21.10.11

Mostra Internacional de Cinema de SP - um guia (irresponsável e possível) dia a dia


(Este texto é uma projeção elocubrativa. Para o efetivo diário dia a dia, com impressões, bobagens, estrelas e tudo o mais que o valha, mantenham-se sintonizados.)



  • 21/10
Não pode haver forma melhor de começar do que com O Dia Em Que Ele Chegar, do sulcoreano Hong Sangsoo. Porque embora eu vergonhosamente nunca tenha assistido a um filme seu, trata-se de um nome 'quente' (na lista de amigos tanto quanto na da imprensa estrangeira e dos grandes festivais internacionais). Em seguida, dois argentinos: O Desaparecimento do Gato, porque Carlos Sorin já nos deu alguns prazeres com seus filmes anteriores, e Um Mundo Misterioso, para quem, como eu, adorou O Guardião, o anterior de Rodrigo Moreno. Para fechar o dia, Clamor do Sexo, porque com a retrospectiva Elia Kazan basicamente não vai ter erro.

  • 22/10
Hanezu, porque mesmo eu tendo dormido em A Floresta dos Lamentos, Naomi Kawase é queridinha do Festival de Cannes. Uma Rua Chamada Pecado, por motivos que passam muito além (e acima e abaixo e por dentro) dessas linhas. E Laranja Mecânica, pelos exatos mesmos motivos (e porque, se você ainda não percebeu, o que vai reinar nessa Mostra são os clássicos em cópias restauradas- e em 35mm, deus seja louvado!!!)

  • 23/10
Era Uma Vez na Anatólia, porque Nuri Bilge Ceylan levou o Grande Prêmio do Júri em Cannes - e Juliana Rojas, que esteve lá, nos garante que ficou maravilhada durante todas as 2:40h de projeção. Sindicato de Ladrões, porque dois dias seguidos de Marlon Brando não podem fazer mal. E Vidas Amargas, porque eis aí um filme que eu nunca vi (e porque James Dean não é má sobremesa para um banquete de Brando, enfim).

  • 24/10
É possível se arriscar em Fora de Satã, porque Bruno Dumont consegue encantar (ou enganar?) alguns. Ou em Inocência, porque o diretor tem algum currículo e porque é um filme tcheco. Mas talvez, dentro do risco, Os Gigantes seja o porto mais seguro: filme belga, "jovem", exibido na Quinzena dos Realizadores. Habemus Papam, de Nanni Moretti, se a cópia chegar (dizem que está perigando) é não só a escolha óbvia do dia mas uma das mais óbvias de toda a Mostra. E para ficar na mesma seara, O Garoto da Bicicleta e pronto (irmãos Dardenne, Grande Prêmio do Juri em Cannes, o pacote completo...).

  • 25/10
Como você não vai mesmo encarar as mais de 5h da cópia restaurada de 1900, vejamos... Além de ser do mesmo diretor do celebrado Como Eu Festejei o Fim do Mundo, Loverboy tem uma história convidativa - e é uma chance de ver para onde caminha a tal 'nova onda' do cinema romeno. Aqui, duas possibilidades de passos cegos: seguir o impulso de ver os tais filmes "jovens", com o francês Gosto de Olhar as Meninas, ou apostar no espanhol As Ondas, cujo crédito de maior destaque é ter vencido um prêmio de melhor filme no Festival de Moscou? Na sequência, mais dúvida: confiar no histórico do cinema português e entrar em O Que Há De Novo No Amor?, que além de "jovens", tem música, ou dar uma chance a Robert Guédiguian, que já fez filmes belos e filmes muito chatos, em As Neves do Kilimanjaro? O fim do dia, no entanto, é um tiro certeiro: Taxi Driver, em cópia nova.

  • 26/10
A Hollywood Reporter aponta Respirar como "uma das mais promissoras estreias vistas em Cannes". O Leopardo, em cópia restaurada, dura suas mais de 3h, mas trata-se do épico de Luchino Visconti (e que me desculpem os que querem ver os filmes moderninhos). E Caverna dos Sonhos Esquecidos, o documentário de Werner Herzog, vai ou não ser exibido em 3D, afinal?

  • 27/10
Quem, como eu, gostou de Persépolis, não tem porque não ver Frango Com Ameixas, dos mesmos diretores (ou talvez tenha: a cópia que se anuncia é em digital; aquele digital, pouquíssimo confiável). Ruído do Gelo vai pra lista unicamente por sua sinopse incomum: um homem que recebe a visita de seu câncer, encarnado como gente (e é um filme francês, o que sempre ajuda). Elena, além do prêmio do júri na seção Un Certain Regard, de Cannes, é do diretor de O Retorno, filme que entrou em cartaz por aqui (e causou boa impressão em alguns). Depois do Sul é um filme francês encaixado oportunamente, na mesma sala, entre o filme anterior o seguinte. E Transe experimentou uma passagem tão polêmica pela Mostra de 2006 que não tem como não saber o que Teresa Villaverde anda fazendo, em Cisne.

  • 28/10
Um dia com cinco indecisões: o 'infantil' Veneza, com uma ótima sinopse, o road movie Aqui, o documentário Histórias da Insônia (que, tentador, quase sai na frente dos demais), a animação Tatsumi e a premissa na mesma dose interessante e arriscada de Em Algum Lugar Esta Noite? E duas certezas: a releitura atualizada que Mathieu Amalric faz da peça A Ilusão Cômica (atualmente em cartaz em SP, sincronicamente) e Parada Em Pleno Curso, melhor filme na Un Certain Regard, Cannes.

  • 29/10
Se há um lugar para se estar nesse sábado é na sala 3 do Espaço Unibanco, com três filmes muito aguardados, um atrás do outro (coisa que tem sido rara na programação desse ano): a crônica de prisão do iraniano Jafar Panahi, Isto Não É Um Filme (por todas as circunstâncias que o cercam), o italiano Irmãs Jamais (porque quem não amou Vincere, do mesmo diretor, o mestre Marco Bellochio?) e o documentário As Canções (porque não há motivo - nem tempo a perder - para esperar um filme de Eduardo Coutinho estrear). No fim da noite, por motivos muito pessoais, o brasileiro Os 3, de Nando Olival.

  • 30/10
Será que não seria o caso de dar uma olhada em pelo menos um dos muitos filmes de Sergei Paradjanov que a Mostra está resgatando? Hoje, em horário oportuno, Flor Sobre a Pedra. Após, The Forgiveness of Blood, em que Joshua Marston (de Maria Cheia de Graça) vai à Albânia, poderia ser uma certeza. Mas as críticas e a sinopse do italiano Una Vita Tranquilla são positivas. E Vulcão é um filme dinamarquês passado na Islândia (não? só eu?). Ou talvez seja melhor só dormir a tarde toda porque Terra De Um Sonho Distante é um Elia Kazan épico, de 3 horas de duração. E o que o sucede, Um Rosto na Multidão, é um Elia Kazan que começa em horário tarde, bem tarde.

  • 31/10
Dois filmes "jovens" (e talvez leves), para aliviar o fôlego que a maratona, a essas alturas, já usurpou: o elogiado Submarino e o visualmente convidativo Shocking Blue (alô, Esmir, se você desse uma olhada no trailer será que ia sentir a mesma irmandade com Os Famosos e os Duendes da Morte que eu senti?). Para não perder a tradição, assistir ao vencedor da Caméra d'Or do ano: o argentino Las Acacias. E encerrar com o resgate de Despair, de Fassbinder (mas, dessa vez, em cópia anunciada como digital - leia-se: será que vale a pena?).

  • 01/02
Feriado - e faltando três dias para o fim. Mas, para esse signatário, pode ser que a coisa acabe mesmo por aqui. Então talvez Eu, Você, Os Outros, um musical francês, possa ser uma boa pedida (se não por outro motivo porque, veja só, esse nome remete a Miranda July - e o dia é mesmo dela). A Terra Ultrajada atrai pela sinopse (e pode ser que não caiba na agenda). O Futuro é o que é: Miranda July, finalmente, seis anos depois. E, para concluir (mesmo), Tudo Pelo Poder, dirigido por George Clooney, que já provou fazer isso muito, muito bem - além do que, escreva aí, ainda vai se falar muito desse filme quando chegarmos à temporada de prêmios.


  • PS:
Para quem fica, os dias 02 e 03 ainda tem muito a oferecer. Mas até mesmo por seu sentido memorialístico ora adquirido, Mundo Invisível, a obra final de Leon Cakoff, deve ser vista.


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