28.12.06

o homem urso

desde que esteve em contato
com a notória entrevista
da cantora pop
só lhe ocupava a mente
a mesma idéia fixa
de não ser mais ele
e de não ser outra pessoa

por isso
Timothy Treadwell
foi ser urso
mas acabou sendo
somente
um documentário
de Werner Herzog

(no céu das não-pessoas
ele e Klaus Kinski
tomam scotch puro
e comem amendoins
dizem)

a cantora pop

máquina extraordinária


o jornal noticiou o lançamento do novo disco
de uma adorada cantora pop

o jornal revelou que, durante os seis anos em que esteve sumida,
ela não comprou nenhum sapato novo
nem ficou se espreguiçando por aí

“ainda tenho o costume de andar a pé, e a pé os caminhos são mais longos

vamos colocar minha ausência numa linha do tempo
e dividi-la em três fases

o recolhimento
eu me deitava e rolava no chão
chorando
e não recebia visitas

a calmaria
era a casa da praia
não muito longe daqui
eu não recebia visitas

a inspiração
eis que deus me devolveu as canções
e a única visita que recebi
que me quiseram fazer
nessa terceira fase
foi a dele”

cantora pop, você ainda acredita no suicídio?

“não, não mais”

e ainda não acredita em casamento?

“em casamentos passei a acreditar”

quando diz em sua canção
que foi estuprada aos nove anos
é a verdade?

“desde setembro de 84 que sonho
em encontrar uma pessoa
que não seja eu
e que não seja outra pessoa”
o jornal noticiou o retorno da cantora pop
com alguma ironia

“eu ainda choro e quase sempre é ao redor das dez da noite, e várias vezes me encontro andando pela praia quando estou na casa de praia, mas isso é o presente e eu não consigo dividir o presente em fases. vocês conseguem fazer isso? me parece muito complicado.”

o jornal noticiou
a pausa que a cantora pop fez
antes de continuar

“na canção eu digo que sou uma máquina extraordinária porque tudo que acontece eu consigo aproveitar, coisa boa, coisa má, tudo que me acontece eu uso. o meu terapeuta disse que essa é a melhor fase da minha vida, essa pela qual estou passando agora, mas o meu terapeuta, apesar de não ser eu, infelizmente é outra pessoa. prometi a ele que tudo ia ficar bem. mas as histórias precisam ser contadas ao contrário pra que os finais sejam felizes, e não se pode fazer isso por causa da linha do tempo. me parece muito complicado.”

estas últimas falas
o jornal não noticiou
por falta de espaço

(M. Dutra)

27.12.06

esclarecimento

eu não acredito em Natal.

nem em Reveillon.

14.11.06

eu acredito nas mentiras que invento
nem sei quantos anos eu tenho
coração de arquitetura sofisticada
faço este poema porque te amo
ou te amo para fazer este poema
quando é que eu me engano
lágrimas dentro do cinema
ratos dentro do piano
mais um lance de dados
me iludo em todo caso
mentir
jamais
abolirá
o acaso


Beatriz Azevedo in Peripatético

18.10.06

contagem regressiva

A Mostra está aí e, junto com ela, toda uma empolgação anualmente renovada.

Vai ter diário de Mostra , que é o lado A desse lado B daqui.

9.10.06

por que você não vem morar comigo?

"não ligo
se é caretice
ou romantismo brega
um dia em mim
essa aflição sussega
more comigo
e traga seu amor"

findesemana

um aniversário no apartamento
um aniversário no karaokê
um aniversário no MacDonald´s

e eu queria ser Glenn Gould
ou talvez Thomas Bernhard

queria fazer um filme
ou vários deles
que fizessem chorar


(porque de feliz já basta a vida)

(será?)

28.9.06

amizade

E, assim, numa madrugada de quarta-feira, isso deu origem a isso:




Rafael diz:
e o www.jblog.com.br/rafaelgomes.php ? com texto postado AGORA, sobre A Dama!

Rafael diz:
!!!!!

amigo diz:
ai será que é o momento?

Rafael diz:
acho que NAO

(pausa)

amigo diz:
“Passamos a hora seguinte sendo bombardeados por personagens coadjuvantes que variam entre o absurdo e o irritante - alguns que parecem ter saído da trama de uma novela B. “

amigo diz:
hello, isso é BOM!

amigo diz:
ai, não lerei

amigo diz:
não será vc o detrator a me convencer

Rafael diz:
nao quero te convencer

Rafael diz:
e isso é BOM se esse for o espírito geral

Rafael diz:
e coerente

Rafael diz:
não se for mais uma das 300 disparidades

amigo diz:
“No lugar do fascínio e do mistério e da ambigüidade que deveria haver para que fosse erigida uma verdade cênica inconteste que sobrepusesse à inverossimilhança a autenticidade de um universo fabulístico, o que vemos é um filme desgovernado, que bate a cabeça de um lado e de outro sem jamais encontrar sua coerência.”

amigo diz:
juro, vc descreve um filme bom

amigo diz:
o filme dos seus sonhos é A PRINCESINHA

Rafael diz:
é A Vila

Rafael diz:
eu falo em inteligência e sofisticação e em semânticas e discursos. não estou falando de A Princesinha

amigo diz:
a dama e a vila são irmãos gêmeos

amigo diz:
um forte, outro frágil, como costuma ser

Rafael diz:
sim

Rafael diz:
exatamente... FRAGIL

amigo diz:
inteligência e sofisticação? seu filme é closer

Rafael diz:
nao me abre espaços para gostar

Rafael diz:
ou para compactuar

Rafael diz:
ou para ser condescendente e ver qualidade no que é claramente defeito

Rafael diz:
isso pode acontecer, mas quando eu vejo tentativa legitima e integridade afetiva

Rafael diz:
em Dama eu só vejo pretensão

Rafael diz:
e arrogância, quase

Rafael diz:
quase

amigo diz:
e por isso vou odiar o outro irmão? não é possível dedicar ainda mais amor ao irmão frágil?

amigo diz:
esse é meu ponto.

Rafael diz:
ah!!

amigo diz:
vc não gosta da Dama e tem PENA!

Rafael diz:
já entendi TUDO

amigo diz:
justamente por ser frágil, é delicado, por PRECISAR de mim, merece maior atenção e cuidado.

amigo diz:
hahahahahaha

amigo diz:
o q vc tem é má-vontade.]

Rafael diz:
já te decifrei

Rafael diz:
vc NÂO GOSTA do filme

Rafael diz:
mas ama o Shyamalan, ou que amar

Rafael diz:
e quer amar o filme tb, apesar de ele, evidentemente, não te dar mto espaço para isso

Rafael diz:
porque vc não é burro, vc sabe entender e diferenciar as coisas

Rafael diz:
mas daí vc fica com pena do filme, vc praticamente se projeta no filme

Rafael diz:
vc se iguala a ele em suas fragilidades...

Rafael diz:
e passa a gostar!!

Rafael diz:
EUREKA!!!

Rafael diz:
MEU DEUS, EU ACABEI DE ENTENDER O SEU PENSAMENTO CINEMATOGRÁFICO!!!!

Rafael diz:
GENTE, TO TAO FELIZ QUE PRECISO COMPARTILHAR COM ALGUÉM

Rafael diz:
(aposto que é assim com Espanglês tb...)

Rafael diz:
(que, aliás, eu vou alugar sexta-feira)

amigo diz:
"vc se iguala a ele em suas fragilidades..." não fale isso como se fosse a descoberta do século. e não fale isso como se não fosse uma forma possível de ver e pensar cinema, nem como se não fosse talvez A MELHOR forma de ver e pensar cinema.

amigo diz:
sua crítica tá no nível do resto, desculpa.

amigo diz:
pode ir escrever no NY times

amigo diz:
ou na veja.

amigo diz:
e deixe ESPANGLÊS fora disso, que não tem nada a ver.

Rafael diz:
aposto que tem a ver

Rafael diz:
e NUNCA MAIS na sua vida me compare à Veja

Rafael diz:
senão pode parar de me ler já

Rafael diz:
e foi, sim, uma GRANDE descoberta

Rafael diz:
e, não, não acho o melhor jeito de pensar cinema

Rafael diz:
mas adorei entendê-lo

Rafael diz:
porque isso explica muita coisa sobre você

Rafael diz:
e sobre o cinema

Rafael hp diz:
e a minha crítica não está no nível do resto nada. tá MUITO melhor

Rafael diz:
eu pelo menos abro espaço pra discussão

Rafael diz:
e explico bem porque EU não entrei no filme

amigo diz:
ué, a manola tb

amigo diz:
ela tb

amigo diz:
mas é tipo "o filme não é bem construido"

amigo diz:
the end

Rafael diz:
mas a manhola é ótima

amigo diz:
não sempre

Rafael diz:
eu não disse isso, que o filme não é bem construído

Rafael diz:
vc nao entendeu nada

Rafael diz:
vc que está no nível dos maus leitores

Rafael diz:
hahahaha

Rafael diz:
não merece nem a mim nem Manhola

amigo diz:
gente do céu!

Rafael diz:
seu adorador-cego-de-Shyamalan! incapaz de ver os filmes além de seu próprio nariz!

amigo diz:
eu não acredito q vc tá SE defendendo e defendendo a manola!
a manola tem lá seus momentos, mas eu acho que ela se acha dona de piadas incrívreis e cinismo ímpar, o que já a aproxima demais da boscov pro meu bico

Rafael diz:
vc está SE defendendo... e eu não posso?

amigo diz:
eu não sou crítico

Rafael diz:
vc está se defendendo como espectador adorador de filmes ruins só porque vc se projeta neles

Rafael diz:
vc e a Pauline Kael

Rafael diz:
e a Manhola tá anos luz de uma Boscov

Rafael diz:
se vc não puder ver isso, I rest my case

amigo diz:
se vc não puder ver isso, I rest my case?

amigo diz:
rafitcho querido

amigo diz:
temos maneiras diferentes de ver e julgar filmes, e uma não é melhor que a outra

amigo diz:
98,9% da pop mundial não gostou da dama

amigo diz:
por outro lado

amigo diz:
82,8% não gostou da vila

amigo diz:
por outro lado

amigo diz:
90% não gostou de festim

amigo diz:
e ninguém hoje conseguiria ver inteiro greed ou cidadão kane

amigo diz:
a questão é

amigo diz:
não existe a objetividade que você tenta fazer parecer que existe no seu texto, ou nos seus textos em geral

Rafael diz:
ERRO

amigo diz:
um dos motivos por eu não gostar de closer é que não há ali personagem que me faça bem ou me dê conforto, o filme não me dá opção que não rejeitá-lo, e pouco importa se isso acontece porque eu tenho complexo de édipo

amigo diz:
a dama na água não é um filme ruim

amigo diz:
vc simplesmente não comprou

amigo diz:
e pouco importa se é pq vc tem complexo de édipo ou outra coisa qualquer

amigo diz:
só não me venha dizer que É "um filme desgovernado, que bate a cabeça de um lado e de outro sem jamais encontrar sua coerência."

Rafael diz:
mas é

Rafael diz:
vc pode gostar disso

Rafael diz:
mas que é é

amigo diz:
ruim?

amigo diz:
ruim não é.

amigo diz:
me envolvendo ou não, gostei do filme nas 3 vezes,

Rafael diz:
os filmes alemães tampouco são...

Rafael diz:
a culpa é nossa

Rafael diz:
ah, façavor!

Rafael diz:
e diga qual é o argumento daquela srta., que aparentemente é o único que vc respeita.

amigo diz:
ela acha que ele deixou a convenção de lado demais, e ela precisava disso

Rafael diz:
"disso" o que?

amigo diz:
ela precisava de ALGO no filme que não fosse simbólico, pq isso tende a deixá-la cansada

amigo diz:
ela precisava de um pouco de spielberg na parada

Rafael diz:
e ESSE é um argumento válido???

amigo diz:
um pouco de diversão sem conteúdo, bicicletas voando e tal

Rafael diz:
então se eu explicar pra vc a minha vida psicológica

amigo diz:
bem, eu entendi...

Rafael diz:
e associa-la a meu desgosto, vc entende...

Rafael diz:
ah!

Rafael diz:
tchau!

amigo diz:
querido. pare com isso.

amigo diz:
vc tá numa posição mais perigosa ué!
é normal.

amigo diz:
vc escreve e solta pro mundo.

amigo diz:
não tem jeito.

amigo diz:
aconteceria o mesmo se eu fosse fundo em qualquer coisa de que gosto.

amigo diz:
e deveria acontecer o mesmo com todo mundo, por que a OBJETIVIDADE JORNALÍSTICA é algo que tem me dado cada vez mais nojo.

amigo diz:
mas eu te amo!

amigo diz:
sempre!

amigo diz:
é como vc e o jc se ele votasse no maluf

amigo diz:
por favor não vamos dormir sem reafirmar nosso amor eterno?

Rafael diz:
daniel sugere que eu publique a briga no blog

Rafael diz:
vai ser JÁ!

amigo diz:
QQQQQQQQQQQQQ?

amigo diz:
morraAAAAAAAA!

Rafael diz:
nao revelarei seu nome

Rafael diz:
e abrandarei as partes comprometedoras

amigo diz:
pode ser

amigo diz:
mas veja

amigo diz:
1- deixa eu ler antes?

amigo diz:
2- não pode comentar. é só a briga e ponto.

Rafael diz:
1 - vc acha que MERECE?

amigo diz:
sim, pq eu quero ver se tá fiel.

(pausa)

Rafael diz:
Closer é uma OBRA PRIMA!!!

amigo diz:
hahaha

amigo diz:
é, foi indicado ao oscar!

Rafael diz:
isso

amigo diz:
que nem crash

amigo diz:
essa parte tb vai ser publicada?

ah, Manuel!

"- Eu sempre te amei. Mas como se fosse pra daqui a pouco."

25.7.06

veja bem

Saba, curta-metragem de Gregorio Graziosi e Thereza Menezes, vaporiza o real em esplendor fotográfico, desautoriza a objetividade e utiliza o mais pessoal dos olhares para traçar um retrato de verdade absoluta.

E de beleza sufocante.

Acompanhando um dia na vida de um casal de idosos, o que o par de diretores faz é inventar uma realidade cinematográfica a serviço de registros verdadeiros. A câmera, aqui, perscruta sempre pelo lado menos óbvio. Mostra escondendo. Deixa entrever e subentender em detalhes, em angulações, em vieses.

Utiliza de forma precisa um tempo - narrativo - de contemplação para chegar a uma verdade - construída - sobre o Tempo - o de letra maiúscula. Faz-se mais e mais sincero na medida em que assume mais e mais o seu filtro – filtro visual e sonoro que reside num olhar apurado, numa sensibilidade comovente e num senso estético acima de qualquer suspeita.

(Sim, porque, se ainda não deu para entender, Saba é um documentário. E dos mais íntegros.)

Que seu final chegue quase como um anti-clímax não diz necessariamente nada de bom ou de ruim para e sobre o filme. E se como desfecho ele tampouco se realiza plenamente, a culpa não é, de forma alguma, da escolha ali empreendida.

Na busca por um responsável, fique com a explosiva singeleza, causadora de doses redentoras de encantamento, que move o curta-metragem.

Ela nos faz querer mais do mesmo.

10.7.06

( )

"a vida separa as pessoas, Glorinha. pra não separar, só fazendo muita força."

23.6.06

rocha

(NOTA: vale lembrar, antes de qualquer coisa, que "oficialmente" o diário aberto de r transferiu-se para o Jornal do Brasil, AQUI. Leia postagem abaixo para maiores explicações.)


De Paulo Mendes da Rocha, hoje, na Ilustrada:
(negritos meus)


CIDADE "A idéia de cidade é amenizar a aflição. Eu saio do trabalho, encontro um amigo e posso tomar uma cerveja num bar."

LIBERDADE "Temos que ser livres de fato. E sentar na rua. Já amanheci deitado com um amigo na sarjeta na praça da República e não aconteceu nada. Em qualquer desses bairros privados, teríamos sido metralhados. Em certos bairros, se eu for pra lá, já vão me perguntar o que eu estou fazendo. Se disser que não sei, que fui passear, vou em cana. Isso é um absurdo. A cidade é democrática. A cidade é livre. O que acontece com essa classe temerosa que se autoalimenta do pavor? Dizem: "Não há segurança". Como pode haver segurança para quem tem filhos? Como? Botar um guizo em cada filho? É impossível. É uma idéia tola, a da segurança, e um instrumento da exclusão."

BURGUESIA "Quando o coro canta na escadaria do teatro Municipal, toda aquela área fica em silêncio. A cidade que a burguesia despreza é muito mais educada do que ela imagina. (...) A parte mais educada da população habita todo dia a cidade. Senão 10 milhões de pessoas não conseguiriam todos os dias fazer o que fazem. Vêm, com dificuldade, voltam, consomem e alimentam o mercado. E dão lucro para os que desprezam a cidade."

SHOPPING CENTER "O problema do shopping center não é do arquiteto que o fez e sim a idéia de confinamento que destrói a cidade. Uma cidade não pode ser feita de quimeras. Ela é feita de botequim, de padaria. Poucas vezes eu entro em um shopping porque me sinto mal. E o que acho pior é a praça de alimentação. Eu já trabalhei no sertão e vi como se dá alimento para os animais. Praça de alimentação parece um lugar para distribuir ração."


E AÍ, DÁ PRA DISCORDAR?

QUEM ACHA QUE SIM, LEVANTE A MÃO.

20.6.06

MUDANÇA

A partir de hoje, 20/06/2006, a vigília cultural d' o diário aberto de r ganha casa nova.

Fomos cooptados pelo Jornal do Brasil e uma coluna, com atualizações obrigatoriamente mais constantes do que as encontradas até então aqui, pousará agora por lá.

Na edição online do Jornal, na sessão de blogueiros, você pode me encontrar AQUI.


Este espaço não morre, mas torna-se mais pessoal, por assim dizer.

Para saber o que eu sigo pensando sobre cinema, teatro, música e muitos afins, vá .


Para trocas e assuntos mais subjetivos, continue dando um pulinho aqui, vez ou outra.


E, de qualquer forma, muito obrigado, mesmo, pela audiência.

15.6.06

o desejo e o acaso

Há pessoas que venderiam a mae por isso.

E eu, que nao planejei, nao vim pra isso, nem ao menos sei se queria, vou ao Sónar. Em Barcelona.

E estou achando ÓTIMO!

13.6.06

logo...

Em breve, novidades.

Por hora, España!

5.6.06

muitas outras coisas

Alguma Coisa Assim, curta-metragem de Esmir Filho recém premiado no Festival de Cannes, com lançamento nacional amanhã, na fatídica data de 06/06/06, é um filme muito bonito.

Porque a princípio as coisas parecem ser de um jeito, quando na verdade são de outro. E mesmo quando se tornam diferentes, não são só aquilo que parecem ser. São muitas outras.

Numa "noite de aventuras", uma garota e um rapaz de 17 anos saem para se divertir. Acabam por descobrir ou revelar mais do que isso, para si mesmos e para o outro. E revelam à platéia sentimentos e sensações que circundam no máximo incoscientemente suas esferas diegéticas de ação e pensamento.

Essa, talvez, seja a grande qualidade do filme, ao redor da qual orbitam as outras. Caio e Mari são personagens muito bem desenhados em sua origem e muito bem conduzidos por dois competentes intérpretes. De tal forma que a trama não possui um conflito ou um desenvolvimento narrativo tradicional. Não existe um "ponto de virada" ou necessariamente um obstáculo a se transpor, em termos do que se vê habitualmente como ação dramática.

Os acontecimentos sucedem-se, em sutil cadeia de causa e efeito, da forma mais natural possível, deixando para o interior dos personagens os tumultos. Que não são obrigatoriamente debatidos ou explicitados. Numa carpintaria dramática cuidadosa, dá-se à dupla na tela uma existência cinematográfica íntegra e consistente a ponto de não precisar haver dramas.

Os diálogos que testemunhamos, da mesma forma, roçam o ponto nevrálgico e desviam-se dele cuidadosamente. Envolvemo-nos exatamente por aquilo que não sabemos e que queremos descobrir.

E descobrimos muitas outras coisas, enfim. Se o conflito dos protagonistas fica longe de ser solucionado, o que o diretor Esmir Filho nos oferece é uma agitada e acolhedora cantiga de ninar, cheia de esperança, frustração, ilusão e dor.

Que todo rito de passagem é doloroso já se sabe. Mas a sensação de leveza e felicidade plena em resguardar-se dessa dor num supermercado, em uma madrugada urbana, deixando as responsabilidades (de crescer, de reconhecer-se, de assumir-se) para amanhã, atingindo um momento de suspensão em que a alma quer somente ser livre e não arder, não se tem a toda hora.

E nem em qualquer filme.

Em que pese todo o envolvimento afetivo do autor das linhas com o curta em questão e com os responsáveis mais diretos por sua realização, sobressai o espírito crítico puro e simples, em busca da lucidez.

Com a consciência de que algo de valor faz-se notar acima das subjetividades, vale dizer que Alguma Coisa Assim é uma pequena jóia.

Na qual, em um trabalho conjunto dos mais afinados, não se pode deixar de destacar o olhar sensível e terno do realizador acerca dos seres humanos, suas gramáticas sentimentais e conflitos internos, e o brilho da atriz Caroline Abras como um talento a se observar.

Entre tantas outras coisas, vale a pena descobrir essa daqui.

a Mostra, as estréias

Três ótimos filmes atualmente em cartaz foram vistos durante a Mostra Internacional de Cinema de 2005. E talvez por isso "o diário aberto" não dedique a eles comentários frescos, colhidos no calor da estréia.

Sobre Caché já deu conta o post imediatamente anterior.

Estrela Solitária e A Criança, aparecem em comentários transpirando de imediatez, nos arquivos deste blog.

Assim chamada volta-à-forma de Wim Wenders, Estrela é um filme bastante consistente. Não possui o equilíbrio narrativo-emocional de Paris, Texas, como querem crer alguns, mas oferece muitos prazeres. Numa trama que anda cambaleando em linha reta (e isso não é juízo de valor), o filme circunda e atinge inquietações em amplas e estreitas esferas. Há cinema, há família, há identidade e ego. E há bastante o que se gostar - suficiente para que o filme merece uma re-visita.

A Criança quase oprime com seu naturalismo atordoante. É a técnica e o idioleto cinematográfico dos irmãos Dardenne atingindo um pico de qualidade. Seco e brilhante, é casamento perfeito entre ética e estética. E um trabalho artístico dos mais admiráveis.

Se você liga para cinema, não perca de jeito nenhum.

1.6.06

sobre conversas cinematográficas

Filmes conversam.


Caché
, atualmente em cartaz em São Paulo, bate-papo diretamente com o bastante recente Marcas da Violência, atualmente disponível em DVD.

Ambos versam sobre a inexorabilidade de passados maculados. Homens atormentados por personalidades e acontecimentos de outrora, aos quais preferem sobrepor-se, os quais gostariam de sublimar, esconder.

Em linhas gerais, ambas as produções possuem a mesma história, o mesmo ponto de conflito. E como são dois portentosos filmes, vale a pena descobrir com cuidado os distintos olhares cinematográficos lançados sobre o tema por dois diferentes realizadores.

Michael Haneke já oferecera um magnífico filme fragmentado em torno de uma contundente idéia em Código Desconhecido. Agora oferece mais um excelente estudo sobre chagas sociais refletidas na vida pessoal e vice-versa. Aqui, o indivídio é agente e produto de seu meio. É resultado de tensões externas que o governam mas também responsável pela manutenção dessas tensões.

Como em um bumerangue psicológico, colonização, subjugamento e crimes voltam, vem, voltam. Pousam em cantos obscuros do passado, explodem à superfície em algo tão banal como uma imagem que não mostra nada. Ou que mostra exatamente tudo?

Com a figura impassível de um assombroso Daniel Auteil, protagonista, Haneke monta um jogo meta-cinematográfico, que mistura peças acerca da linguagem narrativa, da superexposição em uma era supervisual e das camadas (visuais) sombrias enjauladas na mente de um homem.

Demiurgo que se coloca em cena, brilhantemente disfarçado, provocando a platéia sobre si mesmo e sobre o papel dela mesma como voyeur de uma vida encenada, o cineasta (e)leva Caché a um nível intelectual dos mais instigantes.

Sem em nenhum momento deixar de fazê-lo evoluir narrativamente, em uma diegese que transita num suspense finamente construído.

Para o que, vale dizer, colabora o indefectível vigor artístico de Juliette Binoche.


Não deixe de observar a conversa entre Caché e Marcas da Violência. E converse com ambos os filmes você mesmo.


**************************


A Concepção
pode ser imperfeito, irritante até, para alguns, mas aí reside seu vigor e seu papel na atual cinematografia brasileira. Filme irregular em ritmo e disperso em algumas (boas) idéias - o que não necessariamente é algo ruim - traça um caminho de ousadia que chacoalha a banalidade e a simples inabilidade narrativa que vem assolando algumas produções recentes - o que necessariamente já o torna digno de nota.

A idéia de indivíduos rebelados contra leis sociais, isolando-se em uma comunidade onde façam as coisas a seu próprio modo, uma espécie de paraíso pessoal, é antiga.

Bem-Vindos, A Praia e Os Sonhadores são alguns dos filmes recentes que lidam com esse tema. Neles, grupos maiores ou menores de pessoas buscam um idílio íntimo através do isolamento, da quebra de regras ou da simples construção de novas, supostamente mais adaptadas a seus próprios anseios.

Em todas as histórias, no entanto, a sociedade alternativa rui, abalada por uma brutal invasão do mundo real em suas esferas - invasão essa que aparece em diferentes formas e situações.

Em A Concepção não é diferente. A felicidade coletiva que não encontra barreiras moralistas e castradoras no real, dada sua existência isolada, acaba também implodida.

Fica, portanto, a sensação nostálgica de um paraíso perdido, de um sonho vivido pela metade. E essa idéia, da impossibilidade de lograr um estilo de vida que fuja das normas reinantes, pois acaba ele também sendo subjugado por elas, é consistente. Faz pensar.

E A Concepção transmite com bastante eficiência essa e outras sensações. E abana a poeira em seu formato narrativo, misturando linguagens, técnicas, pontos de vista.

Há, sim, fragilidades, dependendo do que se olhe e por qual perspectiva. Mas há interesse, aqui. Detratores podem estar certos, defensores também. Mas com tantos (aclamados) filmes que têm rigorosamente nada, esse aqui tem alguma coisa.


E conversa, ele também. Converse. Venha bater esse papo.



PS: Se a brincadeira é fazer relações, ouça e perceba o quanto a canção "Além do Horizonte" (Roberto e Erasmo) conversa com as realidades alternativas descritas nos filmes citados acima. E perceba o quanto a jovem "Vilarejo" (Monte/Baby/Brown/Antunes) conversa com sua antecessora musical (né, M.P.?) e, por consequência, também com os filmes.

30.5.06

filmes, teses, diversões

Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.

Diretores talentosos existem, diretores extraordinários também, cinema político existe, da mesma forma. E existe, claro, o cinema que podemos chamar de "de diversão".

Bryan Singer é um cineasta talentoso. Provou isso com sua estréia em longas-metragens, Os Suspeitos, e confirmou, entre altos e baixos, com O Aprendiz (Ian McKellen estava lá...)

X-Men e X2, por serem veículos gigantescos da máquina (de fazer dinheiro) hollywoodiana, nem poderiam ser autorais. Mas possuem um tom, uma levada, um ritmo e um ponto de vista que os fazem funcionar muito bem como cinema de entretenimento. Isso é, em grande parte, proeza de Singer.

Ambos os filmes, duas primeiras partes da trilogia agora (supostamente) concluída com X-Men - O Confronto Final, possuíam, lá no seu fundo, um tom moral, que vinha em forma de grito de alerta a favor dos diferentes.

Louvável, sem dúvida, e, mais ainda, essencial para que o filme funcionasse como funcionava, para que tivesse sua integridade.

Apesar de com algo a mais, eram filmes legais. Nunca obras-primas, nunca estudos sobre preconceito e discriminação, nunca obras pretensamente políticas.

Achar que Brett Ratner, diretor dos medíocres Hora do Rush e Dragão Vermelho, entre outros, transforma a terceira instância da saga X-Men em um farto libelo político é pura bobagem de alguns críticos.

Só mesmo com um nivelamento intelectual muito baixo se pode querer achar em X-Men - O Confronto Final um filme que vá muito além da diversão.

Ótima diversão, vale dizer. Com atores no ponto (olha Ian McKellen lá!), direção bastante alinhada com a proposta e um olhar ligeiro sobre as coisas à nossa volta. Mas só isso.

Querer mais é esquecer o que o cinema já fez, em termos de consistência dramática, qualidade artística e importância histórica, em seu diálogo com o mundo.

mais um pouco

Marisa Monte, depois de uma estréia tensa e nervosa, deitou e rolou na noite de domingo, 28/06.

Tiago, Henrique, Drow, Fabiana, Daniel e Marco não me deixam mentir. A cantora estava leve, solta, quente, risonha, dançante, brincalhona.

Fez jogo de cena (tímido), cantou lindamente, contagiou com pouco - olhares, tons, sorrisos.

Verdade que a platéia ajudou, urrando de entusiasmo a cada mínimo gesto vindo do palco.

Mas a energia dessa apresentação fez dissipar qualquer dúvida ou ressalva que se pudesse ter acerca de Universo Particular. (Mentira: as caixas de luz do cenário ainda se mexem demais da conta.)

Marisa Monte é Marisa Monte. Isso é claro e nunca truque. Cabe ao público que aprecia atirar-se sem receios.

saudade

O Código Da Vinci dá saudade de Munique.


(E nos faz lembrar o quanto o filme de Spielberg é bom, subestimado e com que habilidade consegue aliar "fatos históricos" à "filme de ação").

24.5.06

os códigos McKellen

O Código Da Vinci utiliza - mal - rigorosamente todos os códigos de uma certa gramática cinematográfica para filmes de "aventura", conhecida como hollywoodiana.

Porcaria de filme que, olhado a rigor, mesmo que sem muito cuidado, é ruim em todos os sentidos.

A começar pelos flashbacks mais assombrosamente pavorosos do cinema recente.

Os personagens são simplesmente patéticos em suas personalidades e alavancam a trama dizendo alguns dos diálogos mais imbecilmente didáticos a já aparecer em um blockbuster.

O desfile de frases feitas - e mal feitas - fazem as pessoas na tela serem tudo menos pessoas. Suas personalidades inexistem, e, mesmo imersos na superficialidade, não há um só pequeno toque que os faça interessantes.

O tom soa errado, enfim. Num carrossel frenético, onde conspirações seculares ganham a cena, crer piamente no que se está fazendo, levando a coisa toda a sério demais, adotando um ar de gravidade que de tão inócuo e in-crível roça os limites do francamente estúpido, é o grande erro da direção e do elenco.

Tom Hanks, Audrey Tatou, Jean Reno, Alfred Molina e Paul Bettany não dão o mínimo às suas composições, não são em nada aceitáveis. São todos caricatos, planos, bestas, ridículos. Bettany, em especial, ultrapassa o suportável, tentando fazer o público realmente acreditar em seu monge albino, um escravo de Deus.

Pensamos que se o tom geral fosse o de assumir a inverossimilhança, como o faz um Indiana Jones ou um Missão Impossível, por exemplo, tudo poderia ser delicioso. Mas não aqui.

(Sean Connery e Judy Dench, participações estreladas em filmes de ação de outrora, são bons exemplos a se reter como guias).

A exceção, como não podia deixar de ser, é Ian McKellen. Ator enorme, entende o que está fazendo e como deve fazê-lo. Longe de salvar um desastre tão grande como esse, ao menos tem ginga e traquejo. Faz rir, dá medo, envolve. Sua entrada em cena ocorre em um momento chave, e com sua presença cênica hipnótica e sua voz cadenciada em palavras bem ditas (calejada em anos de Shakespeare nos palcos londrinos), dá show à parte. Show que mantém firme até sua última e irresistível linha de diálogo.

MacKellen é experiente nesse tipo de trabalho. Ator de capacidades assombrosas, parece ter resolvido curtir, assumindo papéis importantes em diversos filmes, por assim dizer, artisticamente menores. Começou com X-Men, onde agora chega a seu terceiro episódio, e desempenhou papel fundamental nas três partes de O Senhor dos Anéis.

Sabe há tempos, portanto, o que é ser a reserva de qualidade de um blockbuster. Acima da bobagem generalizada, inverte a história a seu favor, carrega a platéia no bolso, saber divertir-se e divertir com aquilo. Lê a partitura a seu modo e esse acaba sempre sendo o melhor modo. Em O Código Da Vinci, é mais do que nunca evidente seu destaque. É o único ser crível, o único que sobrepõe-se à planitude e dá um pouco de gosto a esse caldo tão anódino.

Sem contar que é capaz de mais emoção com uma pequena inflexão do rosto do que Tom Hanks durante toda a projeção - fala-se, atenção!, desse caso específico, já que não é segredo que Hanks é, quando quer, um grande ator.

(E por que, meu deus, por que aquela sugestão de romance entre Hanks e Audrey Tatou??? É o ridículo atingindo picos...)

O New York Times, em crítica recente, recomenda ao leitor que agradeça ao deus de sua preferência pela presença de Ian McKellen. Recomendação refeita, portanto.


Com tudo isso, O Código Da Vinci é um caso de bom-às-avessas, quase sem querer. Tão ruim, tão formulaico, tão desacertado, que acaba sendo uma grande-bobagem-boa. Como McDonald's, por exemplo. Para quem se entrega e permite afundar na lama, deglutível, sem dúvida. E se você é daqueles que vai descobrir a trama no momento mesmo da projeção, você tem sorte. É capaz, e até provável, que você se envolva.

Mas, daqui a alguns anos, quando a febre e o hype passarem (hype que já virou anti-hype, graças à acolhida feroz que a crítica mundial reservou ao filme), vai sobrar rigorosamente nada.


O Código Da Vinci está fadado a ser, no máximo, um item a mais na filmografia de Ian McKellen.

quem quiser olhar que repare

Irma Vap - O Retorno não é só uma vergonha em seu roteiro, em sua idéia, em sua proposta.

É, especialmente, uma vergonha em sua finalização. Um lixo, pra ser breve.


A Concepção pode ter os altos e baixos que se quiser atribuir (e falaremos deles fortuitamente), mas não se nega, em hipótese alguma, a altíssima qualidade da finalização.


Cada um deles foi finalizado por um dos dois grandes laboratórios brasileiros.

Quem quiser comparar que olhe.

20.5.06

mais!

(Se você não estava ontem na platéia paulistana da estréia da turnê Universo Particular, de Marisa Monte, não continue lendo esse texto, sob o risco de perder algumas boas surpresas. E se você não estava ontem na platéia paulistana da estréia da turnê Universo Particular, de Marisa Monte, fique muito atento para garantir seu ingresso para os shows vindouros.)


Depois de 5 anos fora do palco, não se podia esperar de MM nada menos do que o deslumbre. E a platéia, um verdadeiro quem é quem do meio artístico paulistano, estava frenética.

Marisa Monte canta a primeira canção de seu show no escuro. Trata-se de Infinito Particular, o que por si justifica e potencializa a beleza pela opção do (da falta de) recurso cênico [Que, vale dizer, foi semi-destruída pela ansiedade imbecil de milhões de flashs fotográficos - afinal, minha gente, vocês estão no show para apreciá-lo ou para tirar fotos?]

Um imensa caixa (cinematográfica) de luz desce de encontro à cantora e sua pequena orquestra, composta de 9 integrantes, e inunda o palco, arromba a retina de quem (não) via no desalentador escuro do início.

E daí pra frente, num imenso palco nú, descascado, e com poderosos e belos recursos de iluminação (cinematográfica) sempre com estrutura aparente, Marisa e sua fina trupe espremem-se confortavelmente no coração da cena. Pessoa de carne e osso que é diva quase sem querer (querendo) e que tenta ser pessoa de carne e osso, Marisa passa metade do show sentada, no centro pulsante de sua banda (orquestral). A outra metade, pouco à frente, crooner em um baile de delicadezas.

Permite-se alguns movimentos, notadamente nos deliciosos sambas Satisfeito e Meu Canário. Quebra a quarta parede do palco quando atira balas (doces) à platéia, em uma música inédita em parceria com Dadi e Seu Jorge.

Marisa samba (pouco), fala (pouco), canta lindamente e encanta. Nervosa, foi capaz de errar, nas três repetições, os mesmos dois versos da maravilhosa canção Vai Saber. Mas o público, talvez até ignorante sobre o que estava perdendo, perdoa.

Dona do (pequeno) mundo (particular) de 5 mil pessoas numa casa de show de som ruim - o eco que João Gilberto ouvia ainda está lá, multiplicando Marisas - relaxa aos poucos, comove-se timidamente.

Mãe, rainha, sabe o que dar e como dar a seus súditos. Pratica uma arte bem ensaiada, bem esculpida. Cada movimento, ali, é cuidadosamente calculado.

Até mesmo o fato de Marisa Monte estar fazendo um show com um ritmo, uma atmosfera e uma respiração que não se esperaria propriamente dela, dado seu histórico. Mas que mostra-se perfeitamente em sintonia com um álbum como Universo ao Meu Redor, ou mesmo com a fase que a artista diz estar vivendo.

E que é um show lindo, diga-se.


Tudo é perfeito, pois, em Universo Particular? Não.

Mas há encantos e achados e arrebatadora beleza (ainda que gélida, não é não, Marcus Preto?) nesse universão de troca, de coletivo musical. Dentro de cada pessoa na platéia, muita saudade, saciada em inúmeros cantinhos escondidos em cada linha angular do (não) cenário, em cada respiração da cantora, em gaitas, caixinhas de música, violinos, cavaquinhos, percussões e outros instrumentos mais ou menos inusitados.

E pra morrer de paixão, há Carnalismo, num momento embasbacante, sufocante.


5 anos depois, Marisa Monte é dona do dom, do show, do som.

E nós continuamos estando lá por (para) ela.



PS: De que é difícil perdoar a falta? Três Letrinhas e Pelo Tempo Que Durar.

17.5.06

tati

Sim, a segunda-feira em São Paulo tem histeria coletiva, toque de recolher informal, trânsito recorde precedendo ruas absolutamente desertas, silêncio e medo.

Mas a terça-feira tem Meu Tio, em película, projetado no Espaço Unibanco de Cinema.

Acha pouco?


Com Meu Tio, Jacques Tati-ator firmou Monsieur Hulot definitivamente no imaginário dos amantes do cinema e na história da arte cinematográfica. Mais: imprimiu uma figura muda que transpira poesia e singeleza em todos os seus modos e gestos, fazendo um retrato de devastadora beleza da simplicidade.

Jacques Tati, o diretor, realizou uma obra-prima do cinema. Em uma carreira de pouquíssimos filmes - ele levaria nove anos, e toda sua energia física e financeira, para realizar outra imensa obra-mestra, Playtime, de 1967 - Tati foi capaz de muita coisa.

Construiu tramas onde não há propriamente personagens, exceto o que ele próprio interpreta e ao redor do qual tudo gira, mas sim tipos, ou, antes, coletivos. Maiores ou menores, são grupos de pessoas em determinadas situações que regem os acontecimentos. Daí, posturas, gestos, inflexões, (poucas) falas, roupas e hábitos são capazes de definir um caráter. E, logo, tecer ácidos comentários sociais e uma arguta e terna observação humana.

Além: das relações dos seres humanos com os espaços que habitam e com os objetos com que lidam, em sua rotina profissional ou doméstica, Tati extrai mais e mais matéria humana cheia de sensações, sentimentos e significados. E são coisas de importância a princípio tão mínimas que só potencializam a beleza cadenciada do poema audiovisual empreendido.

O que Tati faz, com isso, é uma reinvenção, ou antes uma recolocação do espaço e do tempo cinematográficos. Espaço porque seu olhar sabe captar um todo com a generosidade de quem dá muita atenção a cada parte. Sua colocação da ação e dos atores em cena e a relação destes com o cenário que ocupam, e o subsequente enquadramento de câmera daí advindo, são capazes de imagens que inundam os olhos, alentam a alma e paralisam um sorriso no rosto do espectador.

E tempo porque a primazia da imagem ante o diálogo, dos corpos, dos movimentos físicos e das expressões, faz com que se erga, ali no espaço dos 24 fotogramas por minuto, uma pulsão poética própria, um convite à contemplação - em tudo que ela pode ter de voyeurística - da vida, dos seres, dos lugares. O espírito repousa e respira ditado pela duração precisa das cenas de Jacques Tati.

Isso sem sequer começar a mencionar o quanto as gags visuais são inacreditavelmente engraçadas.

Meu Tio, enfim, como toda obra definitiva, oferece prazeres infindos. Que se renovam e se multiplicam a cada olhada. Aqui, Tati e seu Monsieur Hulot representam o mais encantador dos desajustes. Do personagem anacrônico que não se adapta à tecnologia e à multidisciplinariedade dos "tempos modernos" ao cineasta anacrônico que esculpe uma arte sensível e delicada demais para olhos progressivamente embrutecidos.

De um para o outro, dentro do mesmo gênio, indo, vindo, entrelaçando-se.

Jacques Tati é capaz de nos ensinar o que perdemos em nós mesmos.



Como se vê, São Paulo é, mesmo, cheia de emoções.

15.5.06

terço

Nos primeiros 4 meses de 2006, ou seja, no primeiro terço do ano, estrearam na cidade de São Paulo 114 filmes. Sim, 114! Se contarmos que em 4 meses há, em media, 120 dias, é quase um filme por dia.

Você vai ao cinema todo dia? Nem eu.

Desses, 18 filmes eram brasileiros. Se o ritmo for mantido, teremos, findo o ano, 54 filmes nacionais lançados. Parece expressivo, até mesmo impressionante. Mas quais eram esses filmes? Que tipo de repercussão causaram? Quem os viu? Quem? Quem?

O mês de janeiro viu chegar às telas Didi, O Caçador de Tesouros, Se Eu Fosse Você, Soy Cuba – O Mamute Siberiano e Crime Delicado.

Se Eu Fosse Você foi um sucesso arrasador – mais de 3 milhões de espectadores. É um filme popular e populista surpreendentemente divertido, ancorado em sensacionais momentos cômicos dos protagonistas Glória Pires e Tony Ramos. Previa-se o sucesso. E ele é plenamente compreensível - justo, até.

Aposto que você estava entre essas 3 milhões de pessoas, não?

Soy Cuba, documentário, teve, como é regra para filmes do gênero, lançamento pequeno e discreto, mas recebeu acolhida generosa da critica e causou artigos em cadernos culturais.

Mas você viu? Nem eu.

Crime Delicado dividiu espectadores, angariou amantes deslumbrados e inimigos ardentes na mesma proporção e intensidade. É um filme admirável, corajoso, rigorosíssimo, cheio de recompensas para quem permite-se olhar além e atravessá-lo com as intenções afinadas às suas propostas. Mas “aconteceu”, para o público em geral, de forma bem menor do que O Invasor, filme anterior de Beto Brant. Pelo teor da obra em questão, nem poderia ter sido diferente.

Você, viu?

Fevereiro foi mês tomado pelos filmes “oscarizáveis”. Nada de nacional, portanto.

Março trouxe Mulheres do Brasil, Gatão de Meia Idade, O Veneno da Madrugada, Depois Daquele Baile e A Máquina.

Os dois primeiros eram claras tentativas de sucesso popular, contando com lançamentos catapultados por planos de mídia fortes. Ambos venderam-se como “palatáveis” e “acessíveis”, filmes para se ver no sábado à noite, em suma, e antes da pizza.

Bombardeados, aparentemente com razão, pela critica, e mostrando-se, afinal, de fraco apelo junto ao “consumidor”, sumiram das salas muito antes do que, penso, era esperado por seus distribuidores. Mesmo quem voluntariou-se a conferir a suposta “bomba” não teve muito tempo para tal. O mercado, de uma forma ou de outra, é seletivo, afinal.

Você foi ver? Gostou? Recomendou a alguém?

O Veneno da Madrugada é filme de um ícone do cinema brasileiro, nossa suposta “reserva de qualidade”. No caso, Ruy Guerra. Com lançamento minúsculo, reflexo de um suposto apelo comercial tão pequeno quanto, em uma semana já ocupava somente uma única sala, em horários reduzidos. Na segunda semana, desapareceu. Conclusão, não deixaram que fosse visto.

Eu não consegui ver. E você?

Depois Daquele Baile ocupou, comercialmente, uma faixa intermédiaria entre os dois casos citados acima – foi um lançamento médio. Não durou muito, tampouco, mas resistiu melhor e mais bravamente à enchente de estréias que varreram as salas semana após semana. Imperfeito, mas com charme, sinceridade e muita vontade de acertar, e com um Lima Duarte em plena forma artística, é um filme ao qual fosse dado mais músculos (pela distribuidora) e oportunidades (pelos exibidores, que, sim, fazem-se de bestas e de capitalistas do tipo “o-mercado-determina”, não são nada santos e matam, muitaz vezes, filmes que poderiam ser melhor-sucedidos), teria atingido com pontualidade uma parcela do público.

Chegou a você?

A Máquina, embalado pelo poder publicitário da Globo Filmes e pelos nomes e rostos de Mariana Ximenes e Paulo Autran, chegou soltando fogos de artifício, mas a fumaça dissipou-se muito, mas muito antes do que se previra. Lançado para ser um sucesso popular e fazer, digamos, pelo menos um milhão de espectadores, foi exterminado pelos exibidores apos um parco resultado de 50 mil pagantes em sua primeira semana.

No jogo expectativa/resultado, talvez o maior fracasso do nosso cinema nesses meses aqui analisados. Será que o público de fato reagiu mal aos problemas alarmantes e imperdoáveis do filme? Ou não teve tempo, nem “timing” de descobrir algumas encantadoras e consistentes qualidades também presentes? O “julgamento do mercado”, enfim, foi impiedoso.

Você sentiu vontade de ver A Máquina? Foi?


Abril foi quase uma avalanche. Parece que passada a “onda Oscar”, que domina os 3 primeiros meses do ano nas salas de exibição, grande parte das distribuidoras resolveram desovar filmes brasileiros que estavam amargando a fila de espera. O resultado dessa overdose é, na maior parte dos casos, fatal. Às vezes por falta de espaço, às vezes por desleixo de quem lança, às vezes porque os filmes não são tão bons assim – terceiro fator que, em termos, vem explicar os dois primeiros.

Boleiros 2 – Vencedores e Vencidos, Irma Vap – O Retorno, Árido Movie, Tapete Vermelho, Brasília 18%, Ginga, Achados e Perdidos, Dia de Festa e Vinho de Rosas foram os títulos que nos chegaram nesse mês cheio.

Linguagem engessada, decupagem pobre, pouco criativa e, o que é pior, nem mesmo eficiente em termos narrativos, e diálogos e atuações tropeçando e tropeçando no artificialismo são alguns dos problemas comuns a essas produções.

Boleiros 2 não parece, em tom ou trama, tão sincero, gentil e cativante quanto o primeiro. Em ano de Copa, no entanto, poderia ter encontrado seu público, mas não foi o que aconteceu.

Você tinha visto o primeiro? Interessou-se em repetir a dose?

Lançado para ser um sucesso arrebatador, Irma Vap é uma vergonha. O impulso é deixar a ética de lado e lançar todos os impropérios necessários para classificar o filme, em todos os seus aspectos – alguém pode me explicar a podridão daquela finalização? Mas é melhor não, apesar de valer reiterar que Marco Nanini é um semi-gênio.

Mas, conta aí: Irma Vap te pegou?

Árido Movie é um filme caracteristicamente cult, daqueles que já se prevê que tenha seu pequeno círculo de árduos admiradores, bem como detratores. De fato, há bastante para se gostar e para se odiar ali.

Você?

Tapete Vermelho talvez seja uma das maiores vítimas do inchaço de lançamentos desse 2006. Longe de ser um filme excelente, possui sua integridade, sua proposta, sua visão. É capaz de divertir sem qualquer dano, sem perda de tempo. E o que é mais surpreendente, possui, no reduzidíssimo circuito em que ainda se mantém em exibição, um público lotando as salas. Fosse melhor lançado e tivesse recebido mais atenção das salas de exibição, especialmente aquelas em pontos e shopping considerados “populares”, poderia, acredite, ser um sucesso de bilheteria. E não haveria qualquer absurdo nisso.

Você sabia que Tapete Vermelho poderia te entreter? Procurou descobrir?


Brasília 18% foi saudado como um retrato dos mortos-vivos da política. Cabe estender o pensamento à questão do quanto não é um retrato (triste) dos mortos-vivos do cinema, vários deles.

Você viu? Gostou?

Ginga
, documentário sobre futebol patrocinado pela Nike e produzido pela O2-de-Cidade-de-Deus em ano de Copa, ou seja, filme com grife para aspirar a ser blockbuster, assustadoramente foi lançado em apenas uma pequena sala de cinema na cidade de São Paulo. Uma semana depois, aparecia em um único horário, logo após o almoço. Na semana seguinte, sumira. Seja como for, ou por que for, não se deixou ser visto.

Você conseguiu ver?

Achados e Perdidos e Dia de Festa tiveram, da mesma forma, lançamentos tímidos, que ainda não possibilitaram que o autor das linhas os visse.

Você já foi?

E Vinho de Rosas, filme com trailer estapafúrdio e, segundo ecoam os comentários, qualidades quase ausentes, foi o mais sensacional exemplo até aqui. Seu “lançamento” se deu em uma pequena sala do circuito exibidor paulistano, em uma (!!) sessão, às 14h.

Você aí, acredite se quiser.


E, assim, passaram os 4 primeiros meses do ano para os filmes brasileiros.

o invasor

Em 2002, O Invasor, excelente filme de Beto Brant, vaticinava de forma sufocante a iminente invasão do centro pela periferia.

Ou se caminhava em direção à integração ou à guerra.


Você mora no estado de São Paulo em maio de 2006?

Então você sabe o quanto a vida imita a arte, que imita a vida...


Você aí também tem a sensação de que a sua casa e a sua vida só não foi invadida porque os outros ainda não quiseram?


Devemos considerar PCC no governo?! Organizados e com embasbacante habilidade para orquestrar movimentação de massas eles são.

8.5.06

as atrizes

Com tantos filmes
Na minha mente
É natural que toda atriz
Presentemente represente
Muito pra mim




É Buarque, aquele gênio. Mas poderia ter vindo daqui.

2.5.06

fogo

eu faço fogueira, choro, canto e danço...


Mart'nália, ao vivo, é felicidade em forma de música.

27.4.06

frutos do mar

A Lula e a Baleia é especialmente especial para filhos de divórcios. Sendo um, acho que tendo a sentir o filme de uma forma um pouco diferente de quem não é.

De qualquer modo, esta agradável e curiosa empreitada de Noah Baumbach, vencedor de uma série de prêmios de roteiro original, dados por críticos e associações, no ano passado, vale a visita.

Trabalha na chave do inusitado que nasce de situações e reações inesperadas, pouco vistas na cartilha do realismo cinematográfico.

Baumbach foi roteirista de A Vida Marinha Com Steve Zissou e a atmosfera de estranhamento de seu filme de fato se assemelha à da obra de Wes Anderson.

Mas enquanto Anderson, especialmente em Os Excêntricos Tenembauns e no citado Vida Marinha, aborda os personagens como personagens, Baumbach, aqui, busca simular que se trata de gente de carne e osso.

Ternamente verdadeiros em suas pequenas estranhezas, sinceros em psicologia e sem psicologismos, os pais e filhos de A Lula e A Baleia são um espelho afetivamente bem humorado da dita "vida real".

Citando um amigo, é o máximo a que pode chegar o cinema "independente" norte-americano (alo, alo, M.D.!). Talvez não seja, e Eu, Você E Todos Nós, surpreendente filme de Miranda July, logo vem aí para provar a afirmação. Mas é bastante bom.

E vale dizer que toda a sinceridade emocional desse naturalismo que de tão real roça o "estranho" só é possível graças a grande competência dos 4 atores protagonistas.

abismo

Em uma entrevista por email, me perguntam que recado eu daria a alguém que quer ser um cineasta.

Eu? Dar recado? Como assim?

Bem, me saí com essa:

Toda paixão é um precipício, sempre. Mas se existe a paixão é porque deve haver a queda.



Fingi que falei de cinema, mas escrevi sabendo que era uma convicção maior.

E não é que acabei gostando do que disse?!

lágrimas

Nos últimos tempos, se foram Argemiro Patrocínio, Seu Jair e, ontem, Guilherme de Brito.

E assim o samba vai ficando tristinho, vazio.


"Tire o seu sorriso do caminho
que eu quero passar com a minha dor."

16.4.06

um filme fantástico e uma propaganda enganosa

O Novo Mundo é um filme imperfeito e magnífico – e o melhor é saber que, nele, uma característica depende diretamente da outra.

Terrence Malick é um esteta. Mas com grau de encantamento no olhar tão grande que talvez o faça o único, ou o mais evidente, do cinema atual.

Há a natureza, reinando em cada plano, em cada subtexto, em cada curva da história (Como já havia nos três excelente filmes anteriores do cineasta, Terra de Ninguém, Cinzas do Paraíso e Além da Linha Vermelha.)

Há uma fotografia tão deslumbrante que deveria fazer corar de vergonha os que deram o Oscar a todo aquele insuportável belo-MacDonald’s de Memórias de Uma Gueixa.

Há a montagem, estabelecendo elipses narrativas assombrosas em beleza e eficácia e compondo um fluxo dramático inebriante, surpreendente e desafiador.

Há vozes em off, usadas como monólogos interiores com a mesma liberdade, precisão, o mesmo apuro estético e o mesmo acerto, embora em registro e tons distintos, de um Wong Kar Wai.

Há a trama, uma arrebatadora história de amor que se faz viva por sugestões, por delicadezas, por símbolos, por abismos emocionais que se abrem e fecham em um encontro de mãos, em um olhar perdido, em água e terra.

Há ética, a força moral da história, o nascimento dos Estados Unidos da América por seu ângulo mais desastroso, servindo de pano de fundo e metáfora para uma alma, tomada por descobertas e paixões e marcada pela destruição e pela reconstrução - ou vice versa.

Há uma estrutura narrativa que jamais cede ao óbvio, que desafia o olhar, que explode os sentidos de satisfação, que deixa hábeis espaços em branco, que incita a mente e o coração.

Há Wagner, na abertura dá ópera O Ouro do Reno, e Mozart, no Concerto Para Piano nº 23, catalisando maravilhas, ajudando a compor uma sinfonia de êxtase.

(E há uma paixão pessoal por esse filme e por esse cineasta que confunde a análise e, quem sabe, deixa o texto meio oco.)

Descontínuo como esse apanhado de linhas, O Novo Mundo é um verdadeiro poema audiovisual. A quantos temos o prazer de assistir nos tempos que correm?


/


E, como não podia deixar de ser em se tratando da máquina de fazer dinheiro hollywoodiana, o filme é vendido de forma esdruxulamente incoerente com sua verdadeira essência. Olhe o cartaz, olhe o trailer: tudo indica um movimentado filme de aventuras, com um galã, Colin Farrell, a frente, e bastante adrenalina em seu interior.

Não é à toa que adolescentes barulhentos e muitos outros desavisados de plantão saem resmungando no meio da sessão. Quem veio atrás do vazio dificilmente se contenta com tanta substância.

15.4.06

hoje

Hoje, eu quero ver as Cataratas do Iguaçu.

12.4.06

ligeirezas

A Era do Gelo 2 é bem chato. Fato é que se esqueceram completamente de pensar em um roteiro para fazer o filme....

Essa gente de cinema tem cada coisa!

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Em se tratando de Nelson Pereira dos Santos, faz-se muito esforço para se tentar gostar de Brasília 18%. Muito esforço mesmo.

;


Crianças Invisíveis
, como qualquer bom filme de episódios, tem o regular, o bom e o melhor. A média geral, no entanto, é bastante satisfatória. Os destaques ficam para Emir Kusturica e Spike Lee, em episódios com vozes individuais e bem resolvidos narrativamente, e uma boa idéia de Ridley Scott.

O troféu é de Katia Lund, em um curta onde a dura realidade não vira espetáculo nem denuncismo, e sim ternura. Lindo.

11.4.06

varrendo atrasos

Mentiras Sinceras é quase uma narrativa épica, no sentido dramatúrgico da palavra. Sobram acontecimentos sucedendo-se em ritmo atipicamente veloz e faltam intenções dramáticas que os justifiquem. Ou, ao menos, falta mostrá-las.

Nem mesmo Tom Wilkinson e Emily Watson, atores que são o que de melhor há em atores, podem fazer muito com personagens tão etéreos.

Falta verdade, em suma. O verniz é de um drama "sério", mas a estrutura é de farsa ligeira. Um conflito complicado.



O Plano Perfeito é Spike Lee estreando no cinema realmente mainstream. E as portas do mainstream, minha gente, não se abrem sem concessões. Mas uma vez dentro do jogo, recoste-se e divirta-se. Há poréns, claro - notadamente cenas encenadas de forma grotesca, envolvendo os coadjuvantes-figurantes, e uma trilha sonora que, francamente, poderia ter sido comedida.

Mas a câmera está tinindo, a história tem seu sabor, Denzel Washington é (quase) sempre um prazer e Jodie Foster... Ah, você nunca achou que fosse gostar tanto de Jodie Foster!

Nem que fosse achá-la tão bonita.



Quando a coisa vai muito mal, tende-se a afrouxar a rigidez dos padrões de qualidade. O cinema brasileiro anda assim (alguém viu "Gatão de Meia Idade"? Alguém precisou ver?) Depois Daquele Baile, sob esse prisma, é um filme pra lá de simpático e cheio de boas intenções. E se todos sabem que boas intenções são nada, pelo menos não há raiva, nem sentimentos fervorosamente negativos. Esperamos e torcemos pelos próximos filmes de Roberto Bomtempo, enfim.

Porque não foi no primeiro que ele acertou de forma consistente. Apesar de uma permanente ternura, de algumas boas situações e de uma atuação de Lima Duarte que redime os naturalismos televisivos reinantes.



Irma Vap - O Retorno
é ruim. E ponto.

Veja e prove.

(Apesar de Marco Nanini ser um gênio da inteligência cênica - talvez o maior, dos nossos e vivos, que teve oportunidade de mostrar-se como tal)



A Máquina tem várias qualidade e vários defeitos. Defeitos o suficiente para não ser o filme muito bom que poderia ter sido. Mas qualidades o suficiente para não ser a bomba que muitos querem fazer crer. Resta escolher de que lado ficar: dos que apreendem as delícias apesar dos erros ou dos que não perdoam os equívocos e vêem neles o eclipse das qualidades. Pessoalmente, fico no primeiro grupo.

E é fácil gostar da valorização da palavra, num bom texto muito bem dito, de alguns belos planos, algumas (muito) boas, apesar de não novas, soluções cênicas, de uma deslumbrante canção de Chico Buarque e de Paulo Autran, outro gênio.

Prove. E decida.

de graça

Clodovil fazendo poses na madrugada da Galeria dos Pães.
(Numa segunda-feira em que a cidade parecia especialmente vazia)

Não tem preço.

4.4.06

grandeza

Outdoor nas ruas da cidade:

Agora em DVD o maior filme do ano
KING KONG


A propaganda não podia ser mais apropriada. Aquela chatice não acaba nunca de tão longa.

27.3.06

mais uminha...

Antes desse blog voltar à sua proposta original, só mais uma:

Na festa de encerramento do Festival de Toulouse, no sábado, Nico, um dos muitos conhecidos, me disse com entusiasmo:

- Eu vi seu filme hoje!

Ao que eu respondi:

- Que bom! Eu bem que te vi na platéia...

E ele, bastante desapontado:

- Mas é melancólico!

Eu, sem entender exatamente a decepção, faço cara de incógnita. Ele:

- É que você não é melancólico. Está sempre sorrindo, animado...

Eu, já o compreendendo melhor:

- Ah... É que por trás do sorriso há melancolia.

25.3.06

depois do fim - that's all, folks!

so nao se perca ao entrar
no meu infinito particular

nao pense por favor
que eu nao sei dizer
que é amor
tudo o que sinto por voce

todo corpo que tem um deserto
tem um olho de agua por perto

quem de voces resiste a uma tentaçao
quem pretende revogar a lei do coracao

deixa o coracao
ter a mania de insistir em ser feliz
se o amor é o corte e a cicatriz
pra que tanto medo?

quando um descaminho acha o seu desvio
tudo se alivia


nao me torture
nao simule
nao me cure
de voce
deixa o amanha dizer




e, finalmente:

coisas a se transformar
para desaparecer
e eu pensando em ficar
a vida a te transcorrer





é, senhores... A srta. Monte ainda sabe o que diz.

E fica, portanto, com as palavras finais.

Mais uma vez, foi um prazer recebe-los.


estou entre o adeus
e a contrapartida

fim

Os dias passam e o animo de fazer grandes relatos vai arrefecendo.

A sexta-feira, em Toulouse, teve um passeio solitario por toda a cidade (depois que Sandra e Francesca me deram o cano), teve o muito bom filme El Custodio, da Argentina, teve jantar com bastante vinho, teve chuva, teve um roteiro de 3 min nascido como que por milagre, teve passada rapida na festinha e teve ipod com a bateria descarregada.

Seis dias em Toulouse e a casa de Helene ja parece a minha, ja sei como e quando vou acordar e dormir, onde vou comer, as pessoas que encontrarei.

Jah me parece absolutamente cotidiano o caminho que me leva pela madrugada fria, a pé, da Amanita Muscaria, local das festas, a casa onde me hospedo.

E jah sei com que sentimento no coracao vou fechar os olhos no travesseiro quadrado que me foi concedido e sei que vou adormecer ouvindo musica e acordar horas depois em cima dos fones.



Em alguns festivais internacionais, os premiados sao anunciados pela manha, e vao para a cerimonia de premiacao, a noite, jah sabendo se saem de lah com trofeus. Aqui é assim.

Hoje, sabado, houve a segunda e ultima sessao de Alice, ao meio dia. Uma semana em Toulouse a na platéia jah ha muitas caras conhecidas, transmitindo carinho na forma de presença. E, novamente, pessoas emocionadas ao final - que sao o proposito mesmo para o qual o filme é feito.

Saio da sessao diretamente para o anuncio dos premiados. Sempre digo que quando estou presente, nao ganho premios. Continua sendo verdade. Como eu havia previsto, o melhor curta foi 2 Icebergs, do Chile, com mencoes para Dime Lo Que Sientes, do Mexico.

Dos brasileiros, o documentario Estamira ganhou o premio principal em sua categoria. Dizem que muito merecidamente.

&


As proximas horas terao ainda a arrumacao das malas, a entrega dos premios, seguida por sessao de Cinema, Aspirinas e Urubus, a festa de encerramento, uma noite com poucas horas de sono, um trem para Paris e dois avioes, o primeiro para Nova York e de lah para Sao Paulo.

Chego em casa amanha às 9:40.

E aqui basicamente acaba esse relato de 19 dias.

A partir de segunda, esse blog perde a "pessoalidade" e volta a prestar (maus) serviços de vigilia cultural.

Para os que quiserem saber como tudo continua, estarei disponivel, soh que ao vivo.

E vale a nota de que, assim que pisar em Sao Paulo, meu numero telefonico celular serah outro. Serao devidamente comunicados da mudança todos que devem ser.

Os que acompanharam carinhosamente, sintam-se beijados, abraçados e queridos.

E muito obrigado pela audiencia.

24.3.06

mais

E a noite, na festa, um argentino feliz me viu e veio gritando:

O rapaz do Brasil que erra as palavras!

Sao reflexos tardios daquela historia de terça-feira, do jornalzinho eletronico do Festival (que, devido a minha "popularidade", queria me gravar novamente, dessa vez numa conversa com Marcelo Gomes sobre Cinema, Aspirinas e Urubus. Seria de Gomes pra Gomes, disseram. Mas Marcelo nao chegou a tempo...)

foi

A quinta-feira, em Toulouse, simplesmente passou...

Acredita?

23.3.06

coracao materno

Sobre as 6 cuecas Mash que minha mae me comprou antes de eu sair em viagem, nao sei se o melhor é o fato de elas serem confortaveis e macias, o fato de nao parecerem sujar nunca ou o fato de que causam o milagre de me tornar extremamente sexy sem roupa.

duas observaçoes

1)

Toda noite, antes da sessao das 20h na Cinemateca, projeta-se o jornalzinho do festival, que anuncia as atracoes do dia seguinte.

Quando me entrevistaram, ainda no domingo, me pediram pra falar uma frase em frances, que eu fiquei treinando e errando antes de fazer valendo.

Quando eu percebi que a simpatica cinegrafista havia gravado o meu "treino", pensei na hora: me ferrei, vou virar piada.

Foi EXATAMENTE o que aconteceu.

Nao vi, mas todo mundo veio comentar comigo que a sala deu boas risadas às minhas custas. Mas risadas "amaveis", garantiram. Nada de escarnio. E o lado bom? Todos lembrariam de mim. Assim justificaram-se os responsaveis.


2)

De repente, num flash, lembrei que, na noite de terça, quando me rotularam de "o bebe" do festival, porque sou o mais novo entre os invitados, eu prometi, num impulso, que, se ganhasse um premio, tirava a barba.

Espero que a pessoa que ouviu a promessa - que eu nao sei quem foi - nao se lembre.

e mais Toulouse

Quarta-feira, em Toulouse, acordei tarde, jah que a festa da noite anterior avançou pela madrugada.

Era dia de sessao de "Alice", as 18h e fiquei fazendo basicamente nada ate a hora.

Vi, em DVD, um curta concorrente, do México, chamado Dime Lo Que Sientes. Era bom.

As 18, entao, na Cinemateca, a sala principal do Festival, sessao de "Alice" precedendo o longa Sabado, una pelicula em tiempo real, do Chile, que tinha uma idéia bastante interessante bem realizada.

Em nenhuma sessao a que compareci, aqui, houve palmas ao fim da projecao - a nao ser as que eu mesmo puxei para Derecho de Familia. Nao sei se é cultural, se eles nao gostam mesmo dos filmes ou se soh aplaudem quando acham realmente espetacular.

Assim, vale dizer que nao houve aplausos ao fim de "Alice", assim como nao houve ao fim do longa.

Mas a sala estava cheia, com cerca de 150 pessoas, e vi diversos vultos levantando-se e saindo logo depois do curta - eram meus amigos voluntarios tirando 15 minutos de folga para me prestigiar.

A reacao das pessoas foi excelente. Os amigos, os colegas, um critico italiano, o juri universitario, a moça que trabalha no bar, todos tinham uma palavra bonita, um sentimento afetuoso e muitas perguntas. Os mais entusiasmados diziam que recomendariam para outros verem no sabado. E os que nao puderam ver me disseram que ouviram falar bem.

A pergunta que TODOS fazem?

- Mas a idéia veio de onde? é baseado em uma experiencia pessoal?

O que o povo quer saber, minha gente, é sobre a vida alheia!


Me sentei sozinho para jantar e TODO o juri veio sentar-se a meu lado. Apresentaram-se e disseram, com bom humor mas nao sem razao: You have to be nice to us. Sim, tenho.

Conversamos sobre o cinema do mundo.

Logo em seguida, fui representar Impar Par na sessao Ecran Libre, uma mostra informal de curtas que acontece numa espécie de galeria. As pessoas sentam-se em sofas, almofadas, jogam-se no chao. Mas todas parecem bastante interessadas em ver os filmes. Havia cerca de 40 delas.

Disse, em espanhol mal falado, as palavras que Esmir me pediu pra dizer e tive que sair correndo para participar de um programa sobre cultura brasileira na radio local, que entrevistou a mim e a Gustavo Acioli.

Na sequencia, demos uma passada rapida no After, que é como eles chamam a festinha de toda noite. Muito calor e muito, muito cigarro (alo, alo, Loca!) num espaço de dois andares apertadinho.

E foi isso.

22.3.06

FINALMENTE!!!

E, FINALMENTE, ouço, com o coraçao flutuando, todas as 13 cançoes de Infinito Particular (alo, alo, alo, Daniel Ribeiro! Talvez eu jamais possa te agradecer o bastante!)

Nao dah pra dizer nada ainda, a nao ser que Vilarejo e Até Parece sao pop irresistivel.

E que, evidentemente, ha uma preferida imediata, que no instante mesmo da primeira audicao me embalou numa cama sonora levinha e ofereceu à alma belezas incuraveis.

Pelo Tempo Que Durar, claro.

Toulouse - parte 3

O frio me desencoraja a acordar cedo - o que eu pretendo mudar daqui pra frente.

Tomo café da manha com Helene, a pessoa que me hospeda, e conversamos sobre o cinema do mundo.

Vou a Cinemateca jah na hora do almoco.

A tarde, o filme é Derecho de Familia, de Daniel Burman, da Argentina.

Nao é de hoje que gosto muito dos filmes de Burman. Esperando o Messias era um pequeno enorme filme e O Abraço Partido, apesar de alguns pequenos pesares, era também muito bom.

Em Derecho, ele continua fazendo o que faz melhor - uma apuradissima observacao do cotidiano, dos pequenos atos, dos sentimentos essenciais com os quais lidamos diariamente, sempre com um olhar dos mais ternos e apto a captar toda a comicidade presente nas situacoes mais banais e verdadeiras.

Nesse novo filme, a figura do pai é novamente o centro, como ja o era em Abraço, soh que sob outra perspectiva. Daniel Hendler, ator habitual de Burman, mais uma vez apresenta uma performance irrepreensivel, como um filho que aprende q ser pai e, assim, reaprende a ser filho.

A dramaturgia estah tinindo, os sentimentos sao os mais honestos e a linguagem é precisa e economica - resolve-se cenas inteiras com apenas um plano muito bem feito.

Riso e choro, num cinema arejadamente classico. Enfim, excelente!


O jantar, suas garrafas abundantes de vinho e todas as 103 novas amizades feitas sentado ali mesmo na mesa me fizeram dar o cano na sessao de Incuraveis, do colega Gustavo Accioli.

Mas me levaram, nas horas posteriores, a aprofundar ainda mais a mistura de frances, espanhol, portugues e ingles que eu venho falando, tudo ao mesmo tempo, quiçah na mesma frase.

E houve muita risada, salsa dançada como se fosse forroh, opera cantada em italiano (sim, por mim), tombo de bicicleta na madrugada fria e molhada de Toulouse e convite para dezenas de pessoas virem a Sao Paulo - e ficarem na minha casa, claro!

Estas borracho, me dizia a italiana Francesca, depois de me apelidar de Dr Kekyl e Mr Hyde - de dia quietinho e timido, de noite se transforma em uma outra pessoa, e que fala muito alto.

Culpa do vinho, respondo.

21.3.06

cachoeira

e porque noticias boas parecem vir em cascata, é com IMENSO prazer que o diario aberto conta que "Tudo o que é solido pode derreter", o irmao menor que sempre ganha menos atencao, conseguiu um feito e tanto.

Foi selecionado para a sessao Children’s and Youth Competition do 52o Festival Internacional de Curtas Metragens de Oberhausen, na Alemanha - um dos maiores e mais importantes festivais exclusivamente de curtas do mundo.

da imprensa

Clique AQUI para ler, em frances, a entrevista que eu dei (evidentemente em portugues), para um site que, pelo que eu entendi, cobre a cultura braileira na regiao de Toulouse.

(alo, alo, Esmir e Caroline!! Nao sei o que publicaram, mas fiz mencoes e mencoes a ambos...)

e tem até foto.

AQUI.

novidades

Eh com prazer que o diario aberto de R. informa que "Alice" estah nas sessoes competitivas oficiais de mais dois festivais internacionais "alternativos":

- Latin American Film Festival, em Utrecht, Holanda

- Non Budget International Fil Festival, ou Festival del Cine Pobre, em Gibara, Cuba.


Se voce é dos que torcem, continue irradiando boas energias.

Se voce é dos que nao torcem, o que voce esta fazendo aqui??!

Toulouse - parte 2

Os dias em Toulouse sao certamente menos cheios de atividade do que os de Paris - portanto, nao esperam relatos fantasticos.

A gente chega num festival de cinema agitado como esse e cai inescapavelmente na engrenagem. Todos os planos de conhecer bem a cidade e a regiao vao por agua a baixo...

E o Festival aqui é realmente surpreendente. O clima "hippie", como eu contei, reafirma-se constantemente. Todos sao alto-astral, felizes e bem humorados. Muitos dreads nos cabelos masculinos e femininos, muita sandalia de dedo, nao obstante o frio.

Cumprimento é com 2 beijos, e nao importa o sexo de quem se encontra (alo, Ricardo Santini!) - beijo no rosto é so carinho e amizade e melhor se tivermos ambos de sobra, né nao?

A comida é sempre saudavel, com muita salada - acompanhada por vinho e mais vinho, o que pode ser um perigo. Na tenda do bar em frente a Cinemateca, praticamente todos os jovens "artistas" da cidade vem se encontrar diariamente a partir de umas 7 da noite. Se pelo menos houvesse tanta gente nas sessoes...

Mas nao ha do que reclamar. As salas estao sempre bem frequentadas, nao so quantitativa, mas tambem qualitativamente.

O jornalzinho do Festival, que passaa antes das sessoes da noite e é feito pelos alunos da escola de audiovisual, perde, ca entre nos, de loooonge, para o do Festival de Tiradentes. Ja o jornal impresso, tambem diario, eh divertido, atraente e informativo. Todo festival de cinema devia ter um assim.

Os filmes vistos ontem foram 2.

Se Arrienda, do Chile, eh ingenuo e disperso. Sobre vidas vazias, é vazio e de bom mesmo tem a epigrafe de começo:

O passado é como um pais estrangeiro; lah se fazem as coisas de outro modo - L P Hartley, autor ingles. Gostei BEM.

La Perrera, do Uruguai, é também um filme vazio sobre vidas vazias. Ao contrario do anterior, ao menos escolhe um caminho claro e traça-o, mas nao oferece estimulos de nenhuma naturez ao longo dele.

A noite, a festa do festival estava vazia. E as ruas da cidade, em plena segunda feira, com bares cheios e uma juventude animada. Timido e em lingua estrangeira, fico com a minha rua Augusta-Consolacao-e-arredores (alo, alo, OLI!!!)

No mais, uma observacao que eu queria ter feito desde Paris: é comoventemente proxima a relacao dos franceses com a Nutella (Isabel Ribeiro, todos os "alos" do mundo pra voce!!!)

esclarecimento

atençao, atençao!!!

o post anterior, que causou certa comoçao, referia-se a um Tim Festival hipotético, DOS SONHOS...

é a escalaçao que me faria descontroladamente feliz. mas que, certamente, nao vai acontecer dessa forma...

20.3.06

pensamentos de uma viagem de trem

Tim Festival 2006 dos sonhos (alo, alo, Andre e Monique Gardemberg!!!):

noite 1
Guillemots
Rufus Wainright


noite 2
Clap Your Hands And Say Yeah
Radiohead


noite 3
Fiona Apple
Arctic Monkeys



(E Belle & Sebastien de volta, em algum momento...)

pensamentos a procura de um ouvinte - parte 2

EFICACIA

O Smart eh, mesmo, um carro dos mais espertos.


CESSAO

Ceda despudoradamente ao hype: Arctic Monkeys é OTIMO!
(Em uma musica? Mardy Bum.)

Toulouse!

Acordei cedo, bem cedo, e peguei o trem que me levaria, em 5 horas e 20 minutos, para Toulouse.

Na estacao, me espera a gentil e amavel Helene, na casa de quem fico hospedado.

Depois de deixar as malas, vou ao centro do Festival, a Cinemateca de Toulouse. A coisa eh completamente "hippie", como bem definiu Caroline Leone. No patio da Cinemateca, barracas que lembram uma festa junina servem as refeicoes, servem de tenda de debates, vendem bebidas, abrigam shows de musica...

Toulouse tem metade da populacao constituida de universitarios, e sao eles que trabalham, voluntariamente, no festival. Tudo no melhor espirito multirao.

Passo a tarde em um cafeh com os colegas realizadores Marcelo Galvao (Quarta B) e Gustavo Acioli (Incuraveis).

No inicio da noite, assisto a projecao do filme chileno En La Cama, do mesmo diretor de um outro longa antes do qual "Alice" serah exibido, na quarta-feira.

O filme era bom, surpreendentemente agradavel e bem resolvido. Eh um casal, num quarto, em tempo real. Mas a coisa funciona bem, eh bonita e sincera. E os dois atores estao otimos.

Saindo do filme, jantar e cama, afinal, o dia tinha comecado muito cedo.

paris - parte final

(Dois dias sem internet deixaram as atualizacoes capengas, mas estamos de volta.)

Sobre o ultimo post, referente ao dia 17, faltou dizer tres coisas:

1) No Museu Marmotan, havia uma exposicao de Camille Claudel, que, quando esculpe o movimento, eh quase genial.

2) Sobre "The New World": fazia tempo que, durante a projecao, eu nao ficava com a clara vontade de que o filme nao terminasse. Talvez desde "Fim de Caso".

3) Sabe a tal escada torta e desnivelada e apertada do hotel? Subindo com uma garrafa de agua na mao, cai 4 vezes. E JURO que estava em plenas posses da minha sobriedade e do meu centro gravitacional.


Enfim, o dia 18, em Paris, era um sabado. E sabados tem poucos carros na rua e muitas pessoas.

Andei longamente e quase sem rumo pelo Quartier Latin, ateh chegar a Rua Mouftard para comer o tal crepe (alo, alo, Esmir!!!). E lah as lojas fazem uma especie de feira, colocando na rua seus produtos. Muitas flores, vinhos, queijos, peixes, frutos do mar, carnes...

Continuo a caminhada e topo com o Pantheon, monumento em memoria, e local onde estao enterrados, os Grandes Homens da Nacao. Quem sao eles? Rousseau, Victor Hugo, Alexander Dumas, Emile Zola, Voltaire. E devo dizer: ainda ha muitos tumulos vazios. Talvez a Franca ainda espere muitos grandes homens!

Passo na frente da Sorbonne e ela esta lacrada, ocupada pela Policia. Alguns quarteiroes a frente, um jovem me entrega um folheto convidando a um ato pacifico de protesto em frente a prefeitura. Nao, obrigado - mas super apoio a causa.

Ando ateh os jardins do Palais Royal, para alguns minutos sentado sob o sol.

Pego o metro a Montmartre, que continua uma maravilha.

Prostro-me, entao, na fila para ingressos de As Bodas de Figaro, na Opera Garnier. Faltando um minuto para o comeco do espetaculo, com 30 pessoas na minha frente, o funcionario grita oferecendo um unico bilhete, o ultimo, no segundo lugar mais caro ( e poe caro nisso!) do teatro. Ninguem na minha frente aceita? Me dah que eu vou! Fui!

A musica eh irrepreensivel, a montagem tinha seus defeitos e seus grandes acertos. Mas curioso mesmo foi ouvir opera em italiano, ler legendas em frances e entender em portugues...

Depois de 4 horas e cinco minutos (sim, sim, operas sao longas!), metro de volta para o hotel. E um jantar rapido no unico local aberto, um restaurante chines, administrado, claro, por chineses. Era eu dentro de um filme de Wong Kar Wai. Pelas circunstancias, diria que "Felizes Juntos".


E fim do Segundo Ato.

17.3.06

Paris - parte 3

DIA 17/03
(alo, alo, Marco Dutra, caminhando para ser o campeao de citacoes nesse blog: FELIZ ANIVERSARIO!!!)


* Primeiro museu que eu nao conhecia: Museu Nacional da Idade Media, Cluny. (alo, alo, minha avoh!)

Tapecarias, altares e objetos de arte magnificos. Quase sempre sacros. O dinheiro estava na Igreja, enfim.


* Ao meia dia, troca de hotel. 5 andares, sem elevador, em uma escada assustadoramente pequena, torta e desnivelada. Requer cuidado, mas dah pra encarar. No quarto com televisao, vejo que os estudantes franceses estao bravos - e protestando aqui, em Paris. (Bem que a amiga Paula Manzo jah me alertara que a multidao da qual fugi outro dia eram eles, os estudantes nervosos.)


* A caminho da Torre Eiffel, muito frio. O vento entra rasgando. Me pergunto: havera um momento em que o nariz se costuma ou ele vai simplesmente cair?

(Na Torre nao subo. Jah fiz isso. Era soh uma visita passageira.)


* Segundo museu que eu nao cohecia: Museu Monet Marmotan. Suscinto, simpatico, possui (muitas) obras mestras de MONET, claro.

O mais fascinante das ninfeias pintadas sobre o lago sao os reflexos na agua. Por detras das flores, toda uma paisagem ondulando em perspectiva vertical invertida. Embaralha a visao e faz pensar que talvez as ninfeias estivessem voando soltas num mundo de cabeca pra baixo.

Ha a piadinha de que algo ou alguem eh "um Monet" quando eh impressionante de longe, mas de perto eh somente um "borrao". Pode ser verdade, mas, se assim for, eh evidente que Monet, entao, pintou para ser visto de certa distancia. E que eh incrivel nao se nega. Deslumbrante o uso da cor: ve-se praticamente todas as variantes de uma mesma tonalidade.

Dah vontade sincera de passar o dia inteiro lah, olhando...


* Terceiro museu que eu nao conhecia: Museu de Arte Moderna da Cidade de Paris (atencao: o Centro George Pompidou eh o Museu NACIONAL de Arte Moderna - coisas diferentes.)

Em exposicao especial, Pierre BONNARD. Um assombro, um assombro. Jah nao eh de hoje que miha paixao por Bonnard eh explosiva (ele eh um dos pintores que sao "meus" no mundo, junto com Hopper e Vermeer).

E jah que estavamos falando de cores, veja as de Bonnard: todas, num mesmo quadro. E, ainda assim, com um equilibrio que desafia a racionalidade, que nao se sabe de onde vem. Cenas domesticas, cenas campestres, muitos e muitos nus. E deslumbre sem fim (doi na alma nao poder levar pra casa o catalogo, mas eh peso demais para carregar ainda por muitos dias).


* Na Champs Elysee, "O Novo Mundo", de Terrence Malick, em cartaz no cinema. Ganha um picoleh de limao por ingenuidade quem achou que eu poderia resistir.

Sobre o filme, deixemos para depois, jah que ele estreia no Brasil em breve, segundo prometem. Mas vale dizer que derreti na cadeira de tanto gostar, no momento exato em que estava gostando (Tah bom, soh pra nao passar em branco: montagem inacreditavel em realizar construcoes esteticas e dinamica narrativa; fotografia nunca menos que assombrosa, com alguns dos planos mais bonitos que voce vai ver em muito tempo)

E o cinema na Franca vai bem, obrigado. Pelas fachadas das salas e pelas ruas ha, no minimo, dois cartazes de filmes frances para cada producao americana (assim como a cidade eh infestada de anuncios de pecas - viva o teatro!).

E voce pensa que os franceses sao intelectuais perniciosos que consideram o cinema uma grande arte? Pois saiba que ha pipocas gigantes e baldes de Coca Cola iguarquenem em qualquer lugar.

Agora, quer saber onde mora a sofisticacao? Sabe o que estava tocando na sala antes do filme comecar? A trilha de "Alem da Linha Vermelha", que, para quem nao sabe, eh o filme anterior do mesmo diretor. Sutileza eh isso ai...



E eh soh. Ou tudo.

Paris, Monet, Bonnard e Malick num mesmo dia acontece com que frequencia, afinal??!

16.3.06

desculpas

O Diario Aberto de R pede desculpas sinceras pela falta de acentos e por erros de digitacao.

Mas com teclados confusos e a internet sendo cobrada por minuto, a revisao se faz precaria.

(e, pra quem ainda nao entendeu, a letra "h" depois de uma vogal significa acento agudo, tah?)

Paris - parte 2

Soh para situar os 4 ou 5 leitores desse blog (em tempos de viagem os habituais 2 ou 3 leitores viram 4 ou 5...) que possam estar um pouco perdidos temporalmente: a visita ao Louvre se deu na quarta-feira, dia 15/03.

Vamos, entao, a quinta-feira, 16/03:


Paris amanhece cinza e, logo, mais fria.

Uma caminhada por St Germain de Pres, ao som de Fiona Apple, fica quase duas vezes mais interessante (alo, M.D! como diriam os americanos, I can't thank you enough!)

Jardim de Luxemburgo, Igrejas de St. Sulpice e de St. Germain - nao conhecia nenhum dos tres.

Museu Rodin, para rever. De fato extremamente agradavel, com aquele jardim de esculturas rodeando a bela casa. Mas o frio castiga.

Nao eh interessante pensar o que pode haver na Porta do Inferno?? Dante pensou e Rodin esculpiu.

(Dah pra acreditar que AGORA, no exato momento em que teclo essas palavras, o radio do cyber cafe comecou a tocar Voyage, Voyage??!! Alo, todo mundo! Meu deus, porque essa musica nao estah no meu ipod??)

Ligo para meu pai e, acredite!, fico preso dentro da cabine telefonica. Um frances simpatico me resgata, rindo, evidentemente.


*


Voce sabia que Paul CEZANNE e Camille PISSARRO tiveram uma convivencia artistica de quase 20 anos, que se reflete de forma surpreendente na obra de ambos? Nem eu. Mas o Museu D'Orsay presenteia o publico com a exposicao Cezanne et Pissarro, onde evidencia, colocando lado a lado, obras dessa fase dos artistas.

Eles pintaram temas muito semelhantes, quando nao exatamente iguais - cada um a sua maneira, eh claro. Da temporada que passaram juntos na cidade de Pontoise, dezenas de paisagens semelhantes, por exemplo.

Nao sabendo nada de teoria aristica, dah pra dizer que as pinceladas de Cezanne sao mais geomertricas, apesar da constante ausencia de contornos nos tracos. Ha maior liberdade cromatica, tons mais vibrantes. Pissarro usa cores mais suaves, suas formas aparecem mais difundidas, seu "impressionismo" eh mais evidente - ha uma meticulosidade nos pequenos tracos, dando a ilusao perfeita do "borrao".

Uma paisagem de Pissarro, por exemplo, aparece como fundo de um retrato que ele pintou de Cezanne. A mesma paisagem aparece tambem ao fundo de uma natureza morta pintada por Cezanne. E voce ve os tres quadros, lado a lado. C'est la France!

As obras estao sempre em duplas ou trios, um de cada artista. Depois da terceira sala, eh irresistivel nao ler as legendas e tentar adivinhar qual eh de quem. Dah pra acertar a maioria (mas, em alguns casos, se trocassem as legendas, quero ver quem ia contestar).

Ao fim e ao cabo, quer saber quem me impressiona mais?

Cezanne.


*


O D'Orsay eh um museu inigualavel. Seu vao central, alem de belo, eh convidativo e democratico. Voce ve aquele espaco e tem vontade de mergulhar na colecao exposta.

Eh MONET, RENOIR, DEGAS, VAN GOGH, CEZANNE para uma vida inteira, que dirah para uma tarde. Arrombam a retina de quem ve (talvez devessem ser vistos 1 por dia, para lembrar o quanto pode haver de desbunde no mundo).

"O Quarto do Artista", de Van Gogh, e as 4 telas que retratam a Catedral de Rouen em diferentes luzes ao longo do dia, de Monet, continuam embasbacantes.

Um vao na parede da sala dedicada a BONNARD me faz saber que estah havendo a exposicao Pierre Bonnard no Museu de Arte Moderna de Paris. Vou amanha.

D'Orsay e Louvre - um rio separa algumas das coisas mais espetaculares jah feitas por maos humanas.


*


As galerias sao cheias e os grupos parados em frente aos quadros, com guias falando sem parar e poluindo sonoramente o ambiente, incomoda. Dai voce ve alguns japoneses, meio juntos, meio separados. Alguns olham para um unico quadro, outros passeiam a esmo. Todos parecem estar prestando atencao em algo. Junto a eles, o que parece ser um guia dah o que parece ser uma explicacao. Mas tao baixinho, meu deus!! E entao voce percebe: o guia esta com um microfone de lapela e o grupo inteiro utiliza fones de ouvido para escuta-lo, sem barulho, sem tumulto. Ah, como sao civilizados esses orientais (alo, Tatiana Fujimori!!)


*


Rigoletto em ultima apresentacao na Opera Bastille. Ingressos esgotados.


*


A Pomme de Pain eh uma rede de fast-food-baguete. Eles tem uma especie de brownie que chamam de fondant au chocolat. Agradeco aos deuses da boa forma por nao existir desses no Brasil.


*


E, em Paris, o dia acaba com uma pergunta importante:

Como eh que se aquece um nariz??