Cativante, trabalha basicamente no terreno da ternura (muito graças ao encanto sutil da atriz Zooey Deschanel e de bem manejados artifícios de linguagem) e da plena capacidade de identificação, já que (mas não só) Joseph Gordon-Levitt é o mais possível herói que Hollywood pode oferecer no âmbito de gente como a gente - franzino, não especialmente bonito nem cool nem inteligente, mas com gostos e opiniões e personalidade.
Mas por mais que isso soe como discurso geracional boboca, é um fato que 500 Dias Com Ela opera diferente para quem hoje está entre os 20 e 0s 30 anos, talvez até mais em torno dos 25. Dizer que ele é um Annie Hall dessa geração talvez não seja exatamente preciso, mas não é nem de longe uma grande mentira, já que é em terreno não só semelhante como marcadamente arado pelo anterior que esse filme trabalha.
Porque, convencionalismos do cinemão à parte (e também excetuados, já que muitas escolhas são sinceras e pouco óbvias), este é um filme que radiografa hábitos da década de 00 e elementos de sua cultura pop com uma afetividade pouco (ou nunca) vista. Na verdade, consuma-se uma plena retroalimentação, na medida em que, crias que somos daquilo que vemos/ouvimos/consumimos nesses últimos anos, vemos na tela seres como nós, agindo e sentindo como o cinema e as séries de televisão nos ensinaram a fazer e, dessa forma, consolidando e transmitindo esse modus vivendi aos que já vem depois de nós.
Regina Spektor, Feist, Belle & Sebastian, a melancolia já clássica de The Smiths, psiques influencidadas por A Primeira Noite de Um Homem e Simon & Garfunkel (ou tantos outros filmes), encenações particulares em lojas de móveis (no estilo Tok & Stok), fabulações da vida de modo geral, idealizações, muito fone de ouvido, karaokês, bebedeiras, adolescência extendida, pequenos jogos de sedução, irmãos menores espertos demais, a família patriarcal como elemento completamente ausente da vida amorosa, um cosmopolitismo tão redentor quanto opressor, as armadilhas da expectativa, a desilusão com o "mundo real" (ou a noção de que a realidade não pode ser fabular e dramaturgizada todo o tempo), o amor como uma grande brincadeira nutritiva e a causa de todos os males.
entendeu?

3 comentários:
entendi.
Um dia eu vou trabalhar pra você!!!
Ai ai , eu sou tão Tom heheh!
BTW também escrevi sobre o filme, dá uma passada lá :)
http://diretodocinema.wordpress.com/2009/12/05/cinema-500-dias-com-ela/
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