- 1
Esse mundo em que somos oprimidos e opressores
Crítica: Luiz Zanin Oricchio
Da síntese de linguagens entre o realismo crítico e o fantástico nasce Trabalhar Cansa, de Juliana Rojas e Marco Dutra. A dupla opera com duas trajetórias divergentes na história de um casal. Ele foi demitido. Ela começa a realizar o objetivo de ter o próprio negócio.
Ao pesadelo de Otávio (Marat Descartes) opõe-se o sonho de Helena (Helena Albergaria). Pelo menos até que ambos se percebam mergulhados no mesmo beco sem saída. O filme trata do progressivo embrutecimento da dupla. Ele, com o desespero de ter perdido o papel de provedor. Ela, com a alternância para a posição de patroa, desumanizando-se no tratamento a seus empregados. O mercadinho de que agora ela é proprietária transforma-se em metáfora dessa progressão. Há uma umidade que não para de crescer e o ambiente vai tomando um ar de fantasmagoria crescente. É o estranhamento do mundo.
Não se trata de estranhamento aleatório e sim de um comentário político agudo sobre o nosso tempo. As relações entre patrões e empregados são regidas por um autoritarismo que contamina a todos. E, se a sociedade é democrática e hierarquizada, as corporações funcionam segundo preceitos fascistas - como já havia notado o francês Nicolas Klotz em A Questão Humana. Trabalhar Cansa segue a mesma trilha. É uma estreia brilhante.
- 2
- 3
- SERÁ??
Nenhum comentário:
Postar um comentário