27.5.09
Isso
Com grande atraso, hoje fui ver Titãs - A Vida Até Parece Uma Festa.
Peguei-me completamente envolvido, emocionado, melancólico e alegre.
É impressionante, em termos de linguagem, como a narrativa documental consegue se construir inteiramente por imagens de arquivo.
Mas o mais inescapável em testemunhar toda aquela história, o que cala mais fundo na sentimentalidade do espectador talvez seja, através do gigantesco e incomparável poder da música, a sensação perene do pertencimento.
Todos nós queríamos ter uma banda de rock, na medida em que essa idéia encerra instintos e desejos tão juvenis quanto eternos, tão fortes quanto duradouros. E todos nós o queríamos pela adrenalina, pela imortalidade, pela energia, mas talvez mais do que tudo pela companhia.
Como se, envelhecendo juntos, não envelhecessemos. Ou pudéssemos fazê-lo com a constante sensação da liberdade, da plenitude e de ser parte importante de um todo.
Como se a vida fosse mesmo uma festa - ou uma constante sucessão delas. Todas felizes demais. E sem fim.
*
Sem jamais ter sido músico, acho que já tive algumas bandas de rock.
teatro em Londres
O teatro em Londres é grande. E é negocio sério, business. Sua força determinante não é a experimentação ou a investigação de linguagens, e sim grandes textos montados por proeminentes atores, ao lado das invenções musicais da estação ou dos infalíveis revivals.
Comecei com a contagiante inversão de expectativa que foi Billy Elliot, música e dança e texto exatamente onde deveriam estar, num show arrebatador e emocionalmente poderoso. Os meninos atores-cantores-dançarinos ficam voltando à cabeça passado quase um mês, a trilha sonora toca no itunes, eu me rendo repetidamente aos sentimentos mais basicamente cafonas que um espetáculo desse tipo pode provocar.
Depois, fui à ópera ver Lohengrin e a montagem era chata, aborrecida, pesada, apesar de Wagner (e)levar a música a lugares inimagináveis.
No dia seguinte, Judi Dench era o nome mais destacável à frente de um elenco inteiro de competentes intérpretes femininas em Madame de Sade. Como já dito aqui, as coisas não eram muito mais do que corretas (a começar pelo instigante mas de alguma forma pouco inspirador texto de Yukio Michima), mas ver Madame Dench ao vivo pode ser simplesmente um marco histórico na vida de um espectador.
Mas poucas coisas podem realmente preparar alguém para assistir a Ian McKellen fazer Esperando Godot.
O espetáculo admiravelmente tira de si mesmo o pretenso peso ou pessimismo do texto de Beckett. A gravidade do discurso e a paralisia algo apocalíptica que (não) movem Vladimir e Estragon em sua contínua espera ressoam como conseqüência da montagem, sem propriamente estar na base de sua engrenagem.
A leitura é clownesca e Mckellen e Patrick Stewart, bem como Simon Callow e Ronald Pickup, são capazes de transformar as frases em perfeitas punch-lines ou fazer brotar pequenas coreografias circenses através de uma discreta dança de corpos e de chapéus. E que não se entenda mal: não há, nesse expediente, qualquer tentativa de escárnio ou paródia ao texto clássico. Trata-se, isso sim, de dar ao “absurdo” de Beckett sua devida – e dificilmente alcançada – estatura de patético.
O incômodo e a gravidade são ressaltados a partir da leveza, da mesma forma que o número do trapézio é capaz de encantar na exata mesma medida em que jamais abandona o jogo do perigo e a expectativa do desastre – o que o público quer, afinal, é ver o equilibrista cair.
E dois atores extraordinários como esses não só demonstram como Beckett pode não ser hermético, difícil nem chato, mas também justificam a própria existência de seu ofício. Seja em tempos precisos (as pausas, meu deus, que pausas são aquelas?!), em uma pauta corporal perfeita ou na absoluta propriedade em dizer cada palavra. McKellen, dono de inteligência cênica aterrorizante, consegue ser genial somente tirando os sapatos. E isso é algo que comentário nenhum explica, mas que dá sentido à arte do ator, à arte de Beckett e à arte do teatro. Trata-se de muito mais do que um marco histórico na vida de um espectador.
(Uma montagem da peça em cartaz na Broadway, protagonizada por Nathan Lane e Bill Irwin, com John Goodman como Pozzo, também investe, dizem, em uma leitura mais abertamente cômica, o que acrescenta um curioso “espírito do tempo” à coisa toda.)
O dia seguinte era de programa duplo. À tarde, o Shakespeare’s Globe nos esperava com Romeu e Julieta. A montagem, nesse caso, era realmente o de menos. Estar no Globe é ser contaminado aos poucos por seu espírito realmente vivo de teatro popular e livre, aberto, onde a circulação é possível e é parte do espetáculo, mesmo que as costas doam no banco sem encosto, mesmo que haja quem prefira encarar de pé as três horas de peça.
Peça que é aquilo tudo que todo mundo já viu e reviu em leituras e releituras, mas que exibida da forma mais clássica que há, sem luz, efeitos ou truques, mas com bela e contagiante música, encenação dinâmica e defendida por competentes atores (no que pese a quase impossibilidade de compreensão do inglês textual), sempre terá seus prazeres.
À noite, o musical feito de Spring Awakening, a partir da peça original de Frank Wedekind, teve seus encantos – quase todos vindos da energia latente de uma encenação que aposta na força dos atores, nas coreografias e execuções das canções e em sua capacidade de comunhão com o público. Sucesso entre adolescentes, soa como um Rent de uma geração abaixo (em termos etários) e bastante anterior (em termos históricos).
Mas se em Rent as canções eram muito mais carismáticas e o espetáculo radiografava com alguma precisão o tal “espírito do tempo”, quando de seu lançamento em 1996, Spring faz a crônica generalista de uma idéia de adolescência que soa francamente anacrônica e aproxima-se perigosamente da ingenuidade tola. Ou, em outra chave, talvez só eu esteja velho demais para me envolver com questões tão estritamente juvenis tratadas sob uma ótica de desajuste já por demais desgastada (e já incontornavelmente pouco verdadeira).
Para fechar tudo com chave de ouro, no entanto, houve A Little Night Music. E por mais que Marco Dutra sempre houvesse me alertado das delícias das partituras de Stephen Sondheim, há coisas que nós temos mesmo que aprender sozinhos - ou, na melhor das hipóteses, guiados por uma montagem tão afinada quanto essa.
Não há nada fora de lugar, mas a alma de tudo é sem dúvida um elenco que canta tão bem quanto atua e que valoriza com perfeição as muitas nuances (cômicas) do texto. Ressoam pelo palco as comédias mordazes de Oscar Wilde e os labirintos sentimentais de Tchekhov, amarrados em música e cena que são puro deleite intelectual e estético.
Não poderia haver melhor final de temporada londrina, nem melhor porta de entrada de uma paixão por Sondheim.
*
BÔNUS
A pergunta é:
- Can I just ask you, Billy: what does it feel like when you are dancing?
E Billy Elliot responde com a canção Electricity:
(...Something bursting me wide open impossible to hide/ And suddenly I'm flying, flying like a bird/ Like electricity, electricity/ Sparks inside of me/ And I'm free, I'm free)
Comecei com a contagiante inversão de expectativa que foi Billy Elliot, música e dança e texto exatamente onde deveriam estar, num show arrebatador e emocionalmente poderoso. Os meninos atores-cantores-dançarinos ficam voltando à cabeça passado quase um mês, a trilha sonora toca no itunes, eu me rendo repetidamente aos sentimentos mais basicamente cafonas que um espetáculo desse tipo pode provocar.
Depois, fui à ópera ver Lohengrin e a montagem era chata, aborrecida, pesada, apesar de Wagner (e)levar a música a lugares inimagináveis.
No dia seguinte, Judi Dench era o nome mais destacável à frente de um elenco inteiro de competentes intérpretes femininas em Madame de Sade. Como já dito aqui, as coisas não eram muito mais do que corretas (a começar pelo instigante mas de alguma forma pouco inspirador texto de Yukio Michima), mas ver Madame Dench ao vivo pode ser simplesmente um marco histórico na vida de um espectador.
Mas poucas coisas podem realmente preparar alguém para assistir a Ian McKellen fazer Esperando Godot.
O espetáculo admiravelmente tira de si mesmo o pretenso peso ou pessimismo do texto de Beckett. A gravidade do discurso e a paralisia algo apocalíptica que (não) movem Vladimir e Estragon em sua contínua espera ressoam como conseqüência da montagem, sem propriamente estar na base de sua engrenagem.
A leitura é clownesca e Mckellen e Patrick Stewart, bem como Simon Callow e Ronald Pickup, são capazes de transformar as frases em perfeitas punch-lines ou fazer brotar pequenas coreografias circenses através de uma discreta dança de corpos e de chapéus. E que não se entenda mal: não há, nesse expediente, qualquer tentativa de escárnio ou paródia ao texto clássico. Trata-se, isso sim, de dar ao “absurdo” de Beckett sua devida – e dificilmente alcançada – estatura de patético.
O incômodo e a gravidade são ressaltados a partir da leveza, da mesma forma que o número do trapézio é capaz de encantar na exata mesma medida em que jamais abandona o jogo do perigo e a expectativa do desastre – o que o público quer, afinal, é ver o equilibrista cair.
E dois atores extraordinários como esses não só demonstram como Beckett pode não ser hermético, difícil nem chato, mas também justificam a própria existência de seu ofício. Seja em tempos precisos (as pausas, meu deus, que pausas são aquelas?!), em uma pauta corporal perfeita ou na absoluta propriedade em dizer cada palavra. McKellen, dono de inteligência cênica aterrorizante, consegue ser genial somente tirando os sapatos. E isso é algo que comentário nenhum explica, mas que dá sentido à arte do ator, à arte de Beckett e à arte do teatro. Trata-se de muito mais do que um marco histórico na vida de um espectador.
(Uma montagem da peça em cartaz na Broadway, protagonizada por Nathan Lane e Bill Irwin, com John Goodman como Pozzo, também investe, dizem, em uma leitura mais abertamente cômica, o que acrescenta um curioso “espírito do tempo” à coisa toda.)
O dia seguinte era de programa duplo. À tarde, o Shakespeare’s Globe nos esperava com Romeu e Julieta. A montagem, nesse caso, era realmente o de menos. Estar no Globe é ser contaminado aos poucos por seu espírito realmente vivo de teatro popular e livre, aberto, onde a circulação é possível e é parte do espetáculo, mesmo que as costas doam no banco sem encosto, mesmo que haja quem prefira encarar de pé as três horas de peça.
Peça que é aquilo tudo que todo mundo já viu e reviu em leituras e releituras, mas que exibida da forma mais clássica que há, sem luz, efeitos ou truques, mas com bela e contagiante música, encenação dinâmica e defendida por competentes atores (no que pese a quase impossibilidade de compreensão do inglês textual), sempre terá seus prazeres.
À noite, o musical feito de Spring Awakening, a partir da peça original de Frank Wedekind, teve seus encantos – quase todos vindos da energia latente de uma encenação que aposta na força dos atores, nas coreografias e execuções das canções e em sua capacidade de comunhão com o público. Sucesso entre adolescentes, soa como um Rent de uma geração abaixo (em termos etários) e bastante anterior (em termos históricos).
Mas se em Rent as canções eram muito mais carismáticas e o espetáculo radiografava com alguma precisão o tal “espírito do tempo”, quando de seu lançamento em 1996, Spring faz a crônica generalista de uma idéia de adolescência que soa francamente anacrônica e aproxima-se perigosamente da ingenuidade tola. Ou, em outra chave, talvez só eu esteja velho demais para me envolver com questões tão estritamente juvenis tratadas sob uma ótica de desajuste já por demais desgastada (e já incontornavelmente pouco verdadeira).
Para fechar tudo com chave de ouro, no entanto, houve A Little Night Music. E por mais que Marco Dutra sempre houvesse me alertado das delícias das partituras de Stephen Sondheim, há coisas que nós temos mesmo que aprender sozinhos - ou, na melhor das hipóteses, guiados por uma montagem tão afinada quanto essa.
Não há nada fora de lugar, mas a alma de tudo é sem dúvida um elenco que canta tão bem quanto atua e que valoriza com perfeição as muitas nuances (cômicas) do texto. Ressoam pelo palco as comédias mordazes de Oscar Wilde e os labirintos sentimentais de Tchekhov, amarrados em música e cena que são puro deleite intelectual e estético.
Não poderia haver melhor final de temporada londrina, nem melhor porta de entrada de uma paixão por Sondheim.
*
BÔNUS
A pergunta é:
- Can I just ask you, Billy: what does it feel like when you are dancing?
E Billy Elliot responde com a canção Electricity:
(...Something bursting me wide open impossible to hide/ And suddenly I'm flying, flying like a bird/ Like electricity, electricity/ Sparks inside of me/ And I'm free, I'm free)
11.5.09
SP - Londres
corpos que nascem juntos, corpos que dividem espaço, corpos que brigam, corpos que se amam, corpos que se machucam, corpos que se arrancam pedaços mas que constróem universos.
corpos que riem, que se ajudam, que sofrem, corpos que se apóiam para não cair.
corpos que crescem, corpos que escolhem, corpos que voam (para Londres).
corpos que amadurecem, corpos que sentem saudades, corpos que se adaptam, corpos que são felizes, corpos que se despedem, corpos que choram.
corpos que se deixam só, até a hora de voltar.
corpos que riem, que se ajudam, que sofrem, corpos que se apóiam para não cair.
corpos que crescem, corpos que escolhem, corpos que voam (para Londres).
corpos que amadurecem, corpos que sentem saudades, corpos que se adaptam, corpos que são felizes, corpos que se despedem, corpos que choram.
corpos que se deixam só, até a hora de voltar.
Londres - dia 8
Dia de ir embora, mas não sem antes ver mais uma peça (depois de acordar tarde e fazer check-out).
E almoçar com a Julia, enfim, depois de uma semana inteira na mesma ilha e sem se ver.
Almoço mais rápido do que deveria, mas com diversão de sobra.
A Little Night Music, em uma montagem precisa e nunca menos do que musical e intelectualmente deliciosa.
Rápido de volta para o hotel para ir ao aeroporto. Despedir-me da Flávia, mais uma vez.
E assim uma semana em Londres passa voando.
E almoçar com a Julia, enfim, depois de uma semana inteira na mesma ilha e sem se ver.
Almoço mais rápido do que deveria, mas com diversão de sobra.
A Little Night Music, em uma montagem precisa e nunca menos do que musical e intelectualmente deliciosa.
Rápido de volta para o hotel para ir ao aeroporto. Despedir-me da Flávia, mais uma vez.
E assim uma semana em Londres passa voando.
Londres - dia 7
A sexta-feira reservava duas peças de teatro para ver em Londres.
Depois de uma noite um pouco melhor dormida, eu e Denise fomo à London Eye, a famosa roda gigante (e Raimundos, em flashback, cantavam na minha cabeça Como a vista é linda da roda gigante/ É... tão grande).
De lá, almoço bem rápido e corrida para tentar, pela terceira vez, entrar na Abadia de Westminster. Sem sucesso. Ou seja, não se pode dizer que não tentamos.
Táxi para chegar a tempo no Shakespeare's Globe, que é o teatro do Homem-ele-mesmo. Ver Romeu e Julieta no teatro de Shakespeare é qualquer coisa menos uma emoção pequena, simples, ou descritível (independente das qualidades intrínsecas à montagem, da qual falaremos em postagem específica).
E a loja do teatro foi um atrativo à parte.
Não restou muito tempo a não ser de passar no hotel, deixar as sacolas, pegar o metrô e caminhar até o teatro onde veríamos Spring Awakening, um Rent para adolescentes (ainda mais adolescente do que os pós-adolescentes juvenis de Rent), com menos impacto musical (comentários mais detalhados igualmente em breve).
Metrô até as imediações da KoKo, balada onde Fabiana queria nos levar. Dois pints no pub em frente, até que eles acendessem a luz e nos expulsassem. Fila e entrada na balada que um dia foi um cinema (ou teatro?), onde hoje tem shows de bandas estranhas e djs que tocam músicas boas.
Depois de algumas cervejas e muitas risadas com os ingleses que procuravam (sem encontrar) uma passagem no canto da pista onde estávamos, parada para um kebab e iniciar uma jornada de quase uma hora e meia entre esperar um ônibus, pegá-lo, esperar (passando frio) outro ônibus, pegá-lo, chegar ao hotel e conseguir dormir.
Depois de uma noite um pouco melhor dormida, eu e Denise fomo à London Eye, a famosa roda gigante (e Raimundos, em flashback, cantavam na minha cabeça Como a vista é linda da roda gigante/ É... tão grande).
De lá, almoço bem rápido e corrida para tentar, pela terceira vez, entrar na Abadia de Westminster. Sem sucesso. Ou seja, não se pode dizer que não tentamos.
Táxi para chegar a tempo no Shakespeare's Globe, que é o teatro do Homem-ele-mesmo. Ver Romeu e Julieta no teatro de Shakespeare é qualquer coisa menos uma emoção pequena, simples, ou descritível (independente das qualidades intrínsecas à montagem, da qual falaremos em postagem específica).
E a loja do teatro foi um atrativo à parte.
Não restou muito tempo a não ser de passar no hotel, deixar as sacolas, pegar o metrô e caminhar até o teatro onde veríamos Spring Awakening, um Rent para adolescentes (ainda mais adolescente do que os pós-adolescentes juvenis de Rent), com menos impacto musical (comentários mais detalhados igualmente em breve).
Metrô até as imediações da KoKo, balada onde Fabiana queria nos levar. Dois pints no pub em frente, até que eles acendessem a luz e nos expulsassem. Fila e entrada na balada que um dia foi um cinema (ou teatro?), onde hoje tem shows de bandas estranhas e djs que tocam músicas boas.
Depois de algumas cervejas e muitas risadas com os ingleses que procuravam (sem encontrar) uma passagem no canto da pista onde estávamos, parada para um kebab e iniciar uma jornada de quase uma hora e meia entre esperar um ônibus, pegá-lo, esperar (passando frio) outro ônibus, pegá-lo, chegar ao hotel e conseguir dormir.
7.5.09
Londres - dia 6
Acordar com sono e perceber que o British Museum é fichinha perto do Victoria and Albert Musem, um gigantesco palácio onde 11 km de galerias (no British são 4 km) cobrem manifestações artísticas tão diferentes quanto jóias, tapeçarias, esculturas, prataria, arte em ferro, móveis e utensílios domésticos, arquitetura, design, vidro, escultura e tantas outras.
Mais uma vez, trata-se de um (longo e exaustivo) passeio pelas alas, tentando ver os 20 destaques que o mapa aponta na coleção. E o mais impressionante aqui é quando o museu faz de sua imponente arquitetura a “cenografia” dos espaços onde exibe suas peças. Assim, uma sala de proporções desconcertantes abriga telas imensas de Raphael. Outra exibe amplos exemplares de tapeçaria em suas paredes. Um hall igualmente gigantesco exibe construções arqitetônicas completas do século I. Magníficas jóias são exibidas em salas espelhadas, corredores inteiros abrigam objetos de prata criando alegorias visuais. E assim por diante.
O Victoria and Albert é uma experiência e tanto.
Uma rápida visita ao setor de comidas da loja de departamento Harrods (só para dar água na boca), nos leva ao mais distante bairro de City, para almoçar de fato no bar onde trabalha minha irmã. De pessoa que tinha vergonha de pedir coisas aos garçons, Fabiana agora é a moça que atende aos pedidos.
Dali, eu e Flávia seguimos para a Tower of London, um conjunto arquitetônico que vemos de fora. Cruzamos a imponente Tower Bridge para chegar ao Museu do Design. Depois de breve visita, temos vontade de passar horas sentados dentro do trem do metrô, para ver se os pés param de doer, mas vamos novamente a Foyle, continuar a desvendar uma livraria que não tem fim.
A noite termina, então, da melhor maneira possível, pois é dia de ver Ian McKellen e Patrick Stewart em Esperando Godot. Os comentários sobre o fascínio que é fazer isso vem já, já.
Mais uma vez, trata-se de um (longo e exaustivo) passeio pelas alas, tentando ver os 20 destaques que o mapa aponta na coleção. E o mais impressionante aqui é quando o museu faz de sua imponente arquitetura a “cenografia” dos espaços onde exibe suas peças. Assim, uma sala de proporções desconcertantes abriga telas imensas de Raphael. Outra exibe amplos exemplares de tapeçaria em suas paredes. Um hall igualmente gigantesco exibe construções arqitetônicas completas do século I. Magníficas jóias são exibidas em salas espelhadas, corredores inteiros abrigam objetos de prata criando alegorias visuais. E assim por diante.
O Victoria and Albert é uma experiência e tanto.
Uma rápida visita ao setor de comidas da loja de departamento Harrods (só para dar água na boca), nos leva ao mais distante bairro de City, para almoçar de fato no bar onde trabalha minha irmã. De pessoa que tinha vergonha de pedir coisas aos garçons, Fabiana agora é a moça que atende aos pedidos.
Dali, eu e Flávia seguimos para a Tower of London, um conjunto arquitetônico que vemos de fora. Cruzamos a imponente Tower Bridge para chegar ao Museu do Design. Depois de breve visita, temos vontade de passar horas sentados dentro do trem do metrô, para ver se os pés param de doer, mas vamos novamente a Foyle, continuar a desvendar uma livraria que não tem fim.
A noite termina, então, da melhor maneira possível, pois é dia de ver Ian McKellen e Patrick Stewart em Esperando Godot. Os comentários sobre o fascínio que é fazer isso vem já, já.
Londres - dia 5
Passear no Madame Toussaud é brincar em uma “Disneylândia fotográfica”, como disse uma amiga. E é só e exatamente por isso que a gente vai até lá.
Em seguida, os esplendores do Regent’s Park na primavera e o mundo dentro do British Museum.
Museu de abrangência enorme e dono de tesouros históricos da humanidade, o British conseguiu tirar de mim e de Flávia uma visita interessada, mas quase de cortesia. Admiramos sua bela arquitetura e mais passeamos por seus corredores do que propriamente tivemos tempo de nos deter cuidadosamente em suas peças. Mas sentir a atmosfera, no caso, já parecia suficiente.
Depois, Camden Town e seus mercados, seu canal, suas lojas interessantes, sua balbúrdia charmosa.
De volta ao West End, Flávia me convence a trocar a (im)possibilidade de ver Beirut ao vivo pela certeza de ver um musical que cresce em minha expectativa e curisoidade desde que pus os pés aqui – Spring Awakening. Ingressos comprados para sexta, portanto.
Na imensa livraria Foyle, nenhum tempo parece ser o suficiente e ele é mesmo interrompido, porque Judi Dench me aguarda.
Madame de Sade é uma reflexão acerca do mito, da humanidade e das reflexões do Marquês de Sade em forma de peça. Sua ação dramática é restrita e o tempero de sua dramaturgia é fazer recortes temporais elípticos e bem focados, no caso sobre as mulheres diretamente envolvidas com a esposa do Marquês, além dela própria. É um texto que eu já conhecia dos palcos paulistanos, em uma má montagem protagonizada por Imara Reis e Bárbara Paz.
Aqui, há Judi Dench. E uma pausa de Judi Dench vale toda a carreira de centenas e centenas de atores. Há sem dúvida a vontade de vê-la em algo mais arrebatador, mais exigente de suas tantas capacidades de intérprete. Mas é inegável o extremo prazer e a emoção de testemunhá-la em cena. De resto, falar sobre seu domínio do ofício é ser redundante e redundante.
Vale contar, no entanto, que ela está muito bem acompanhada. Rosamund Pike cresce aos poucos no papel titulo e Frances Barber já é vencedora desde a primeira palavra que profere. Outro destaque é Jenny Galloway, que, em poucas e breve entradas pontuais, prova que realmente não existem pequenos papéis.
Finda a peça, encontro Gabriela, recém chegada a Londres, para uma cerveja. A cerveja vira outra cerveja, em outro pub, até que vira visita ao Ku Bar, numa festa-balada de música pop (que terminou divertida, mas cedo).
Fim de um dia longo.
Em seguida, os esplendores do Regent’s Park na primavera e o mundo dentro do British Museum.
Museu de abrangência enorme e dono de tesouros históricos da humanidade, o British conseguiu tirar de mim e de Flávia uma visita interessada, mas quase de cortesia. Admiramos sua bela arquitetura e mais passeamos por seus corredores do que propriamente tivemos tempo de nos deter cuidadosamente em suas peças. Mas sentir a atmosfera, no caso, já parecia suficiente.
Depois, Camden Town e seus mercados, seu canal, suas lojas interessantes, sua balbúrdia charmosa.
De volta ao West End, Flávia me convence a trocar a (im)possibilidade de ver Beirut ao vivo pela certeza de ver um musical que cresce em minha expectativa e curisoidade desde que pus os pés aqui – Spring Awakening. Ingressos comprados para sexta, portanto.
Na imensa livraria Foyle, nenhum tempo parece ser o suficiente e ele é mesmo interrompido, porque Judi Dench me aguarda.
Madame de Sade é uma reflexão acerca do mito, da humanidade e das reflexões do Marquês de Sade em forma de peça. Sua ação dramática é restrita e o tempero de sua dramaturgia é fazer recortes temporais elípticos e bem focados, no caso sobre as mulheres diretamente envolvidas com a esposa do Marquês, além dela própria. É um texto que eu já conhecia dos palcos paulistanos, em uma má montagem protagonizada por Imara Reis e Bárbara Paz.
Aqui, há Judi Dench. E uma pausa de Judi Dench vale toda a carreira de centenas e centenas de atores. Há sem dúvida a vontade de vê-la em algo mais arrebatador, mais exigente de suas tantas capacidades de intérprete. Mas é inegável o extremo prazer e a emoção de testemunhá-la em cena. De resto, falar sobre seu domínio do ofício é ser redundante e redundante.
Vale contar, no entanto, que ela está muito bem acompanhada. Rosamund Pike cresce aos poucos no papel titulo e Frances Barber já é vencedora desde a primeira palavra que profere. Outro destaque é Jenny Galloway, que, em poucas e breve entradas pontuais, prova que realmente não existem pequenos papéis.
Finda a peça, encontro Gabriela, recém chegada a Londres, para uma cerveja. A cerveja vira outra cerveja, em outro pub, até que vira visita ao Ku Bar, numa festa-balada de música pop (que terminou divertida, mas cedo).
Fim de um dia longo.
Londres - dia 4
Dois adendos válidos sobre Billy Elliot:
- em meio a toda a espetacularização e às emoções desavergonhadas, o musical é um frontal e comovente libelo a favor da liberdade. o que é necessário, afinal, para que os pais percebam que não são donos de seus filhos?
- depois dos desastres sucessivos de O Leitor, era difícil acreditar que Stephen Daldry seria o diretor responsável por tão agradáveis sentimentos. sinal de que o palco é mesmo onde ele deve permanecer.
*
A terça-feira em Londres começa na National Gallery, um desses imensos museus europeus dedicados à pintura, fazendo o percurso completo do século 13 até o início do 20.
Descrição da visita detalhada à galeria em item separado no fim dessa postagem, mas é preciso dizer que é impressionante até mesmo pra padrões europeus o número de excursões escolares de crianças pequenas pelas salas e corredores.
Um sanduíche rápido ao fim da maratona e correria até a Abadia de Westminster, para tentar pegá-la aberta. Em vão – mais uma vez demos com a cara na porta. Seguimos então para o St. James Park, para ver o Palácio de Buckingham. Um parque vira o outro e o Green Park nos leva ao metrô para Covent Garden, onde fica a Royal Opera House.
Ir à ópera na Inglaterra é compreender os ingleses em sua essência. 80% do público estava seguramente acima dos 60 anos de idade. Todos se vestiam formalmente. Os intervalos comportam mais do que cafezinhos – é tempo de verdadeiramente jantar (e de tomar sorvete). Nos intervalos da música, não se ouve uma respiração. Aplaudir é sentado – de pé, imagino, só para acontecimentos significantemente extra ordinários.
Lohengrin é já em sua abertura um exemplo da estatura gigantesca que a musica de Wagner é capaz de atingir. Mas a montagem original de 1971 não nega sua idade, passando lenta e arrastada. A ação dramática não é valorizada pela encenação e a sensação é quase de ver um recital com ornamentos de figurino e luz. Corpos estáticos demais, peso, espírito “clássico” no pior sentido.
Mas evidentemente vale a pena, porque os cantores e a orquestra excelente dão conta de uma música de muitas camadas (e quando houve tédio, a cabeça inspirada voou sem problemas em outras direções).
No fim, a sensação é de que todas as pessoas do teatro saem e entram no metrô juntas. Sozinho no trem, portanto, foi possível ouvir impressões e debates acerca do espetáculo que acabara de acontecer.
NATIONAL GALLERY
O mapa do museu, como de praxe, aponta alguns destaques da coleção. Segui-los é sempre um norte, mas é claro que há muitas outras coisas a serem vistas aqui.
Van Eyck é sempre impressionante. Bellini quase antecipa a terceira dimensão com o vibrante fundo azul de seu retrato The Doge Leonardo Loredan.
A explosão renascentista do século 16 tem Leonardo Da Vinci e Michelangelo, mas é diante de The Madonna of the Pinks, de Raphael, que minha mãe se admira com a vivacidade das figuras retratadas. Veronese faz a epifania do monocromatismo em A Visão de Santa Helena e a dramaticidade de Tintoretto nunca é maior do que em Cristo Lavando os Pés de Seus Apóstolos.
De Tiziano, o movimento impressionista quase se insinua pela técnica da “tinta aplicada cruamente sobre a tela”, em A Virgem e a Criança, e A Morte de Actaeon é um filme inteiro passando pela cabeça.
Em Christina da Dinamarca, de Holbein, pela primeira vez até onde a memória permite lembrar, vejo uma forte e marcada sombra de corpo inteiro em um retrato – num efeito incomum e surpreendente.
Numa série de quatro grandes telas de Joachim Beuckelaer, Os Quatro Elementos são retratados em um mercado de rua.
Se a Salome de Cesare de Cesto tem no olhar o indisfarçável gosto da perversidade, a de Caravaggio, Salome Recebe a Cabeça de São João Batista, tem na expressão retorcida a culpa e a percepção do horror que causou.
Em meio a suas prolíficas telas mitológicas, Rubens assuta com paisagens que parecem ter vida - no estilo das árvores animadas de A Branca de Neve o Os Sete Anões -, como em The Watering Place, por exemplo. Já Sansão e Dalila demonstra uma exuberante dramaticidade (a do instante que sintetiza toda uma história) na luz e nos corpos. Vendo-a, ouvimos na cabeça Mon Coeur S’Ouvre a Ta Voix.
Sobre contos de fadas, cena memorável é um grupo de crianças sentadas em frente a Landscape With Psyche Outside the Palace of The Cupid, de Claude Lorrain, respondendo a perguntas do monitor do museu sobre heroínas e arquétipos (sem que elas sequer soubessem que falavam disso).
Sobre a luz, é necessário apontar Zubarán em São Francisco Meditando, e Rembrandt, de cuja Ana and the Blind Tobit remete ao domínio fotográfico de Kore Eda em Maborosi. Rembrandt comparece ainda com dezenas de seus magistrais retratos.
Em mais uma série, Poussain pinta Os Sacramentos (da Igreja Católica) em cenas que remetem a pontos de vista teatrais dos acontecimentos – a perspectiva e recorte espacial é aquela de um palco.
Vermeer está aqui também, ainda que não com um de seus melhores quadros (A Young Woman Standing at a Virginal), e é acompanhado de perto por Pieter de Hooch. E na mesma sala, um peepshow de Samuel von Hoogstraton apresenta uma caixa com faces internas pintadas em perspectivas trabalhadas de modo que buracos nas laterais proporcionam visões espantosamente vivas e tridimensionais do espaço retratado no lado oposto. Faz lembrar de imediato Michel Gondry e suas artimanhas “mágicas” com elementos reais de cenário e posicionamento de câmera.
William Turner, com cinco estarrecedoras e inebriantes pinturas “atmosféricas”, retrata o céu e o mar como ninguém e faz o corpo do espectador prostrar-se diante de seus quadros (e talvez a grande revelação dessa visita à NG foi descobrir de forma mais profunda esse pintor). Leva a mente a Sokurov e a Terrence Malick.
William Hogarth faz uma quase fotonovela burlesca em mais uma série de pinturas, Marriage a la Mode, remetendo a uma comédia de costumes e suas desavenças domésticas (ou a Rohmer e suas “Comédias e Provérbios”).
Ainda no quesito “série”, Corot desestabiliza os sentidos nos quatro painéis de The Four Times a Day: Morning, Noon, Evening, Night. Já em The Leaning Tree Trunk a simplicidade extrema carrega a mais intensa magia visual (e na mesma sala ainda tínhamos Courbet, Delacroix, Ingres).
Adiante, uma dúzia de Monet, alguns belos Manet e Cézanne, Renoir e seu Os Guarda-Chuvas, Degas e a atordoante expressividade vermelho e laranja de La Coiffure.
Mas parece que nada nunca te prepara o suficiente para um Van Gogh ao vivo. No Campo de Trigo Com Ciprestes, todas as formas são curvas no estabelecimento das linhas horizontais e verticais. E as linhas comandam o quadro com a precisão da matemática, mas com a liberdade e a poesia que só a arte possui (e é capaz de transmitir).
- em meio a toda a espetacularização e às emoções desavergonhadas, o musical é um frontal e comovente libelo a favor da liberdade. o que é necessário, afinal, para que os pais percebam que não são donos de seus filhos?
- depois dos desastres sucessivos de O Leitor, era difícil acreditar que Stephen Daldry seria o diretor responsável por tão agradáveis sentimentos. sinal de que o palco é mesmo onde ele deve permanecer.
*
A terça-feira em Londres começa na National Gallery, um desses imensos museus europeus dedicados à pintura, fazendo o percurso completo do século 13 até o início do 20.
Descrição da visita detalhada à galeria em item separado no fim dessa postagem, mas é preciso dizer que é impressionante até mesmo pra padrões europeus o número de excursões escolares de crianças pequenas pelas salas e corredores.
Um sanduíche rápido ao fim da maratona e correria até a Abadia de Westminster, para tentar pegá-la aberta. Em vão – mais uma vez demos com a cara na porta. Seguimos então para o St. James Park, para ver o Palácio de Buckingham. Um parque vira o outro e o Green Park nos leva ao metrô para Covent Garden, onde fica a Royal Opera House.
Ir à ópera na Inglaterra é compreender os ingleses em sua essência. 80% do público estava seguramente acima dos 60 anos de idade. Todos se vestiam formalmente. Os intervalos comportam mais do que cafezinhos – é tempo de verdadeiramente jantar (e de tomar sorvete). Nos intervalos da música, não se ouve uma respiração. Aplaudir é sentado – de pé, imagino, só para acontecimentos significantemente extra ordinários.
Lohengrin é já em sua abertura um exemplo da estatura gigantesca que a musica de Wagner é capaz de atingir. Mas a montagem original de 1971 não nega sua idade, passando lenta e arrastada. A ação dramática não é valorizada pela encenação e a sensação é quase de ver um recital com ornamentos de figurino e luz. Corpos estáticos demais, peso, espírito “clássico” no pior sentido.
Mas evidentemente vale a pena, porque os cantores e a orquestra excelente dão conta de uma música de muitas camadas (e quando houve tédio, a cabeça inspirada voou sem problemas em outras direções).
No fim, a sensação é de que todas as pessoas do teatro saem e entram no metrô juntas. Sozinho no trem, portanto, foi possível ouvir impressões e debates acerca do espetáculo que acabara de acontecer.
NATIONAL GALLERY
O mapa do museu, como de praxe, aponta alguns destaques da coleção. Segui-los é sempre um norte, mas é claro que há muitas outras coisas a serem vistas aqui.
Van Eyck é sempre impressionante. Bellini quase antecipa a terceira dimensão com o vibrante fundo azul de seu retrato The Doge Leonardo Loredan.
A explosão renascentista do século 16 tem Leonardo Da Vinci e Michelangelo, mas é diante de The Madonna of the Pinks, de Raphael, que minha mãe se admira com a vivacidade das figuras retratadas. Veronese faz a epifania do monocromatismo em A Visão de Santa Helena e a dramaticidade de Tintoretto nunca é maior do que em Cristo Lavando os Pés de Seus Apóstolos.
De Tiziano, o movimento impressionista quase se insinua pela técnica da “tinta aplicada cruamente sobre a tela”, em A Virgem e a Criança, e A Morte de Actaeon é um filme inteiro passando pela cabeça.
Em Christina da Dinamarca, de Holbein, pela primeira vez até onde a memória permite lembrar, vejo uma forte e marcada sombra de corpo inteiro em um retrato – num efeito incomum e surpreendente.
Numa série de quatro grandes telas de Joachim Beuckelaer, Os Quatro Elementos são retratados em um mercado de rua.
Se a Salome de Cesare de Cesto tem no olhar o indisfarçável gosto da perversidade, a de Caravaggio, Salome Recebe a Cabeça de São João Batista, tem na expressão retorcida a culpa e a percepção do horror que causou.
Em meio a suas prolíficas telas mitológicas, Rubens assuta com paisagens que parecem ter vida - no estilo das árvores animadas de A Branca de Neve o Os Sete Anões -, como em The Watering Place, por exemplo. Já Sansão e Dalila demonstra uma exuberante dramaticidade (a do instante que sintetiza toda uma história) na luz e nos corpos. Vendo-a, ouvimos na cabeça Mon Coeur S’Ouvre a Ta Voix.
Sobre contos de fadas, cena memorável é um grupo de crianças sentadas em frente a Landscape With Psyche Outside the Palace of The Cupid, de Claude Lorrain, respondendo a perguntas do monitor do museu sobre heroínas e arquétipos (sem que elas sequer soubessem que falavam disso).
Sobre a luz, é necessário apontar Zubarán em São Francisco Meditando, e Rembrandt, de cuja Ana and the Blind Tobit remete ao domínio fotográfico de Kore Eda em Maborosi. Rembrandt comparece ainda com dezenas de seus magistrais retratos.
Em mais uma série, Poussain pinta Os Sacramentos (da Igreja Católica) em cenas que remetem a pontos de vista teatrais dos acontecimentos – a perspectiva e recorte espacial é aquela de um palco.
Vermeer está aqui também, ainda que não com um de seus melhores quadros (A Young Woman Standing at a Virginal), e é acompanhado de perto por Pieter de Hooch. E na mesma sala, um peepshow de Samuel von Hoogstraton apresenta uma caixa com faces internas pintadas em perspectivas trabalhadas de modo que buracos nas laterais proporcionam visões espantosamente vivas e tridimensionais do espaço retratado no lado oposto. Faz lembrar de imediato Michel Gondry e suas artimanhas “mágicas” com elementos reais de cenário e posicionamento de câmera.
William Turner, com cinco estarrecedoras e inebriantes pinturas “atmosféricas”, retrata o céu e o mar como ninguém e faz o corpo do espectador prostrar-se diante de seus quadros (e talvez a grande revelação dessa visita à NG foi descobrir de forma mais profunda esse pintor). Leva a mente a Sokurov e a Terrence Malick.
William Hogarth faz uma quase fotonovela burlesca em mais uma série de pinturas, Marriage a la Mode, remetendo a uma comédia de costumes e suas desavenças domésticas (ou a Rohmer e suas “Comédias e Provérbios”).
Ainda no quesito “série”, Corot desestabiliza os sentidos nos quatro painéis de The Four Times a Day: Morning, Noon, Evening, Night. Já em The Leaning Tree Trunk a simplicidade extrema carrega a mais intensa magia visual (e na mesma sala ainda tínhamos Courbet, Delacroix, Ingres).
Adiante, uma dúzia de Monet, alguns belos Manet e Cézanne, Renoir e seu Os Guarda-Chuvas, Degas e a atordoante expressividade vermelho e laranja de La Coiffure.
Mas parece que nada nunca te prepara o suficiente para um Van Gogh ao vivo. No Campo de Trigo Com Ciprestes, todas as formas são curvas no estabelecimento das linhas horizontais e verticais. E as linhas comandam o quadro com a precisão da matemática, mas com a liberdade e a poesia que só a arte possui (e é capaz de transmitir).
4.5.09
Londres - dia 3
Um café da manhã americano à moda inglesa (com bacons que parecem presunto).
A impressionante Tate Modern pela manhã, museu que abriga arte do século XX em diante. Galerias organizadas em “temas” de convergência tornam tudo mais palatável e forçam associações ricas e surpreendentes.
A primeira delas, Material Gestures, recepciona o visitante com um quadro de Francis Bacon que encara (e é refletido por) uma escultura de Anish Kapoor. Adiante, a sala "Claude Monet e o Expressionismo Abstrato" coloca uma das imensas telas da última fase do mestre francês diante de um hipnótico quadro de Jackson Pollock – que, aliás, nas plaquinhas explicativas recebe uma rápida análise de um físico comparando suas formas a fractais, na medida em que ambos são estruturas em que as partes reproduzem as formas do todo.
Nesta seção cabe até um cômodo somente de telas pintadas na presente década, mostrando a sobrevivência da pintura e sua reinvenção cooptando novos materiais e absorvendo outras formas de expressão figurativa.
Em Poetry and Dream, o Surrealismo bombardeia o visitante com todas as suas variações, em paredes desnorteantemente repletas de obras. O mais destacável, aqui, fica por conta de uma sala que contrapõe as representações de figuras humanas de Picasso e Francis Bacon.
Se Energy and Process concentra-se na arte que é tudo menos pintura, States of Flux possui a sala mais fascinante de todo o museu. Convivem em um pequeno espaço trabalhos de Matisse, Leger, Cézanne e três telas inebriantes de Bonnar, desde há muito tempo talvez meu pintor preferido. A Tijela de Leite, A Janela e Nu No Banho prendem o olho e o espírito, convidam a um mergulho em suas perspectivas, explodem em cores inacreditáveis.
Saindo da Tate, trem até um bairro mais afastado do centro para um almoço especial reunindo os amigos da irmã, que incluía encontro com uma colega de escola (minha) com quem não conversava adequadamente há mais de 10 anos.
Feriado em Londres, almoço longo, terminado já na hora de pegar o ônibus até o Victoria Theatre, que exibe Billy Elliot – o Musical.
Eu não veria Billy Elliot não fosse a insistência entusiasmada de Fabiana. Cheguei mesmo a maldizer a possibilidade de fazê-lo a alguns amigos, antes de vir. Pois é sem vergonha que confesso ter engolido cada sílaba de meu desprezo apressado.
Billy Elliot é um desbunde e justifica sua existência no palco de forma muito mais pertinente e impactante do que o fazia no cinema. O que na tela era sentimentalismo fácil e pouco atraente, ao vivo torna-se uma manipulação eficiente e empolgante de emoções básicas, aquelas que nos levam a sair de casa e ir ao teatro em primeiro lugar. A produção é aquele feito técnico de costume em grandes produções como essa e a música de Elton John, com letras de Lee Hall é antes funcional do que excepcional.
Mas os números musicais coreografados ficam no balanço perfeito entre a empolgação irresistível, a pieguice emocionante e os momentos de mágica cênica.
Mas é necessário dizer que Srta. Wilkinson, a professora de balé, convencendo Billy a dançar (enquanto os grevistas confrontam a polícia), a avó de Billy contando a ele como era a vida com o avô, Billy e seu amigo Michael permitindo-se ser autênticos em roupas femininas e protagonizando um delicioso momento de sapateado, Billy e a professora lendo a carta da falecida mãe do garoto, Billy expressando sua mais sincera e profunda ira contra a repressão familiar através de uma sufocante dança que inicia-se solo e desdobra-se em confrontos metafóricos com um batalhão de choque, Billy criança literalmente alçando vôo em companhia de Billy adulto, num palco onírico tomado pelo balé clássico, Billy explicando (com musica e dança, é claro) para o júri de seu teste o que o ballet significa para ele, enfim, nenhum dos muitos ótimos momentos que fazem a peça valer a pena seriam o que são não fosse a embasbacante preparação e talento do elenco, em especial o infantil.
Um entre quatro garotos que se revezam no papel título, Brad Wilson tem as capacidades e o carisma de um profissional. Pense no mais assolador desempenho infantil que você já viu no cinema (Anna Paquin em O Piano? Jamie Bell, como o próprio Billy Elliot?). Agora imagine que Wilson, do alto de seus 12 anos, o realiza no palco, por três consecutivas horas, sem cortes. Canta, dança magnificamente e interpreta. Põe a platéia no bolso de uma forma que soa exagerada na mesma medida em que soa desconcertante.
Como o amigo do protagonista, George Maycock, acredite se quiser, é um comediante que domina o tempo, a auto-ironia e a cena. Igualmente leva o público na mão (e em suas tiradas impagáveis). E ele tem 11 anos (!).
No mais, é destaque a Sra. Wilkinson de Kate Graham, à frente de um elenco inteiro sem falhas.
Billy Elliot – o Musical, a primeira peça vista em Londres, é, em suma, um grande acerto. Sair sapateando pelo metrô e ter vontade de revê-la no dia de amanhã são medidas claras (e quase físicas) de suas qualidades.
É o que os ingleses chamariam de “riveting!” – e eles realmente chamam.
A impressionante Tate Modern pela manhã, museu que abriga arte do século XX em diante. Galerias organizadas em “temas” de convergência tornam tudo mais palatável e forçam associações ricas e surpreendentes.
A primeira delas, Material Gestures, recepciona o visitante com um quadro de Francis Bacon que encara (e é refletido por) uma escultura de Anish Kapoor. Adiante, a sala "Claude Monet e o Expressionismo Abstrato" coloca uma das imensas telas da última fase do mestre francês diante de um hipnótico quadro de Jackson Pollock – que, aliás, nas plaquinhas explicativas recebe uma rápida análise de um físico comparando suas formas a fractais, na medida em que ambos são estruturas em que as partes reproduzem as formas do todo.
Nesta seção cabe até um cômodo somente de telas pintadas na presente década, mostrando a sobrevivência da pintura e sua reinvenção cooptando novos materiais e absorvendo outras formas de expressão figurativa.
Em Poetry and Dream, o Surrealismo bombardeia o visitante com todas as suas variações, em paredes desnorteantemente repletas de obras. O mais destacável, aqui, fica por conta de uma sala que contrapõe as representações de figuras humanas de Picasso e Francis Bacon.
Se Energy and Process concentra-se na arte que é tudo menos pintura, States of Flux possui a sala mais fascinante de todo o museu. Convivem em um pequeno espaço trabalhos de Matisse, Leger, Cézanne e três telas inebriantes de Bonnar, desde há muito tempo talvez meu pintor preferido. A Tijela de Leite, A Janela e Nu No Banho prendem o olho e o espírito, convidam a um mergulho em suas perspectivas, explodem em cores inacreditáveis.
Saindo da Tate, trem até um bairro mais afastado do centro para um almoço especial reunindo os amigos da irmã, que incluía encontro com uma colega de escola (minha) com quem não conversava adequadamente há mais de 10 anos.
Feriado em Londres, almoço longo, terminado já na hora de pegar o ônibus até o Victoria Theatre, que exibe Billy Elliot – o Musical.
Eu não veria Billy Elliot não fosse a insistência entusiasmada de Fabiana. Cheguei mesmo a maldizer a possibilidade de fazê-lo a alguns amigos, antes de vir. Pois é sem vergonha que confesso ter engolido cada sílaba de meu desprezo apressado.
Billy Elliot é um desbunde e justifica sua existência no palco de forma muito mais pertinente e impactante do que o fazia no cinema. O que na tela era sentimentalismo fácil e pouco atraente, ao vivo torna-se uma manipulação eficiente e empolgante de emoções básicas, aquelas que nos levam a sair de casa e ir ao teatro em primeiro lugar. A produção é aquele feito técnico de costume em grandes produções como essa e a música de Elton John, com letras de Lee Hall é antes funcional do que excepcional.
Mas os números musicais coreografados ficam no balanço perfeito entre a empolgação irresistível, a pieguice emocionante e os momentos de mágica cênica.
Mas é necessário dizer que Srta. Wilkinson, a professora de balé, convencendo Billy a dançar (enquanto os grevistas confrontam a polícia), a avó de Billy contando a ele como era a vida com o avô, Billy e seu amigo Michael permitindo-se ser autênticos em roupas femininas e protagonizando um delicioso momento de sapateado, Billy e a professora lendo a carta da falecida mãe do garoto, Billy expressando sua mais sincera e profunda ira contra a repressão familiar através de uma sufocante dança que inicia-se solo e desdobra-se em confrontos metafóricos com um batalhão de choque, Billy criança literalmente alçando vôo em companhia de Billy adulto, num palco onírico tomado pelo balé clássico, Billy explicando (com musica e dança, é claro) para o júri de seu teste o que o ballet significa para ele, enfim, nenhum dos muitos ótimos momentos que fazem a peça valer a pena seriam o que são não fosse a embasbacante preparação e talento do elenco, em especial o infantil.
Um entre quatro garotos que se revezam no papel título, Brad Wilson tem as capacidades e o carisma de um profissional. Pense no mais assolador desempenho infantil que você já viu no cinema (Anna Paquin em O Piano? Jamie Bell, como o próprio Billy Elliot?). Agora imagine que Wilson, do alto de seus 12 anos, o realiza no palco, por três consecutivas horas, sem cortes. Canta, dança magnificamente e interpreta. Põe a platéia no bolso de uma forma que soa exagerada na mesma medida em que soa desconcertante.
Como o amigo do protagonista, George Maycock, acredite se quiser, é um comediante que domina o tempo, a auto-ironia e a cena. Igualmente leva o público na mão (e em suas tiradas impagáveis). E ele tem 11 anos (!).
No mais, é destaque a Sra. Wilkinson de Kate Graham, à frente de um elenco inteiro sem falhas.
Billy Elliot – o Musical, a primeira peça vista em Londres, é, em suma, um grande acerto. Sair sapateando pelo metrô e ter vontade de revê-la no dia de amanhã são medidas claras (e quase físicas) de suas qualidades.
É o que os ingleses chamariam de “riveting!” – e eles realmente chamam.
Londres - dia 2
Pegar o ônibus, encontrar Fabiana e Flávia, pegar outro ônibus e descer em frente ao Big Ben e ao Parlamento. Tirar aquelas fotos de praxe. Não poder entrar na Abadia de Westminster, porque domingo ela não abre.
Dar de cara com um evento de cultura indiana armado em Trafalgar Square e partir para resolver a agenda teatral (Ricardo e Thereza, acompanhem).
segunda (dia 4) – Billy Elliot (musical)
terça (dia 5) – Lohrengrin (ópera)
quarta (dia 6) – Spring Awakening (musical), na matinê – a confirmar
Madame de Sade (drama), à noite
quinta (dia 7) – Esperando Godot (drama)
sexta (dia 8) – Romeu e Julieta (drama), na matinê, no Globe (!!!)
Beirut (show) – sujeito à disponibilidade de ingresso
sábado (dia 9) – A Little Night Music (musical), na matinê – a confirmar
ufa! (e antes que alguém diga “você não acha que está exagerando?”, eu respondo que cada um aproveita uma cidade de acordo com os contornos de sua própria personalidade. é ou não é?)
(e isso porque há tantas outras coisas em cartaz que estão sendo preteridas...)
ver Leicester Square de novo, agora de dia. e pegar o metrô em Piccadilly, até a Liverpool Station, para chegar ao Old Spitafields Market, agradável conglomerado de lojas e mercado de rua. mas, antes, seguir nossa guia Fabiana para almoço na rede de comida asiática Ping Pong.
e, por deus, no restaurante, quem é a pessoa que nos recebe com um “good afternoon" para nos perguntar quantas pessoas somos??? a Paulinha! (ok, vale a explicação: Paulinha é uma velha amiga. eu nunca soube onde ela trabalhava e o encontro não foi combinado de nenhuma forma. ou seja, é o Cosmos operando sua milagrosa sincronicidade – daí o absoluto espanto.)
um farto e saboroso almoço. depois longo passeio pelo Spitafields, que nos leva até a Brick Lane e seus transeuntes “moderninhos, esse povo assim meio esquisito, tipo vocês”, diria minha irmã a mim e à Flávia.
eu e Flávia então nos separamos e voltamos andando, passando pela St Paul’s Cathedral, suntuosa mas não mais impressionante do que tantas outras catedrais européias.
metrô até a margem do Hyde Park, para um encontro na casa de dois amigos (de minha mãe). lugar bonito, companhia boa, histórias ótimas, noite agradável. dali para um restaurante, de lá para um minitour noturno pela cidade (de novo como passageiro no esquisito lado esquerdo do carro) até o hotel.
checar os emails antes de dormir e descobrir uma excelente crítica de Bia Abramo, publicada na Folha de S.P. de hoje, sobre Tudo O Que É Sólido Pode Derreter.
pronto, está tudo certo pra terminar o dia.
Dar de cara com um evento de cultura indiana armado em Trafalgar Square e partir para resolver a agenda teatral (Ricardo e Thereza, acompanhem).
segunda (dia 4) – Billy Elliot (musical)
terça (dia 5) – Lohrengrin (ópera)
quarta (dia 6) – Spring Awakening (musical), na matinê – a confirmar
Madame de Sade (drama), à noite
quinta (dia 7) – Esperando Godot (drama)
sexta (dia 8) – Romeu e Julieta (drama), na matinê, no Globe (!!!)
Beirut (show) – sujeito à disponibilidade de ingresso
sábado (dia 9) – A Little Night Music (musical), na matinê – a confirmar
ufa! (e antes que alguém diga “você não acha que está exagerando?”, eu respondo que cada um aproveita uma cidade de acordo com os contornos de sua própria personalidade. é ou não é?)
(e isso porque há tantas outras coisas em cartaz que estão sendo preteridas...)
ver Leicester Square de novo, agora de dia. e pegar o metrô em Piccadilly, até a Liverpool Station, para chegar ao Old Spitafields Market, agradável conglomerado de lojas e mercado de rua. mas, antes, seguir nossa guia Fabiana para almoço na rede de comida asiática Ping Pong.
e, por deus, no restaurante, quem é a pessoa que nos recebe com um “good afternoon" para nos perguntar quantas pessoas somos??? a Paulinha! (ok, vale a explicação: Paulinha é uma velha amiga. eu nunca soube onde ela trabalhava e o encontro não foi combinado de nenhuma forma. ou seja, é o Cosmos operando sua milagrosa sincronicidade – daí o absoluto espanto.)
um farto e saboroso almoço. depois longo passeio pelo Spitafields, que nos leva até a Brick Lane e seus transeuntes “moderninhos, esse povo assim meio esquisito, tipo vocês”, diria minha irmã a mim e à Flávia.
eu e Flávia então nos separamos e voltamos andando, passando pela St Paul’s Cathedral, suntuosa mas não mais impressionante do que tantas outras catedrais européias.
metrô até a margem do Hyde Park, para um encontro na casa de dois amigos (de minha mãe). lugar bonito, companhia boa, histórias ótimas, noite agradável. dali para um restaurante, de lá para um minitour noturno pela cidade (de novo como passageiro no esquisito lado esquerdo do carro) até o hotel.
checar os emails antes de dormir e descobrir uma excelente crítica de Bia Abramo, publicada na Folha de S.P. de hoje, sobre Tudo O Que É Sólido Pode Derreter.
pronto, está tudo certo pra terminar o dia.
Londres - dia 1
Pousar em Londres sem medo da gripe suína e esperando Fabiana - agora uma mulher londrina, prática e desembaraçada – vir buscar-nos. O carro por ela agendado chega e, passageiro do banco da frente, eu imediatamente faço menção de entrar no lugar do motorista – tão elementar quanto clichê não absorver de imediato que na Inglaterra, é claro, os lados são invertidos (e andar de “carona” ao lado esquerdo é, num primeiro momento, uma sensação bastante estranha).
Aproximar-se de Londres é ver dezenas de conjuntos residenciais com características arquitetônicas que só podiam mesmo situá-los aqui. E onde é possível enxergar um daqueles filmes de Mike Leigh, como “Segredos e Mentiras”, acontecendo ali na porta vizinha.
Tentar acomodar a vida temporária de três pessoas em um quarto de hotel não muito grande, pegar um daqueles famosos táxis pretos londrinos (“fale com o motorista sobre o seu destino antes de abrir a porta”, ensina Fabiana) e conhecer o apartamento dela carinhosamente apelidado (por seus moradores) de “Cingapura”.
Minha irmã compra bananas (e deixa bilhete para que nenhum dos outros 3 garotos que moram com ela as comam), lava a roupa na cozinha, toma banho em um chuveiro de onde não sai muita água, habita um quarto confortável e come sem problemas o macarrão requentado que seus colegas deixaram na panela.
Reencontrar Flávia, mais de 3 meses depois – e agora com o cabelo desbotado, mais Clementine do que nunca.
Comprar a revista Time Out, o mais rápido possível, porque essa agenda de teatro precisa ser decidida.
Comprar o bilhete de transporte público que vale pela semana toda. O metrô de Londres, aliás, numa primeira impressão, parece apenas correto. Os trens tem suas laterais baixas, assim como dizem que os novos trens paulistanos também tem. Mas os ônibus, ah, os ônibus... Todos os ônibus de todas as cidades do mundo queriam ser como os ônibus de Londres!
(and if a double decker bus/ crashes into us/ to die by your side/ is such a heavenly way to die)
Encontrar um bom câmbio e trocar dinheiro.
Jantar um jantar que ainda era almoço, porque o fuso horário nos acrescentou quatro horas.
Depois, andar meio a esmo e acabar em Piccadilly Circus, ruas talvez mais cheias do que o normal, porque sábado à noite de um feriado (na segunda) prolongado. Passar por Leicester Square (alo, alo, Ricardo!), entrar em um pub, tomar uma cerveja ruim, e conviver com um grupo irritante de mulheres.
Sentir muito sono, pegar dois dos ônibus 24 horas da cidade e voltar para o hotel.
Aproximar-se de Londres é ver dezenas de conjuntos residenciais com características arquitetônicas que só podiam mesmo situá-los aqui. E onde é possível enxergar um daqueles filmes de Mike Leigh, como “Segredos e Mentiras”, acontecendo ali na porta vizinha.
Tentar acomodar a vida temporária de três pessoas em um quarto de hotel não muito grande, pegar um daqueles famosos táxis pretos londrinos (“fale com o motorista sobre o seu destino antes de abrir a porta”, ensina Fabiana) e conhecer o apartamento dela carinhosamente apelidado (por seus moradores) de “Cingapura”.
Minha irmã compra bananas (e deixa bilhete para que nenhum dos outros 3 garotos que moram com ela as comam), lava a roupa na cozinha, toma banho em um chuveiro de onde não sai muita água, habita um quarto confortável e come sem problemas o macarrão requentado que seus colegas deixaram na panela.
Reencontrar Flávia, mais de 3 meses depois – e agora com o cabelo desbotado, mais Clementine do que nunca.
Comprar a revista Time Out, o mais rápido possível, porque essa agenda de teatro precisa ser decidida.
Comprar o bilhete de transporte público que vale pela semana toda. O metrô de Londres, aliás, numa primeira impressão, parece apenas correto. Os trens tem suas laterais baixas, assim como dizem que os novos trens paulistanos também tem. Mas os ônibus, ah, os ônibus... Todos os ônibus de todas as cidades do mundo queriam ser como os ônibus de Londres!
(and if a double decker bus/ crashes into us/ to die by your side/ is such a heavenly way to die)
Encontrar um bom câmbio e trocar dinheiro.
Jantar um jantar que ainda era almoço, porque o fuso horário nos acrescentou quatro horas.
Depois, andar meio a esmo e acabar em Piccadilly Circus, ruas talvez mais cheias do que o normal, porque sábado à noite de um feriado (na segunda) prolongado. Passar por Leicester Square (alo, alo, Ricardo!), entrar em um pub, tomar uma cerveja ruim, e conviver com um grupo irritante de mulheres.
Sentir muito sono, pegar dois dos ônibus 24 horas da cidade e voltar para o hotel.
ZD e John escreveram
e em breve você vai ouvir:
queria descobrir
em 24 horas
tudo o que você adora
tudo o que te faz sorrir
e num fim de semana
tudo o que você mais ama
e no prazo de um mês
tudo o que você já fez
é tanta coisa que eu não sei
não sei se eu saberia
chegar até o final do dia sem você
e até saber de cor
no fim desse semestre
o que mais te apetece
o que te cai melhor
enfim eu saberia
trezentas e sessenta e cinco
noites bastariam
pra me expilicar porquê
por que isso foi acontecer
não sei se eu saberia
chegar até o final do dia sem você
por que em tão pouco tempo
faz tanto tempo que eu te queria
queria descobrir
em 24 horas
tudo o que você adora
tudo o que te faz sorrir
e num fim de semana
tudo o que você mais ama
e no prazo de um mês
tudo o que você já fez
é tanta coisa que eu não sei
não sei se eu saberia
chegar até o final do dia sem você
e até saber de cor
no fim desse semestre
o que mais te apetece
o que te cai melhor
enfim eu saberia
trezentas e sessenta e cinco
noites bastariam
pra me expilicar porquê
por que isso foi acontecer
não sei se eu saberia
chegar até o final do dia sem você
por que em tão pouco tempo
faz tanto tempo que eu te queria
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