24.10.07

diário da Mostra - dia 5

23/10 - terça-feira
(cotações de * a * * * * *)

(É impressão só minha ou a Mostra está desnorteantemente lotada esse ano? Não há mais regra: sessões esgotam no meio da tarde, em dias de semana, exibindo filmes de diretores “desconhecidos”, sem grandes indicações ou atenção de mídia. Melhor assim, sempre, mas pior assim, quando se perde A Questão Humana, filme recomendando e pelo qual a ansiedade era grande.)

Mas...


Longe Dela (Away From Her), de Sarah Polley
CANADÁ
* * * (e 1/2?)
O que é esse sentimento que cimenta um casamento? O que faz duas pessoas ficarem juntas por 44 anos (ou mais)? De onde vem, como se transforma, em que se transforma, pra onde vai, o que faz e o que é isso que chamam amor? Múltiplo como o branco, que não existe em estado puro e é a soma de todas as outras cores, o amor é a palavra na qual se abrigam a soma e o confronto de uma porção de outras coisas, inevitavelmente. Sarah Polley finge que está fazendo um filme sobre a doença de Alzheimer e faz um filme sobre a permanência e a aceitação. Sobre um casal que não passou um mês separado durante 44 anos. E que passa em revista passado, futuro e principalmente presente, diante de uma perspectiva sombria. Algumas convenções por demais convencionais (mas que funcionam sem precisar de muita condescendência) não tiram o mérito da diretora de conter o que poderia ser um dramalhão desregradamente lacrimoso, escudada em Julie Christie e, principalmente, Gordon Pinsent. E em um olhar delicado e esperançoso – ainda que num filme triste – sobre a construção de uma vida conjunta.


El Otro, de Ariel Rotter
ARGENTINA/ FRANÇA/ ALEMANHA
* *
Quando eu estava achando clima e atmosfera parecidas demais (inclusive com o mesmo ator) com o excelente filme O Guardião, de Rodrigo Moreno, dormi. Mas mesmo com o filme mal visto ficou a sensação de uma obra algo pretensiosa, que acaba sendo mais vazia do que sobre o vazio.



Le Voyage du Ballon Rouge, de Hou Hsiao-Hsien
FRANÇA
* * * * *
Deslumbrante. A vida mais banal e mais mágica feita cinema. A resignificação dos espaços. Os anseios, sonhos, dores e contratempos em pianos, fogões, vizinhos, filhos, mães, babás, Paris e um balão vermelho. A inocência da criança e da estrangeira feitas uma só. O olhar mestre e imigrante sobre as pessoas e suas vidas, aquilo que é, enfim, universal.

Um comentário:

Domingos Junior disse...

puxa! como é que você não viu 'a viagem do balaão vermelho'?
tá, eu não consegui ver 'o homem de londres', mas eu vi 'import/export', que eu bem recomendo.