12.2.06

mais montanha

Aqui existiu, de 12 a 22 de janeiro, o post abaixo, agora entre parênteses. Mas já que o texto em questão ("névoa") não está mais na capa do blog em questão, ele aparece copiado alí embaixo, já que, simpatizante dos princípios do Creative Commons, o autor permite.


(Não é a primeira vez nem provavelmente será a derradeira que esse blog faz QUESTÃO de empurrar seus dois ou três leitores a páginas amigas.

Pedro Alexandre Sanches aglomera sua voz ao coro dos contentes e lança suas impressões sobre Brokeback Mountain em A MONTANHA DO DAR-DE-OMBROS.

Vá ler AGORA. Sim, o texto é grande e se você for daqueles que se deixa vencer fácil pela preguiça, esforce-se ao menos para ler a primeira parte, "névoa".

Mas não deixe de visitá-lo. E corra, porque já, já, A MONTANHA DO DAR-DE-OMBROS, postado em 10 de fevereiro, já não será o texto-capa do blog.

Foi?



PS: O belíssimo texto de PAS vêm conversar DIRETAMENTE com o PRIMEIRO e com o SEGUNDO textos sobre "O Segredo de Brokeback Mountain" postados nesse blog. E, veja você, bate-papo até mesmo com Simone, o assunto imediatamente anterior.)


A MONTANHA DO DAR DE OMBROS
névoa

ei, tu, cara-de-tatu. pega teu preconceito mais recôndito, aquele que mais te incomoda porque, quanto mais tu tentas expeli-lo pelo cuspe, mais ele te corrói por dentro.

ei, você aí. que tal levar seu preconceito para passear um pouquinho?

dê uma volta com ele. passeie pelas calçadas, vá pela sombra. mostre ao seu preconceito os cachorrinhos no pet shop. juntos, façam muxoxos às crianças de 12 anos entupidas de consumismo mórbido de shopping center.

ainda que seja difícil, respeite seu preconceito. pague-lhe um sorvete. evite o marketing nas vitrines, sucumba ao marketing onipresente: carregue o seu preconceito para dentro do cinema, conduza-o a assistir um filmão hollywoodiano cotado para ganhar o oscar. compre um saco grande de pipocas.

pague duas entradas, uma meia para você, uma inteira para o seu preconceito. colabore na campanha benemerente que levará o dramalhão da hollywood mountain a faturar bilhões de dólares mundão pobre a fora e umas estatuetas de marketoscar no ex-epicentro do planeta.

e, bingo!, pegue-se de repente de mãos dadas com seu preconceito, no escurinho do cinema, entre beijos lânguidos (de língua) e fogosos, enquanto "brokeback mountain", de ang lee, se avoluma diante de seus (quatro) olhos.

goste. emocione-se um pouquinho assim, ó. derrube uma lágrima furtiva, mas saia do cinema dando de ombros para o "western gay", por não ter se identificado tanto assim.

então olhe de novo para seu preconceito, veja como ele está mudado. pergunte-lhe se gostou do filme (com jeitinho, para não magoá-lo).

molhe seu preconceito com um copinho d'água gelada (antes, faça um bochecho, tire o sal e os piruás do dente, cuspa). teste seu companheirinho eriçado, umedecendo-o, para descobrir se, depois do filme com que você não se identificou tanto assim, seu preconceito irá proliferar feito gremlins n'água, ou se, pluft!, vai se extinguir feito sal diluído em água doce.

dê soro ao seu preconceito. ele merece.

chuvisque-o de lágrimas, suor, urina, sangue, esperma, sucos vaginais, saliva, catarro. cuspa. engula. aplique um chego, uma chegadinha, um xamego, um bole-bole no seu preconceito.

cuide-se bem, perigos há por toda à parte, e é tão necessário viver. mas cuide do seu preconceito no escuro do seu quarto, à meia-noite, à meia-luz. dispa-o de seu capote "pré", desnude-o, acaricie-o e faça-o gozar feito conceito nu (goze com ele), materializado em pré-pós-conceito, em tudo ao mesmo tempo agora onde tudo se mistura.

mate seu preconceito. deixe-o à míngua de inanição. só então olhe-se despido(a) no espelho e veja-o ali de volta, transmutado feito zelig em sua própria face. repita todo o ritual, moldando-se à sua própria imagem e semelhança como fizera até então com seu preconceito (peça o dinheiro de um dos ingressos de volta na bilheteria).

entenda, com carinhos à farta, que o seu preconceito É você, e que você É o seu preconceito.

Um comentário:

Anônimo disse...

parabéns pela argúcia
e competência com que desenvolves
os textos,
meu nome é astier basílio
e sou editor de um suplemento
cultural aqui na Paraíba chamado
"Augusto",
gostaria muito de contar com sua colaboração em nosso suplemento.
Abraço grande
e vamos manter contato,
meu email é astierbasilio@gmail.com