29.12.08

dias de Madrid - 2.1

domingo em Madrid. o frio é bastante, mas é ao mesmo tempo moderado, dadas as expectativas e a preparaçao. francamente, o frio é ótimo. eu adoro o frio. o frio civiliza.

prevendo que às segundas-feiras (que seria/será meu último dia em Madrid) os museus fecham, resolvi aproveitá-los, já que o pessoal nao deu mesmo sinal de vida.

caminho até o Prado e o Passeo del Prado é mesmo lindo. horas mais tarde, ando por ele com Camelo em meus ouvidos cantando Copacabana - boulevar por boulevar, ali era a av. Atlântica, por 3 minutos.

ah, o ipod, com quem havia rompido no aviao, retorna à vida e fazemos as pazes. nos amamos muito, nesse domingo.

(alo, alo, Tati, ouvir Beirut na Europa é meio como estar dentro daqueles vídeos!)

a fila do Prado era algo inacreditável - de onde vem tanta gente querendo ver arte? amplos cartazes na porta anunciam uma mostra de Rembrandt (!). ou seja, nao há fila capaz de manter-nos longe disso.

mas decido tentar o museu Reina Sofia, para ver se o Prado desafoga. no caminho, entro em um invernal Jardim Botânico Real.

chegando ao Reina, entradas grátis, mas a multidao é sem dúvida menor.

quando estive no RS, lembro de ter passado por ele muito rápido e ter retido somente Guernica, de Picasso, com precisao. o edifício estava em reforma, inclusive. hoje, ele está ampliado e belo. Guernica continua lá, poderosa e magnética, mas há mais.

sobre o RS, notas esparsas:

* está ali, para quem quiser ver, em carne, osso e óleo sobre tela, um magnífico caminho do figurativismo ao abstracionismo, passando notadamente pelo cubismo e pelo surrealismo. ou seja, é presenciar a história da arte do século XX através majoritariamente das obras de pintores espanhois que sao os próprios mestres das respectivas vanguardas que representam.

* Mulher de Azul, de Picasso, de um lado da parede. Mulher na Janela, de Dalí, do lado oposto. dois quadros explêndidos, onde os gênios nao eram exatamente ainda quem viriam a ser - ou antes, eram exatamente isso.

* ao ver Natureza Morta com Luminária, de Fernand Léger, acontece mais do que só o maravilhamento do olhar. a gente começa a entender como as artes plásticas e especialmente a pintura e especialmente o cubismo fazem Peter Greenaway achar que o cinema está em sua pré-história. avisem lá nos multiplexes da vida que salas em 3D sao essas aqui!

* quase tao interessante quanto olhar as obras é olhar as pessoas durante suas visitas individuais - mais ainda em um domingo com entrada grátis. há os que estao ali meramente cumprindo protocolo (turístico?), há os que nao sabem exatamente porque estao, há os que estao obrigados (quase sempre pelos pais). e há, claro, quem quer ver arte. mas talvez seja a minoria.

* as dezenas de estudos, desenhos e telas que levaram Picasso a Guernica dao a noçao clara de que uma obra-prima nao nasce da pressa nem da negligência. vale a máxima dos 10% de inspiraçao e 90% de transpiraçao.

* ser Miró é pintar uma longa e tracejada flecha sobre uma tela branca, acrescentar uma pequena esfera vermelha em cima e uma azul embaixo, chamar a obra de Pássaro Deslizando no Espaço e ser incrivelmente convincente.

* ao mesmo tempo que é capaz de explosoes cromáticas e sutilezas pictóricas desconcertantes, Miró outras vezes parece que só estava se divertindo muito ao pintar. vale até smiley face na tela.

* e o surrealismo definitivamente nao me interessa muito como expressao figurativa ou estética. algumas telas me atingem conceitualmente, mas pouco, em comparaçao com outros movimentos.


saindo do museu, passo em frente a um estabelecimento que estampa "famoso por seu sanduíche de lulas". nao tive a mais ligeira dúvida e entrei. lulas fritas em escala mcdonística, garçons que gritam uns com os outros, com a camisa aberta sobre a fritura e que nao diferenciam, higienicamente falando, colocar a mao na comida ou no dinheiro, muita gente, muita confusao. mas tudo muito amável. é inusitado comer lulas fritas na baguete, mas delicioso.

caminhada de volta ao Prado. e aqui começa todo um segundo capítulo.

Um comentário:

Tati Fujimori disse...

não esquece de ouvir 99 luftballons em berlim!!!

eu acho ótimo ouvir tb o flyng cup club e a trilha do chansons em paris, mas, pela idade dos prédios da cidade que vão te cercar, eu acho que combina mais um legrand, aznavour, piaff e birkin! fica a dica!