claro, o cérebro do espectador não tenha sido fritado pela necessidade do que se costuma chamar, na modernidade (modernidade?), de “ritmo”. Ou seja, é preciso capacidade – e vontade – de apreensão.

Sobretudo porque Rohmer é capaz, em um filme como “Um Casamento Perfeito”, em cartaz na cidade, de criar uma personagem fascinante, juntá-la com mais outros dois ou três em uma trama que aparenta absoluta banalidade, caminhar devagar, cena a cena e, no fim, pronto: eis um filme de temática rica e complexa que é também divertido e inteligente. É filme francês sem tédio, sem ranço e sem doer, vê só?!

AVISO
Os CONTOS DAS QUATRO ESTAÇÕES, de Eric Rohmer, voltam em sessões únicas nesse final de semana. No CINESESC, evidente. Simplesmente imperdíveis, todos eles. Mas se for pra eleger um preferido, preste atenção em “Conto de Outono” (se bem que “Conto de Verão”... e “Conto de Inverno”...).


_2_

É de se perguntar o que passa na cabeça de Jean-Pierre Jeunet. Após ganhar o mundo com “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain”, ele volta com "Eterno Amor", filme que em tudo recria o anterior. Há os flashbacks, há as apresentações bem-humoradas de personagens, há a voz off onisciente que revela pequenas intimidades curiosas, há os detalhes “fofos”, há a imagem ultra-adulterada em cores, tonalidades e texturas, há a câmera que não pára um só segundo e há Audrey Tatou.

Enfim, Amélie vai à guerra, ou melhor, fica em casa enquanto seu amado vai à guerra. E dá-lhe idas e vindas e idas e vindas no tempo e subtramas com um in-ter-mi-ná-vel requinte de detalhes e excesso narrativo.

É chato.

“Cavalos sempre tem cheiro de cavalos”, já se disse. Não cobremos de Jeunet que ele se reinvente a cada filme, até porque excesso de originalidade é invencionice – não custa a perder o foco. Mas também não somos obrigados a rever os mesmos truques, já que a sensação vai ficando enjoativa. É como ficar tirando a pomba da cartola pra sempre, só que ela muda de cor, de tamanho, etc etc.

(Há quem diga que Kubrick falou sobre o mesmo tema em todos os seus filmes, mas ninguém pode acusá-lo de ter se viciado na forma).

Seria imperdível a conversa entre Jean-Pierre Jeunet e Jorge Furtado. Talentos indiscutíveis, ambos parecem, em seus últimos filmes, encantados demais com os truques que instituíram. O que, invariavelmente, os fazem perder, senão de todo a integridade, ao menos a essência. E, na forma pela forma, já temos os fogos de artifício, a fonte do Ibirapuera e assim vai...

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