27.10.11

diários da Mostra - dia 4: Miranda July e o tempo como um contorcionista

PROJETO NIM
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Apesar dessa tendência (será que se pode chamar assim?) dos documentários norteamericanos de espetacularizarem o real (será que se pode chamar assim?) até o ponto de ficcionalizá-lo, trata-se de uma narrativa sem dúvida efetiva. Não existe a articulação, a dubiedade e a força de um Na Captura dos Friedman, por exemplo, mas os fatos da história impõe-se (por serem simplesmente muito interessantes) e os artifícios todos, embora às vezes esbarrem no intolerável, quase sempre manipulam com propriedade - e sem querer disfarçar que estão efetivamente manipulado.


OS GIGANTES
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Soa como um daqueles filmes do qual, anos daqui, uma determinada cena ou um flash indefinido virá a cabeça, lembrado com algum afeto. Porque logra, sem dúvida, em carregar o espectador para uma jornada que tem suas belezas (e seus três protagonistas palpáveis e carismáticos), mas que não exatamente alcança um ponto. Isso, como sabemos, não é bom ou ruim por si, mas sobra uma sensação de que a experiência, afinal, embora agradável, não tenha sido tão recompensadora assim.


EU RECEBERIA AS PIORES NOTÍCIAS DOS SEUS LINDOS LÁBIOS

Existe um sentimento muito poderoso que percorre as imagens, as personagens e o jogo de tensões deste novo filme de Beto Brant. Tanto quando existe um sentimento de desconjunto em sua constante tentativa de elevar o drama a um aspecto místico. E existe Camila Pitanga, pairando mesmo soberana sobre tudo. Mas, de dentro do furacão, é difícil dizer um 'gostei',
'não gostei' ou dar estrelas. O sentimento predominante, por hora, é não saber o que predomina.


O FUTURO
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Nos seis anos que separam O Futuro de Eu, Você e Todos Nós, Miranda July cresceu. Mas não se engane quem ache que ela deixou de lado a 'esquisitice-encantadora' ou a 'fofura-do-inusitado'. Afinal de contas, cavalos sempre terão cheiro de cavalos. Mas da garota de quase 30 que transformava em ilusão poética as pequenezas de seu cotidiano, enquanto idealizava o príncipe encantado em uma loja de sapatos, ela passou para a mulher com medo dos 40 que ficou com seu princípe e se pergunta "e agora?". Aqui, a esquisitice não busca mais ser o desvio de comportamento alentador, nem resulta em pequenas belezinhas da vida ordinária - ela é só esquisitice mesmo. E em assumir essa 'falha', no sentido mesmo da ruptura, e em ousar na tentativa de ainda ser cativante sem medo do repúdio é que July ganha e cresce como artista. Da criança que controla o tempo fazendo-o avançar no final de Eu, Você para o hipster que o congela em O Futuro, Miranda July coloca em questão o ato de dar o passo seguinte: na vida, no amor, no cinema. O lugar em que pousa será sempre comportará discórdia, e nada mais natural para um filme com traços tão fortes de personalidade.

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