5.11.09

Mostra - dia 9: vivacidade grega

31/10/2009















Dente Canino
, de Yorgos Lanthimos (GRÉCIA)
* * * * 1/2
Uma porrada vinda da Grécia. A Vila com toques de crueldade. Jogo de tensão e hipnose. Organizações sociais e civilizatórias postas em cheque. A família como casulo - refúgio ou prisão? A mamãe passarinha empurra o filhote para fora do ninho - ele precisa voar para sobreviver, mas e se ela o prendesse pra sempre? O mundo dentro de uma casa, um filme dentro de uma casa, personagens exatos, cenas precisas. Sentimentos ambíguos e o maniqueísmo derretendo-se. Eros e Tanatos. A tragédia não como fuga, mas como base da constituição humana, como fim inevitável de qualquer relação perversa de poder. Um surpreendente, conciso, desnorteante e consistente filme, em suma.


Perseguição, de Patrice Chéreau (FRANÇA)
* * 1/2
É como se o Chéreau do drama apurado e cru, cheio de pulsões dos anteriores Intimidade e Irmãos, se diluísse, perdesse o foco. A câmera solta acompanha os personagens em planos próximos, sempre muito corporalmente, sempre tentando aproximar-se de seus conflitos e sua psique (seguindo a máxima do diretor de que o ator comanda a cena e o plano). Mas de que mesmo se trata a história? O protagonista flutua entre três relações (namorada, amigo, perseguidor) às quais se compreende com dificuldade e a que nunca temos verdadeiro acesso emocional. Não é nem dizer que se trate de um filme confuso, mas de um filme perdido. Que não tarda a perder o espectador dentro de sua ciranda dramática dispersiva.


A Invenção Da Carne, de Santiago Loza (ARGENTINA)
* *
É evidente que, assim como Patrice Chéreau, Santiago Loza possui um projeto artístico. E seria injusto desprezar seu cinema de olhar que, da mesma forma que Perseguição, busca na relação atores-câmera a essência de sua narrativa, porém com muito menos texto e mais aproximação sensorial. A carne dos atores interessa ao cineasta e a trama que dela pode emanar. Com organização primordialmente subjetiva, portanto, Loza corre abertamente o risco de não conseguir construir conexões que cativem e/ou envolvam o público (num expediente que o coloca curiosamente perto - ainda que trabalhando em tom distinto - de Insolação, de Felipe Hirsch e Daniela Thomas, por exemplo). O sutil e o elíptico, no entanto, operam no limite do subnarrado e a falta ou a volatilidade das superfícies de contato nem sempre jogam a favor.















Aquiles e a Tartaruga, de Takeshi Kitano (JAPÃO)
* * *
Ainda que redundante e um tanto cansativa, a história construída como fábula tem seus encantos. Kitano adere sem medo ao humor como linguagem dominante, sem negligenciar (mas também sem aprofundar) a matéria humana e uma açucarada crítica aos excessos das Artes, seus artífices e mercados. Para o fim de um dia como esse, fácil de ver e de gostar.

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