15.3.06

Louvre light - parte 1

Jean Dominique INGRES eh pintor frances, vivido entre os anos de 1780 e 1867, a quem o Museu do Louvre oferece retrospectiva.

Como muitos antes e depois dele, Ingres adorava (no sentido literal de possuir adoracao) os classicos, especialmente Raphael, e pintou monumentais cenas biblicas, mitologicas e historicas.

Mas se voce perguntar pra mim onde os olhos saltam entre as quase 200 obras da exposicao, a resposa sao os retratos.

"Malditos retratos que me impedem de fazer coisas melhores e que eu nao consigo fazer mais rapido, jah que eh tao dificil faze-los", afirmou Ingres, sem mal saber que estava realizando suas obras-primas.

Os retratos de Ingres brilham. Quase sempre da aristocracia ou da nobreza, que podia paga-los, as figuras possuem um requinte pictorico e uma sensualidade de formas todos proprios. Ha uma luz de "carater" nas imagens. Nas roupas, nos acessorios e, principalmente, nos olhos e nas sutilissimas inflexoes expressivas, a personalidade estah dada.

Tristeza, soberba, solidao escondida entre joias e sedas - seja lah qual for o sentimento definidor da figura humana em qustao, Ingres o delineia com maestria.

(Eh como se a argucia humana de Woody Allen ou Altman encontrassem o refinamento plastico de Visconti.)

E isso pra nem falar da perfeicao assombrosa da composicao cromatica e do tracado, alcancando um naturalismo que, longe de reproduzir palidamente uma realidade, inventa-a.

Mesmo duas das mais importantes obras, as que ilustram o material promocional da exposicao, nao deixam de ser, a seu modo, retratos. "A Grande Odalisca e "A Grande Banhista", apesar de serem "cenas" ambientadas, ainda assim mostram figuras humanas sozinhas em um quadro. A "Banhista", em especial, de costas, irradia uma melancolica tranquilidade, como uma alma flutuante e inquieta - ainda que sua unica inquietacao, naquele momento, seja o momento de, enfim, banhar-se.



Nos 10 retratos que fez, em grafite, de sua mulher ao longo de 36 anos de casado, Ingres colocou sua companheira em diferentes roupas e situacoes. Mas o que eh mais notavel na serie de desenhos eh que o rosto da esposa eh a unica parte da obra pintada com firmeza e intensidade de tracos. Em todo o resto da composicao, a partir do rosto o grafite vai clareando, titubeando, tornando-se claramente um rascunho. Mas o rosto nao. Estah sempre firme e igual - sereno, bonito, olhando para a "camera" com um sorriso timido.

Eh como se, em 36 anos, Ingres sempre soubesse que o rosto da mulher era seu ponto de referencia.

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