(Este texto é uma projeção elocubrativa. Para o efetivo diário dia a dia, com impressões, bobagens,
estrelas e tudo o mais que o valha, mantenham-se sintonizados.)
Não pode haver forma melhor de começar do que com
O Dia Em Que Ele Chegar, do sulcoreano Hong Sangsoo. Porque embora eu vergonhosamente nunca tenha assistido a um filme seu, trata-se de um nome 'quente' (na lista de amigos tanto quanto na da imprensa estrangeira e dos grandes festivais internacionais). Em seguida, dois argentinos:
O Desaparecimento do Gato, porque Carlos Sorin já nos deu alguns prazeres com seus filmes anteriores, e
Um Mundo Misterioso, para quem, como eu, adorou
O Guardião, o anterior de Rodrigo Moreno. Para fechar o dia,
Clamor do Sexo, porque com a retrospectiva Elia Kazan basicamente não vai ter erro.
Hanezu, porque mesmo eu tendo dormido em
A Floresta dos Lamentos, Naomi Kawase é queridinha do Festival de Cannes.
Uma Rua Chamada Pecado, por motivos que passam muito além (e acima e abaixo e por dentro) dessas linhas. E
Laranja Mecânica, pelos exatos mesmos motivos (e porque, se você ainda não percebeu, o que vai reinar nessa Mostra são os clássicos em cópias restauradas- e em 35mm, deus seja louvado!!!)
Era Uma Vez na Anatólia, porque Nuri Bilge Ceylan levou o Grande Prêmio do Júri em Cannes - e Juliana Rojas, que esteve lá, nos garante que ficou maravilhada durante todas as 2:40h de projeção.
Sindicato de Ladrões, porque dois dias seguidos de Marlon Brando não podem fazer mal. E
Vidas Amargas, porque eis aí um filme que eu nunca vi (e porque James Dean não é má sobremesa para um banquete de Brando, enfim).
É possível se arriscar em
Fora de Satã, porque Bruno Dumont consegue encantar (ou enganar?) alguns. Ou em
Inocência, porque o diretor tem algum currículo e porque é um filme tcheco. Mas talvez, dentro do risco,
Os Gigantes seja o porto mais seguro: filme belga, "jovem", exibido na Quinzena dos Realizadores.
Habemus Papam, de Nanni Moretti, se a cópia chegar (dizem que está perigando) é não só a escolha óbvia do dia mas uma das mais óbvias de toda a Mostra. E para ficar na mesma seara,
O Garoto da Bicicleta e pronto (irmãos Dardenne, Grande Prêmio do Juri em Cannes, o pacote completo...).
Como você não vai mesmo encarar as mais de 5h da cópia restaurada de
1900, vejamos... Além de ser do mesmo diretor do celebrado
Como Eu Festejei o Fim do Mundo,
Loverboy tem uma história convidativa - e é uma chance de ver para onde caminha a tal 'nova onda' do cinema romeno. Aqui, duas possibilidades de passos cegos: seguir o impulso de ver os tais filmes "jovens", com o francês
Gosto de Olhar as Meninas, ou apostar no espanhol
As Ondas, cujo crédito de maior destaque é ter vencido um prêmio de melhor filme no Festival de Moscou? Na sequência, mais dúvida: confiar no histórico do cinema português e entrar em
O Que Há De Novo No Amor?, que além de "jovens", tem música, ou dar uma chance a Robert Guédiguian, que já fez filmes belos e filmes muito chatos, em
As Neves do Kilimanjaro? O fim do dia, no entanto, é um tiro certeiro:
Taxi Driver, em cópia nova.
A Hollywood Reporter aponta
Respirar como "uma das mais promissoras estreias vistas em Cannes".
O Leopardo, em cópia restaurada, dura suas mais de 3h, mas trata-se do épico de Luchino Visconti (e que me desculpem os que querem ver os filmes
moderninhos). E
Caverna dos Sonhos Esquecidos, o documentário de Werner Herzog, vai ou não ser exibido em 3D, afinal?
Quem, como eu, gostou de
Persépolis, não tem porque não ver
Frango Com Ameixas, dos mesmos diretores (ou talvez tenha: a cópia que se anuncia é em digital;
aquele digital, pouquíssimo confiável).
Ruído do Gelo vai pra lista unicamente por sua sinopse incomum: um homem que recebe a visita de seu câncer, encarnado como gente (e é um filme francês, o que sempre ajuda).
Elena, além do prêmio do júri na seção Un Certain Regard, de Cannes, é do diretor de
O Retorno, filme que entrou em cartaz por aqui (e causou boa impressão em alguns).
Depois do Sul é um filme francês encaixado oportunamente, na mesma sala, entre o filme anterior o seguinte. E
Transe experimentou uma passagem tão polêmica pela Mostra de 2006 que não tem como não saber o que Teresa Villaverde anda fazendo, em
Cisne.
Um dia com cinco indecisões: o 'infantil'
Veneza, com uma ótima sinopse, o road movie
Aqui, o documentário
Histórias da Insônia (que, tentador, quase sai na frente dos demais), a animação
Tatsumi e a premissa na mesma dose interessante e arriscada de
Em Algum Lugar Esta Noite? E duas certezas: a releitura atualizada que Mathieu Amalric faz da peça
A Ilusão Cômica (atualmente em cartaz em SP, sincronicamente) e
Parada Em Pleno Curso, melhor filme na Un Certain Regard, Cannes.
Se há um lugar para se estar nesse sábado é na sala 3 do Espaço Unibanco, com três filmes muito aguardados, um atrás do outro (coisa que tem sido rara na programação desse ano): a crônica de prisão do iraniano Jafar Panahi,
Isto Não É Um Filme (por todas as circunstâncias que o cercam), o italiano
Irmãs Jamais (porque quem não amou
Vincere, do mesmo diretor, o mestre Marco Bellochio?) e o documentário
As Canções (porque não há motivo - nem tempo a perder - para esperar um filme de Eduardo Coutinho estrear). No fim da noite, por motivos muito pessoais, o brasileiro
Os 3, de Nando Olival.
Será que não seria o caso de dar uma olhada em pelo menos um dos muitos filmes de Sergei Paradjanov que a Mostra está resgatando? Hoje, em horário oportuno,
Flor Sobre a Pedra. Após,
The Forgiveness of Blood, em que Joshua Marston (de
Maria Cheia de Graça) vai à Albânia, poderia ser uma certeza. Mas as críticas e a sinopse do italiano
Una Vita Tranquilla são positivas. E
Vulcão é um filme dinamarquês passado na Islândia (não? só eu?). Ou talvez seja melhor só dormir a tarde toda porque
Terra De Um Sonho Distante é um Elia Kazan épico, de 3 horas de duração. E o que o sucede,
Um Rosto na Multidão, é um Elia Kazan que começa em horário tarde, bem tarde.
Dois filmes "jovens" (e talvez leves), para aliviar o fôlego que a maratona, a essas alturas, já usurpou: o elogiado
Submarino e o visualmente convidativo
Shocking Blue (alô, Esmir, se você desse uma olhada no trailer será que ia sentir a mesma irmandade com
Os Famosos e os Duendes da Morte que eu senti?). Para não perder a tradição, assistir ao vencedor da Caméra d'Or do ano: o argentino
Las Acacias. E encerrar com o resgate de
Despair, de Fassbinder (mas, dessa vez, em cópia anunciada como
digital - leia-se: será que vale a pena?).
Feriado - e faltando três dias para o fim. Mas, para esse signatário, pode ser que a coisa acabe mesmo por aqui. Então talvez
Eu, Você, Os Outros, um musical francês, possa ser uma boa pedida (se não por outro motivo porque, veja só, esse nome remete a Miranda July - e o dia é mesmo dela).
A Terra Ultrajada atrai pela sinopse (e pode ser que não caiba na agenda).
O Futuro é o que é: Miranda July, finalmente, seis anos depois. E, para concluir (mesmo),
Tudo Pelo Poder, dirigido por George Clooney, que já provou fazer isso muito, muito bem - além do que, escreva aí, ainda vai se falar muito desse filme quando chegarmos à temporada de prêmios.
Para quem fica, os dias 02 e 03 ainda tem muito a oferecer. Mas até mesmo por seu sentido memorialístico ora adquirido,
Mundo Invisível, a obra final de Leon Cakoff, deve ser vista.
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