27/10/2009
Independência, de Raya Martin (FILIPINAS, FRANÇA, ALEMANHA HOLANDA)
* *
Aclamado por aí como 'obra-prima' e como 'cinema de invenção', esgota-se em sua proposta de recriação (muito, muito antes de 'invenção') estética e numa tentativa de dimensão histórica e/ou fabular que, sinceramente, não se constitui. Em outras palavras, chato.
Trilogia II: A Poeira do Tempo, de Theo Angelopoulos (GRÉCIA, ITÁLIA, ALEMANHA, FRANÇA, RÚSSIA)
* * * *
Muito bem difiniu Luiz Zanin, n' O Estado de SP: ... o diretor trabalha com o tempo (e também com o espaço) da memória. Sem ser proustiano, sabe que se move na região dos fragmentos. Lembranças não são coisas, nem são fatos. São a maneira como pessoas e povos reelaboraram aquilo que ficou para trás. Voltar-se para elas significa trabalhar com restos, progredindo à maneira dos arqueólogos, tentando imaginar como seria o todo a partir dos fragmentos que sobreviveram à ação do tempo, dos terremotos, incêndios e saques. Por isso mesmo o seu cinema se move em planos sequências que se aproximam de forma lenta dos seus "objetos", muitas vezes sem mostrá-los por completo. Porque há opacidade na história das gentes e dos povos. Por isso também é um cinema da névoa, porque enxergamos pouco e muitas vezes alcançamos o máximo de lucidez quando perdidos em meio à neblina. É um cinema lindo, intenso, por vezes angustiante e enigmático. Atravessamos esses filmes como quem atravessa um sonho.
Com considerável permanência na memória nesses dias seguintes e um suave sentido que flui pela apreensão emotiva e estética, Poeira do Tempo é um grande filme (apresentado pelo diretor presente na sala, o que torna o momento ainda mais especial).
Eu Matei Minha Mãe, de Xavier Dolan (CANADÁ)
* * *
Existem de imediato as questões que cercam o filme: Dolan escreveu-o com 17 anos, dirigiu-o com 19, atua também como protagonista, narra uma história autobiográfica etc etc. Mas fugindo da relativização perigosa que as circunstâncias de fato impressionantes impõe ("oh, ele é um pequeno jovem gênio que já fez um filme de sucesso") a verdade é que o filme existe. E pára de pé. Espécime típico de sua época (e da geração de seu diretor), trabalha colagens e diferentes esquemas narrativos para impor-se. Encontra aí alguma irregularidade, inevitavelmente, mas os personagens são construídos com sinceridade, vigor emocinal e bastante verossimilhança. Se um olhar analítico (e desnecessário) deixa ver que naturalmente não se trata de um filme excelente, o olhar de espectador entregue jamais deixa de envolver-se com ele. Dolan conseguiu uma pequena proeza ao injetar ar novo em assunto antigo sem ambicionar grandes inovações de linguagem. Seu drama é verdadeiro e comunica-se - aí já está bem mais do que nada.
27.10.09
Mostra - dia 4: (des)caminhos suecos e ações dramáticas não convencionais
(26/10/2009)
Esburacando, de Henrik Hellstrom (SUÉCIA)
* *
Numa Suécia suburbana, em um condomínio residencial cercado por paisagens naturais, um garoto pré-adolescente observa e narra a vida de seus vizinhos. A colocação da natureza como um ideal (e até uma entidade) maior e a possível força redentora que ela exerce sobre os seres humanos raspa, por exemplo, nos filmes de Terrence Malick. Pouca coisa acontece episodicamente, com desenvolvimentos de trama muito discretos e sutis (ou vazios?). Personagens pouco felizes desdobram vidas que vão se mostrando pouco equilibradas, com muitas sequências digressivas de imagens embaladas por uma música quase sacra, retratando a tal comunhão homem/ Terra. Ironicamente, vem à cabeça, com força, o filme Falkenberg Farewell, de Jesper Ganslandt, diretor de O Primata, a ser visto em seguida. Mas se aquele era um filme belo em sua observação contemplativa, logrando uma aproximação real ao espírito dos personagens, esse aqui esboça a sensação de belezas e sutilezas, mas não tardamos a lembrar que é somente um tanto aborrecido. Mas sueco.
Uma Solução Racional, de Jörgen Bergmark (SUÉCIA, FINLÂNDIA, ALEMANHA, ITÁLIA)
Quem viu, até gostou. Eu dormi (e isso não diz nada sobre o filme em si).
O Primata, de Jesper Ganslandt (SUÉCIA)
* * * *
Com uma proposição dramática senão inédita ao menos rara, Jesper Ganslandt faz um filme pungente, tenso, poderoso. Essa Suécia é urbana e a pergunta é: o que acontece na vida de um suposto assassino nas horas que imediatamente se seguem ao crime? Com uma encenação precisa de pequenos acontecimentos envoltos na grande sombra da tragédia, o filme desenvolve gradualmente uma inacreditável força e faz um estudo angustiante de uma mente criminosa a partir do muito pequeno. Esqueça a espetacularização de um Hannibal Lecter, por exemplo. Não há qualquer glamour ou estetização ou discursos morais que saiam da boca dos pesonagens. Não há nem poeira de maniqueísmo - e isso é mais desnorteante do que possa parecer, colocando o espectador em uma posição legitimamente ambígua. Não há uma organização narrativa em busca de respostas, há, sim, uma câmera literalmente perseguidora colhendo restos e agigantando, através de circunstâncias expostas de forma muito acurada, plenamente cinematográficas, os atos que poderiam ser os mais banais - e, daí, dezenas de significados, perguntas e respostas embaralham-se e estimulam. Um grande ator carrega essa jornada e faz do filme a primeira jóia escondida dessa Mostra e de Jesper Ganslandt um diretor a definitivamente se prestar atenção.
Katalin Varga, de Peter Strickland (HUNGRIA, ROMÊNIA)
* * *
Infelizmente, Katalin Varga sofreu as dores do contexto em que foi assistido. Ainda sob o impacto de O Primata, foi necessária, devido ao horário, uma corrida rua Augusta acima que exauriu a mim e a meus acompanhantes. Sem fôlego físico (e ainda com sono), o filme presente trancorria enquanto as cenas e implicações do anterior ecoavam na cabeça. Não obstante, a maneira como, aqui, a trama de vingança é proposta e as relações nuançadas, nada óbvias e estranhamente críveis que algoz e vítima (bem como aqueles à sua volta) estabelecem me parecem o cerne recompensador de mais uma estrutura dramática que foge às convenções. A se reter, também, algumas belas cenas.
Esburacando, de Henrik Hellstrom (SUÉCIA)
* *
Numa Suécia suburbana, em um condomínio residencial cercado por paisagens naturais, um garoto pré-adolescente observa e narra a vida de seus vizinhos. A colocação da natureza como um ideal (e até uma entidade) maior e a possível força redentora que ela exerce sobre os seres humanos raspa, por exemplo, nos filmes de Terrence Malick. Pouca coisa acontece episodicamente, com desenvolvimentos de trama muito discretos e sutis (ou vazios?). Personagens pouco felizes desdobram vidas que vão se mostrando pouco equilibradas, com muitas sequências digressivas de imagens embaladas por uma música quase sacra, retratando a tal comunhão homem/ Terra. Ironicamente, vem à cabeça, com força, o filme Falkenberg Farewell, de Jesper Ganslandt, diretor de O Primata, a ser visto em seguida. Mas se aquele era um filme belo em sua observação contemplativa, logrando uma aproximação real ao espírito dos personagens, esse aqui esboça a sensação de belezas e sutilezas, mas não tardamos a lembrar que é somente um tanto aborrecido. Mas sueco.
Uma Solução Racional, de Jörgen Bergmark (SUÉCIA, FINLÂNDIA, ALEMANHA, ITÁLIA)
Quem viu, até gostou. Eu dormi (e isso não diz nada sobre o filme em si).
O Primata, de Jesper Ganslandt (SUÉCIA)
* * * *
Com uma proposição dramática senão inédita ao menos rara, Jesper Ganslandt faz um filme pungente, tenso, poderoso. Essa Suécia é urbana e a pergunta é: o que acontece na vida de um suposto assassino nas horas que imediatamente se seguem ao crime? Com uma encenação precisa de pequenos acontecimentos envoltos na grande sombra da tragédia, o filme desenvolve gradualmente uma inacreditável força e faz um estudo angustiante de uma mente criminosa a partir do muito pequeno. Esqueça a espetacularização de um Hannibal Lecter, por exemplo. Não há qualquer glamour ou estetização ou discursos morais que saiam da boca dos pesonagens. Não há nem poeira de maniqueísmo - e isso é mais desnorteante do que possa parecer, colocando o espectador em uma posição legitimamente ambígua. Não há uma organização narrativa em busca de respostas, há, sim, uma câmera literalmente perseguidora colhendo restos e agigantando, através de circunstâncias expostas de forma muito acurada, plenamente cinematográficas, os atos que poderiam ser os mais banais - e, daí, dezenas de significados, perguntas e respostas embaralham-se e estimulam. Um grande ator carrega essa jornada e faz do filme a primeira jóia escondida dessa Mostra e de Jesper Ganslandt um diretor a definitivamente se prestar atenção.
Katalin Varga, de Peter Strickland (HUNGRIA, ROMÊNIA)
* * *
Infelizmente, Katalin Varga sofreu as dores do contexto em que foi assistido. Ainda sob o impacto de O Primata, foi necessária, devido ao horário, uma corrida rua Augusta acima que exauriu a mim e a meus acompanhantes. Sem fôlego físico (e ainda com sono), o filme presente trancorria enquanto as cenas e implicações do anterior ecoavam na cabeça. Não obstante, a maneira como, aqui, a trama de vingança é proposta e as relações nuançadas, nada óbvias e estranhamente críveis que algoz e vítima (bem como aqueles à sua volta) estabelecem me parecem o cerne recompensador de mais uma estrutura dramática que foge às convenções. A se reter, também, algumas belas cenas.
Marcadores:
cinema,
diários da Mostra
26.10.09
Mostra - (parênteses)
só para constar aos amigos que cobram, a programação completa consolidada (e sempre provisória...):
26/10/2009 - Segunda
UNIBANCO ARTEPLEX 1
Sessão 334 - 17:10
UMA SOLUÇÃO RACIONAL (DET ENDA RATIONELLA), de Jörgen Bergmark
(104'). SUÉCIA, FINLÂNDIA, ALEMANHA, ITÁLIA. Falado em sueco. Legendas
em inglês. Legendas eletrônicas em português. Indicado para: 14 ANOS.
CINESESC
Sessão 392 - 21:05
O PRIMATA (APAN), de Jesper Ganslandt (81'). SUÉCIA. Falado em sueco. Legendas
em inglês. Legendas eletrônicas em português. Indicado para: 14 ANOS. Haverá debate
após a sessão.
CINE BOMBRIL 2
Sessão 377 - 22:30
KATALIN VARGA (KATALIN VARGA), de Peter Strickland (90'). HUNGRIA,
ROMÊNIA. Falado em romeno, húngaro. Legendas eletrônicas em português. Indicado
para: 18 ANOS.
27/10/2009 - Terça
UNIBANCO ARTEPLEX 1
Sessão 426 - 17:40
INDEPENDÊNCIA (INDEPENDENCIA), de Raya Martin (77'). FILIPINAS,
FRANÇA, ALEMANHA, HOLANDA. Falado em tagalo. Legendas em inglês.
Legendas eletrônicas em português. Indicado para: LIVRE.
CINE BOMBRIL 1
Sessão 457 - 19:30
TRILOGIA II: A POEIRA DO TEMPO (I SKONI TOU HRONOU), de Theo
Angelopoulos (125'). GRÉCIA, ITÁLIA, ALEMANHA, FRANÇA, RÚSSIA. Falado
em inglês, russo, alemão, grego. Legendas em inglês. Legendas eletrônicas em
português. Indicado para: 14 ANOS. Haverá debate após a sessão.
UNIBANCO ARTEPLEX 3
Sessão 439 - 22:10
EU MATEI MINHA MÃE (J ́AI TUÉ MA MÈRE), de Xavier Dolan (100'). CANADÁ.
Falado em francês. Legendas em inglês. Legendas eletrônicas em português. Indicado
para: 18 ANOS.
28/10/2009 - Quarta
RESERVA CULTURAL 1
Sessão 573 - 13:40
PATRIK, IDADE 1,5 (PATRIK 1,5), de Ella Lemhagen (100'). SUÉCIA. Falado em
sueco. Legendas em inglês. Legendas eletrônicas em português. Indicado para: 10
ANOS.
UNIBANCO ARTEPLEX 1
Sessão 525 - 17:40
SINGULARIDADES DE UMA RAPARIGA LOURA (SINGULARIDADES DE UMA
RAPARIGA LOURA), de Manoel de Oliveira (63'). PORTUGAL, FRANÇA,
ESPANHA. Falado em português. Legendas em inglês. Legendas eletrônicas em
português. Indicado para: 14 ANOS.
UNIBANCO ARTEPLEX 3
Sessão 538 - 22:20
FAÇA-ME FELIZ (FAIS-MOI PLAISIR!), de Emmanuel Mouret (92'). FRANÇA.
Falado em francês. Legendas em português. Indicado para: 16 ANOS.
29/10/2009 - Quinta
UNIBANCO ARTEPLEX 1
Sessão 628 - 13:50
AMANHÃ AO AMANHECER (DEMAIN, DÈS L ́AUBE), de Denis Dercourt (100').
FRANÇA. Falado em francês. Legendas em inglês. Legendas eletrônicas em português.
Indicado para: 14 ANOS.
CINE BOMBRIL 1
Sessão 668 - 16:10
A PEQUENINA (LA PIVELLINA), de Rainer Frimmel, Tizza Covi (100'). ÁUSTRIA,
ITÁLIA. Falado em italiano. Legendas em inglês. Legendas eletrônicas em português.
Indicado para: 14 ANOS.
CINESESC
Sessão 692 - 22:30
MORRER COMO UM HOMEM (MORRER COMO UM HOMEM), de João Pedro
Rodrigues (133'). PORTUGAL, FRANÇA. Falado em português. Legendas em inglês.
Legendas eletrônicas em português. Indicado para: 16 ANOS.
30/10/2009 - Sexta
UNIBANCO ARTEPLEX 3
Sessão 747 - 13:00
ESTRELANDO MAJA (PRINSESSA), de Teresa Fabik (94'). SUÉCIA, IRLANDA.
Falado em sueco. Legendas em inglês. Legendas eletrônicas em português. Indicado
para: LIVRE.
UNIBANCO ARTEPLEX 1
Sessão 737 - 16:10
VENCER (VINCERE), de Marco Bellocchio (128'). ITÁLIA. Falado em italiano.
Legendas eletrônicas em português. Indicado para: 14 ANOS.
CINE BOMBRIL 1
Sessão 782 - 21:20
CARMEL (CARMEL), de Amos Gitai (93'). ISRAEL, FRANÇA, ITÁLIA. Falado em
hebraico, francês, árabe. Legendas em inglês. Legendas eletrônicas em português.
Indicado para: 14 ANOS. Haverá debate após a sessão.
Sessão 783 - 23:30
O DIA DA TRANSA (HUMPDAY), de Lynn Shelton (93'). EUA. Falado em inglês.
Legendas eletrônicas em português. Indicado para: 18 ANOS.
31/10/2009 - Sábado
CINE BOMBRIL 1
Sessão 892 - 13:50
TRAGA-ME ALECRIM (GO GET SOME ROSEMARY), de Josh Safdie e Benny
Safdie (90'). EUA, FRANÇA. Falado em inglês. Legendas eletrônicas em português.
Indicado para: 14 ANOS.
CINESESC
Sessão 915 - 15:20
DENTE CANINO (KYNODONTAS), de Yorgos Lanthimos (96'). GRÉCIA. Falado
em grego. Legendas em inglês. Legendas eletrônicas em português.
CINE BOMBRIL 1
Sessão 894 - 17:40
PERSEGUIÇÃO (PERSECUTION), de Patrice Chéreau (100'). FRANÇA. Falado em
francês.
UNIBANCO ARTEPLEX 3
Sessão 863 - 20:40
A INVENÇÃO DA CARNE (LA INVENCION DE LA CARNE), de Santiago Loza
(80'). ARGENTINA. Falado em espanhol. Legendas em inglês. Legendas eletrônicas
em português. Indicado para: 18 ANOS. Haverá debate após a sessão.
01/11/2009 - Domingo
CINESESC
Sessão 1026 - 17:40
RICKY (RICKY), de François Ozon (90'). FRANÇA. Falado em francês. Legendas
eletrônicas em português. Indicado para: 10 ANOS.
UNIBANCO ARTEPLEX 1
Sessão 964 - 19:50
A FAMÍLIA WOLBERG (LA FAMILLE WOLBERG), de Axelle Ropert (80').
FRANÇA. Falado em francês. Legendas em inglês. Legendas eletrônicas em português.
Indicado para: 14 ANOS.
CINE BOMBRIL 2
Sessão 1011 - 21:50
A RELIGIOSA PORTUGUESA (A RELIGIOSA PORTUGUESA), de Eugène Green
(127'). PORTUGAL. Falado em português, francês. Legendas em inglês. Legendas
eletrônicas em português. Indicado para: 12 ANOS.
02/11/2009 - Segunda
UNIBANCO ARTEPLEX 1
Sessão 1070 - 16:00
CAMAS DESFEITAS (UNMADE BEDS), de Alexis dos Santos (94'). INGLATERRA.
Falado em inglês, francês, espanhol. Legendas em inglês. Legendas eletrônicas em
português. Indicado para: 12 ANOS.
RESERVA CULTURAL 1
Sessão 1125 - 20:10
MAKING PLANS FOR LENA (NON MA FILLE, TU N ́IRAS PAS DANSER), de
Christophe Honoré (105'). FRANÇA. Falado em francês. Legendas eletrônicas em
português. Indicado para: 12 ANOS.
03/11/2009 - Terça
MULTIPLEX MARABÁ 2
Sessão 1247 - 14:00
SEGUINDO EM FRENTE (ARUITEMO ARUITEMO), de Hirokazu Kore-Eda (114').
JAPÃO. Falado em japonês. Legendas eletrônicas em português. Indicado para: LIVRE.
UNIBANCO ARTEPLEX 2
Sessão 1164 - 17:00
AVIÕES DE PAPEL (PAPÍRREPÜLOK), de Simon Szabó (94'). HUNGRIA. Falado
em húngaro. Legendas em inglês. Legendas eletrônicas em português. Indicado para: 16
ANOS.
UNIBANCO ARTEPLEX 5
Sessão 1178 - 19:00
A OESTE DE PLUTÃO (A L ́OUEST DE PLUTON), de Henry Bernadet, Myriam
Verreault (95'). CANADÁ. Falado em francês. Legendas em inglês. Legendas
eletrônicas em português. Indicado para: 14 ANOS.
CINE BOMBRIL 1
Sessão 1194 - 22:10
LEBANON (LEBANON), de Samuel Maoz (92'). FRANÇA, ALEMANHA, ISRAEL,
LÍBANO. Falado em hebraico, árabe, inglês. Legendas em inglês. Legendas eletrônicas
em português. Indicado para: 16 ANOS.
04/11/2009 - Quarta
UNIBANCO ARTEPLEX 1
Sessão 1256 - 14:00
SAMSON & DELILAH (SAMSON & DELILAH), de Warwick Thornton (101').
AUSTRÁLIA. Falado em warlpiri, inglês. Legendas em inglês. Legendas eletrônicas
em português. Indicado para: 14 ANOS.
UNIBANCO ARTEPLEX 3
Sessão 1269 - 18:50
TODOS OS OUTROS (ALLE ANDEREN), de Maren Ade (119'). ALEMANHA.
Falado em alemão. Legendas em inglês. Legendas eletrônicas em português. Indicado
para: 14 ANOS.
UNIBANCO ARTEPLEX 2
Sessão 1265 - 22:20
IRENE (IRÈNE), de Alain Cavalier, Françoise Widhoff (85'). FRANÇA. Falado em
francês. Legendas eletrônicas em português. Indicado para: 14 ANOS.
05/11/2009 - Quinta
CINEMATECA - SALA BNDES
Sessão 1380 - 14:30
SHIRIN (SHIRIN), de Abbas Kiarostami (91'). IRÃ. Falado em farsi. Legendas em
inglês. Legendas eletrônicas em português. Indicado para: 16 ANOS.
ESPAÇO UNIBANCO POMPÉIA 10
Sessão 1433 - 18:10
FISH TANK (FISH TANK), de Andrea Arnold (124'). INGLATERRA. Falado em
inglês. Legendas eletrônicas em português. Indicado para: 14 ANOS.
ESPAÇO UNIBANÇO POMPÉIA 2
Sessão 1429 - 20:20
SEDUÇÃO (AN EDUCATION), de Lone Scherfig (100'). REINO UNIDO. Falado em
inglês. Legendas em português. Indicado para: 14 ANOS.
ESPAÇO UNIBANCO POMPÉIA 10
Sessão 1435 - 22:20
CÚMPLICES (COMPLICES), de Frederic Mermoud (93'). FRANÇA, SUÍÇA. Falado
em francês. Legendas em inglês. Legendas eletrônicas em português. Indicado para: 14
ANOS.
Marcadores:
cinema,
diários da Mostra
Mostra - dia 3: três filmes muito consistentes (entre eles uma obra prima) e um desastre
25/10/2009
Vício Frenético, de Werner Herzog (EUA)
* * *
Não conheço o filme de Abel Ferrara do qual esse supostamente seria uma refilmagem, mas o trabalho que Herzog faz aqui é sem dúvida pleno de viço. Apesar de se tratar de uma história através da qual é difícil sair impune à sensação de já tê-la visto várias vezes, não se nega a força com que é contada e transmitida - apesar de uma ou outra escolha do diretor não se concretizar claramente, a meus olhos. Minha birra eterna com Nicolas Cage não permite que eu o acompanhe (e o filme o acompanha 100% do tempo) sem a sensação da canastrice latente e a vontade de que qualquer outro ator realmente bom estivesse em seu lugar, mas ele não afunda o filme nem prejudica-o seriamente.
A Fita Branca, de Michael Haneke (ÁUSTRIA, ALEMANHA, FRANÇA, ITÁLIA)
* * * * *
Haneke vale cada milímetro daquela Palma de Ouro. Um denso, profundo, angustiante e hipnotizante estudo sobre forças do bem e do mal, castrações pessoais, religião como irrestrita propagadora de obscurantismos nojentos e dominação psicológica, família como um grupo de pessoas impondo superioridades deturpantes e até controle econômico, exploração e controle econômico puro e simples, vinganças e ressentimentos, as (muitas) coisas ruins da nossa cabeça. Uma encenação rigorosa em todos os aspectos (de onde, meu deus, saíram aquelas crianças??!!) que trabalha as forças ancestrais da dramaturgia como reflexo do mundo e dos seres, espelho da moral (em seu sentido mais amplo). O peso e gravidade das situações foge ao fatalismo simples na medida em que concentra seu foco na ação dramática (e elas, sim, explodem seus muitos sentidos) e evita, através de sua própria linguagem, um julgamento autoral exterior. Haneke pendura o público na trilha de um mistério e subverte suas expectativas demonstrando que a essência está no processo. Obra de um autor com abissal domínio, filme a se voltar algumas vezes, enfim.
Amreeka, de Cherien Dabis (EUA, CANADÁ, KUAIT)
* * *
Olhar expositivo sobre questões ditas contemporâneas, dentro de um contexto sócio-político recente. A opção pelo foco na família como motor da trama, girando em torno dos embates culturais, preconceitos e intolerâncias, percalços econômicos e pessoais de um mundo globalizado etc, raspa em dezenas de clichês e filma um roteiro escrito dentro do que se poderia entender como uma bem pautada cartilha. Mas existe a sinceridade, a generosidade e o calor que justificam o filme e o iluminam. Não é grande obra, está claro, mas é uma obra abarcadora. E que sabe encaminhar-se sem danos e com alguma sensibilidade.
(Do universo sombrio de A Fita Branca para cá - ainda que Amreeka não seja um filme sobre pessoas felizes, fique dito -, a sensação é de elevar-se do mais rigoroso inverno a um dia outonal de sol.)
Daniel e Ana, de Michel Franco (MÉXICO, ESPANHA)
[zero]
É curioso e absolutamente sintomático que o narrador de A Fita Branca comece o filme dizendo algo como "não sei se essa história que vou contar é verídica..." e que Daniel E Ana estampe sem medo uma cartela que diz que a história a ser narrada deu-se exatamente como será relatada a seguir, tendo somente os nomes dos personagens sido trocados. Expediente que resulta pior para o realizador, muito pior para nós, público - tente imaginar uma voz eletrônica que lesse sem nuances ou emoção um relato e pode-se calcular mais ou menos como se dá a organização narrativa desse filme. Parece haver uma opção radical pela "não autoralidade", como se os aspectos de linguagem (visual e dramatúrgica, principalmente) não devessem obstruir a suposta magnitude (e a possível dose de polêmica) dos acontecimentos verídicos por si. O resultado é um filme natimorto, onde nada possui qualquer existência cinematográfica, especialmente no que diz respeito ao drama, que não se impõe ou é transmitido com qualquer teor, sequer por um segundo. O cinema é o cinema, enfim, porque faz uso da dramaturgia e da linguagem. E se pode haver uma utilidade para essa chatice toda é a comprovação cabal da máxima que diz que as histórias não precisam ser reais, devem ser verdadeiras.
PS: Para completar o pacote, a projeção digital com que o filme foi apresentado era abaixo de qualquer parâmetro aceitável - podre, para dizer o mínimo. Parabéns à Rain pela sua existência, mais uma vez.
Vício Frenético, de Werner Herzog (EUA)
* * *
Não conheço o filme de Abel Ferrara do qual esse supostamente seria uma refilmagem, mas o trabalho que Herzog faz aqui é sem dúvida pleno de viço. Apesar de se tratar de uma história através da qual é difícil sair impune à sensação de já tê-la visto várias vezes, não se nega a força com que é contada e transmitida - apesar de uma ou outra escolha do diretor não se concretizar claramente, a meus olhos. Minha birra eterna com Nicolas Cage não permite que eu o acompanhe (e o filme o acompanha 100% do tempo) sem a sensação da canastrice latente e a vontade de que qualquer outro ator realmente bom estivesse em seu lugar, mas ele não afunda o filme nem prejudica-o seriamente.
A Fita Branca, de Michael Haneke (ÁUSTRIA, ALEMANHA, FRANÇA, ITÁLIA)
* * * * *
Haneke vale cada milímetro daquela Palma de Ouro. Um denso, profundo, angustiante e hipnotizante estudo sobre forças do bem e do mal, castrações pessoais, religião como irrestrita propagadora de obscurantismos nojentos e dominação psicológica, família como um grupo de pessoas impondo superioridades deturpantes e até controle econômico, exploração e controle econômico puro e simples, vinganças e ressentimentos, as (muitas) coisas ruins da nossa cabeça. Uma encenação rigorosa em todos os aspectos (de onde, meu deus, saíram aquelas crianças??!!) que trabalha as forças ancestrais da dramaturgia como reflexo do mundo e dos seres, espelho da moral (em seu sentido mais amplo). O peso e gravidade das situações foge ao fatalismo simples na medida em que concentra seu foco na ação dramática (e elas, sim, explodem seus muitos sentidos) e evita, através de sua própria linguagem, um julgamento autoral exterior. Haneke pendura o público na trilha de um mistério e subverte suas expectativas demonstrando que a essência está no processo. Obra de um autor com abissal domínio, filme a se voltar algumas vezes, enfim.
Amreeka, de Cherien Dabis (EUA, CANADÁ, KUAIT)
* * *
Olhar expositivo sobre questões ditas contemporâneas, dentro de um contexto sócio-político recente. A opção pelo foco na família como motor da trama, girando em torno dos embates culturais, preconceitos e intolerâncias, percalços econômicos e pessoais de um mundo globalizado etc, raspa em dezenas de clichês e filma um roteiro escrito dentro do que se poderia entender como uma bem pautada cartilha. Mas existe a sinceridade, a generosidade e o calor que justificam o filme e o iluminam. Não é grande obra, está claro, mas é uma obra abarcadora. E que sabe encaminhar-se sem danos e com alguma sensibilidade.
(Do universo sombrio de A Fita Branca para cá - ainda que Amreeka não seja um filme sobre pessoas felizes, fique dito -, a sensação é de elevar-se do mais rigoroso inverno a um dia outonal de sol.)
Daniel e Ana, de Michel Franco (MÉXICO, ESPANHA)
[zero]
É curioso e absolutamente sintomático que o narrador de A Fita Branca comece o filme dizendo algo como "não sei se essa história que vou contar é verídica..." e que Daniel E Ana estampe sem medo uma cartela que diz que a história a ser narrada deu-se exatamente como será relatada a seguir, tendo somente os nomes dos personagens sido trocados. Expediente que resulta pior para o realizador, muito pior para nós, público - tente imaginar uma voz eletrônica que lesse sem nuances ou emoção um relato e pode-se calcular mais ou menos como se dá a organização narrativa desse filme. Parece haver uma opção radical pela "não autoralidade", como se os aspectos de linguagem (visual e dramatúrgica, principalmente) não devessem obstruir a suposta magnitude (e a possível dose de polêmica) dos acontecimentos verídicos por si. O resultado é um filme natimorto, onde nada possui qualquer existência cinematográfica, especialmente no que diz respeito ao drama, que não se impõe ou é transmitido com qualquer teor, sequer por um segundo. O cinema é o cinema, enfim, porque faz uso da dramaturgia e da linguagem. E se pode haver uma utilidade para essa chatice toda é a comprovação cabal da máxima que diz que as histórias não precisam ser reais, devem ser verdadeiras.
PS: Para completar o pacote, a projeção digital com que o filme foi apresentado era abaixo de qualquer parâmetro aceitável - podre, para dizer o mínimo. Parabéns à Rain pela sua existência, mais uma vez.
Marcadores:
cinema,
diários da Mostra
25.10.09
Mostra - dia 2: o mundo imaginário de Elia Suleiman
24/10/2009
O Que Resta do Tempo, de Elia Suleiman (FRANÇA/ PALESTINA)
* * * * *
Evolução do filme anterior do diretor, Intervenção Divina, é obra de mestre em diferentes aspectos. Visualmente, os enquadramentos são precisos, harmônicos, belos, estimulantes - contam a história em vez de só buscar emoldurá-la - e a direção de arte daquilo que é dado ver em cada plano é um primor. Mas nada disso teria o valor que tem não fosse o estofo dramático cuidadoso, agridoce, ao mesmo tempo gentil e implacável com a condição humana. E que cobre aproximadamente 60 anos de história com recortes precisos, cenas intensas que partem da observação de situações cotidiana quase sempre cômicas (por si ou a partir do patético que a seriedade e as "grandes questões" inevitavelmente contém) para nelas inserir o mundo e o flamejante contexto histórico das disputas territoriais entre judeus e palestinos.
Altiplano, de Peter Brosens e Jessica Woodworth (ALEMANHA/ BÉLGICA/ HOLANDA)
* *
Ao mesmo tempo que apresenta momentos de pensamento visual e dramático invulgar, mistura-os com digressões que não se alinham suficientemente bem na construção de uma espinha dorsal consistente. Mas no fim das contas, como disse a amiga Maia, "é um bom tapa-buraco."
Amor Em Trânsito, de Lucas Blanco (ARGENTINA)
*1/2
O assunto é tão batido quanto apelativo e inevitável: amores na cidade, histórias que se esbarram, encontros e acasos. Se há uma tentativa de esperteza na estrutura, há também muita banalidade e nenhuma novidade. Assiste-se sem dor, mas esquece-se tão rápido quanto.
O Mundo Imaginário de Dr. Parnassus, de Terry Gilliam (FRANÇA/ CANADÁ/ REINO UNIDO)
* * *
Uma deliciosa confeitaria visual, um elenco de peso, uma obra de ambições imodestas e realização impecável. Provavelmente precisa de tempo para assentar no gosto e no intelecto, mas, no calor do momento, parece que não consegue efetivamente erigir uma narrativa que dê conta por completo de sua premissa nem das suas muitas idéias e conceitos que a rondam. Vê-lo é um pouco como a viagem que, na trama, é proposta através do mundo imaginário do título: trata-se de uma jornada fascinante, mas não espere trilhos - os prazeres estão flutuando. De qualquer forma, é um filme que, mesmo não convencendo por completo, impõe-se sem dificuldades sobre suas fraquezas.
O Que Resta do Tempo, de Elia Suleiman (FRANÇA/ PALESTINA)
* * * * *
Evolução do filme anterior do diretor, Intervenção Divina, é obra de mestre em diferentes aspectos. Visualmente, os enquadramentos são precisos, harmônicos, belos, estimulantes - contam a história em vez de só buscar emoldurá-la - e a direção de arte daquilo que é dado ver em cada plano é um primor. Mas nada disso teria o valor que tem não fosse o estofo dramático cuidadoso, agridoce, ao mesmo tempo gentil e implacável com a condição humana. E que cobre aproximadamente 60 anos de história com recortes precisos, cenas intensas que partem da observação de situações cotidiana quase sempre cômicas (por si ou a partir do patético que a seriedade e as "grandes questões" inevitavelmente contém) para nelas inserir o mundo e o flamejante contexto histórico das disputas territoriais entre judeus e palestinos.
Altiplano, de Peter Brosens e Jessica Woodworth (ALEMANHA/ BÉLGICA/ HOLANDA)
* *
Ao mesmo tempo que apresenta momentos de pensamento visual e dramático invulgar, mistura-os com digressões que não se alinham suficientemente bem na construção de uma espinha dorsal consistente. Mas no fim das contas, como disse a amiga Maia, "é um bom tapa-buraco."
Amor Em Trânsito, de Lucas Blanco (ARGENTINA)
*1/2
O assunto é tão batido quanto apelativo e inevitável: amores na cidade, histórias que se esbarram, encontros e acasos. Se há uma tentativa de esperteza na estrutura, há também muita banalidade e nenhuma novidade. Assiste-se sem dor, mas esquece-se tão rápido quanto.
O Mundo Imaginário de Dr. Parnassus, de Terry Gilliam (FRANÇA/ CANADÁ/ REINO UNIDO)
* * *
Uma deliciosa confeitaria visual, um elenco de peso, uma obra de ambições imodestas e realização impecável. Provavelmente precisa de tempo para assentar no gosto e no intelecto, mas, no calor do momento, parece que não consegue efetivamente erigir uma narrativa que dê conta por completo de sua premissa nem das suas muitas idéias e conceitos que a rondam. Vê-lo é um pouco como a viagem que, na trama, é proposta através do mundo imaginário do título: trata-se de uma jornada fascinante, mas não espere trilhos - os prazeres estão flutuando. De qualquer forma, é um filme que, mesmo não convencendo por completo, impõe-se sem dificuldades sobre suas fraquezas.
Marcadores:
cinema,
diários da Mostra
Mostra - dia 1
23/10/2009
Todos Mentem, de Matías Piñeiro (ARGENTINA)
*
Situação dramática limitada e tratada de maneira confusa, vazia, pedante, até.
A Ressurreição de Adam, de Paul Schrader (EUA/ ALEMANHA/ ISRAEL)
* *1/2
Uma fábula cruel, espécie de parábola bíblica. É possível desprezar o universo ficcional (de tintas surrealistas) proposto ou envolver-se com ele abarcando algumas de suas bem conduzidas originalidades, assim como outras escolhas que soam menos felizes. De qualquer forma, uma experiência interessante no sentido mais objetivo da palavra, que por hora está num limbo imparcial: tende a crescer ou esvanecer-se.
Alga Doce, de Andrzej Wajda (POLÔNIA)
* * * *
Uma daquelas intersecções intensas, quando a vida vira arte de forma muito imediata (e não seria sempre assim?) e esta por sua vez volta ao mundo real para curar ou dar sentido(s) à vida. Uma atriz que sofre uma tragédia pessoal às vésperas da filmagem de uma história sobre tragédias pessoais. Um depoimento documental de estatura inédita, teatral e plástico (hopperiano?) e latentemente cinematográfico, dando força e estatura a uma narrativa ficcional. Pontos de encontro da dor e do luto em um belíssimo filme.
Voluntária Sexual, de Kyeong-duk Cho (CORÉIA DO SUL)
*
Histeria de linguagem com uma cafonice estranha e bastante chatice. Sessão abandonada na metade.
35 Doses de Rum, de Claire Denis (FRANÇA)
* * *1/2
O humanismo escorre pelos detalhes e pelos atos singelos como água em uma pequena fonte ornamental. Delicadezas secas e sutilezas precisas que não chamam atenção para si residem nos corpos e olhares de 4 fortes atores e em uma dramaturgia de elipses. Até pela naturalidade serena com que o filme se impõe, os solavancos de seu terço final soam esquisitos, desencaixados, tortos - mas é possível, também, encontrar propósitos para eles dentro do projeto estético e dramático (o que não necessariamente significa concordar). De um dia para o outro, cresceu na cabeça. Talvez cresça mais.
Todos Mentem, de Matías Piñeiro (ARGENTINA)
*
Situação dramática limitada e tratada de maneira confusa, vazia, pedante, até.
A Ressurreição de Adam, de Paul Schrader (EUA/ ALEMANHA/ ISRAEL)
* *1/2
Uma fábula cruel, espécie de parábola bíblica. É possível desprezar o universo ficcional (de tintas surrealistas) proposto ou envolver-se com ele abarcando algumas de suas bem conduzidas originalidades, assim como outras escolhas que soam menos felizes. De qualquer forma, uma experiência interessante no sentido mais objetivo da palavra, que por hora está num limbo imparcial: tende a crescer ou esvanecer-se.
Alga Doce, de Andrzej Wajda (POLÔNIA)
* * * *
Uma daquelas intersecções intensas, quando a vida vira arte de forma muito imediata (e não seria sempre assim?) e esta por sua vez volta ao mundo real para curar ou dar sentido(s) à vida. Uma atriz que sofre uma tragédia pessoal às vésperas da filmagem de uma história sobre tragédias pessoais. Um depoimento documental de estatura inédita, teatral e plástico (hopperiano?) e latentemente cinematográfico, dando força e estatura a uma narrativa ficcional. Pontos de encontro da dor e do luto em um belíssimo filme.
Voluntária Sexual, de Kyeong-duk Cho (CORÉIA DO SUL)
*
Histeria de linguagem com uma cafonice estranha e bastante chatice. Sessão abandonada na metade.
35 Doses de Rum, de Claire Denis (FRANÇA)
* * *1/2
O humanismo escorre pelos detalhes e pelos atos singelos como água em uma pequena fonte ornamental. Delicadezas secas e sutilezas precisas que não chamam atenção para si residem nos corpos e olhares de 4 fortes atores e em uma dramaturgia de elipses. Até pela naturalidade serena com que o filme se impõe, os solavancos de seu terço final soam esquisitos, desencaixados, tortos - mas é possível, também, encontrar propósitos para eles dentro do projeto estético e dramático (o que não necessariamente significa concordar). De um dia para o outro, cresceu na cabeça. Talvez cresça mais.
Marcadores:
cinema,
diários da Mostra
Assinar:
Postagens (Atom)