4.11.09

Mostra - dia 7: filmes banais, estética e mais narrativas portuguesas

29/10/2009



Amanhã Ao Amanhecer, de Denis Dercourt (FRANÇA)
* * 1/2
A experiência de vê-lo possui interesses, é certo. O jogo de encenações é estimulante como ponto de reflexão e a "trama dentro da trama" é construída em tensão crescente e real. Mas a memória de ter visto o filme é pálida e parece que não tem realmente para onde crescer a partir do que nos é dado. Ou seja, dignamente "regular".

Mau Dia Para Pescar, de Alvaro Brechner (ESPANHA, URUGUAI)
* *
Assim como o filme anterior, este apresenta um esforço real de estabelecimento de um espaço narrativo particular e dá pernas sustentáveis à sua história para que ela exista nesse ambiente. Mas os personagens não possuem grande pulsão de vida, o drama não engata, as coisas ficam a meio de caminho.

Ainda Adoráveis, de Nicholas Fackler (EUA)
*
Eu nem sequer pretendia entrar na sala, mas a informação de que se tratava de obra de um jovem diretor (25 anos) que trabalhou durante anos em um roteiro pelo qual o (grande) ator Martin Landau se apaixonara etc etc me pareceu convincente. Em vão. O resultado é um enorme esforço de parecer "sensível" e "relevante" (em âmbito humano e social, até) através dos mais banais e manjados artifícios de que os jovens cineastas americanos (do tipo que procuram legitimamente um lugar ao sol dentro da indústria) lançam mão.















Insolação, de Felipe Hirsch e Daniela Thomas (BRASIL)
* * 1/2
"Confie no mistério", disse Daniela Thomas ao apresentar a sessão e repetiu o personagem de Paulo José minutos depois. Mas não se trata exatamente da confiança, embora o filme trabalhe o tempo inteiro para que, sim, nós efetivamente aceitemos seus mistérios e lacunas. Trata-se das possibilidades de acessar e ser acessado pelos tais mistérios, por uma narrativa calculadamente estilhaçada, por dramas rascunhados, personagens que existem como sombras, como aparições. Trata-se de um delicado equilíbrio. Equilíbrio que está, por exemplo, na captação precisa e algo deslumbrante das formas e paisagens de uma Brasília abandonada, no espaço que ocupam os personagens, nessa cidade e no plano. Equilíbrio de sentimentos que são evocados como momentos estéticos (por vezes em cenas realmente belas), em frases esparsas, às vezes de efeito, em silêncios eles também de efeito. Equilíbrio de uma música onipresente que transforma algumas imagens em balé, que procura dar liga a outras que encontram dificuldade em se relacionar por si, em emanar sensações reais. Equilíbrio de um filme que se agarra no sensorial para existir, na busca do belo - e isso vale até mais para sua estilizada matéria dramática oriunda da literatura russa do que para aquilo que, com efeito, pode ser entendido como estética visual e sonora em si. O ponto de equilíbrio de Insolação, portanto, me parece complexo, delicado, perigoso. Suas pontes são deliberadas ruínas a serem completadas pelo público, num trabalho que vai além do relacionamento puro e simples com as obras em geral. E ele ser ou não um filme bom ou satisfatório provém unicamente da qualidade desses complementos subjetivos (ou mesmo da capacidade do filme de provocá-los, individualmente).















Morrer Como Um Homem, de João Pedro Rodrigues (PORTUGAL)
* * * *
É um susto, para quem viu O Fantasma, sombria obra anterior do diretor, lançada no Brasil, deparar-se com esse filme tão solar. E é, acima de tudo, com um manuseio todo próprio e pleno de encantos que João Pedro Rodrigues vai moldando essa história em si tão triste. O pessimismo dá lugar à esperança e a uma resignação que, longe de ser lamuriosa, é a própria alegria (não sem alguma melancolia). Seu tratamento do drama e dos tempos, seu desenrolar detalhista da história, atento e carinhoso no trato com seus personagens, a própria existência fílmica desses personagens tão carismáticos, defendidos por valentes atores, combinam-se em narrativa nada convencional e, até por isso, nada fácil. Mas que é capaz de arrebatar com intensidade impressionante diversos corações cinéfilos. Se não é exatamente o caso comigo, não é sem força e admiração, no entanto, que Morrer Como Um Homem me chega ao coração (e que deixa as portas abertas para uma oportuna revisão).

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