26.12.09

Nova York - dia 6: a grande Arte e o anacronismo do Pacífico sul

uma terça-feira extensa, porém concentrada.

basicamente o dia inteiro foi devotado à gigantesca coleção do Metropolitan Museum of Art. saão galerias e galerias, corredores e corredores de muita arte, de todos os tempos, de todas as procedências.

vale aquela máxima que nem uma vida inteira seria suficiente para ver tudo de forma atenta e detalhada, então é óbvio que a visita foi guiada pelas preferências pessoais. mais do que isso, tratou-se de uma tremenda redescoberta, 13 anos depois da primeira visita e 11 depois da última. aqui mesmo, nessas salas cheias de obras-primas, a mão cuidadosa de minha avó começou a me fazer quem eu sou hoje.

o resumo detalhado da escavação artística pessoal entrará como 'apêndice' no fim dessa postagem, em algum futuro breve.

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saio do museu com o dia já indo embora e passeio o Parque Central no fim de tarde, ipod novo já devidamente carregado, em direção ao Upper West Side. lá, perco um bom tempo entre as prateleiras da Barnes & Noble da rua 66.

em seguida, já é hora de atravessar a rua e conhecer o fantástico Vivian Beaumont Theater para mais um dia de teatro musical.


o Beaumont é uma magnífica sala em semi-arena, grandiosa e intimista. sua arquitetura de palco possibilita encenações majestosas com intensa sensação de proximidade. para South Pacific, a peça da vez, essa disposição parece ser especialmente feliz.

lançado em 1949, tudo no espetáculo é velho. comprar as idéias de seu (não) teor dramático, da motivação de seus personagens e de sua mensagem é tão verdadeiro quanto brincar de bonecas.

mas a esperteza do diretor Bartlett Sher é justamente não crer ingenuamente em sua história, mas delinear adoravelmente seu anacronismo, fazendo-a quase vintage. a montagem, dessa forma, soa como uma delicada memorabilia, um objeto em miniatura no qual admiramos o apuro e a 'fofura', que possui em seu prendado verniz a razão principal de sua existência.

e como as músicas são clássicas e imortais, Sher acerta em valorizá-las. enquanto os momentos dramáticos são um teatro de bonecos com a exata nostalgia adocicada já referida, as canções acontecem um pouco como concerto. os intépretes, assim, colocam emoção e intenção a serviço das belas letras e melodias, executando-as com marcações de cena limpas e diretas.

a síntese desse possível 'estilo' é a protagonista Kelly O'Hara, inteligente e sob controle da sutil e terna caricatura que faz de si mesma - é impossível não gostar dela, mesmo que a 'maldade' moral de sua personagem seja um dos conflitos centrais da trama.

Paulo Szot, para desespero do signatário, não cantou nessa terça-feira e seu understudy, apesar das qualidades vocais, era não mais do que um completo canastrão (não que Szot talvez não fosse, mas pelo menos, além de ser o canastrão que venceu o Tony, certamente o seria com uma já comprovada canalhice).

de qualquer forma, chegam vivas e irresistíveis Some Enchanted Evening, Younger Than Springtime, I'm Gonna Wash That Man Right Out Of My Hair, Honey Bun e outras. para tal, contribui definitivamente a numerosa orquestra, que, posicionada literalmente no centro da (semi) arena, faz-se amplamente presente como em nenhum outro show na Broadway.

esse South Pacific, portanto, entrega o máximo que pode dentro de suas limitações de origem. com a música no lugar, tem-se basicamente o que se pode querer dele.





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