7.11.09

Mostra - dia 13 (último dia): o pior pecado de um filme é ser chato

04/11/2009















Samson & Delilah, de Warwick Thornton (AUSTRÁLIA)
* * *
O filme começa antropológico e com uma equilibrada, senão delicada, exposição de ações. Logra, acima de tudo, em construir uma ambientação, situar o que se entende como alguma propriedade ser o interior árido de uma Austrália onde descendentes de aborígenes nativos digladiam-se na tentativa de se adaptar ao mundo como ele (hoje) é. Mas o ato seguinte, que seria o da transgressão, do rompimento do casulo e contato com a vida real, vai esmaecendo as forças do primeiro discurso em uma trama irritantemene fatalista. Mesmo a semi-redenção e o retorno ao espaço dramático do início não melhoram o gosto artificioso experimentado. E abandonando aquilo que seria a contemplação de seu instigante início, em troca de um miolo de inúmeros acontecimentos que se sucedem rumo à tragédia, o filme vai tornando-se ironicamente desinteressante.


Todos Os Outros, de Maren Ade (ALEMANHA)
[zero]
Em plena feitura da programação da Mostra desse ano, manifestei-me no twitter com a seguinte: "critério: filme alemão? NÃO. filme dirigido por mulher? pensar duas vezes (risos). filme alemão dirigido por mulher? NEM MORTO." Piadas à parte, eis que Todos Os Outros vem confirmar a tese sem qualquer margem de erro. Chato, chato e mais chato. Uma enorme pasmaceira psicológica mal desenhada, mal conduzida, irritantemente atuada. Nada acontece - mas nada acontece MESMO. E o espectador é deixado por duas longas horas na companhia do que talvez sejam os dois personagens mais desinteressantes e irritantes da história do cinema.


Irene, de Alain Cavalier (FRANÇA)
* * 1/2
Aqui, quem sabe do que se trata, sabe do que se trata. Quem não sabe, sai da sessão depois de alguns minutos, como fez um terço da sala onde estávamos. A questão, para mim, era descobrir o quanto Cavalier poderia me dar com esse cinema rigorosamente em 1ª pessoa, com sua narrativa radical, ou mesmo anti-narrativa. E a resposta foi: não muito. Mesmo com predisposição e boa vontade, a tal da fabulação faz falta. Sua inexistência deixa o espectador à deriva de uma voz explicativa que raras vezes atinge o cerne de um sentimento. E, que de tão real, chega mesmo a dar a impressão de ilegitimidade (como se o diretor-narrador estivesse por vezes deliberadamente "atuando" uma determinada lembrança ou sensação). Fato é que, ao mesmo tempo que se trata de um filme a descobrir, não há muitos caminhos que o desviem do enfado.

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