RESPIRAR
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Tudo funciona com a precisão de um relógio finamente artesanal - trata-se, como não, de um cinema que vem da Áustria. O roteiro é exemplar, o esmero e inteligência da decupagem são impressionantes, os tempos são exatos, o ator protagonista é excelente e, para falar dos termos 'técnicos', há uma ideia dominante clara (mas não óbvia), alcançada de forma progressiva e estimulante, e escaldada por um sistema de imagens tão forte quanto sutil. E o melhor: filme a filme, Respirar só cresce como uma experiência de realização milimétrica e de sensações calorosas.
ÓCIO
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É tão, mas tão insignificante, que é como se não tivesse sido visto.
ELENA
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São muitos os exemplos de filmes cujos finais tomam caminhos bruscos, radicalmente contraditórios ao discurso ético e estético que se erguera até então. Em alguns casos, tais desvios podem passar como deslizes que não apagam a excelência do que fora empreendido até ali. Polissia, visto recentemente no Festival do Rio, é um bom exemplo disso. Em outros casos, no entanto, por alterarem significativamente a rota do discurso, estes epílogos colocam em questão o entendimento e a qualidade (no sentido das características específicas) da narrativa que ali desemboca. Elena, exemplar desta segunda vertente, não passa incólume a seu solavanco: os aspectos morais da história, que vinham sendo tensionados com desnorteante ambivalência, caem por terra em uma fissura inexplicável de ponto de vista e foco narrativo , que descortina um moralismo (ou, no mínimo, uma simplificação moral) imperdoável - e que implode o filme, não permitindo que ele seja realmente grande.
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