30.10.09

Mostra - dia 5: contemplação grega e velocidade canadense

27/10/2009



Independência
, de Raya Martin (FILIPINAS, FRANÇA, ALEMANHA HOLANDA)
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Aclamado por aí como 'obra-prima' e como 'cinema de invenção', esgota-se em sua proposta de recriação (muito, muito antes de 'invenção') estética e numa tentativa de dimensão histórica e/ou fabular que, sinceramente, não se constitui. Em outras palavras, chato.




Trilogia II: A Poeira do Tempo, de Theo Angelopoulos (GRÉCIA, ITÁLIA, ALEMANHA, FRANÇA, RÚSSIA)
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Muito bem difiniu Luiz Zanin, n' O Estado de SP: ... o diretor trabalha com o tempo (e também com o espaço) da memória. Sem ser proustiano, sabe que se move na região dos fragmentos. Lembranças não são coisas, nem são fatos. São a maneira como pessoas e povos reelaboraram aquilo que ficou para trás. Voltar-se para elas significa trabalhar com restos, progredindo à maneira dos arqueólogos, tentando imaginar como seria o todo a partir dos fragmentos que sobreviveram à ação do tempo, dos terremotos, incêndios e saques. Por isso mesmo o seu cinema se move em planos sequências que se aproximam de forma lenta dos seus "objetos", muitas vezes sem mostrá-los por completo. Porque há opacidade na história das gentes e dos povos. Por isso também é um cinema da névoa, porque enxergamos pouco e muitas vezes alcançamos o máximo de lucidez quando perdidos em meio à neblina. É um cinema lindo, intenso, por vezes angustiante e enigmático. Atravessamos esses filmes como quem atravessa um sonho.

Com considerável permanência na memória nesses dias seguintes e um suave sentido que flui pela apreensão emotiva e estética, Poeira do Tempo é um grande filme (apresentado pelo diretor presente na sala, o que torna o momento ainda mais especial).




Eu Matei Minha Mãe, de Xavier Dolan (CANADÁ)
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Existem de imediato as questões que cercam o filme: Dolan escreveu-o com 17 anos, dirigiu-o com 19, atua também como protagonista, narra uma história autobiográfica etc etc. Mas fugindo da relativização perigosa que as circunstâncias de fato impressionantes impõe ("oh, ele é um pequeno jovem gênio que já fez um filme de sucesso") a verdade é que o filme existe. E pára de pé. Espécime típico de sua época (e da geração de seu diretor), trabalha colagens e diferentes esquemas narrativos para impor-se. Encontra aí alguma irregularidade, inevitavelmente, mas os personagens são construídos com sinceridade, vigor emocinal e bastante verossimilhança. Se um olhar analítico (e desnecessário) deixa ver que naturalmente não se trata de um filme excelente, o olhar de espectador entregue jamais deixa de envolver-se com ele. Dolan conseguiu uma pequena proeza ao injetar ar novo em assunto antigo sem ambicionar grandes inovações de linguagem. Seu drama é verdadeiro e comunica-se - aí já está bem mais do que nada.

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