24.12.11
sangue, mas com muita higiene
23.12.11
dormir, talvez sonhar
Para por de forma simples:
Senhorhomem
o cafona e o travesti
Krapp, Hurt, Harvey
28.11.11
cumprindo a agenda
A Bela e a Fera e Alladin, em revisão, seguem sendo bons pra cacete.
Os Altruístas tem o MC que Cabaret não tem: Kiko Mascarenhas. Que explode em histrionismo mas o calca em dores tenebrosas, num controle impressionante de registro e sentimento. Merece indicações a prêmios e troféus.
Um Coração Fraco e como Dostoiévski sabe mesmo das coisas...
Tratando de Fazer Uma Obra Que Mude o Mundo (O Delírio Final dos Últimos Românticos) é quase tão boa quanto seu título, tropeçando de leve numa certa redundância de efeito, em seu último terço. Mas comprova um interessante fenômeno do teatro chileno em praticar dramaturgias de impactante 'realismo fantástico', por assim dizer, olhando para os aspectos políticos da vida (e abra-se o leque de compreensão desse termo, 'político'). Que já estava tão presente em Diciembre, do Teatro En El Blanco, e em Villa + Discurso, da Cia Playa. Faz pensar que, aqui, quem produz algo que se assemelhe é Grace Passô, à frente do Grupo Espanca!.
Querido Gus, tenho que te dizer: Inquietos não me pegou. Será que sou eu?
(mas posso elaborar esse pensamento mais tarde...)
22.11.11
5.11.11
corra, é novembro!
E nossa equipe de articulistas-ninja preparou a lista do que você ainda pode fazer antes de se preocupar com as compras de Natal.
- 05 de NOVEMBRO
Se você também já viu os Strokes em 2005, no saudoso Tim Festival, e também vendeu seu ingresso para o Festival Planeta Terra, só há uma coisa a fazer: conhecer o teatro do Sesc Bom Retiro com a peça Credores, em curtíssima temporada. Se a animação for grande, na sequência pesque Fausto, na repescagem da Mostra. No Cinesesc.
- 06 de NOVEMBRO
- 07 de NOVEMBRO
- 08 de NOVEMBRO
Leve seus ouvidos para passear e tire a tarde para ouvir o novo disco de Marisa Monte, O Que Você Quer Saber de Verdade. Delicie-se especialmente com o esmero e a beleza pop-romântico-dramática de Depois, Amar Alguém, Aquela Velha Canção e Era Óbvio.
- 09 de NOVEMBRO
- 10 de NOVEMBRO
- 11 de NOVEMBRO
- 12 de NOVEMBRO
No mesmo ano em que pudemos ver a montagem de Daniel Veronese, Espia a Una Mujer Que Se Mata, aproveite para perceber quantas faces há numa obra prima da dramaturgia. Vá ao Sesc Vila Mariana para hipnotizar-se com a iluminação onírica de Pedro Pederneiras, com o cenário belo e engenhosíssimo de Márcio Medina e para ver, afinal, de que forma a encenação estetizante e de grande requinte plástico de Yara de Novaes encampa os atores do tradicional Grupo Galpão, no clássico russo Tio Vânia (aos que vierem depois de nós).
- 13 de NOVEMBRO
- 14 de NOVEMBRO
- 15 de NOVEMBRO
- 16 de NOVEMBRO
Misturar é preciso: então reveja Tio Vânia registrado no já clássico filme de Louis Malle, Tio Vânia Em Nova Yorque (Vanya On 42nd Street, no original, porque é mais provável que só se encontre pra download), e também Moscou, em que Eduardo Coutinho documenta o Grupo Galpão ensaiando As Três Irmãs, do mesmo Anton Tcheckhov.
- 17 de NOVEMBRO
- 18 de NOVEMBRO
BRITNEY. SPEARS. EM. SÃO. PAULO.
- 19 de NOVEMBRO
- 20 de NOVEMBRO
- 21 de NOVEMBRO
Depois de gravar CD e DVD ao vivo em três apresentações esgotadas no Auditório Ibirapuera, em junho, o coletivo 5 A Seco faz um show de pré-lançamento no monumental Teatro Bradesco. E se você não os conhece, esperamos sinceramente que você já esteja com seu ingresso em mãos.
- 22 de NOVEMBRO
- 23 de NOVEMBRO
- 24 de NOVEMBRO
- 25 de NOVEMBRO
- 26 de NOVEMBRO
Trata-se do último final de semana (e talvez a última chance em sua vida de espectador) de ver Fernanda Montenegro no palco. O texto de Viver Sem Tempos Mortos é muito bom, mas é capaz que você nem preste atenção nele, tamanho o poder encantatório da simples e estrondosa presença da atriz em cena.
- 27 de NOVEMBRO
- 28 de NOVEMBRO
- 29 de NOVEMBRO
Você ainda tem energia? Inquietos, de Gus Van Sant, e Isto Não É Um Filme, de Jafar Panahi, se cumprirem o calendário previsto, serão as estreias cinematográficas da semana. Vá a ambos.
- 30 de NOVEMBRO
(Agora, já pode ir lá tirar o nome do amigo secreto.)
4.11.11
diários da Mostra, dia final: enough is enough
diários da Mostra, dia 11: espetáculos assombrosos
HISTÓRIAS DA INSÔNIA
Ou, um filme ótimo para dormir.
TUDO PELO PODER
* * * *
Um filme de Clint Eastwood dirigido por George Clooney. Ou, como não amar George Clooney, olhando para a moral e pensando a política (não só a das urnas, mas a dos indivíduos), exercendo pleno domínio narrativo na construção de um thriller psicológico eletrizante, escalando um elenco de coadjuvantes brilhantes (incluindo a si mesmo), filmando belos planos, mantendo sua tradição de estupendas cenas finais e, para completar, dando licença para outro ator brilhar no protagonismo?
CAVERNA DOS SONHOS ESQUECIDOS
* * * * 1/2
Um mergulho profundo - e de ressonâncias insondáveis - de Werner Herzog para dentro da História e da ancestralidade de nós mesmos. Um convite a um hipnótico estado de contemplação da condição humana, disfarçado de passeio frugal de parque de diversões. Ou, em palavras de Cássio Starling Carlos (mais uma vez): "Face à evaporação da distância entre o arcaico e o futurista, emerge a questão essencial: o que deixamos de ser e o que ainda somos? Dentro da 'Caverna dos Sonhos Esquecidos' o diretor volta as origens de seu cinema e da humanidade com um espetáculo assombroso."
diários da Mostra, dia 10: a comédia romântica do ano e o cinema francês, de novo
* * * 1/2
Inglês, indie, esperto, jovem (seja lá o que isso significa), confortável e transitório, com o ritmo preciso e a melancolia saborosa de uma balada de Alex Turner - cujas composições temperam a trilha sonora e estabelecem (e sintetizam) as dores e delícias desse pequeno filme.
AS NEVES DO KILIMANJARO
* * * *
É preciso estar com o coração aberto, não há dúvida. Os cínicos invariavelmente se irritarão com
personagens tão benevolentes, lúcidos, humanistas - iluministas, quase, para ficar num ponto de chegada de uma tradição da civilização francesa tão latente no filme. Socialistas de espírito, pessoas capazes de contrariar impulsos primários de vingança e egoísmo para olhar para o bem comum, para construir uma sociedade igualitária e justa. Pode-se acusar Robert Guédiguian de duas ou três inserções canhestras de trilha sonora, mas nunca de não dar a personagens tão arriscados uma verossimilhanca tão plena. Por um lado, através de um roteiro bem urdido, que justifica seus desdobramentos ao mesmo tempo que os questiona, trazendo a lógica iluminista da reflexão racional para dentro de sua própria engrenagem. E por outro, ou principalmente, pelo nível do irretocável elenco, Ariane Ascaride e Jean-Pierre Darroussin à frente, arquitetando um casal protagonista de redentora honestidade emocional.
(Ou, em exatas palavras do crítico Cássio Starling Carlos, na Ilustrada:
"Em seu compromisso de construir ficções de assumido conteúdo moral, Guédiguian não recusa o prazer narrativo (...) e consegue ser pedagógico sem perturbar a fluência dos pequenos dramas. 'As Neves do Kilimanjaro' impõe-se por como faz vibrar um material banal e, assim, mantém viva a tradição realista que fertiliza o cinema francês.")
SHOCKING BLUE
*
Não deu para chegar ao fim. Era desencontrado e tolo demais para ser verdade.
LAS ACACIAS
* * *
Fenômeno argentino, arrebatando prêmios, elogios e louros por onde passa, impressiona, é certo, por sua extrema contenção (ou seria economia? ou concisão?). Trabalha-se com o mínimo: dois atores, um caminhão, um bebê (e que importância tem esse bebê!) e pouco mais. É curioso observar que assim como Ano Bissexto, vencedor do prêmio Caméra D'Or em Cannes em 2010, tal qual Las Acacias foi esse ano, temos um número rarefeito de personagens habitando um espaço de extrema constrição. E de suas solidões individuais, espremidas em locações tão restritas, um mínimo de ação dramática transborda significados e faz surgir, quase sem que se perceba, um filme - somos levados por quase nada e só ao olhar pra trás percebemos a real extensão percorrida. Está é sem dúvida uma obra de esmerada engenharia, dificílima de alcançar com tal eficiência. Mas convenhamos que nem por isso é um feito inédito ou especialmente potente. As plateias cult, no entanto, que gostam de se sentir cultivadas e gostam de saber que aderiram (ou seria "entenderam"?) adequadamente à proposta e experienciaram 80 minutos de caudalosa humanidade (como uma catarata que emanasse de um copo de plástico), adoram. Como vaticinou a amiga Tatiana Fujimori ao final da sessão, com uma ironia tão fina quanto precisa, é a comédia romântica do ano!
SE NÃO NÓS, QUEM?
*
As vinhetas documentais, que o diretor Andres Veiel traz de suas passagens pelo gênero (como o excelente Viciados Em Atuar), é o melhor que se consegue. Porque o resto é chato, chato, chato. (E só piora sob a perspectiva de que, com o mesmo enfoque de acompanhar vidas transformadas por acontecimentos políticos históricos, ou inteiramente movidas na direção de combatê-los ou fazê-los acontecer, há um ano houve Carlos, aquela obra prima.)
diários da Mostra, dia 9: Kazan, Kazan (ou A Vingança de Joshua Marston)
* * * *
Joshua Marston não entregava totalmente, mas prometia bastante em Maria Cheia de Graça, seu longa de estreia. De lá para cá, ele não se rendeu ao cinema comercial americano e, melhor, adensou sua investigação humanitária e marginal (no sentido de olhar para os que estão à margem). The Forgiveness of Blood é um filme muito simples: direto, aristotélico, com construção exemplar sobre conflitos e pontos de virada. Personagens fortes e vividos com impressionante garra e intensidade por atores adolescentes albaneses não profissionais, segundo consta, debatem-se contra forças que estão ancestralmente plantadas em sua trajetória. Numa luta física de sangue que amplifica ambiguidades e descaminhos internos, perdão, fuga e lealdade liquidificam-se nas contradições do estar no mundo (ou, antes, na Albânia, em um estado de excessão que desnorteia fronteiras entre excessão e regra). E o pensamento cinematográfico de Marston, por onde e para onde olha, aquilo que põe em quadro e de que maneira desenvolve cenas, é surpreendente e alentador. Na poeira da maratona da Mostra, é obra que tenderia a não bater com tanta força, mas é preciso reconhecer (e as sensações ecoantes nos dias seguintes a ela reafirmam) que se trata de um filmaço - já que, afinal, muitas vezes o mais difícil é mesmo só contar uma história.
SAUNA ON MOON
* *
Em toda Mostra existe uma cota de "filme turístico", aquele que não se entende muito bem, ou com o qual não se estabelece real envolvimento, mas que dá conta de uma realidade outra, distante, atípica aos padrões nossos. E ao qual, portanto, se assiste sem prejuízo. E do qual, muito provavelmente, um dia, em Mostras futuras, uma cena ou um momento virá à mente de forma vívida - talvez até envolto em aura solar, como uma memória afetuosa.
TERRA DE UM SONHO DISTANTE
* * * * 1/2
Não vamos mentir: o filme é longo e não deu para não tirar um cochilo. Mas o que se dá a ver é realmente monumental, e não só em metragem. Em uma jornada de herói exasperante e bem recheada como um bom melodrama sem ser um melodrama, Kazan sintetiza o 'sonho Americano' (em sua forma literal de imigração, mas também de um certo ideal de prosperidade e de triunfo-vencendo-as-intempéries tão típicos à ética social dos Estados Unidos). A trama percorre extensas e complexas paisagens humanas e o senso narrativo da direção cinematográfica, em todos os âmbitos, é pleno e vigoroso. Há cenas de longos e magistrais diálogos, que resumem com precisão a condição social da vida de um homem hoje tanto quanto deveriam fazer em 1963, seu ano de estreia. No calor daquele momento de então, as palavras da crítica do New York Times dão uma ideia do feito desse enorme filme: "uma pequena odisséia que carrega as conotações de um rico poema épico-lírico".
3.11.11
diários da Mostra, dia 8: o cinema alemão
* * 1/2
Asséptico, gelado, clínico. Eis um filme que só mesmo os alemães poderiam dar ao mundo. É a ilustração detalhada de um relatório médico de um paciente terminal. Cada angústia, dor e suplício é mostrado. Acompanha-se um definhamento progressivo. Existe, sem dúvida, uma respeitável competência em se fazer um filme com tamanha crueza, assim como há um ator protagonista morrendo admiravelmente. Mas não há subjetividade - por que eu quero que esse personagem não morra? (Não sei, não quero, não tem.) Tudo é na base do retrato objetivo. E o drama que emana daí, que não é pequeno, sustenta-se somente nessa verossimilhança processual absoluta, nesse naturalismo de hospital. (O que pensam e sentem esses seres humanos?) De verdade, esse blog já não busca (e não se move com) esse tipo de relação com os filmes que vê.
28.10.11
diários da Mostra - dia 7: mestres em crise
FRANGO COM AMEIXAS
* *
Feito na medida para agradar ao espectador de gosto médio (e como agradou!), não vai além de sua proposta caprichada de design de produção, temperando com belas animações os cenários, figurinos e plano de câmera bastante estilizados (ou pretensamente). Não é nem o fato de se tratar de um sub Amélie Poulain o que mais incomoda, mas a tentativa constante e forçada de ser, como aquele, engraçadinho, espirituoso e/ou fofo, sem haver uma trama decente na qual se sustentar. Há somente um amontoado de digressões, com um narrador onisciente regularmente ilustrado por gags visuais óbvias e semi bobocas. Para aliviar, tem Mathieu Amalric, Maria de Medeiros, Isabella Rossellini, Chiara Mastroiani, todos em relação muito, como dizer, sensual com a câmera. Mas o gosto é de uma indigestão de glicose.
IRMÃS JAMAIS
* *
Quem entrou com a lembrança de Vincere, tomou a maior invertida de expectativa possível. E quem entrou só com a disposição de ver um filme, deparou-se com uma obra estranhamente auto-indulgente, que faz lembrar o Carmel de Amos Gitai, na Mostra de 2009: na vontade de fazer arte a partir de sua própria história, a aparente cegueira que se impõe ao diretor em relação aos aspectos formais da arte em questão impede que o projeto se concretize. Está longe de ser o caso de decretar a derrocada de Marco Bellocchio - estamos mais em um claro momento de tomada de liberdade, de uma espécie de permissividade da subjetivação. O que fica, no entanto, é uma espécie de colagem que definitivamente faz mais sentido e é mais caro ao coração de quem fez do que ao de quem assiste.
AS CANÇÕES
* * *
Existe aqui um interessante impasse na obra de Eduardo Coutinho. São os procedimentos de Edifício Master - pessoas contando uma história de suas vidas; no caso, relacionadas a alguma canção - com a ambientação de Jogo de Cena. Mas as várias histórias não constituem parte de um todo maior, em termos de conceito, discurso e investigação (tanto humana quanto de linguagem). Tampouco existe uma inquietação em relação a forma e ao mecanismo (tanto humano quanto de linguagem), como aqueles disparados em Jogo de Cena e adensados com Moscou. Aqui, estamos em um lugar de muito conforto, para público e cineasta. É, sim, um bom filme, com seus momentos de plena beleza, mas com uma ideia que tangencia a redundância (dentro de si mesma e no contexto geral da filmografia do artista). E não somos nós que vamos jogar pedras na repetição ou no idioleto de Eduardo Coutinho como um mal por si. Mas sua excelência e sua constante busca como realizador talvez tenha nos acostumado a esperar mais do que As Canções apresenta.
OSLO, 31 DE AGOSTO
* * * 1/2
Agora, assim, minutos depois de vê-lo, permanece o desagrado com uma noção de fatalismo com a qual, muito pessoalmente, o signatário não tem se conectado. Ao mesmo tempo, o pensamento formal que rege o filme caminha em um percurso de admirável competência, comprimindo sua ação dramática com concisão e conferindo-lhe respeitável estatura, além de criar algumas excelentes e memoráveis cenas. Quase não é o caso, agora, de classificá-lo (com estrelas, ao menos), porque paira a sensação de que, tal qual uma massa com fermento, está fadado a crescer.
diários da Mostra - dia 6: a beleza da precisão
* * * *
Tudo funciona com a precisão de um relógio finamente artesanal - trata-se, como não, de um cinema que vem da Áustria. O roteiro é exemplar, o esmero e inteligência da decupagem são impressionantes, os tempos são exatos, o ator protagonista é excelente e, para falar dos termos 'técnicos', há uma ideia dominante clara (mas não óbvia), alcançada de forma progressiva e estimulante, e escaldada por um sistema de imagens tão forte quanto sutil. E o melhor: filme a filme, Respirar só cresce como uma experiência de realização milimétrica e de sensações calorosas.
ÓCIO
*
É tão, mas tão insignificante, que é como se não tivesse sido visto.
ELENA
* * *
São muitos os exemplos de filmes cujos finais tomam caminhos bruscos, radicalmente contraditórios ao discurso ético e estético que se erguera até então. Em alguns casos, tais desvios podem passar como deslizes que não apagam a excelência do que fora empreendido até ali. Polissia, visto recentemente no Festival do Rio, é um bom exemplo disso. Em outros casos, no entanto, por alterarem significativamente a rota do discurso, estes epílogos colocam em questão o entendimento e a qualidade (no sentido das características específicas) da narrativa que ali desemboca. Elena, exemplar desta segunda vertente, não passa incólume a seu solavanco: os aspectos morais da história, que vinham sendo tensionados com desnorteante ambivalência, caem por terra em uma fissura inexplicável de ponto de vista e foco narrativo , que descortina um moralismo (ou, no mínimo, uma simplificação moral) imperdoável - e que implode o filme, não permitindo que ele seja realmente grande.
27.10.11
diários da Mostra - dia 5: a surpresa que (sempre) vem da França
LOVERBOY
* *
Tem política, tem aspectos morais, tem um roteiro que não faz feio, mas é mais simples do que isso: Loverboy é muito chato.
GOSTO DE OLHAR AS MENINAS
* * * *
É quase uma certeza: a França sempre nos dará bons presentes. Em Mostras passadas, para ficar em exemplo imediatos, houve Segunda-Feira de Manhã, Mudança de Endereço ou A Família Wolberg, puxados assim sem maiores referências ou expectativas de dentro do turbilhão da programação. Aqui, de novo, este Gosto de Olhar as Meninas vem provar que podemos contar com os franceses. Uma crônica da adolescência passada nos anos 80, mas com ares de atemporalidade, que deixa a dimensão íntima e subjetiva ser penetrada (e retroalimentada) pela política da vida - coletiva, familiar e pessoal. Que não se pense em sisudez, no entanto. A colisão de forças sociais é só um justo pano de fundo para mais uma sensível história de amadurecimento que se safa brilhantemente de ser só 'mais uma'. Pelo roteiro afiado, sempre sugerindo e desviando do lugar comum, farto em surpresas e finos pontos de observação que resultam em deliciosas cenas e tiradas cômicas. Pela honestidade da história e por sua condução sensível e inteligente (em desenvoltura dramática tanto quanto em aspectos estéticos, por exemplo), que possibilitam um fluxo dramatúrgico tomado pela relação de afeto entre espectador e obra. E por um protagonista inefavelmente carismático.
TAXI DRIVER
* * * * *
Re-visto em meio à maratona, ainda que em projeção digital de péssimos resultados, o que mais impressiona não é nem o controle absoluto que Martin Scorcese e Robert De Niro possuem, cada um de sua função. É a forma como a perturbação, o incômodo e o mal estar vão penetrando discreta e epidermicamente no espectador, cena a cena, tirando progressivamente o mundo do lugar, maculando-o com manchas irreversíveis. O que, no fim das contas, é justamente um atestado do controle e da grandeza do trabalho de Scorcese e De Niro - e de todos os demais colaboradores do filme, sejamos justos (ah, e Jodie Foster, já um pequeno assombro aos 13 anos...).
diários da Mostra - dia 4: Miranda July e o tempo como um contorcionista
* * *
Apesar dessa tendência (será que se pode chamar assim?) dos documentários norteamericanos de espetacularizarem o real (será que se pode chamar assim?) até o ponto de ficcionalizá-lo, trata-se de uma narrativa sem dúvida efetiva. Não existe a articulação, a dubiedade e a força de um Na Captura dos Friedman, por exemplo, mas os fatos da história impõe-se (por serem simplesmente muito interessantes) e os artifícios todos, embora às vezes esbarrem no intolerável, quase sempre manipulam com propriedade - e sem querer disfarçar que estão efetivamente manipulado.
OS GIGANTES
* * *
Soa como um daqueles filmes do qual, anos daqui, uma determinada cena ou um flash indefinido virá a cabeça, lembrado com algum afeto. Porque logra, sem dúvida, em carregar o espectador para uma jornada que tem suas belezas (e seus três protagonistas palpáveis e carismáticos), mas que não exatamente alcança um ponto. Isso, como sabemos, não é bom ou ruim por si, mas sobra uma sensação de que a experiência, afinal, embora agradável, não tenha sido tão recompensadora assim.
EU RECEBERIA AS PIORES NOTÍCIAS DOS SEUS LINDOS LÁBIOS
Existe um sentimento muito poderoso que percorre as imagens, as personagens e o jogo de tensões deste novo filme de Beto Brant. Tanto quando existe um sentimento de desconjunto em sua constante tentativa de elevar o drama a um aspecto místico. E existe Camila Pitanga, pairando mesmo soberana sobre tudo. Mas, de dentro do furacão, é difícil dizer um 'gostei',
'não gostei' ou dar estrelas. O sentimento predominante, por hora, é não saber o que predomina.
O FUTURO
* * * *
Nos seis anos que separam O Futuro de Eu, Você e Todos Nós, Miranda July cresceu. Mas não se engane quem ache que ela deixou de lado a 'esquisitice-encantadora' ou a 'fofura-do-inusitado'. Afinal de contas, cavalos sempre terão cheiro de cavalos. Mas da garota de quase 30 que transformava em ilusão poética as pequenezas de seu cotidiano, enquanto idealizava o príncipe encantado em uma loja de sapatos, ela passou para a mulher com medo dos 40 que ficou com seu princípe e se pergunta "e agora?". Aqui, a esquisitice não busca mais ser o desvio de comportamento alentador, nem resulta em pequenas belezinhas da vida ordinária - ela é só esquisitice mesmo. E em assumir essa 'falha', no sentido mesmo da ruptura, e em ousar na tentativa de ainda ser cativante sem medo do repúdio é que July ganha e cresce como artista. Da criança que controla o tempo fazendo-o avançar no final de Eu, Você para o hipster que o congela em O Futuro, Miranda July coloca em questão o ato de dar o passo seguinte: na vida, no amor, no cinema. O lugar em que pousa será sempre comportará discórdia, e nada mais natural para um filme com traços tão fortes de personalidade.
24.10.11
diários da Mostra - dia 3: Anatólia, Hollywood
* * * * (e 1/2?)
Pra começo de conversa, a cópia estava mesmo em 35mm - salve os deuses do cinema! No mais, experiência árdua essa do filme de Nuri Bilge Ceylan. Mas com que força e precisão e rigor. Perto dele, Hanezu e Um Mundo Desconhecido parecem exercícios de relaxamento, filmes meio hippies em sua sensação de 'deixar-fluir'. O curioso é que ao mesmo tempo que Ceylan controla milimetricamente cada plano e cada segundo de sua narrativa intensamente dilatada, o objeto da (na) imagem é de um realismo brutal, como se só 'capturado', sem encenação. Pior (melhor): brutalmente cotidiano e prosaico sobre um pano de fundo permanentemente incômodo e fúnebre. Hipnótico, com uma admirável concentração de tempo/espaço, com personagens finamente nuançados (ao modo da melhor dramaturgia) e uma trama rarefeita em ação e pontos de virada, mas que vai se expandindo e aprofundando como uma poça de sangue que brotasse lentamente de uma fissura no assoalho, inundando tudo o que a vista alcança sem que se quase perceba. E as imagens, poderosas, devem permanecer e ecoar por algum - ou muito - tempo.
SINDICATO DE LADRÕES
* * * *
É um libelo político, um estudo de Kazan - dizem - sobre sua própria culpa, ou uma maneira de defender-se (e contra argumentar) da culpa que nele depositavam. Seja como for, é um filme de estruturas aparentes: pode-se ver com clareza a colocação das peças no tabuleiro e o desígnio da função de cada uma delas. Os personagens são construídos, em vez de se construírem, e não tarda a instalação de um maniqueísmo reinante entre eles. É um jogo político, esse, que impede uma adesão completa não tanto por ser 'esquemático', já que há forças conflitantes o suficiente para que a trama não se afogue em águas rasas, mas só por demonstrar tão evidente esquema (sem elementos suficientes para inebriar o espectador da percepção desse esquema, o que viria a fazer, logo em seguida, Vidas Amargas). Mas se sua posição de clássico não lhe assegura necessariamente uma coroa de obra-prima, tampouco é de se negar que exista, em seu jogo de forças (políticas) um jogo (dramático) muito bem jogado, cenas memoráveis (de quantos filmes se pode dizer isso, realmente?) e Marlon Brando, um trator.
VIDAS AMARGAS
* * * * *
A supremacia do espetáculo. Esse modus operandi tão próprio ao cinema norteamericano nos anos de glória do sistema dos estúdios, com cidades e interiores cenográficos, grandes estrelas, dramas novelescos digeríveis pelas massas, alguns deles de cunho familiar, alguns deles suficientemente complexos, alguns deles emocionalmente épicos, alguns deles brilhantes. Não é que seja a beleza desconcertante de James Dean ou sua composição perfeita de um 'subnormal', do maluquete apaixonante que, renegado, no fim das contas enxerga tudo mais e melhor do que os demais. Não é que seja o roteiro astuciosamente azeitado. Nem a direção de Elia Kazan, que injeta no todo uma escaldante humanidade, sem que jamais deixe de ser dramaturgia. Não é que seja o pensamento visual, responsável pelos belos ângulos enviesados e oblíquos, num diálogo estético tão óbvio quanto surpreendente entre imagem e drama. Mas é que é tudo isso, essa alquimia fascinante e inexplicável que seduz plateias e as envolve e preenche de modo tão essencial - ao ponto de se querer aplaudir ao fim da projeção por simples impulso físico.
23.10.11
diários da Mostra - dia 2: depender da gentileza de estranhos
* * * 1/2
Como em Um Mundo Misterioso, aqui o olhar não pode ter pressa. Se lá habitávamos o movimentado espaço de um ser urbanóide, aqui somos transportados para uma cidade rural japonesa, supostamente berço do país, para testemunhar o fluir da vida de corpos bem mais, digamos, espiritualizados. Mas, de novo, o convite é para que habitemos uma espacialidade e um modo de vida muito próprios (transmitido, pelas imagens, com o mesmo grau de detalhamento e especificidade). E embora esbarre num espiritualismo que, por excesso, às vezes ensaia ser só boboca (ou 'para turista'), na maior parte do tempo Naomi Kawase erege uma fábula delicada sobre a relação do homem com os aspectos naturais que o cercam (ou podem cercar) na esfera mais imediata da existência e sobre essa Natureza verticalizando-se em linha sucessória - avós, pais, filhos, vida em transformação e continuidade. Seu olhar para microprocessos cotidianos (tingir um pano, esculpir em madeira, cozinhar etc) constrasta e potencializa os sentidos que percorrem sutilmente o filme, cujos personagens vivem dramas silenciosos e/ou subexpostos.
UMA RUA CHAMADA PECADO
* * * *
Revê-lo, ainda que em cópia mais ou menos, é puro prazer. De Hanezu para cá, o pulo é gigantesco: aqui o drama explode. Muito deleite na beleza do texto de Tennessee Williams, em seu sentido mais literal mesmo (das palavras que são ditas), na direção inteligente de Elia Kazan, articulando os personagens no espaço, e no magnetismo indelével de Marlon Brando. Mas eis aqui um drama - complexo, pesado e paradigmático - que sobrevive melhor no teatro, sua origem.
LARANJA MECÂNICA
* * * * *
Apesar da cópia estar anunciada errada (supostamente em 35mm, trata-se de uma projeção digital), a experiência coletiva e em tela grande do filme sobrepõe-se. E mesmo tendo a sensação de que não está entre meus Kubricks preferidos, tudo o que ele empreende ali - com a presença hipnótica, avassaladora e indomavelmente desabusada de Malcoml McDowell - é de uma outra ordem, de estatura monumental. E ponto.
diários da Mostra - dia 1: clamores
THE DAY HE ARRIVES
Anunciada como em 35mm, a projeção era digital. E com uma compressão porca. Sem chance.
O DESAPARECIMENTO DO GATO
*
Embora se assista sem prejuízo, tem um resultado desencontrado demais para um filme com prentensões tão obviamente 'claras' e 'tradicionais'. Entre a parábola e o drama, fica-se só com o estapafúrdio - e não do tipo certo.
UM MUNDO MISTERIOSO
* * * 1/2
A julgar por El Custodio, seu longa anterior, Rodrigo Moreno tem um projeto. Aqui, como lá, ele continua fazendo uso de um foco narrativo radicalmente observacional, com planos de câmera e momentos dramáticos bastante ralentados, mas nunca desinteressantes. Trata-se, antes de tudo, do estabelecimento de um microcosmo. No longa de estreia, acompanhávamos o cotidiano cheio de tempos/ espaços mortos de um guarda costas. Aqui, adentramos um outro tipo de limbo: o de um homem abandonado pela namorada. E se definitivamente não é um filme para olhares apressados ou para quem espera por uma história ao modo 'clássico', não deixa de ser uma instigante jornada junto a um protagonista que busca curar uma ferida de modos pateticamente triviais - e até por isso semi grandiosos. Vivendo junto a ele dias onde parece que quase nada se sucede, percorremos caminhos inusitados e cheios de acontecimentos banais e definitivos.
CLAMOR DO SEXO
* * * * *
A cópia está tinindo. E o que mais salta aos olhos nessa enorme obra feita em 1961, mas passada entre 1928-29, não é só o delicioso gosto anacrônico do realismo de um filme de cinquenta anos atrás que fazia a crônica de um tempo trinta anos atrás dele. Há o humor e o amor, mas há uma delirante angústia, que só potencializa a força do resultado como um 'retrato social', na desnorteante persistência de seu assunto: as castrações individuais como prática corrente no comportamento humano. Ou, antes, o ato de ter e criar filhos como o exercício último e maior da tirania.
21.10.11
Mostra Internacional de Cinema de SP - um guia (irresponsável e possível) dia a dia
(Este texto é uma projeção elocubrativa. Para o efetivo diário dia a dia, com impressões, bobagens, estrelas e tudo o mais que o valha, mantenham-se sintonizados.)
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- PS:
14.10.11
5.10.11
cinematográficas
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Esse mundo em que somos oprimidos e opressores
Crítica: Luiz Zanin Oricchio
Da síntese de linguagens entre o realismo crítico e o fantástico nasce Trabalhar Cansa, de Juliana Rojas e Marco Dutra. A dupla opera com duas trajetórias divergentes na história de um casal. Ele foi demitido. Ela começa a realizar o objetivo de ter o próprio negócio.
Ao pesadelo de Otávio (Marat Descartes) opõe-se o sonho de Helena (Helena Albergaria). Pelo menos até que ambos se percebam mergulhados no mesmo beco sem saída. O filme trata do progressivo embrutecimento da dupla. Ele, com o desespero de ter perdido o papel de provedor. Ela, com a alternância para a posição de patroa, desumanizando-se no tratamento a seus empregados. O mercadinho de que agora ela é proprietária transforma-se em metáfora dessa progressão. Há uma umidade que não para de crescer e o ambiente vai tomando um ar de fantasmagoria crescente. É o estranhamento do mundo.
Não se trata de estranhamento aleatório e sim de um comentário político agudo sobre o nosso tempo. As relações entre patrões e empregados são regidas por um autoritarismo que contamina a todos. E, se a sociedade é democrática e hierarquizada, as corporações funcionam segundo preceitos fascistas - como já havia notado o francês Nicolas Klotz em A Questão Humana. Trabalhar Cansa segue a mesma trilha. É uma estreia brilhante.
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- SERÁ??
3.10.11
sorria, é outubro!
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